ALMOÇO / CONVÍVIO

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Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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"MEMÓRIAS" (Exposição de José Santa-Bárbara ) por José Carlos Faria




Para começo de conversa, permito-me, descaradamente, citar-me a mim próprio:
«Antes do mais uma declaração de interesse – José Santa-Bárbara tem para comigo a deferência de ser um amigo certo. Não por “interesse”, claro, de improváveis vantagens que a minha desprovida figura lhe poderia alguma vez causar, mas pela enorme generosidade que faz dele um homem bom. Confesso portanto a parcialidade arreigada que me vem de admirar a sua pessoa e nela a lucidez do cidadão e a qualidade estética do trabalho do Artista. (Chega-lhe de longe o talento, a romper entre as brumas da memória – do egrégio avô Ludovice, edificador de esplendores barrocos, lá por altura de Setecentos…).
Disse bem (e repito): Trabalho do Artista (pois, a criação nasce da “labuta que a pariu”); sobretudo quando neste jardim á beira-mar plantado, os que se reclamam desse estatuto parecem ser em maior número do que as obras de Arte. As do Zé Santa, essas, estão aí espalhadas na escultura, na pintura, no design, em Arte Pública, poderosas e impressivas».

Assim escrevi, já lá vai um tempo e não saberia agora, para estas «Memórias», dizer melhor. Perante Vocelências estão as obras em retrospectiva e são elas quem dá o melhor dos testemunhos, seja na intimidade de uma cumplicidade sussurrada ou erguendo a voz em gritos de alerta. Ouçam-nas pois, ao vê-las, que elas têm histórias para narrar e segredos para revelar. (Re)parem, escutem e olhem!
As capas do Zeca a cantar Liberdade! O ritmo dinâmico dos signos ferroviários, carris/engrenagens das sendas da vida, neste país de pouca-terra, pouco-chão. As «Vontades» de todos nós recolhidas por Blimunda nas sete luas do suplício de sangue dos flagelados, sete sóis (e muitos mais) de esperança magoada para a tela-novela dos «Quotidianos», do Belo/Negócio, da Democracia/Natureza-Morta,  folhetins do precário pão nosso de cada dia, do patrão nosso de cada dia-a-dia nos livrai, fado vadio com nódoas de vinho e ais gemidos, borrões da paixão afogada na solidão colectiva. «A Curva da Estrada», ilustração implacável da traição aos ideais pelos parlapatões encartados, bedéis da renúncia, mestres supremos da renegação. O bestiário extravagante dos «Extravagários».
O Zé Santa-Bárbara não é artista de plástico («que era mais barato», como dizia o O’Neill) nem mesmo quando concebeu as excelentes cadeiras para o Pavilhão Atlântico dessa Expo do mar de ilusões a granel, navegadas à bolina por um povo em rota de escape; nem um troca-tintas, que disso o livra a sua postura vertical e íntegra perante o Mundo e a capacidade para sonhá-lo diferente (que dores para o pintar de outras cores, senhores…); e pés de barro (mas consistentes, está bem?), só nas formas elegantes e depuradas da sua cerâmica.
Como que animado por um espírito do Renascimento, há aqui uma busca versátil e conseguida, sempre prova consciente do que Bento Caraça afirmava: «A Arte coloca o Homem perante a sua própria dignidade».
Não é?

         José Carlos Faria     
(Catálogo da Exposição “Memórias”, José Santa-Bárbara, Anos 50 » 2010)
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Relembramos que a Exposição "MEMÓRIAS" está no Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha até 19 de Julho. 
Não percam !

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