ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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BREVE HISTÓRIA DO EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO 1945-1973 ( 2ºparte)

(continuação)

No dia 19 de Julho de 1959, numa “OPA amigável”, o Patriarcado compra o Ramalho Ortigão. Depois da aquisição o primeiro director será o Padre António Emílio (1958-1963) caldense de nascimento, actualmente residente na Misericórdia da nossa cidade. Será ele que fará a transição do “prédio do Crespo” para um edifício construído finalmente de raiz, no curto espaço de um ano, na R. Diário de Notícias e que é inaugurado pelo Cardeal Patriarca a 4 de Outubro de 1960. Segundo a crónica “Jogos” (João Bonifácio Serra) inicia a sua actividade ainda com grandes lacunas nos pátios dos recreios e nos acessos : “Havia aspectos das novas instalações do Externato Ramalho Ortigão que não estavam concluídos quando foi inaugurado, em 1960/61. Os recreios, por exemplo, não estavam pavimentados. Aqui e ali, amontoavam-se alguns restos dos materiais usados na construção. O terreiro ficava, quando chovia, pouco transitável e os contínuos procuravam evitar que a rapaziada se aventurasse pelas veredas de lama, entre charcos e pedras.” A pequena ladeira final, o parque de estacionamento e os recreios só serão alcatroados, juntamente com o Alberto Reis Pereira, um ano depois:”Foi nos primeiros dias de Outubro, andei a passear pela mão do padre António a ver os homens a trabalhar e nem reparei que fiquei todo sujo. Só quando cheguei a casa e ouvi um sermão da minha Mãe me apercebi que tinha observado perto de mais… fui directo para a banheira e submetido a uma esfrega com azeite e pedra-pomes de que ainda hoje me lembro!”. O “alcatroamento” do Alberto, acidental e indesejado, permite datar exactamente o da ladeira, intencional e necessário, no início de Outubro de 1961.
Chegara antes disso o Sr. Ulisses, contínuo, motorista, segurança, e a mulher, a Dª. Luísa, que vai ser a encarregada do bar/cantina. Conta a filha, a São Caixinha: “É do Sr. Padre António Emílio a fotografia que envio, com os meus pais e comigo. Foi tirada ainda em Lisboa algum tempo antes da nossa mudança para as Caldas da Rainha e para o ERO que, como se depreende, foi proporcionada, e com carinho encorajada, pelo mesmo. Residíamos então nas dependências da Igreja de S. João de Deus onde o meu pai trabalhava, (já empregado do Patriarcado portanto). O edifico do ERO teria ainda que ser construído, e nós acomodámo-nos temporariamente naquela casa que ficava à esquerda na subida e que mais tarde viria a ser conhecida como a casinha do Sr. Padre Renato” .O seu irmão José Caixinha, um polícia reformado chamado Carias e as meninas Alda e Benvinda completam o quadro de auxiliares. Lembro-me também de um jardineiro com cerca de 150 anos, que arrancava uma erva daninha por dia, mas não do seu nome.

Nesse ano lectivo de 1960/61 inicia-se uma nova etapa, num espaço com condições incomparáveis com qualquer dos anteriores. Laboratórios, anfiteatro, ginásio e salas ao nível do que de melhor se fazia nessa altura em termos de ensino privado
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Nos três primeiros anos desta fase (60/61, 61/62 e 63/64) funcionou no Colégio simultaneamente uma Escola de Magistério, exclusivamente frequentado por mulheres. Eram todas originárias do Norte pelo que estudavam em regime de internato, instaladas numa casa perto do ERO, mas de que não descobri a localização exacta.
A Mocidade Portuguesa está activa no Colégio nesta altura mas “ a presença da MP no ERO foi efémera, entre Outubro de 1960 e 1963, notando-se uma clara falta de empenhamento da hierarquia católica e docente do Externato na sua acção”, conforme relatado numa pequena crónica aqui publicada há dias (“A Mocidade Portuguesa No Externato Ramalho Ortigão”, 7 de Janeiro de 2008).
No Verão de 1963 o Padre Albino substitui o director e ocupa esse lugar durante sete anos (1963-1970). Este homem não conhecia as Caldas nem sequer sabia da existência do Colégio até ter sido informado das suas novas funções, em Julho de 1963, enquanto gozava férias em Viena de Áustria. Deixa o cargo de capelão na Casa Pia, onde foi substituído precisamente pelo padre A. Emílio. Trouxe de lá o Dario, o Zé Maria e o Mário, empregando-os no Externato.
“A transição da gestão do Padre António Emílio para o Padre Albino não foi fácil para a minha turma, talvez aquela que tinha criado mais laços afectivos com a liderança feita de camaradagem e proximidade do Padre António. O Padre António frequentava os recreios e participava, quando não era o principal organizador, dos jogos e outras iniciativas colectivas. Era confidente e irmão mais velho. Estava mais tempo junto dos rapazes e raparigas que no seu gabinete. Era das Caldas (de Tornada) e conhecia bem o meio e as famílias de cada um dos alunos.
O Padre Albino veio do exterior, trouxe metodologias totalmente diversas e impôs um estilo de autoridade que se aproximava mais da figura do director que ameaça que do director que persuade. Nenhum de nós compreendeu a substituição (que mais pareceu um castigo para o Padre António) e nenhum de nós se adaptou à distância severa que o Padre Albino representava ” (J B Serra).
A propósito desta relação próxima com os alunos conta a Nami: ”No primeiro intervalo do meu primeiro dia de aulas descobri que havia rebuçados à venda mas eu não tinha levado dinheiro. Bati à porta do director e ele foi comigo pagar-me os rebuçados. A minha Mãe ficou envergonhadíssima quando soube, mas o padre António achou natural”.

O Padre António Emílio terá sido alvo de má-língua e boatos, típicos de uma cidade pequena, mas o motivo principal para o seu afastamento foi a ruinosa situação económica e financeira do estabelecimento, motivada por uma gestão displicente. O prejuízo acumulado pela Escola de Magistério leva ao seu encerramento, sendo também suspensas todas as actividades extra-curriculares, incluindo a Colónia de Férias em Salir do Porto. Um empréstimo de cem mil escudos junto do Banco Pinto de Magalhães em Setembro de 1963 e a subida das propinas permitem regularizar a situação, comprar equipamentos e recrutar novo pessoal docente, entre eles os Drs. Luís e Cândida, efectivamente dos melhores professores que conheci no Colégio. Embora tenha mantido sempre uma má relação pessoal e uma total discordância com a concepção de disciplina e autoridade do Padre Albino, sei que os seus resultados pedagógicos eram os melhores do distrito na sua época, um facto documentado nas pautas de exames do Liceu de Leiria.
Sobre os professores, aulas, ambiente, recreios, excursões, etc, deste período estão já muitos relatos em textos anteriores deste Blog, como por exemplo “ERO” do Z C Faria, “Fotografia Oficial” e “… Shadows” do Flores, as crónicas do João Bonifácio Serra (“Correspondência” e “Jogos”, mais se seguirão), a ”Confusão…” do Miguel B M, “Chacina no ERO” (só para m/18 anos) da Ana Nascimento, “O primeiro Ano do Ciclo”, “A Representação de Natal”, é só irem lendo as crónicas. De notar que nos estão a chegar fotografias e estórias da primeira fase do colégio (“Todo o Mundo e Ninguém - 4 fotos de 1948” e “Alunos e professores em 1948/49”) que começam a alterar o colorido algo (demasiado?) sixties do nosso Blog.
Registe-se a curiosidade de, durante os anos de 62/63 e 63/64, o Externato ter sido também Internato, embora os alunos internos pernoitassem fora do edifício, numa casa alugada na Rua da Fonte do Pinheiro. Curiosamente as casas alugadas eram, para os padrões da época, relativamente longe do Colégio. “Nestes locais as casas grandes tinham rendas mais baratas do que no centro da cidade” disseram os dois internos com quem falei, que explicaram a sua opção “as nossas famílias moravam demasiado longe das Caldas para conseguirmos ir e vir todos os dias. Lembro-me de gente de Peniche, Alcobaça, Pataias… Mas nunca fomos mais de oito ou dez alunos e por isso acabaram com os internos”. Uma outra casa, na Rua dos Artistas, alugou durante alguns anos quartos a alunos e até a funcionários mas era um negócio particular, desligado do ERO. Eu tive colegas de fora, lembro-me do Vítor Gil, Silvestre e Rogério Teotónio, que foram obrigados a alugar quartos particulares nas Caldas na segunda metade da década de sessenta.
Esta questão dos alunos que moravam fora das Caldas sempre preocupou os responsáveis, óbvia e legitimamente interessados em atrair mais inscrições. João Serra: “Fui em 59/60 para a aula do capitão Dario porque o horário do ERO era incompatível com o horário das camionetas que faziam a ligação entre as Caldas e o Carvalhal Benfeito, onde eu residia. Estas chegavam às 9h30 (quando não se atrasavam, o que sucedia frequentemente, sobretudo no Inverno) enquanto as aulas começavam às 8h30. De qualquer modo, eu ainda frequentei o ERO em 1959/60, durante apenas uma semana. As aulas eram no edifício da Rua Heróis da Grande Guerra (um edifício que fora mandado construir por Manuel Lopes, irmão de Júlio Lopes).
Ingressei no ERO em 1960, porque a nova empresa apresentou uma solução para
os potenciais alunos do eixo Santa Catarina, Carvalhal Benfeito: o transporte em carrinha própria. De modo que diariamente uma carrinha Volkswagen, conduzida pelo Sr. Ulisses, fazia o caminho Caldas/Santa Catarina de manhã e à tarde, por um preço equivalente ao do bilhete de camioneta.”

O mesmo Sr. Ulisses iria, anos mais tarde, penso que na mesma Volkswagen, esperar na Estação da CP de Caldas o comboio que chegava do Bombarral, Dagorda e Óbidos. Viajavam nele vários alunos, entre eles os meus colegas Tó Quim, Malinha e Granja, que chegavam frequentemente atrasados à primeira aula da manhã. Aula que começava às oito e meia, e não às nove, ao contrário do que diz a Ana num comentário recente em que se queixava da memória do Bonifácio…
O ERO forneceu neste período um serviço designado “carrinha”, assim chamado embora fosse uma camioneta normal, alugada aos “Capristanos”, que fazia o trajecto Borlão, Estação CP, Rainha, Praça da Fruta, Colégio, no início das aulas, oito e meia e duas e meia, e o trajecto inverso no seu final, à uma e cinco e meia da tarde. A sua frequência não era muito bem vista, era mesmo evitada, pelo pessoal cool… Fui cliente nos primeiros anos, mas como havia essa ideia que era um transporte para meninas e mariquinhas, convenci os meus pais a desistir dessa opção. Bem me arrependi, nalgumas manhãs de Inverno, ao subir a ladeira encharcado e enregelado e vendo os mariquinhas, secos e quentes, serem comodamente transportados para o colégio!
Havia uma colónia de férias em Salir do Porto, lembram-se? “Era exclusiva do ERO, não tendo nada a ver com a Paróquia. Recordo com alguma nitidez e muito agrado a colónia do verão de 1962. Quanto a 1963 admito ter lá estado, mas não tenho recordações específicas. Podem estar ofuscadas pela excelência de 1962, com o Luís Moita, a Drª Clara, a Drª Armanda e a Drª Alda. O barracão devia ser novo em 1962 (se não era novo, em 1963 era mais velho certamente)” (João Miguel A Santos).
No Verão de 1970 sai o Padre Albino e é nomeado director o Padre Francisco dos Santos (1970-1973), mais conhecido por Padre Xico. Vive-se um ambiente de “primavera marcelista” (dentro e fora do Colégio), a fase do autoritarismo autista termina, o novo responsável é um homem tolerante e dialogante e ao ERO tinham entretanto chegado novas professoras que trazem uma lufada de ar fresco: lembro-me, assim de repente, da Inês, Helena, Noémia, Ana V Lino, Júlia, Cármen…
Saíram do Colégio nestes anos os únicos alunos que o frequentaram tempo suficiente (e na altura certa) para conhecer os três directores da era do Patriarcado: recordo, além de mim, Miguel B M, Manuel Nunes, Luísa Nascimento, Alberto Reis Pereira, Hipólitos, Nami, Eurico, Odete Baroso, João Ferreira, São e Isabel Caixinha …não devem ser muito mais.
Dois anos depois da minha saída, em Junho de 1973, o Externato encerra as suas portas como estabelecimento de ensino, no seguimento da abertura, em Outubro de 1972, de um Liceu nas Caldas da Rainha.
JJ


Contribuíram decisivamente para o que acabaram de ler:
Margarida Araújo: Fotografias, pesquisa,boa disposição e muita paciência.
João Bonifácio Serra: Textos, informações, o seu precioso tempo e uma inexplicável
convicção de que eu seria capaz de escrever decentemente esta breve história.



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Esta crónica tem seguramente lacunas e erros, tanto em termos de datas como de pessoas que fizeram a história do ERO, pelo que são desejáveis todas as posteriores contribuições e correcções. Enviem os vossos comentários por email para ex.alunos.ero@gmail.com . Eles poderão ser lidos, num artigo independente colocado acima, designado:
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3 comentários:

Carlos Spereira disse...

Sou do final dos anos 50, já com o Pdre. António Emílio, em que o colégio tinha 2 secções: o 1º. ciclo "lá em baixo" e o 2º. e 3º. "cá em cima".
Dos professores do 3º. ciclo lembro-me, em especial do Dr. Azevedo de Matemática e de um de Fisico-Química, já velhote, de que não me recordo o nome, que andava sempre de beata na boca, com a cinza a cair para a secretária. Recordo colegas mais novos e do mesmo ano, como as que comentaram na outra parte (TVP e Antónia), Cristina Pragana, Teresa Caldeira, Teresa Capristano, Tamé, Dulce e tantas outras, tanto como o Calheiros, Freitas, Rainho, João Bártolo, Laborinho Lúcio, o Lourenço que jogou no Sporting, o Zé Carlos Nogueira, etc, etc, etc

Isabel Truninger de Albuquerque disse...

Esse professor de Físico-Química a que chamávamos Serôdio, foi preso político na cadeia de Peniche. Percebia-se que a sua vida não teria sido fácil, continuava sob vigilância da PIDE. Mas brincávamos tanto com ele, lembro-me da Zezinha filha do Presidente da Câmara esperar que ele entrasse na aula,cansado logo de manhã, a arrastar os pés,ficasse de costas para lhe atirar a tinta da caneta à bata. Não se apercebia de nada.Quase todos os colegas a que te referes eram da minha turma,mas o João Bártolo não será o Bertolino? Este, o Laborinho o Zé Carlos a Dulce, o Rainho, o Calheiros eram mais velhos do que eu, alguns eram colegas do meu irmão Pedro, um ano acima de mim.Não consegui perceber de que turma eras.Mas nessa altura não estava ainda o Padre António Emílio. E estávamos no prédio dos "Crespos". Havia também o Dr Umbelino de Português e a DrªBeatriz. Foste com certeza do tempo do Dr Perpétua que foi Director. Como é que se chamava aquele professor cuja morte por lúpus me impressionou tanto, uma doença de que nunca tinha ouvido falar, e era tão novo, numa altura em que ainda éramos todos tão imortais...
Então o ERO acabou??!! Como se chama o Liceu? Está no mesmo local? Gostei de ler a história...

José Manuel Ramalho disse...

Como a Isabel Albuquerque disse e bem, em meados da década de 50, o Director era o Dr. Perpétua também Professor de Português e exímio distribuidor de reguadas por cada erro que se desse nos seus ditados. Um bom cliente era o António Artur Gil ( Tatu ). Isto no nosso 1º ciclo.Nessa turma mista militavam, penso, a Isabel Albuquerque, Isabel Mendoça, Lurdes Alier, Maria Helena Francês, Zezinha Pais, não sei se já a Madre de Deus e a Teresa Vieira Pereira, Pedro Félix, Manuel Anacleto, eu, Tatu Gil, Higuinaldo Neves, Gil Quitério,não sei se o Carlos Aurélio e os Branco Lisboa. Peço desculpa por qualquer troca ou omissão mas já foi há tanto tempo que estas recordações vão passando para a minha faixa de 10 % de Alzheimer. A Drª Beatriz vem mais tarde e também leccionava a Disciplina de Português. Quanto ao Dr. Serôdio não sabia que tinha sido preso político, dizia-se que combatera na 1ª Grande Guerra com a patente de Tenente e que tinha sido gaseado, daí o seu caracter instável. Fumava cigarro atrás de cigarro sendo o último o "isqueiro " do próximo. A sua frase mais comum era " OUBE LÁ, OUBE LÁ " por vezes seguida de alguns impropérios ditos à boa maneira nortenha. O Gil Quitério que o diga, parece que embirrava com o rapaz. Julgo que era natural de Guimarães e bem lá no fundo não era má pessoa.Saíu em beleza e com estrondo pois provocou uma explosão que só por um milagre não feriu ninguém gravemente. Uma preparação que devia ser a frio e diluída tentou a quente e concentrada e ... PUUUMMMM ! Nobel não faria melhor. Pois bem, em todas as aulas o costumeiro bombardeamento de tinta como disse a Isabel, mas aquela bata era tão sebentosa que a tinta até lhe melhorava o aspecto. Pedia amiúde a algum de nós que lhe fosse comprar um maço de TAGUS à mercearia do Manel Coutinho e quem lá ía trazia nos bolsos um bom avio de fava miúda, grão ou outro cereal que lá se vendia a granel e que habilidosamente era surripiado. Eram as munições para as aulas da Drª Beatriz, ela fortemente bombardeada por aqueles géneros alimentícios quando estava de costas a escrever no quadro. Quantas lágrimas ela verteu por nossa causa. Uma boa alma que tanto fizemos sofrer na nossa inconsciência. Claro que lá vinha o Dr. Perpétua impor a ordem e o Tatu Gil escondido debaixo das carteiras só saindo ao grito autoritário do Director " SAI DAÍ CARA DE CESTO ! " BONS TEMPOS ...