ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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POSTAL DE DJERBA (Belão)

No bar do turco fumando chicha


Djerba é uma ilha colonizada pelos franceses no século XIX que foi fenícia e romana. Os árabes chegaram lá no século VI. Eu cheguei lá no século XXI, mais propriamente no dia 15 de Agosto de 2009.
Decidira que queria uma semana de sol e água quente, longe das panelas, da máquina de lavar, dos chapéus de sol e pára-ventos em cima de mim, das horas infinitas para estacionar, dos supermercados, das horas para isto e para aquilo. Enfim, decidi fingir que era rica durante uma semana. E digo-vos que é mesmo bom! Há de facto vidas mais baratas... mas não prestam.
Chegada a Djerba instalei-me no”Djerba Golf Thalasso & Spa”, uma coisinha pequena com, por exemplo, campo de golf, piscina exterior e interior, thalasso, 5 campos de ténis(2 relvados e 3 de terra batida), 4 restaurantes, 3 bares... e um serviço impecável, daqueles que nos ajudam a desfrutar em pleno do “dolce fare niente”. Ah! A praia privativa fica a 200m de distância, não sendo preciso sair do resort para lá chegar, como é obvio e conveniente. Foi aí que passei maior parte do tempo, ora de molho, ora deitadita na espreguiçadeira, com a extenuante trabalheira de, de quando em vez, ter de levantar o braço para chamar o empregado e pedir uma bebidinha, não fosse desidratar. Também não era mau de todo, pois o enfermeiro do hotel era daqueles que até dava vontade de desidratar, torcer um pé, cortar um dedo, desmaiar.... sei lá. Mas estive sempre de perfeita saúde.
Houmt Souk é a capital da ilha, repleta de casas branquinhas com portas azuis e desenhos feitos com tachas. Visitei-a numa manhã que dediquei às compras.
E se comprar dá trabalho! Ao inicio tem uma certa piada regatear os preços, mas ao fim de algum tempo, perde-se a paciência. É que para alem do regatear, os tunisinos adoram galantear as mulheres, desfazem-se em elogios e não se coíbem de até querer saber se os maridos as amam e se elas são felizes. Um bocado “melgas”, mas simpáticos.
O resort ficava a 5 minutos de Midoun, localidade onde predominam os “menzel”, casas típicas, fortificadas, com um poço exterior feito de troncos de palmeira., importantes na época das pilhagens.
Visitei ainda a marina, zona muito frequentada por turistas, pois as suas agradáveis esplanadas, rodeadas de canteiros de flores e muito limpas, são de facto convidativas.
Frequentada sobretudo por estrangeiros (ricos), Midoun tem ainda um casino onde fui jantar uma noite. Rodeada de mordomias, sempre tratada por “madame”, com direito a dança do ventre e música durante o jantar, paguei o equivalente a 22 euros. E o vinho era muito bom. Nas salas de jogo, só euros. Dinar não entra.
Na segunda noite que faltei no bar do turco, o bar mais simpático do resort, com música ao vivo (flauta e alaúde), uma decoração magnífica e onde fumei chicha, saí para ir à discoteca mais famosa da ilha. Enorme, com dezenas de “gorilas” à porta e circulando por todo o espaço, fui toda revistada à entrada. É prática comum, bem como o pedido de identificação a quem aparenta não ter 18 anos. Achei piada, pois de facto não vi crianças na discoteca, como por cá acontece. Quanto à música, o mesmo de cá. Aquela sensação de ouvir a mesma falta de melodia desde que entrei até que saí, tipo pista 2 do Green Hill. Aquele tum tum tum sempre igual, que só aguentei hora e meia. A era disco era de facto maravilhosa, se quisermos comparar.
No hotel, a animação era direccionada para uma faixa etária bem acima da minha. Preferi sempre o alaúde do bar do turco.
Quanto a comidinhas, a variedade é muita. Há a cozinha europeia, sempre, para quem não gosta das delicias tunisinas: cuscuz e tajine, por exemplo. Para quem aprecia picante, harissa é do melhor que há. A cerveja é fraquinha mas escorrega bem e Thibarine é a aguardente típica da Tunísia, bem forte, mas muito agradável. Logo à segunda fiquei sem forças, eu que até aguento bem. Talvez a PDI me esteja a fazer perder qualidades!
Mas a maior parte do tempo, passei-o na praia. E é ela que me deixa saudades. Areia branquinha, fininha e limpinha. Espreguiçadeiras, toalha fornecida à chegada, água cuja temperatura oscila entre os 27 e os 29 graus e totalmente transparente.
Três vezes já fui à Tunísia e continuo a só saber dizer “chukran” - obrigada e “maa salama”- até logo. Escrever nem tento sequer. Também não é importante. Toda a gente fala francês.
Foi muito bom para carregar baterias e recomendo.
“Maa salama”


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Belão

Praia às 7 e meia da manhã

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C O M E N T Á R I O S


Júlia Ribeiro
Olá Belão!Então passeando pela Tunísia!! Boas férias.


Margarida Santos
Estive na ilha Djerba em Abril de 2006. Adorei. Fumei shisha, bebi óptimos chás, atravessei om deserto, estive nos locais onde foram filmados "O Paciente Inglês" e "Guerra das Estrelas", apanhei boa praia e fartei-me de andar de camelo.

Luisa disse:

Grandes vidas!!! Que inveja.... L

Inês disse...
Qual inveja, Luísa! Só aquela mania de nos obrigar a regatear preços irrita, não há pachorra! e então quando alguém comprou o mesmo e pagou metade… lá se vai o prazer “Maa salama” tá bem... o resto, contado pela Belão, eu também queria! :)

Ana Carvalho disse:
Eu quero ir já amanhã para a Tunisia! É o que me apetece fazer depois de ler o postal da Belão.
Bjs PP.

jorge disse...

este ano houve poucos postais de férias.já em 2008 a belão publicou dois ou três muito interessantes e escritos com humor.também fiquei com vontade de ir à tunisia embora conheça algumas estâncias do indico que recomendo a todos.jorge

Belão disse...
Olá!Quem já foi à Tunísia sabe bem do que falo. A quem não foi, dou um conselho: vão que vale a pena. Eu já fiz o circuito do deserto há dois anos, também fui aos locais das filmagens da Guerra das Estrelas e do Paciente Inglês, dormi num acampamento de luxo.... e é fantástico. Descanso e boa praia é em Djerba. Quando forem, digam-me que eu vou logo outra vez!Bjos a todas e todos.

A MARAVILHOSA VIAGEM DO JOSÉ CARLOS FARIA

por Z C Faria
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Pela leitura arruinei a vista!
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Bem me avisavam que o nariz sempre a menos de um palmo das páginas sofregamente folheadas só podia dar mau resultado, mas eu persistia no vício daquela leitura, naquela postura, e daí ter ficado precocemente míope, a seguir estigmático, pitosga de 4 olhos desde logo - caixa d'óculos, em suma...
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É que eu lia, lia muito, lia tudo, era mesmo leitor compulsivo, do melhor ao pior, desde a «Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson» de Selma Lagerlöf
até à pieguice insuportável do «Coração» de Edmundo de Amicis (nunca percebi como é que um conjunto de histórias deprimentes, a puxar à lágrima, inculcando falsos valores de «heroísmo», sacrifício e resignação na miséria, pode alguma vez ter passado por obra recomendável para um público infantil, mas enfim...). Um dia por semana, à saída da Escola e com o modesto lastro dos conhecimentos recentes, oriundos da decifração garrafal das primeiras letras, em manuais descaradamente propagandísticos das «virtudes» do regime (Lusitos! Lusitas! Viva Salazar! Viva Portugal!), corria-se para aquela carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta, estacionada no largo do chafariz das mulas, que transportava uma das muitas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian (porventura o melhor, mais vasto e mais bem sucedido projecto de animação cultural jamais desenvolvido num país ainda hoje com uma taxa excessiva de analfabetismo integral, para já não falar do regressivo ou funcional). E assim fui sucessivamente ansiando por ser grumete na «Ilha do Tesouro», pioneiro e caçador por rios e montanhas com Daniel Boone, membro da expedição ao centro da terra, escudeiro medieval junto de «Ivanhoe», protagonista ficcionado (e fictício) em fabulosas aventuras...
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Porém, se as escolhas dos livros são, com frequência geracionais, nomeio «O Velho e o Mar» de Hemingway (cuja edição portuguesa continha um prefácio de Jorge de Sena, de que só mais
tarde me aperceberia da sua importância) e a forte impressão que nos meus (para aí) 14 anos produziu a luta do velho Santiago pela sua dignidade e por recuperar o respeito da comunidade piscatória, a batalha desenfreada e astuciosa de dois dias e duas noites com um delfim de 6 metros de cabo a rabo, finalmente capturado, troféu a desvanecer-se aos poucos, engolido, até à revelação da espinha nua, pelas mordeduras vorazes dos tubarões e a incompreensão total dos turistas...
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«Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
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Os livros foram pois os primeiros a vir até mim, depois a música e por último, os filmes. Claro que me acompanha a recordação boa das gargalhadas puras da criança que eu era, suscitadas palas curtas-metragens de Chaplin, nas extraordinárias séries da Keystone, Mutual e da Essanay; No entanto, é-nos pedido aqui a indicação de um momento marcante e, neste particular, comigo ele aconteceu no Cine-Teatro Pinheiro Chagas (como é possível terem-no demolido? Como?), durante a projecção de «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, com uma notável interpretação de Jane Fonda.




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Talvez não por acaso, apesar das oito nomeações em 1969, só viria a ganhar o Óscar para o chamado «Melhor Actor Secundário» (péssima tradução de Best Supporting Actor. É que não há actores secundários! Há-os apenas, melhores ou piores, todavia únicos e essenciais, em papéis maiores ou mais pequenos...). Adaptação do romance de Horace McCoy «They shoot horses, don't they?», a acção do filme desenrola-se no micro-cosmos fechado de um salão de uma Maratona de Dança, parábola da sociedade Americana da Grande Depressão, onde a cupidez de negócio do «show-biz» engendra a exploração aviltante e, em pleno desespero, a morte acaba por ser um acto de amor, escapatória (im)possível para uma liberdade humilhantemente negada. Naquela ocasião, nem os deliciosos rebuçados de fruta, comprados ao intervalo, embrulhados em lustroso papel de seda multicolor, a atafulhar bolsos, conseguíram atenuar a comoção angustiada, misto de um estranho amargo na boca e rude soco no estômago com que todos saímos do camarote (bilhetes de lote para um grupo acabavam por se tornar um pouco mais baratos).
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Quanto à música, chegou pela rádio.
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O irmão da minha professora da 1a classe era militar em Goa e a inquietação pelo seu destino após a entrada do exército da União Indiana, levava-a a uma audição intensiva (embora em volume sonoro reduzido) das notícias na fanhosa Emissora oficial, pontuadas pela difusão obsessiva, quase maníaca, do «Fado das Trincheiras», o qual, pela voz de Fernando Farinha, rejurava que se «morrer na batalha/ quero ter por mortalha/ a bandeira nacional». Tal patriotismo exacerbado deixava-me confuso, já que a imagem parecia um pouco chocante e de gosto duvidoso... Adiante...
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As referências evoluiriam depois. A esplanada do Parque dispunha de uma magnífica «juke-box» Wurlitzer (marca que na época, tal como a Fender-Rhodes, tinha acabado de criar um mini-piano eléctrico de 3 oitavas, de imediato utilizado por Ray Charles). A selecção então existente dos sucessos do momento (e até de um pouco antes), seria hoje um rol de clássicos absolutos: para além de diversos temas dos Beatles, Rolling Stones, Kinks, (e também Sheiks, de produção lusa), havia à escolha, entre outros, Mamas & Papas com «Monday, Monday» e «California Dreamin'», Four Tops e «Reach Out, I'll Be There», «San Francisco» de Scott McKenzie (um hino do Flower Power), «When a Man Loves a Woman» por Percy Sledge e os um pouco mais antigos «Barbara Ann» dos Beach Boys, «Tutti Frutti» do Little Richard, «Love Me Tender» de Elvis Presley e por aí fora... um regalo, era o que era! Por uma simples moeda, o fascínio acontecia: marcado o código da canção pretendida, um braço mecânico, numa diligência exacta, retirava o disco da pilha, depositando-o no prato a girar, a agulha descia, precisa, nas espiras e, de súbito, (é um exemplo), enquanto a malta se refrescava com um gelado cassata e um pirolito Ginger Ale da Canada Dry ou da Schweppes, uma cadência de acordes arpejados soava e a voz de Eric Burdon, acompanhado pelos Animals, surgia nas colunas espalhadas pelas áleas: «There is a house in New Orleans, they call the Rising Sun...»
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Feito o exame do 2º ano, recebi como prenda de aniversário um gira-discos Dual, mono, cuja tampa incorporava o altifalante. Já havia estereofonia mas aquele objecto era, de facto, um «mono» obsoleto, sobrante numa qualquer obscura prateleira empoeirada, cacaréu ainda com registo para as 78 voltinhas por minuto das grafonolas, imagine-se; sem dúvida melhor negócio para quem manhosamente o vendeu (vendo-se livre do traste) do que para a ingenuidade bem intencionada de quem o comprara e a quem eu, de todo o coração, só podia estar grato. Como as dimensões estavam formatadas para «singles» e EP's, o meu primeiro Long-Playing de 33 rotações (e um terço) demoraria - «Abbey Road» dos Beatles (fiquem sabendo que também já lá estive, na famosa passadeira da capa, o que é que vocelências julgam?). No duche matinal («She came in through the bathroom window»), ouvia o transistor a pilhas que o meu Pai entretanto ligava, sintonizado já nem sei em que estação, e que, com regularidade, debitava «Come Together», a primeira faixa do lado A. Aquela cadência de viola eléctrica com um ligeiro efeito de distorção durante o refrão, cá para mim era o máximo («Because»... Porque sim, pronto), e fez-me querer (muito!) ter o disco. Todo. («I want you», mas era «so heavy»...) Houve que poupar cada tostãozinho («You never give me your money»), sofrer com paciência («Carry that weight») até que, com um empurrão solidário da Avó («Oh Darling»!), a coisa (em forma de «Something») lá se deu. O LP era como uma luz viva («Here comes the sun») e a felicidade preenchia-me em suave embalo («Golden Slumbers»). «The End». Mas isto não ficou por aqui. A seguir viria a descoberta aprofundada do Zeca, do Brel e, para lá da «Banda» a passar, do Chico Buarque de «Construção», a paixão pelo Jazz e pelos Blues, o gosto certo pela Música Antiga e a certeza que se a Música um dia se acabar poderemos contar com um tempo bem mais escuro e para durar.
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Ainda não sabia que livros, discos, filmes e quadros viriam a ser ferramentas do meu trabalho futuro, mas, passo a passo, ia intuindo e aprendendo que as Artes são algo de imprescindível, que nos torna melhores e melhor nos permite compreender a surpreendente dialéctica estabelecida entre a harmonia e as contradições do Mundo, da Vida, das coisas e das gentes (nós próprios, os Próximos e os Outros)...

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José Carlos Faria
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C O M E N T Á R I O S
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Guida disse...
De facto cada livro é uma verdadeira viagem, bem cedo aprendi isso.
Ser-se filho único é muito vantajoso nessa área. Muitas horas sózinho no sossego de um espaço que não se tem de partilhar com mais ninguém, a ausência do barulho e das solicitações dos irmãos, uma verdadeira maravilha.
Claro que também tem os seus contras. As brincadeiras têm de ser a solo ou com um amigo imaginário, por vezes uma certa solidão. Mas tudo acaba por ser compensado com a liberdade da leitura, horas a fio, noite dentro, até à última página de cada livro.
Claro, ficam as sequelas nos olhos cansados, gastos de tantas páginas de letra miudinha avidamente devoradas, por vezes à luz de uma pequena lanterna de pilhas, debaixo dos lençóis, para que a claridade não fosse detectada do lado de fora do quarto, evitando assim o ralhete merecido.
Mas não me arrependo. Fazia tudo outra vez.
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Margarida Araújo disse.
O Zé Carlos Faria no seu melhor, poço de informações tão diversas como a música, a literatura, as artes plásticas, teatro, cinema e também um doutoramento em benfiquite aguda.
O Zé Carlos é míope? Os oftalmogistas e nós sabemos que sim. Mas em nada a sua míopia o toldou de ver, de ler, de escrever, de desenhar.
Obrigada.
Maria Guidó (como o próprio me chama)
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Inês disse...
Zé Carlos, menino de olhar de Zeca, a descobrir mundos em tudo o que tinha folhas, nos bravos ‘Lusitos’ ou no deprimente ‘Coração’ («um livro que faz chorar sem entristecer» diz uma velha edição «particularmente dedicada a rapazes entre nove a treze anos»), ou ainda no banquete de cultura servido pela tal carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta…
Desta escrita-viagem maravilhosa apetece-me guardar tudo. Voltar a ler muitas vezes. Assentar num post-it «Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
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São Caixinha disse:
Adorei esta "Maravilhosa Viagem" do José Carlos! Excelente exposição de deliciosos e menos deliciosos fragmentos do nosso passado comum; tanta história em tão pouco espaço, tão enternecedoramente pessoal, tão adulto e tão menino, tão sério e tão divertido, tão simplesmente Genial... como sempre!! Vou ler outra vez!
Bjs
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João Ramos Franco disse:
Este texto do JOSÉ CARLOS FARIA, é na realidade Uma Maravilhosa Viagem…
Ele transporta-nos desde leitor compulsivo, ao momento em começamos a condicionar o que lemos. Do Ernest Hemingway o Velho e o Mar, que está em cima da secretária neste momento e começa assim, “O velho chamava-se Santiago. Dia após dia, tripulando uma canoa, ia pescar no Gulf Stream.” posso dizer que, entre muito que li também me marcou…
No cinema, «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, também vi e gostei, mas talvez por uma questão de geração, o cinema europeu, para mim, ainda mantinha a influência de ser o melhor que tinha visto…
Na música, apesar de conhecer quase tudo o que cita, ainda não havia «juke-box» na Esplanada do Parque, e estávamos limitados a uma que existia no Pão Ló em Alfeizerão, que não estava assim tão perto e a época também nos afasta nos seu gosto inicial, mas é compensada na “descoberta aprofundada" do Zeca, do Brel e, para lá da «Banda» a passar, do Chico Buarque de «Construção», a paixão pelo Jazz e pelos Blues, o gosto certo pela Música Antiga”.
Obrigado José, Uma Maravilhosa Viagem…
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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António disse:
Excelente texto em que se evocam tantas das minhas memórias,incluindo o malfadado Coração!E os filmes e as músicas e os Beatles...
Toda a gente referiu o título,bem escolhido,mas nem todos a cuidadosa escolha das ilustrações e a sua distribuição no texto.Também aqui se vê a mão do artista que a Margarida refere.
Obrigado!Abraço.A
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João Jales disse:
A imagem do Zé Carlos com um livro a um palmo dos olhos sobrepôe-se a todas as outras recordações que tenho dele...Mais uma deliciosa contribuição sua para o Blog, desta vez sobre a nossa viagem até à idade adulta. Também li o deprimente Coração, as maravilhosas estórias da Selma Lagerlof, frequentei o Pinheiro Chagas onde me apaixonei pelo Cinema (assisti depois ao crime da sua demolição) e tentei conhecer todos os singles da musicalmente prodigiosa década de sessenta.
Ouvimos os Beatles desde então até hoje, assistindo e participando nas novas formas de encarar a sua música ao longo de quarenta anos, descobrimos a música brasileira, a portuguesa (mais ele que eu), lemos e vimos mais cinema e teatro, continuámos vivos e atentos ao que se passa à nossa volta graças à permanente inquietação que nos deixou uma sôfrega adolescência. Felizmente.
JJ
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Isabel Esse disse...
Li encantada a prosa do José Carlos Faria.Já não me lembrava das lendas nórdicas da Selma Lagerlof,tenho que ir ver se ainda tenho o livro,com uma capa igualzinha à que aqui está!As músicas e os filmes serão diferentes para cada um de nós,o Faria e o JJ lembra-se das canções todas!eu só me lembro quando as oiço.
Parabéns por esta maravilhosa viagem e por este maravilhoso blogue.IsabelS
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Isabel X disse...
Três aspectos tornam este texto brilhante:
1) A referência ao Velho e o Mar e a como nessa obra magistral de Hemingway nos é dado a conhecer o valor da perseverança na luta, de um modo inigualável.
2) A descoberta que proporciona de não haver actores secundários ao analisar o filme "Os Cavalos também se abatem". Até no niilismo há esperança!
3) O intercalar dos nomes dos temas musicais ao longo da descrição das situações por que o autor do texto passou para os poder conhecer ou possuir.
Este último aspecto(3), então, é de génio! Porquê? Por se eximir ao tom moralista em que às vezes se cai ao avaliar o passado, mas de um modo cheio de ternura, que é em tudo diferente de lamechas.
Grande Zé, é assim mesmo!
- Isabel Xavier -
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Artur R. Gonçalves disse...
A maravilhosa viagem do José Carlos Faria pelos livros, discos e filmes fez-me lembrar a minha própria travessia por essas décadas de cinquenta e sessenta passadas, com alguma permanência, nas CdR. É verdade que não li os mesmos textos, ouvi as mesmas músicas ou vi as mesmas películas, mas os dois processo de descoberta desse mundo fascinante da cultura mantêm entre si muitos pontos de contacto.
Seria incapaz de nomear muitas das obras que requisitei na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian ou de acreditar a 100% na minha memória quando esta teima em me afirmar que a carrinha da Fundação estacionava na Praça da Fruta. Garanto, todavia, que a minha paixão pelos livros impressos a cheirar a tinta me vem dessa altura.
Terei utilizado uma ou outra vez a tal «juke box» da Esplanada do Parque e de muitos outras espalhados um pouco por todo o lado, pelo que terei ouvido alguns dos singles elencados. Nem podia ser de outro modo. Quando a posse de um simples gira-discos era considerado na época como algo ainda de extraordinário, o recurso às máquinas de discos tornava-se imperioso. Assim houvesse a tal moedinha necessária à função ou usufruir da economia e dos gostos alheios.
Vi «Os cavalos também se abatem» em Lisboa, no Império. Ainda hoje recordo a sensação de desconforto que na altura aquela maratona de dança me causou. Mais tarde li o livro, publicado entre nós pelas Publicações Europa-América em tamanho de bolso, mas o impacte não foi nem de longe o mesmo. Lamentavelmente, o grande cinema da Alameda D. Afonso Henriques também sofreu a sua «demolição» simbólica, nem por isso mais feliz do que o velho Cine-Teatro Pinheiro Chagas da Praça do Peixe. Para mal dos nossos pecados, a realidade dura e crua é que com grandes ou pequenas depressões, os cinemas também se abatem. Pelo menos entre nós.
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Belão disse...
O Zé Carlos é uma pessoa maravilhosa e escreve duma maneira tal, que ninguém tem dúvidas que de facto leu muito. Muito mesmo.
Esta viagem à volta dos seus livros, filmes e músicas encantou-me, como sempre que leio algo do Zé Carlos Faria. Tenho pena que apareça tão pouco no blog. Mas também sei que quando o faz é para nota máxima.
Um beijinho, Zé Carlos. Não nos deixes tanto tempo à tua espera!
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Isabel Cx disse.
Li várias vezes o texto do Zé Carlos e de todas elas fiquei com pena que cheguei ao fim!Que memória... tão extraordináriamente proporcional ao talento do autor.
Também " O Velho e o Mar" e outros livros do escritor tiveram um lugar de destaque nas minhas leituras, e que melhor forma de o recordar que pela mão do José Carlos.
Também a atraente "Juke box" do Parque era a delicia de nós todos com as canções que felizmente nos marcaram até hoje.
Podia passar a noite a ler títulos de músicas inseridos no texto ..uma maravilha!!!...e é aqui que volto ao principio e recomeço a leitura!
Beijinho
Isabel Caixinha
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Ana Carvalho disse:
O que o José Carlos Faria escreve merece sempre um comentário. Gostei imenso e deliciei-me a ler o texto,como já nos habituou é um excelente contador de histórias. Bjs
PP
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José Carlos Faria respondeu:
Ainda me estragam com mimos... (depois queixem-se!). Tenho que agradecer, claro está, tanta boa vontade face ao meu mal amanhado escrito.
Permitam todavia que deixe aqui expresso um reconhecimento especial a duas pessoas:
À minha querida professora Drª Inês (Que bom lê-la! O Inglês que sei e que tão importante e útil me tem sido, a si lho devo. Isso e também a alegria indizível da primeira vez em que fui capaz de compreender uma frase na letra de uma cantiga) e (obviamente) ao João Jales, que, a meu pedido, inventou tão bem o título da croniqueta (só escusava de lá ter o meu nome, mas enfim...) e que depois, com o mérito do seu irrepreensível bom gosto, seleccionou a iconografia e respectiva articulação com o texto.
Apenas um esclarecimento:
O largo do chafariz das mulas a que me refiro quando da vinda da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, corresponde à Porta da Vila, em Óbidos.
Ósculos & amplexos!
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vasco disse...
Grande Zé:
Excelentes as tuas sugestões.Deixo aqui, para quem quiser ver O VELHO E O MAR em animação, os respectivos links:
Divirtam-se e boas mto boas férias
VB
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VT disse...
Uma palavra só e sentida: EXCELENTE.
Um grande abraço amistoso e de admiração ao José Carlos Faria que "cozinhou com todos os ingredientes".VT

A MÚSICA DOS DELINQUENTES (a propósito de 1955)

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C O M E N T Á R I O S
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Manuela Gama Vieira disse...
A música dos delinquentes,dos báquicos,inspirada nos "pretos"...e sei lá que mais.Mas...a música e a sua história,aos melómanos!
Esta evocação da música e da dança, fez-me recordar outros posts anteriores.As malogradas...mas divertidísssimas aulas de dança do João Serra,descritas em "As aulas do meu Tio" e a estrondosa notícia de um jovem campeão de Hula-Hoop,que esteve "três horas a dar aos quadris"-Vasco Trancoso.
Manuela Gama Vieira
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João Ramos Franco disse...
Venho a descobrir por estas notícias que era delinquente em 1955. Mas só fui apanhado em flagrante delito no ENCONTRO DE VERÃO 2009…
João Ramos Franco

TRÊS NASCIMENTOS E UMA MARGARIDA

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Ora aqui estão 4 convictas adeptas da Foz do Arelho. A fotografia, tirada novamente pela minha mãe, no Parque de Campismo da Foz do Arelho, deve ser do ano do artigo da Lena Arroz : CAMPISMO, VERÃO DE 1965

Eu na cadeira de lona, ainda sem conseguir pôr os pés no chão, novamente, e como sempre, a rir. Do lado direito o "trio Nascimento": a Ana, parece nossa mãe (hoje já não se nota a diferença), a Luisa, com uns lindos caracóis e a Margarida ao colo da Ana. Em comum as havainas, que voltaram a estar na moda, o que é um sinal de que estamos todas velhas.
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E a tenda?
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A Ivone Nascimento tem tudo num primor. Flores por todo o lado, tapetes, cortinas. Lembro-me deste dia como fosse hoje. Assim: ontem ali! A nossa amizade continuou inalterável até hoje.
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Um beijo grande para elas e para todos os por aqui vão passando... e são muitos.
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Margarida Araújo
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João Ramos Franco disse...
Tens razão, ao recordar estes tempos e dizer que “hoje já não se nota a diferença”, entre vocês. É verdade, e tenho-me apercebido disso nestes últimos encontros, vocês tomaram elixir da juventude e nós em rapazes umas cervejas. A diferença é só aparente, todos temos na memória os locais da nossa juventude e os vamos recordando neste espaço de são convívio.
João Ramos Franco
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Júlia R disse:
Que meninas tão lindas !Que quarteto tão simpático!Que titulo tão engraçado!E agora que somos todas da mesma idade.....Um beijinho para as quatro!
Julinha

O CONDE DE ABRANHOS






por Manuela Gama Vieira






















Eça de Queirós foi um dos autores que li na minha juventude.Que Eça é intemporal, é indiscutível. Relê-lo, ainda hoje, me dá imenso gosto.
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Poderia recordar aqui qualquer outra obra mas, se a memória não me falha, “O Conde de Abranhos” foi um dos seus primeiros livros que li e revelou-se-me uma aventura, “abrindo-me os olhos” para o mundo da hipocrisia que grassa em certos meios, designadamente o da política.Com efeito, o Conde de Abranhos afigura-se como o arquétipo daquele outro nobre titulado que, em “Os Maias”, continuaria a sátira acutilante de Eça sobre os políticos seus contemporâneos - o Conde de Gouvarinho.
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Nascido numa família humilde, que à primeira oportunidade renega por já não se de adequar à sua elevada condição, Alipinho vai construindo um “cursus honorum” que não deixa de ser comum a todos os caciques da época com igual sorte.Entre muitas peripécias que se contam neste livro, recordo com especial prazer dois ou três episódios, aqui brevemente resumidos: Alípio Abranhos pouco versado em quase tudo o que é necessário a um servidor da res publica, afirma que se Moçambique fica na Costa Oriental de África ou na Costa Ocidental, isso pouco interessa, pois não diminui a sua dedicação em levar o progresso para tais paragens, com Portugal sempre orientado no sentido da civilização e da evangelização dos povos nativos que aí habitam sob domínio luso.
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E como Portugal não pudesse abandonar a dianteira das nações civilizadas da Europa, promove, como seu primeiro acto de governação como Ministro da Marinha, uma expedição ao Pólo Norte.
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Tudo isto a apimentar a imagem de um homem capcioso que consegue sempre perceber, por via de um instinto prático, mesquinho e arrivista, para onde sopram os ventos da Câmara dos Pares e, em última medida, de um Império que, para todos os efeitos, se deixou adormecer à sombra de uma visão pacóvia e pequena do Mundo, como se o mesmo se pudesse resumir ao pequeno círculo eleitoral de Freixo-de-Espada-à-Cinta, por onde Abranhos foi eleito sem nunca lá ter ido…em jeito de campanha eleitoral….
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Encontrar paralelismos entre o Portugal de hoje e o de oitocentos é, de facto, pura coincidência… ou a maior delícia?
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Manuela Gama Vieira

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C O M E N T Á R I O S
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Artur R. Gonçalves disse...
A excelência literária de Eça de Queirós mede-se, de certo modo, pela capacidade que tinha em criar grandes e pequenas obras-primas, de as tornar imunes à voragem do tempo, de as encaminhar à presença do leitor com toda a frescura de um fruto acabado de colher. «O Conde d’Abranhos. Apontamentos biográficos e reminiscências íntimas por Z. Zagallo, seu secretário particular» cabe, perfeitamente, nesta classe de obras: pequena em tamanho, grande em qualidade. Escrita a lápis em Dinan, uma das mais aristocráticas cidades balneárias da Bretanha, corria o ano de 1879, o manuscrito manteve-se inédito até 1925, quando é encontrado no Rio de Janeiro, entre uns papéis de Ramalho Ortigão. Esse mesmo. As informações são da responsabilidade de José Maria d’Eça de Queirós, filho do romancista, que de imediato o transcreve (como sabia, podia ou queria) e o publica nos prelos da Lello & Irmão Editores, do Porto, com um nota introdutória.
A designação genérica de «romance realista» cabe à perfeição para definir o teor do livro, não só por ter sido composto por um dos inventores/introdutores dessa estética narrativa entre nós, mas por ser um digno herdeiro da «Vida de Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidades» (1554), dessa outra pequena/grande obra-prima, onde cabe a sátira social de toda uma época, dando origem a uma das séries mais bem sucedidas da primeira modernidade e que a posteridade baptizará de «novela picaresca».
Sem entrar em pormenores de categorização genérica, digamos que Alípio Abranhos não é um anti-herói pícaro, uma vez que o regime absoluto do renascimento-barroco, ao transformar-se no regime constitucional do romantismo-realismo, viabilizara a entrada na História e na Literatura de uma nova entidade social, o «barão», disfarçado, como é o caso, de Conde d’Abranhos. Neste sentido, Z. Zagallo teria poucos argumentos para nos apresentar o ilustre biografado como um mero e mísero «pícaro» do ancien régime, um perdedor nato, um ser desonrado desde o berço até à tumba. É que o «barão» do liberalismo será sempre (e por definição) um vencedor nato, um ser sem o menor sentido de honra, mas, na aparência, o mais honrado dos cidadãos.
Os paralelismos entre os políticos corruptos de ontem e de hoje são fáceis de detectar. Basta ler com atenção os textos de sátira literária compostos em todos os idiomas, desde a mais remota antiguidade até à actualidade. Não é aí que reside o problema. A dificuldade, nos nossos dias, é saber onde param os pícaros-barões da pós-modernidade, os condes d’abranhos do terceiro milénio. Bem vistas as coisas, talvez até nem seja um exercício muito difícil de realizar e a solução de encontrar. Basta estar minimamente atento.
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J.L. Reboleira Alexandre disse...
Depois do comentário do meu amigo Artur G, que finalmente decidiu aparecer por aqui, que poderemos nós acrescentar sobre a obra de Eça? Nada.Afinal, cada vez mais, este blog deixou de ser um blog dos antigos alunos do ERO, para se tornar um blog dos jovens caldenses, onde quer que hoje se encontrem, da nossa juventude.Abraço
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João Ramos Franco disse...
Na medida em que publiquei no meu blogue, VIAGEM À RODA DA PARVÓNIA, um retrato dado por Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo - (Comendador Gil Vaz) na mesma época em que O CONDE DE ABRANHOS é escrito por Eça de Queirós, coloco as duas obras em paralelo sobre o mesmo assunto, “encontrar paralelismos entre o Portugal de hoje e o de oitocentos é, de facto, pura coincidência…”
Um abraço,
João Ramos Franco
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Luisa disse:
A ideia da Manuela de escrever sobre Eça resultou num bom texto em que a "actualidade" do retrato de um político continua a ser uma realidade. Mérito do Eça e da Manuela, ao escolher o tema.
Veio depois muito a propósito o comentário do Artur que gostei muito de ler. São momentos destes e não só os momentos das recordções do nosso tempo que fazem valer a pena vir regularmente ao Blogue. BJS L
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luisfilipe_vieira disse...
Excelente texto da minha irmã Maria Manuela, cirurgicamente apontado aos numerosos condes de Abranhos (mais "de Abrunhos") que, de forma transversal a todas as classes, posses, importâncias e diplomas, tornam o nosso País um dos campeões da pacovice, inveja e hipocrisia ("prepotente para baixo, subserviente para cima").
Apesar disso, por muitas outras razões (essas, das boas), o único a ter sabido inventar a palavra SAUDADE.
Luis Filipe Gama Vieira
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Manuela Gama Vieira disse...
Agradeço imenso todos os comentários.Cá de longe permito-me abraçar,de forma muito especial,o meu irmão Luís Filipe- Caldense,de nascimento-e dizer-lhe o quanto gostei da forma tão sentida como disse a palavra, SAUDADE!
Manuela Gama Vieira
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jorge disse:
num momento em que estamos fartos de abranhos(e abrunhos,é verdade!)esta evocação faz realmente sentido.
os bons textos provocam bons comentários,realço o do artur que não conheço embora sejamos da mesma idade.
abraços,boas férias,parabens pelo nivel do blogue.
jorge
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VT disse...
A Manuela está de parabéns por nos trazer um texto muito interessante sobre a actualidade de obras anteriores de autores nacionais (neste caso Eça) sobre uma das características negativas deste povo de pobres com manias de ricos (como dizia Eduardo Lourenço).
Muitos destes “maus costumes” serão talvez fruto de uma das Inquisições mais duradouras da História. De facto, talvez tenha sido durante o século XVI, com a instauração da Inquisição, em 1536, que foram nascendo as raízes principais do que viria a ser esta " esta estranha forma de vida".
Para sobreviver no reino da injustiça, o povo português respeitou, num primeiro momento, o jogo das aparências, como defesa.
Mais tarde, após séculos de assimilação, a aceitação de simulacros e simulações, como se da realidade se tratasse, passou a padrão comportamental assumido na rotina diária – mesmo sem necessidade de qualquer tipo de autoprotecção. Essas características principais foram agravadas pelos governos monárquicos que vigoraram após a abolição de 1821 da Inquisição, mantidas na 1ª Republica, aprofundadas durante a ditadura do Estado Novo e desenvolvidas, com maior sofisticação, após o 25 de Abril de 1974.
É muito oportuno o texto da Manuela, porquanto verificamos, nos tempos que hoje sopram pelo país, que quer a hipocrisia quer a corruptela quer a conquista do Poder pelo Poder por influência partidária ou de “amigos” sem ser credibilizada pela competência qb, quer ainda outros defeitos que Bordalo Pinheiro tão bem caricaturou... e que sempre existiram, estão em alta, tendo crescido exponencialmente nos últimos anos.
A principal “batalha” em Portugal continua a ser a da mudança de mentalidades.
Obrigado e um abraço para a Manuela.
Vasco Trancoso
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Maria do Rosário disse:
Parabéns,Amiga,por tão bem teres sabido falar-nos de uma obra,em que EÇA faz,porventura,uma das mais impiedosas caricaturas literárias dos costumes políticos portugueses da sua época.Da sua actualidade,já falaram os bons e merecidos comentários anteriores.
Um abraço de saudade,Luis Filipe,mas quanto a abrunhos...aprecio muito esse tipo de ameixa!
Felicito,também,João Jales, pelo bom nível deste Blogue.
MRosário Pimentel
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Ocean disse...
Parabéns, Manuela, por esta singular revisitação de uma das mais marcantes obras de Eça.
Depois de todos os comentários que me antecedem, pouco há -naturalmente - a acrescentar sobre o brilhantismo da escrita queirosiana ou sobre os incontornáveis paralelismos com o contexto actual.Mas para não deixar de responder ao simpático desafio/repto/estímulo da autora do texto, acrescentaria apenas - e talvez em jeito de complemento às valorosas palavras do Luís Filipe - que este povo luso sempre envolto em costumes de corrupções e hipocrisias (são as "abranhices" das quais não consegue nem parece que alguma vez conseguirá libertar-se: dirão "é cultural", "é nosso") ainda consegue surpreender-nos a cada dia que passa com coisas fantásticas, com pessoas cheias de qualidade, que infelizmente continuamos a não ser capazes de valorizar devidamente (são as "abranhices" das quais não consegue nem parece que alguma vez conseguirá libertar-se: dirão "é cultural", "é nosso").Para quando um verdadeiro CHOQUE DE CIDADANIA?
Não queria concluir a primeira participação activa de um fiel seguidor das passadas deste espaço sem deixar de dar os mais sinceros parabéns a TODOS os que fazem deste blogue (como é que eu costumo dizer?) uma "experiência sociológica única", mesmo para um puto de vinte e tal anos sem ligação às Caldas... Bem, sem ligação agora já não direi...
Obrigado, ERO.
Ricardo

BANDA DESENHADA

por F J Sousa








Confesso que venho ao blog como vou à missa: raramente, e em recolhimento. Das missas estamos falados, mas a epifania que foi a descoberta dos livros aos quadradinhos continua a ser um momento que me marcou indelevelmente, e que, como qualquer epifania que se preze,moldou a minha vida.
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Foi num Especial do Cavaleiro Andante, que aprendi a ler, obra e graça da minha mãe, que achou a Banda Desenhada melhor que a Cartilha Maternal de João de Deus para iniciação às primeiras letras. Lembro-me só que era de cowboys, o que já não é mau, atendendo a que tinha 6 anos, e já passou algum tempo. O professor Bonacho, tão bom como professor e pedagogo quanto severo como mestre, e que além do mais, sabia que a escola é para ensinar(…), deu continuidade à aprendizagem, e deixava-me ler esses textos ímpios, com mais bonecos que palavras, enquanto os meus colegas andavam pelo B-A – BA.
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A começar assim, o resultado só podia ser o que foi: tornei-me num viciado em livros, a necessitar de desintoxicação, entro em carência se não tenho que ler à mão, nem que sejam a lista telefónica (não é exagero, é mesmo assim).
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O dealer que se seguiu foi o meu pai, que me abastecia com o Falcão (com histórias magnificamente ilustradas, de origem inglesa), religiosamente, ao sábado, à hora do almoço. Seguiu-se o Jacto, de que poucos se lembrarão, em tamanho Diário de Notícias antigo, acabou o Cavaleiro Andante, o Mundo de Aventuras ia mudando de formato, ora maior, ora mais económico. E todos, enfim, os que sobreviveram, estão por aí pelas estantes, para “consultas” eventuais, e mergulhos nos paraísos artificiais da minha infância e juventude real. Porque a outra infância e juventude, da escola e do dia a dia, era para mim cinzenta e chata, uma alternativa pobre e sem o sabor da imaginação, da liberdade e da aventura.
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Olhando (muito…) para trás, agradeço aos meus pais esse legado, o melhor que me poderiam ter deixado: a única liberdade que existe é a do pensamento, qualquer outra é Matrix, ou ilusão (para que vejam que sigo as tendências, e que, além de católico e de gostar de fado, coisas que agora estão na moda, também tenho um lado budista, senão zen, como qualquer pósmoderno com pendor new age que se preze).
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Os quadradinhos abriram-me a sede de ler, e os Cinco, Emílio Salgari, Júlio Verne foram prelúdios para outras aventuras, com o Colin de Boris Vian a ter o sabor a espuma dos dias de praia e das noites ternas das paixões adolescentes. Mas a grande literatura, a ilustrada, nunca perdeu o seu lugar, o do eterno partir ao sol poente do Lucky Luke.
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Creio que o Corto Maltese foi um dos grandes responsáveis pelo meu período marítimo. No Mediterrâneo, cheguei a Alexandria com Cavafis, que me foi apresentado pelo meu autor preferido, Lawrence Durrell, magnífico autor de Banda Desenhada não figurativa.
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Continuei a aprender, e no mar aprendi que os marinheiros, à imagem dos alter egos Hugo Pratt/ Corto Maltese, se inventam horizontes perdidos, como forma de vencer a monotonia dos oceanos, e procuram sempre a sua ilha nos mares do sul. E lêem, lêem muito, de tudo, todos a bordo lêem BD, ficção, ensaio ou poesia. Cada navio é uma biblioteca flutuante, onde os livros circulam, se transmitem de mão em mão, com recomendações e anotações. Os marinheiros leram Conrad, sabiam quem era Lord Jim, antes de Pratt o ter frequentado. Na prisão que é o navio, ler é ser livre, sair, ir a todos os lados. Quem por lá anda, ou andou, sabe que o chegar nunca é bastante, a realidade é a viagem. Talvez por isso, a maioria nunca mais seja capaz de a abandonar, a viagem.
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No anos 60, a escola belga, a linha clara, impôs-se, e o que começara com Tintin e foi resistência com E.P. Jacobs, pai de Blake and Mortimer, andou pelos Michel Vaillant e outros Buck Danny, defensores do que muito bem entendiam, nomeadamente do american way of life, a quem volto, sempre que quero desopilar.
Gaston Lagaffe (não confundir…) foi 68 huitard avant la lettre, profeta da derrisão como forma de subverter o que está, libertário de forma natural e não violenta, embora, quanto a este ponto, me surjam algumas dúvidas. E mais subversivo que o Grand Duduche, só a Hara Kiri, revista também de BD, inqualificável, escatológica, monumento ao mau gosto e ao politicamente incorrecto, de tal modo que os seus mentores estariam hoje afogados em processos, provenientes de todas as cabeças bem pensantes, de todos os quadrantes socialmente responsáveis, se não presos pela ASAE…
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Novos autores e correntes foram aparecendo, e Tardi, com Adèle Blanc Sec, entre outros, é pacifista, denunciador dos militarismos e do sem sentido de todas as guerras, mesmo das justas.
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Tudo isto se lia por cá, à medida que ia aparecendo, menos a Hara Kiri, porque, convenhamos… Ainda está por escrever a influência subliminar da Banda Desenhada enquanto subvertora dos valores do Estado Novo, mas, na altura, eu não estava minimamente interessado na análise semiótica, ou na desconstrução de cada quadradinho. E continuo a não estar muito. Eram, continuam a ser, para mim, um todo, histórias com princípio meio e fim, com os seus heróicos anti-heróis.
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Quanto à BD hoje, não me revejo na estética graffitti, embora a tenha acompanhado com interesse, desde o início. Como também não na zapper (tipo MTV), mas já vou gostando das manga (BD japonesa).
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Resumindo, que isto já vai longo demais, tornei-me um reaccionário na Banda Desenhada, continuo um cromo dos livros, e, à minha cabeceira, os livros mais sérios que tenho são as BD’s. Os outros, são literatura inacabada: faltam as imagens…
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Fernando Jorge Sousa
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C O M E N T Á R I O S
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laurinda disse...
Memórias despoletam memórias e este texto fez-me recordar de como descobri a leitura: com um "livro de quadradinhos".
Não me lembro de existirem outros livros lá em casa. Um dia encontrei numa gaveta um pequeno livro de banda desenhada "de cowboys" :). Lembro-me de ter olhado para os bonecos, dos quais recordo umas cenas passadas num comboio, e de ter percebido que aquelas letras eram aquilo que eu andava arduamente a aprender na escola. As coisas começaram a fazer sentido e também eu me tornei uma viciada na leitura.
A banda desenhada dá-me prazer por fases, como os policiais... (Interessante! Deixei de achar graça e de ler outros policiais desde que descobri a Patricia Higsmith e a Ruth Rendell..).
Os livros da biblioteca das caldas da Rainha foram os meus educadores. Cinco de cada vez! Devorava-os às escondidas e, ainda hoje, tenho um pouco essa "culpa" da leitura por prazer. Como se estivesse a roubar o tempo destinado a algo mais pragmático, que nessa altura me era exigido.
Tenho um vício um pouco estranho: quando um livro me enche realmente as medidas, por vezes não leio o fim. Guardo como um tesouro de que precise para me curar de um dia mau.
Laurinda
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Luis disse:
A BD continuou a ter muita importância para nós ao longo dos anos seguintes e o texto do Fernando Jorge reflecte isso mesmo. Embora tenhamos gostos e interesses diferentes mas o que interessa é que a Banda Desenhada se tornou uma forma de arte adulta.Boas férias!L
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JJ disse:
O artigo do FJ é muito pessoal e é isso que o torna interessante. Mais do que um repositório da evolução da Banda Desenhada nos últimos anos, está aqui a descrição do prazer e da influência que ela teve na forma de olhar a vida e a arte de alguém da nossa geração.
Embora partilhe algum fascínio por Corto Maltese nunca encarei a BD em pé de igualdade com a Literatura, continuo a preferir Lawrence Durrell e o Quarteto de Alexandria, mesmo apenas com as minhas ilustrações imaginárias...
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Fátima C disse:
Excelente texto este de Fernando Sousa que nos retrata a sua " avidez" por livros e pela leitura.
Adorei a expressão: "Tornei-me num viciado em livros, a necessitar de desintoxicação, entro em carência se não tenho que ler à mão..." Como me revejo aqui...De facto este brilhante texto, de tão bem escrito, espelha os bons hábitos de "leitura desenfreada"...
Muitos Parabéns a Fernando Sousa.
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José Santa Bárbara esclareceu:

Nota: pelo comentário do João R F sabemos que a interrogação corresponde à Manuela Calisto (mãe do Ricardo e da Manica). O primo dos Calstos ou é o Carlos Calisto ou o João Rams Franco.
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João Ramos Franco disse...
O primo dos Calistos é José Pratas e Sousa (primo por parte da minha tia D. Leonarda), eu ou o Carlos teriamos 12 anos de idade, não somos tão pequenos.
João Ramos Franco

FOZ DO ARELHO - HOTEL DO FACHO (1954)

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No Verão de 1954 foi tirada esta fotografia na esplanada do Hotel do Facho.

A maioria das caras são conhecidas, algumas são de alunos do ERO,

outras de amigos. Quem quer tentar uma identificação?

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COMENTÁRIOS
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Ana Nascimento disse:
De pé - Asdrúbal Calisto, ?., Anico Moreira, ? Guida Calisto, Quicha Moreira, ?
Em baixo penso que a primeira da esquerda é a Maria Augusta Novo, irmã do Mané.
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João Ramos Franco disse...
A seguir ao Asdrúbal Calisto, é a irmã Manuela Calisto (Manecas).
João Ramos Franco
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Fernando Santos disse:
É pena que além da Ana Nascimento e do João Ramos Franco não apareça mais ninguém que identifique as restantes pessoas que aparecem na foto.
Força João Franco! Veja se consegue trazer para o blog mais pessoal do nosso tempo.
É certo que alguns infelizmente já não se encontram entre nós, mas os que restam bem podiam dar um ar da sua graça ao menos para dizerem que ainda estão vivos!
Um abraço para todos.
Fernando Santos
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jose disse...
O João Ramos Franco, está enganado, a jovem que está ao lado do Asdrúbal,não é a irmã Manecas.A Augustinha Novo ou a Quicha Moreira talvez se lembrem do nome.O mais jovem dos fotografados, é irmão do Chico Zé,médico,já falecido, e da Mamelucha, primos dos Calistos.
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JJ disse:
Então o jovem é o Carlos, como eu digo desde o princípio.
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João Ramos Franco disse...
Se a estatura é de um miúdo de 12 anos de idade, pois o Carlos, a quem o José se refere, é mais velho que eu 25 dias, por isso não é ele nem eu.
Recodor-me desta época, pela estatura/idade, só pode ser o José Pratas e Sousa que tinha 6 anos de idade e nesta época passava férias nas Caldas.José recorda-te que estámos 1954 e eu e o Carlos já tinhamos 12 anos e não podemos ser o miudo que está fotografia que aparenta ser muito mais novo.
Quanto ao ser ou não a minha prima Manecas, tambem teria que falar com a Margarida para dar uma certeza.Um abraço amigo
João Ramos Franco
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Elisa Maria disse:
Na foto quem está ao lado do Asdrubal Calisto é uma moça chamada CELESTE e ao lado da MARIA AUGUSTA PENSO QUE SEJA a MARIA MADALENA FERNANDES. A CELESTE vive em Santarem, a MADALENA está a viver cá nas CALDAS.
SEMPRE ELISA
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Kicha Moreira disse...
Ora bem, o desafio foi feito e aceite. Ao lado do Asdrúbal está a Celeste Ramos, as duas raparigas por baixo da minha irmã Ana Maria são as irmãs Moniz Galvão (Guicha e Zé), sempre de férias nas Caldas em Setembro. Só não consigo identificar o miúdo, mas sei que não é o Caíta, irmão do Xico Zé e da Mamelucha.
E assim parece-me não haver mais dúvidas.
Kicha Moreira (também Cristina Prats)

PROFESSOR ROSA BRUNO




Exmo Sr
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Foi com prazer e contentamento que soube da existência do vosso blog onde encontrei bastantes referências ao meu pai, Professor Luis Maria Rosa Bruno.
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Congratulo-me com o facto de ele ter sido uma referência para os seus alunos que nunca o esquecerão.
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Aproveito para informar que nasceu em Outubro de 1915 no Redondo e faleceu no dia 26 de Abril de 2002, aos 86 anos, na Marinha Grande, terra onde leccionou na escola Guilherme Stephens até aos 70 anos.
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Estou a tentar juntar a sua obra bibliográfica, mas não tem sido fácil pelo facto de várias terem sido publicadas e vendidas directamente pelo meu pai, tendo esgotado os exemplares. Gostaria que, através do seu blog, pudesse divulgar o meu desejo de encontrar obras e/ou documentos referentes ao meu pai que, eventualmente, poderão estar na posse ou ser do conhecimento de antigos alunos e/ou colegas do Colégio.
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Procuro especialmente um livro intitulado "Até ontem" para poder duplicar e assim ter um exemplar, mas qualquer outra informação será importante.
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Peço-lhe que divulgue esta minha pretensão e agradeço desde já a sua disponibilidade. Estarei ao seu dispor para o que achar pertinente.
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Atenciosamente,
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Rui Cardoso Rosa Bruno