ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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A MINHA TERRA por Francisco Cera

Francisco Cera



A terra onde eu cresci

Era muito diferente

Daquela em que vivo agora.

Das saudades que senti

Desse lugar, dessa gente,

De onde tudo foi embora,

Não será fácil de escrever

Mas vou ter que o fazer,

Num texto breve, mas profundo,

Para que os novos possam sentir

Que não estou a mentir

Quando lhes digo

(Para meu castigo)

Que a minha terra

Era a melhor terra do mundo.




E tudo começava no Parque. Primeiro nos baloiços, no escorrega, nas matinés de “cobóis” do Ibéria, depois no pingue-pongue da Casa dos Barcos com a D. Adelaide a dizer “tá na hóia”, ou ainda, na Esplanada, com a malta à volta da máquina de discos a ouvir os primeiros acordes dos Beatles. À noite, o Parque enchia-se de encantos: os canteiros iluminados, a Banda a tocar, os mais velhos a passear e os mais novos, eles e elas, cruzando olhares e risinhos discretos. Muito discretos.

Ao cimo brilhava o Casino, fronteira do Tempo e da Condição, que se abriu de forma saudável a uma frequência enriquecedora.

A malta, se não estava junta, não estava longe. Havia sempre um sítio para se encontrar. A Rua das Montras, em frente à Tália, era um dos primeiros “pontos de encontro”. Lá de dentro vinham os novos sons, os novos cantores, e na rua parava, por pouco tempo, essa raridade geradora de felizes expectativas, as miúdas. A esquina da “Vaultier” era a sede da SAPEC (Sociedade Anónima de Polidores de Esquina Caldenses) e por lá paravam outros “mirones”.

Na fase mais imberbe, a malta espalhava-se pelos matraquilhos na Floresta, pelo bilhar do Marinto ou por um pires de berbigão no Caldas Bar por quinze tostões a dividir por três. Nesse tempo, no Silva Santos, a montanha paria um caderninho por cinco tostões, que era o preço de uma jeropiga ali para os lados do Chafariz das 5 Bicas. A malta alternava: umas vezes o caderninho, outras vezes a jeropiga.

O tempo das borbulhas decorria já nas tertúlias do Bocage, do Invicta ou do Lusitano. Para o Central já se exigia outra estaleca cultural que o Tempo se encarregou de trazer e permitir uma consciência que a todos, ou quase, acompanhou pela vida fora.

A Zaira, o “Poço das Víboras”, era reserva para o charme, o galanteio, a finesse.

Tinha de tudo a minha terra. Sobretudo, tinha Vida.

Tinha o Ferro Velho e a Azenha onde havia copos e paixão mas sem violência, cultura e mistério mas sem drogas, por vezes Zeca Afonso e a PIDE à porta. E tinha teatro, tinha o CCC que ganhava os prémios do SNI e enchia as salas de Lisboa, de Coimbra, eu sei lá…

Era um tempo de vivência no colectivo. No Carnaval, saltava-se dos Pimpões para os Bombeiros, do Casino para o Lisbonense até que a manhã chegasse e parasse a festa.

O Verão trazia gente de fora que se fez de cá e aqui compartilhava as festas, os jogos, os passeios, as brincadeiras no areal da Foz, umas imperiais no Zé Félix ou o Pôr-do-sol nos terraços da FNAT.

A minha terra tinha de tudo. Hoje tem apenas a saudade.


Francisco Cera

Breves notas e comentários a " A Minha Terra"

Como habitualmente, datas é mentira… E lá entra o “datómetro” em funcionamento. A infância do Chico é nos anos 50, a sua adolescência já a entrar nos 60. Podem consultar O CHICO DA BAÍA

Ouvir os Beatles na Esplanada é só a partir de 63/64, altura em que os seus singles e EPs começaram a estar disponíveis em Portugal.

A presença dos mirones na esquina da H. Vaultier não permite datar nada. Consta que já lá estavam quando a D. Leonor passou e ainda lá estão hoje. Funcionam por turnos, garantindo uma presença constante no local. (Para quem não sabe, estamos a falar da esquina da R. das Montras com a Praça da Fruta)

Os locais são os já referenciados. O Caldas Bar, ali em frente à Rodoviária, acima da Jornália, não estava na lista original mas já foi acrescentado.

A “abertura saudável” do Casino (que aparecerá aqui referida como a sua “primavera marcelista” no depoimento do Nuno Mendes) acontece no final da década de 60 quando, por iniciativa do Zé Augusto, foi decidido pedir aos Sócios mais jovens que propusessem amigos para Sócios de Verão por um preço simbólico, independentemente de as suas famílias serem ou não associadas. Foi um enorme sucesso e uma lufada de ar fresco e animação nos Verões do Casino.

O Zeca Afonso e a PIDE encontram-se no Inferno d’Azenha em 1968, salvo erro. Também lá estive, com os meus pais.

O Ferro-Velho funcionava, nessa altura, também como clube privado. Entrava-se pelo quintal da casa do Manel Luís e da Luísa. A minha primeira recordação do local é ir lá ouvir o White Album dos Beatles num fim de tarde nas férias de Natal de 1968 (agora podia fazer as Breves Notas das Breves Notas, explicando que o White Album era um duplo LP dos Beatles editado em 22 de Novembro de 1968, célebre por ter uma capa completamente branca só com THE BEATLES gravado e o nº de edição. Os dez primeiros valem uma fortuna, os cem primeiros bom dinheiro).
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Sobre o Teatro, o CCC e os prémios do SNI espero por outro texto, já prometido, do mesmo autor. Que foi um talentoso actor, que me lembro bem de ver representar.

A seguir reproduzimos a caricatura que o meu amigo Vasco Trancoso fez do Chico, com texto do Jorge Sobral. Foi originalmente publicada no "Álbum de Figuras Caldenses 1990/1991".
JJ

O CHICO DA BAÍA





“ O Chico da Baía”

Francisco Cera nasceu em S. Martinho do Porto a 01/11/45. Neto de pescadores, filho de gente do Ribatejo, inicia a sua escolaridade num pequeno sótão na Rua Alexandre Herculano em Caldas da Rainha na casa da Professora Perpétua.
Passa depois pelas Escolas Primárias da Policia de Transito e Praça do Peixe. Mais tarde no Ensino Secundário vai para a Escola Rafael Bordalo Pinheiro, junto ao Chafariz das 5 Bicas. Teve ainda o privilegio de ir estrear o novo edifício que foi construído nos antigos terrenos da Escola Agrícola. Foi sempre um aluno interveniente. Passou pelas actividades da Mocidade Portuguesa tendo sido um entusiasta dos acampamentos. Só que não há bela sem senão. Um dia puseram-no a tocar tambor desde tornada até as Caldas. Fartou-se tanto que nunca mais voltou. Cedo se lhe desenvolve um especial gosto pela poesia, pela palavra, pelo dizer. Na idade propícia aos sonhos a poesia ganha a dimensão de uma deusa. Lê para si, para mais tarde lê-la em voz alta para quem o queira escutar. Nos saraus e récitas da Escola a sua presença é constante. Com os seus dizeres entoados, por vezes dramatizados, lê poesia de Florbela Espanca, Fernando Pessoa, António Gedeão, Casimiro de Abreu, Jorge de Lima, José Régio e tantos outros. A Toada de Portalegre, o Mostrengo, Cântico Negro, Hino do Meu Terceiro Dia, O Menino de Sua Mãe, Chico Cera dizia-os com tal ênfase que acabou grangeando adeptos fervorosos.
Da arte de dizer poesia ao teatro, foi um passo. Várias foram as peças representadas. Em espectáculos organizados pela Escola R. Bordalo Pinheiro, assim como pelo Conjunto Cénico Caldense, Francisco Cera participou com dedicação e entusiasmo. Foi aliás nas actividades circum-escolares, neste caso no teatro, que conheceu aquela que ainda hoje é a sua mulher.
Das peças representadas “Antigona”, “Autos de Gil Vicente”, contam-se como das mais importantes do seu curriculum. No entanto o “Auto da Compadecida” representado em Coimbra pelo C.C.C., ficou-lhe para sempre gravado na memória. Foi de tanta qualidade a representação, que o público no final vibrou dando vivas às Caldas, ao Teatro, arremessando ao ar capas negras de estudantes que esvoaçavam na sala do velho Avenida. Mas outros passos na vida o esperam. Ao sair da Escola, emprega-se na Repartição das Finanças nesta cidade. Faz a tropa, uma grande parte dela no R.I. 5. Quando sai vai trabalhar nas Páginas Amarelas e um pouco mais tarde para a Torralta.
Aos poucos foi deixando a sua actividade ligada ao teatro, entusiasmando-se cada vez mais com a festa brava. Depois das garraiadas escolares, participa numa primeira tentativa de formação do Grupo de Forcados Amadores das Caldas. Como não resulta, ingressa no Grupo da Nazaré. Toma então a decisão de aceitar maiores responsabilidades ao nível da festa dos toiros, entra no Grupo de Forcados Amadores de Santarém.
Dedicou também à Imprensa muito do seu tempo: Jornal da Escola, Gazeta das Caldas, Jornal da Unidade (Militar) e o desaparecido Notícias das Caldas. Talvez por isso mesmo a caricaturista não lhe tenha perdoado um seu desabafo menos a propósito, que proferiu numa Assembleia Municipal em 1990, quando a Gazeta das Caldas foi posta em causa pela sua bancada.
Com espírito de iniciativa trabalha com outros caldenses na criação dos certames “Feiras da Fruta e Cerâmica”.
Na sua juventude sofreu a influência dos “anos 60” . Os Beatles, Adamo, Moustaki, Brel, Zeca Afonso e tantos outros polvilharam-no com o sal e a pimenta quanto baste. Cedo se apercebeu da falta de liberdades democráticas do seu País. A Guerra Colonial, as prisões politicas, e a luta dos democratas não o deixaram indiferente. Participa nas eleições de 1969 e 1973, ao lado da oposição. Mesmo quando cumpria o serviço militar participava em iniciativas levadas a efeito no interior do próprio regimento.
Tem conhecimento dos acontecimentos do 25 de Abril pela rádio, eram 9:30h, estava na Praça da República. A primeira reacção foi de emoção. Com olhos marejados de lágrimas sentia que o filho que esperavam iria nascer num país livre.
Vive intensamente a época revolucionária. Apanhado pelos acontecimentos da Torralta não aceita convites que lhe tinham sido formulados por partidos políticos. Apoiante da segunda candidatura do General Ramalho Eanes reencontra Hermínio Martinho que há muito conhecia e aceita fazer parte da estrutura local do PRD. Candidata-se por este partido às Autárquicas de 1985. Sai passados meses. É ainda Mandatário Concelhio da candidatura de Salgado Zenha à Presidência da República, candidatura de que vem a discordar a meio da campanha. Em 1989 candidata-se como independente nas listas do PSD à Assembleia Municipal de Caldas da Rainha.
Nestes últimos anos tem vindo a dividir a sua actividade para além da politica, na direcção da sua empresa e numa teimosa participação em várias direcções do Caldas Sport Club.

Jorge Sobral


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A caricatura é de Vasco Trancoso e o texto de Jorge Sobral.
Foram originalmente publicados no "Álbum de Figuras Caldenses 1990/1991"
e são aqui reproduzidos com a devida autorização do autor.
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COMENTÁRIOS
2008-03-29
Higino Rebelo disse:
Sobre a passagem do "Chico Cera" pela instituiçao militar posso testemunhar que ele também esteve na Póvoa do Varzim uma vez que estando eu, nos primeiros 5 meses de 1968, no RI6, ele dáva-me boleia até ao Porto, a mim ao Alberto Campos e a um amigo que não lembro o nome mas que os pais tinham uma lavandaria na rua Henrique Sales e creio que o Sena também viajava comnosco pois ele estava no mesmo regimento que eu.Higino Rebelo
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2008-04-02
Higino disse :
Já me lembrei! O outro amigo que também estudava no Porto chama-se Vasconcelos e há muito que não sei nada dele. Quanto ao Alberto Campos nunca esquecerei que era ele que, no meio estudantil do Porto, me arranjava tudo o que era clandestino desde Manuel Alegre a Zeca Afonso.
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2008-04-09
Sanches disse:
A Pastelaria Baía, quando foi comprada pelo pai do Chico Cera, passou a denominar-se "O Rei das Cavacas".Por isso ainda hoje trato o Chico, carinhosamente, pelo cognome de "O Príncipe das Cavacas". Sanches

DIÁRIO - 9 de Janeiro

Esta é uma página do Diário de um aluno do Externato Ramalho Ortigão. Esteve guardado num sótão muito húmido, tem a capa desfeita e o ano ilegível. Foi-me enviado há poucos dias e grande parte das folhas estão coladas umas às outras, muito amarelecidas e com a tinta esborratada. Estou a tentar transcrever as mais aproveitáveis e que tenham, simultâneamente, referências a locais de encontro e acontecimentos desse tempo. Os nomes dos locais foram fáceis de perceber, penso que estão correctos, os das pessoas não estou tão seguro.
Valeu a pena o esforço? Vocês me dirão.



9 de Janeiro


Levantei-me cedo, como sempre as aulas são às oito e meia. Passei pelo Capristanos para tomar uma bica, mas tive o cuidado de só acender o cigarro depois de sair. O empregado é o mesmo que serve, depois de almoço, um grupo de médicos ali do Montepio, alguns comerciantes e empresários que lá vão tomar café e jogar o 31. Como o meu Pai faz parte do grupo, o empregado pode dizer-lhe que já fumo. É melhor não arriscar… Vou a correr, porque chove e esqueci-me do guarda-chuva. Como sempre.

As aulas foram a chatice do costume, a Madame Inc. parece mais intragável a cada dia que passa! Ou já a aturamos há demasiados anos... Como estamos a começar o período não tivemos o filme de terror das "chamadas", com as folhas da caderneta a andarem lentamente para trás e para a frente.

Estivemos a combinar onde ir no Carnaval. Todos querem um “assalto”, mas não resolvem onde. Os meus pais já puseram a minha casa fora de causa. A minha Mãe nem costuma ser bera nestas coisas de levar amigos lá a casa, mas desta vez são muitos e ela não vai estar lá, vai para o Casino. Diz que quem tem vivendas é que tem assaltos. É verdade que a festa baril é na garagem da vivenda dos Coutos, mas é malta um pouco mais velha. Vamos ver.

Como parou de chover saí no intervalo grande e vim com a Luisa à Zaira. Ela teve que inventar uma desculpa para sair (nós podemos, mas elas não). Às onze horas os pastéis de nata estão mornos e estaladiços, de comer e chorar por mais. A minha Mãe estava lá com as amigas a tomar café e pagou a meia-dúzia que comemos (5 eu, claro). Em troca lá tive de lhe ir buscar uma saca de batatas à praça e de lha trazer para o carro. Obviamente só faz compras nestas quantidades quando tem quem as carregue. Em casa calhará à criada vir buscá-las ao porta-bagagens. Fiquei com as botas sujas de bosta de burro. Quando é que proíbem os animais no centro da cidade? Há anos que falam nisso, mas continuam os vendedores a vir com burros, e até bois, que são guardados na Cova-da-Onça, na subida do Colégio, ao fundo da Praça e noutros locais próximos. Deixam as ruas, incluindo a das Montras, todas sujas.

Almocei em casa e voltei para o colégio. No caminho fui tomar café ao Bocage. A maior parte dos clientes são comerciantes, funcionários públicos e empregados dos bancos e seguradoras ali da zona. O meu Pai nunca lá vai, até posso fumar um cigarrinho em público.

Vou ter às 5 bicas, onde a malta costuma esperar por companhia. Dizem-me que as miúdas, sempre com a mania da pontualidade, já subiram. Vou no grupo dos últimos, mas consigo chegar às duas e meia.

As aulas da tarde começam com a Super e, como não há apontamentos para tirar, dá para ir olhando pela janela e pensar como seria bem melhor estar na Mata a jogar à bola... Acho que quase adormeci, acordo com a Super aos berros! Felizmente é com os do costume, nunca mais aprendem a não discutir com ela. Não vale a pena. No intervalo, chuva outra vez. Dia chato!

Depois das aulas fomos directos à Floresta, tentar apanhar a mesa de matraquilhos junto à parede, que é a melhor das duas. Joguei à defesa e o Filipe ao ataque contra o Mário e o Paulo. Desta vez ganhámos, eles dizem que são fifty-fifty as nossas vitórias e derrotas contra eles. São uns gabarolas, nós ganhámos muito mais jogos!

Comi uma bifana e bebi uma imperial. A bifana era melhor, a imperial sai pouco, porque os jogadores da laranjinha preferem o tintol.

A Luisa esperava-me, furiosa, na Tália. Nem tivemos tempo para ouvir o novo disco dos Simon & Garfunkel que chegou hoje e que o Sr. Diogo me mostrou. Ela tem horas para chegar a casa e queixa-se do tempo que eu passo nos matraquilhos da Floresta e no bilhar do Central e do Marinto. Embora aí ela possa ir, não se diverte nada, porque cada vez que pega num taco aparece logo o empregado: ”Cuidado, não rasgue o pano que é muito caro! Isto não é para meninas.” Fica pior que estragada! E à noite, durante a semana, não pode sair excepto se houver um grupo que vá ao cinema. Mas tem que ser um filme realmente especial e com colegas (raparigas) a ir buscá-la. E eu nem apareço, espero na Zaira ou no Casino, conforme vamos ao Pinheiro Chagas ou ao Ibéria. Ao fim-de-semana há um pouco mais de liberdade.

Jantei e fui um bocado à Maratona experimentar um carro novo que o meu Pai comprou no Turita. Diz que é para correr com o Dr. Brito Mota e o Frazão, no fim-de-semana, mas nunca tem tempo Acabo sempre por ficar eu com os carros. Mas há muita gente da idade dele a correr. Tenho que arranjar um “punho” novo, o meu aquece muito e queima-me a mão.

Estava um briol tramado e chovia a cântaros, mas eu já tinha combinado ir a Óbidos beber uma cerveja ao Montez. Fui com o Toni. Os meus pais nem podem sonhar, proibiram-me de entrar no carro dele, porque anda sempre na mecha. Mas se não for com ele não vou a lado nenhum. Além dele só os tipos que já trabalham ou estudam em Lisboa têm carro. E com esses não ando, são um grupo muito diferente.

Lá acabei por voltar muito depois da meia-noite combinada, o que foi uma chatice. Disse à minha Mãe que já não tenho idade para Cinderela mas, para ela, vou ter sempre dez anos. Culpa o meu Pai por me ter dado uma chave de casa quando terminei, com boas notas, o quinto ano do Liceu. Só não foi um raspanete maior porque o meu Pai e o meu irmão mais novo já dormiam.

Comentários e esclarecimentos ao "Diário" 9 de Janeiro

O "datómetro" indica que o texto foi escrito entre 1966 e 1970. 9 de Janeiro de 1965 e 9 de Janeiro de 1971 são Sábados, portanto estes anos não seriam possíveis. A abertura da pista de carrinhos da Maratona é precisamente em 1966, o que exclui datas anteriores. Não há discos novos de Simon & Garfunkel depois de 1970, o que exclui datas posteriores. Mas sem outras indicações (o título do LP,por exemplo) não consigo ser mais preciso.

Todos os locais referidos existem ainda hoje, excepto a Floresta, tasca que tinha acesso por um corredor perto do actual Centro Comercial da Rua das Montras. A porta ainda lá está.

Os professores referidos são a Drª Cristina (Ciências e Geografia), conhecida por Madame Inc. porque, nos pontos por ela corrigidos, as respostas ou estavam mal, e eram riscadas, ou tinham a indicação M. Inc. (muito incompleto). Especulava-se qual seria a notação quando considerasse uma resposta completamente certa, mas tal nunca aconteceu. A Super era a Dra. Deolinda Rodrigues, como todos sabem. As suas aulas de Filosofia depois de almoço adormeceriam até o Speedy Gonzalez encharcado em anfetaminas. Podem consultar: A SUPER

O “intervalo grande” era de 40 minutos (entre as 10h50m e as 11h30m, havia até missa) e permitia efectivamente estas saídas. Mas não às raparigas, que precisavam de uma boa desculpa para o fazer (aqui não ficamos a saber qual foi).

Os vendedores da praça usaram animais até muito tarde para transportarem os seus produtos. Escreveu um dos especialistas na época (Nuno Mendes), quando consultado para ajudar a datar e esclarecer o texto: Penso que as "garagens dos burros" (o termo é meu) eram na Travessa do Parque (onde hoje é o Oliveira das mobílias, ao lado da outra loja do Baptista) e na Rua Capitão Filipe de Sousa, esquina com a Coronel Andrada Mendoça (Robbialac); na subida do Colégio lembro-me apenas do ferrador. Mas o autor do diário refere a ladeira do Colégio, terá feito confusão?

O Sr. Diogo era uma espécie de gerente da Tália, supervisionando pessoalmente algumas secções, como os livros e discos. Também a mim me “tentava” sempre que chegavam “novidades” nessas áreas.

O duo (Paul) Simon & (Art) Garfunkel foi lançado para a fama por “Sounds Of Silence”(o princípio do Folk-Rock), Mrs. Robinson (tema de “The Graduate”- A Primeira Noite- de Mike Nichols), “Bridge Over Troubled Water” (LP que que Nixon ofereceu a Mao na 1ª visita de um presidente americano à China). Músicas e letras fantásticas de Simon e a voz divinal de Garfunkel tornaram-nos inesquecíveis. Separaram-se em 1970 e nunca mais, eles ou a sua música, foram iguais.

O Turita era irmão do Sr. Nogueira da Tália, portanto tio do José Carlos Nogueira. Tinha uma loja na R. das Montras (onde actualmente se situa a Ornatus). Vendia material fotográfico, electrónica, malas, etc. Aproveitou a abertura da pista da Maratona para comercializar carros de corrida. Estive com ele há pouco tempo, vive actualmente em Torres Vedras.
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Mais esclarecimentos? Escrevam nos "comentários", nós temos vários especialistas dispostos a responder. E gostaria de saber se vale a pena decifrar mais algumas páginas, aguardo a vossa opinião.
JJ
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Outros comentários:
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2008-03-20
Neco disse:
Como é bom recordar, e que pena não nos termos lembrado antes de registar as nossas memórias. O texto é um espectáculo, há situações que tb vivi, nomeadamente as da pista da Maratona. Juntamente com o Zé Manel Pais, o João Branco Lisboa, eu era um dos Jotas Racing team. Pena não ter conseguido identificar o autor do diário... (nem a Luisa...).
Vale a pena tentar a recuperação. Força João.
Neco
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2008-03-21
Conceição Caixinha disse:
Que prazer ler este diário onde creio que todos invariávelmente nos reencontramos, e que agradável surpresa constatar que mesmo ao reler a cena das chamadas da Dra. Cristina já não apresento nem vestígios dos habituais sintomas de PTSD (post traumatic stress disorder) que essas cenas me provocavam! Quem teria sido o misterioso autor?

SALAZAR NO CAFÉ LUSITANO

A primeira mesa a vagar era a dos bancários. Seguiam-se-lhe as dos restantes empregados, primeiro os da função pública, depois os do comércio, pela ordem do horário de regresso ao trabalho. Pelas três da tarde, terminava o período mais agitado da vida diária do café. Era então o tempo dos frequentadores ocasionais, dos solitários, dos pequenos grupos de reformados. Durante as duas ou três horas seguintes, o Lusitano era deles. Imenso corredor de paredes escuras cortadas a meio por uma faixa de espelho, o café adormecia então num silêncio apenas interrompido por um “pst!” ou por um “Zé!” de maior intimidade.

Ali se situava a minha mesa de leitura e de estudo, enquanto aguardava pela hora de regresso a casa. Ali deixava e recolhia recados e bagagens. Ali conhecia outra gente, de outras gerações. Ficava no topo ocidental da praça, partilhando esse lado com a pastelaria Flor de Liz e os grandes Armazéns do Chiado.

Cerca das três e meia da tarde chegavam os meus mais assíduos companheiros. O primeiro a chegar, trajando invariavelmente de preto, fazia-se acompanhar de um cãozito. Era o Sr. Carlos Silva. Tirava do bolso um papel de embrulho e desdobrava-o cuidadosamente em cima de uma cadeira perto de si. Terminados os preparativos, o cão aninhava-se na cadeira. Chegavam mais tarde os outros dois parceiros. Usava monóculo um, de nariz adunco e ombros arqueados. Era o Sr. José Pereira. Tinha o terceiro feições menos coradas, olhos azuis, gestos por vezes bruscos. Era o Sr. Rui Forsado.

De que falavam? Não me recordo de lhes ter escutado palavra. Absorvidos nos seus temas de conversa, jamais deram sinais de que notavam a minha presença observadora. Dessa convivência feita de mútua ignorância guardo porém a memória de um momento excepcional.

Ao fundo do café havia uma televisão. Era ligada sempre que alguma transmissão o justificava, e, naquele dia, decorria em Lisboa uma manifestação de apoio ao regime do Estado Novo. O Sr. José pôs o aparelho a funcionar, já o grupo estava reunido. O locutor, em directo, exaltava a força que se desprendia da concentração humana espontânea. Os meus companheiros deitaram olhares furtivos ao ecrã e mudaram ostensivamente para uma mesa mais afastada. Chegou depois o momento do Presidente do Concelho se dirigir à multidão. Quando Salazar começou a discursar, o grupo fez movimentos de desagrado mais veementes. Mas o ditador, absolutamente impassível, prosseguiu. Rui Forsado ergueu-se de repente e aproximou-se do aparelho. – “Infame!” – gritou, apontando o dedo acusador. Salazar não respondeu. Carlos Silva levantou-se. O cãozito deixou de imediato a cadeira. José Pereira ajeitou o monóculo e levantou-se também. Saíram todos.

Eu estava atónito. Aqueles homens não suportavam Salazar. Eu não podia compreender. Em minha casa, Salazar não se discutia. O meu tio-avô costumava dizer que Salazar era um santo. Aos treze anos, eu acabava de ter o meu primeiro encontro com a Oposição.
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João Bonifácio Serra
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NOTA: Esta crónica foi publicada originalmente na
Gazeta das Caldas e consta na recolha "CONTINUAÇÃO".
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Comentários a "Salazar No Café Lusitano"

Começando pela data, estamos em 1961 ou 1962. Se for 61, a manif teria como pano de fundo o “regresso” do Santa Maria após o seu desvio por Henrique Galvão ou eventualmente a derrota do golpe de Botelho Moniz. Em conversa com pessoas mais velhas é no entanto sempre referida como mais provável uma “manifestação espontânea” organizada em 1962 para mostrar o apoio a Salazar, à sua política ultramarina e ao envio de tropas para Angola . Esta é a única que se lembram ter tido transmissão directa na TV. Em qualquer dos casos, a necessidade destas demonstrações é já um sinal de fraqueza de um regime sem soluções e de um Salazar desgastado por trinta anos de poder.
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O local está descrito, ao fundo da Praça. Lembro-me dos Grandes Armazéns do Chiado como uma exibição inesgotável de TUDO. Se os visitasse hoje, numa Máquina do Tempo, veria seguramente uma drogaria grande, mas na altura, aos olhos de uma criança, era uma Catedral do Consumo à medida das Caldas.
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Dos três senhores apenas me foi “apresentado” aqui no Blog o Sr. Carlos Silva, professor de Canto Coral no Colégio, elogiosamente referido pelo Zé Carlos no seu depoimento e pela generalidade dos seus alunos noutros artigos.Está até nalgumas fotografias. Sei que era da família do nosso colega Pardal e tinha uma colecção de tinteiros muito cobiçada.Ainda gostava de saber o que lhe aconteceu (à colecção, claro).
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O Sr. Forsado era da família Nascimento, um dia que a Ana regresse poderá dizer-nos algo sobre ele.
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O Zé era o sr. José, pai do Zé Maria, que foi jogador do Caldas e empregado bancário. Era um homem baixo, sempre muito bem penteado e cujo cabelo ficou sempre preto. Transferiu-se posteriormente do Lusitano para o Central.
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comentários:
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2008-03-19
São Cx disse:
Do café Lusitano já tinha ouvido falar...mas fiquei hoje a conhecer pela mão do J.B.Serra! Há também uma enorme suavidade na forma como ele nos leva através das suas histórias...admirável!!! Aguardo com expectativa a continuação!!Bjs São X

DEPOIMENTO DE JOSÉ CARLOS NOGUEIRA

José Carlos Nogueira







Só por seres tu a pedir é que me propus dar o meu testemunho. Vais passar por várias vergonhas.




Ora vejamos, temos que dividir o nosso tempo em vários segmentos:

1º O tempo de aulas – profundo, rigoroso, tendo só como escape as aulas, já nessa altura obedecendo ás novas técnicas pedagógicas, de Canto Coral do Prof. Carlos Silva. Estávamos sujeitos a uma disciplina férrea e à tragédia mensal da caderneta de notas!...drama, lembro-me perfeitamente da assinatura da caderneta do Tó Freitas pela encarregada da educação (?), a criada. Sofríamos as palmadas do Dr.Azevedo, o vexame e a vergonha de sermos confrontados com os nossos colegas mais velhos no “ carne sem osso” ou noutras manifestações parecidas. Enfim, todo o romance e drama que víamos no cinema aos Sábados no Pinheiro Chagas ou no Salão Ibéria (onde por 2$50 para a Geral e 4$00 para a Segunda plateia), víamos em 31 partes e 15 episódios as atrocidades de que éramos vítimas dos regimes nazis das histórias e que passavam “mutatis mutandi” para o nosso dia a dia…o poeta Dr.Bruno, a refugiada D.Irene, o marcial Dr.Perpétua, a cândida Dra Isabel, o vilão Dr. Mateus, que nos obrigou a mostrar o nosso jeito para a cerâmica manipulando barro, cujo resultado foi o esperado: toda a sala de aula suja com objectos fálicos por tudo o que era sítio, inclusive nas batas da nossas colegas. Éramos uns artistas……

Hoje em dia penso que a juventude também tem uma vida virtual, assente nas histórias dos gameboys, playstations e tvs, onde cada um é herói ou vilão conforme os dias. Além desse período onírico, tínhamos obrigações morais e religiosas consubstanciadas na ida à catequese aos sábados, onde a menina Dora, Vestal e Virgem, nos dava os primeiros ensinamentos dessa verdade bíblica e dogmática: Deus criou-nos à sua imagem e semelhança, menos ao Bigodes, que era feio como um raio.

2 º - Depois, sim, depois era o contacto com a natureza e com as beldades do tempo...... Íamos para o Parque jogar o ringue com o Padre António Emílio e mostrar perante o sexo oposto como éramos viris e fortes, sendo capazes de acertar com o ringue nas partes mais frágeis das nossas contendoras, fazendo-as chamar-nos brutos, pois acertávamos nos seios que despontavam já nesse tempo e nós na nossa ingenuidade pensávamos que só serviriam para amamentar os bebés.......Pois era assim. Mas esse contacto sadio servia também para despertar dentro de nós o "Logos Spermaticus" e logo fazer promessas de amor eterno às nossas eleitas, mostrando-lhes todo o afecto de que éramos capazes, tendo nessa altura batido o record de afectos o Ricardo com 40 cotoveladas na Helena até ao 1º intervalo no salão Ibéria. Intervalo, quer dizer mudança de bobina, o que era logo a seguir aos documentários culturais da época: Os Três Estarolas, Pamplinas, Charlot, Bucha e Estica e as actualidades nacionais. O amor era assim, cheio de complexos e segredos. Crescemos e, devido à nossa sólida formação moral e intelectual, as nossas atenções voltavam-se para outros horizontes: jogar bilhar no Central, na variante 104. Os mais calmos tinham como desporto o xadrez, evoluindo segura e tenazmente para o póquer no Sporting das Caldas, que nós entendíamos ser uma forma de manifestar uma oposição ao regime, pois o edifício do Sporting pertencia à família Freitas. O Tó também era atacador. Introduzimos também no Casino esses jogos de sociedade como o Sete e Meio, Lerpa e Montinho onde o incauto Sr. Mourão deixava diariamente uma pequena fortuna-10$00.Nesse tempo correspondia a 4 gerais no Pinheiro Chagas, uma visita ao Alex (falamos mais tarde) ou um episódio de amor com a Nhenha ou a Gadinhas. Bons tempos.....! Depois, bem, depois é uma verdadeira chatice: exames-chumbos-castigos-exames-chumbos….

3º- De repente temos 16 anos, somos envolvidos pelo Elvis e pelo Rock and Roll, e descobrimos que nos portávamos tal e qual como a juventude no “Sementes de Violência”….Fumávamos às escondidas dos nossos Pais, mas em frente das miúdas. Primeiro queimámos a barba de milho, depois caímos directamente no mata-ratos, evoluindo daí para a droga mais pura ao nosso alcance: os Definitivos, cigarros estreitos e já feitos, que tinham o condão de mascarar a nossa falta de jeito para enrolar cigarros. Descobrimos os bailes, no Casino no Verão, os assaltos no Carnaval efectuados a casas respeitadas, como a da D.Maria da Graça ou a casa do Toni Vieira Pereira, ou organizados por nós na Esplanada do Parque, onde se assistiram a cenas Shakespearianas de amores não correspondidos que levavam o herói a tentar suicidar-se, fechando-se no frigorífico enorme que havia no café. Era resgatado no último minuto pelo 112 da altura que era uma garrafa de bagaço (convenhamos o homem estava hipotérmico). Nos próprios dias de Carnaval havia bailes no Casino, no Lisbonense e, para os mais esclarecidos, nos Bombeiros.

Moda que perdurou pelos anos 50 até meados dos anos 60. Esta geração, que chegou com tanta facilidade aos anos 60, foi a mesma que chegou a Angola, Moçambique, Guiné, Timor, tendo levado para essas longínquas paragens os usos e costumes do Burgo Caldense: jogo do ringue, bilhar, poker, lerpa, montinho, sete e meio, etc. Levaram também amor, expresso nas coladeras e rebentas, e amizade profunda pelos nativos, estabelecendo novas regras de comércio que depois se veio a tornar naquilo que agora chamamos globalização: tirava-se dos armazéns da tropa e vendia-se às gentes necessitadas.

A história talvez seja melhor ficar por aqui, penso que dei um contributo generoso dos hábitos da minha juventude lembrando heróis inesqueciveis,: Jorge, Tó, Tony, Asdrúbal, Abílio, Hélder, o inefável Rainho, Tinico, Artur Capristano, o Varela, o Figueiredo, o João (Traga-Balas), o João conhecido pelo João Pifão, o Honório Vaca Mansa, Cipriano o Caseiro, Morais Grandalhão, os craques Moura e Cardoso, Rui Importante, Rui Cospe Cospe, o Gang (Pedro,Xico,Samagaio e Pereirinha), o Quintas, o Lacrau, o Macela (campeão de Xadrez), o Rui da Cristina e tantos outros que não andaram no Colégio, mas foram compagnons de route de todas as personagens desta história. Por vontade própria omito os nomes das nossas colegas heroínas, pois passam por mim todos os dias na rua.
Bem hajam e lembrem-se do velho grito:

É jacaré? Não é.

É tubarão? Também não.

Então o que é? RAMALHO ORTIGÃO
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José Carlos Nogueira

Breve comentário ao depoimento do José Carlos Nogueira

Diz-me o “datómetro” que este texto se refere aos anos entre 1951 e 1959. Relembro - …temos 16 anos, somos envolvidos pelo Elvis e pelo Rock and Roll…Sementes de Violência - Elvis, a música e o filme são todos de 1956, talvez em Portugal só um ano depois. Eles têm 16 anos, é só fazer contas.
Os professores citados estão no ERO até 56 (Rosa Bruno), 58 (Manuel Perpétua) e início da década de 60 (Irene Trunninger). A Drª Isabel (Ciências) e o Dr. Mateus (Desenho/Trabalhos Manuais) são professores em 1953 ou 1954. Lembro que a sucessão dos dois directores do Colégio mencionados (Perpétua e António Emílio) aconteceu em 1958, confirmando a datação. Podem consultar a nossa BREVE HISTÓRIA DO EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO

Poker é um jogo de cartas de expressão mundial, em múltiplas versões. Montinho, lerpa e sete e meio são (por muito que vos choque a revelação) jogos da mais pura “batota lusitana”. Se alguém não souber jogar, temos uma classe de iniciação aqui no Blog (não aceitamos cheques, tragam dinheiro vivo).

Os Três Estarolas (The 3 Stooges) começaram como um acto de Vaudeville e Humor, transformando-se depois num dos mais conhecidos nomes da comédia burlesca Norte Americana, de 1932 a 1975! O enorme êxito de centenas de filmes e episódios de TV junto de sucessivas gerações, fazem deles um dos grandes ícones norte-americanos do séc. XX . O seu humor, um pouco boçal e muito físico, nunca obteve na Europa um reconhecimento artístico semelhante ao que a nouvelle vague concedeu a Chaplin, Buster Keaton, Groucho Marx ou Jerry Lewis.

Pamplinas era o nome “inventado” em Portugal para Buster Keaton, filho de um casal de actores/cómicos/equilibristas que o usavam, em criança, como adereço no seu acto! Caía com frequência, daí a alcunha “Buster” (nome dos clowns dos rodeos). Cómico, actor, produtor, realizador, um dos maiores génios da história do cinema (frequentemente considerado maior que Chaplin), activo entre 1920 e 1966.

Bucha e Estica é mais um “nome português”, este para a dupla cómica (Stan) Laurel & (Oliver) Hardy. O cérebro da dupla, actor e realizador de talento, Stan Laurel foi de Inglaterra para os EUA com os Chaplins. Os seus filmes fizeram grande sucesso entre 1926 e 1942, apesar de o produtor Hal Roach nunca permitir que Laurel utilizasse todo o seu génio artístico, mantendo as comédias low budget.

Charlot é o nome por que ficou conhecido, no mundo francófono (e em Portugal), o génio da comédia Charlie Chaplin, actor, realizador e compositor de origem inglesa que se tornou famoso entre 1914 e 1952, até ser expulso dos EUA pelo Macartismo. "A Corrida do Ouro", "Tempos Modernos","O Grande Ditador","Luzes da Cidade" são filmes eternos, mas o autor refere-se aqui às curtas metragens (o vagabundo de cartola e bengala) que ele realizou abundantemente entre1915 e 1925.

Bilhar 104 é uma variante de bilhar com apostas, tipo casadela da lerpa, jogado com uma das bolas substituída por "paulitos", em que ganha ($) quem primeiro faz 104 pontos

Elvis Presley foi um cantor americano que na década de 50 se tornou uma estrela mundial interpretando versões de compositores/cantores negros que, devido ao sistema de apartheid reinante na música pop dos EUA, não podiam ter difusão nacional. A alteração desta situação, e o aparecimento de compositores/intérpretes com uma “mensagem de rebelião” como Bob Dylan e os Beatles, retirou-lhe importância e êxito, mas o seu mito sobrevive até hoje.

"Sementes de Violência" (Blackboard Jungle-1956) é um filme de Richard Brooks sobre um professor idealista e uma turma de teenagers rebeldes de Nova Iorque. Considerado o retrato de uma geração, é também célebre por abrir com “Rock Around The Clock” de Bill Halley And The Comets, uma das músicas pioneiras do Rock’N’Roll.

A coladera é uma morna tocada mais rapidamente, mas enquanto a morna fala de amores desesperados, as letras da coladera são sobre festa e alegria. É hoje essencialmente uma forma musical cabo-verdiana. Rebenta é uma música de dança de origem centro-africana, muito ritmada, praticada na Guiné e Cabo Verde

O Alex era uma casa de diversão nocturna (e diurna, se necessário), situada perto da cancela da CP. A Nhenha e a Gadinhas eram duas trabalhadoras do "estabelecimento".

Globalização avant la lettre? Só podia ser portuguesa e revestir-se de aspectos pouco claros (ou claríssimos, conforme a perspectiva), de que o Zé Carlos nos dá apenas um vislumbre. Mas não estou admirado, estamos a falar de um grupo que, consta, montou um dos mais lucrativos negócios de reciclagem da época. Uma estória para contar um dia ?

Todos as pessoas citadas acima que foram estudar para Lisboa em 1959/1960, mantiveram lá uma grande coesão, realizando um jantar mensal no Tatu, sob a "supervisão" do veterano ex-aluno Joaquim Nazareth. Mais uma estória que gostaria de ouvir.

E não me envergonhei nada, Zé Carlos, diverti-me muito. Volta sempre.
JJ
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comentários
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Em 17/03/08, Isabel Knaff escreveu:
Olá João!
Que interessante o artigo da época anterior à nossa. Nós demos-lhe continuação sem alterações drásticas (penso eu).
Vários nomes conhecidos: Dr. Azevedo, Padre António Emílio, menina Dora (no nosso tempo era D. Dora)...quase o impossível, mas até dá saudades.
E felizmente que o teu esclarecedor comentário veio decifrar vários "enigmas"!
Estou curiosissssiiiiima do resto do artigo. Despacha-te!!! Bjs
Isabel Caixinha
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2008-03-17
JJ respondeu:
O que vem a seguir não é a cronologicamente a continuação deste artigo. Lembra-te que estamos a descobrir os locais de encontro da juventude caldense. O Zé Carlos decidiu escrever sobre o assunto integrando-o na vida dos estudantes nos anos 50 e isso serviu de introdução. A seguir vem uma crónica sobre o Café Lusitano (J B Serra), depois uma página de um diário de um aluno do ERO no final da década de 60. Seguir-se-ão mais testemunhos, como o teu e da tua irmã, mais páginas desse diário e crónicas sobre locais.
Será o juntar das peças deste puzzle, uma a uma, cada uma com uma cor e um paladar (dados pelos diferentes autores) de uma zona e um tempo não necessariamente contínuos em relação ao anterior, que fará aparecer o quadro global 1945/1974. Vai durar cerca de 3 semanas e a apresentação não será cronológica. É para ir montando e saboreando... E comentando, como tu fizeste.
JJ
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2008-03-19
São Caixinha disse:
Que óptima introdução aos locais de encontro! Já li várias vezes!! Acho o depoimento do J.C.Nogueira muito interessante mas ainda bem que te deste ao trabalho de esclarecer...e sempre com o teu já habitual sentido de humor!! Desconhecia muita coisa...inclusivamente que tinhamos um grito!!!
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2008-03-20
Fernando S disse.
Já comecei a ler os depoimentos, e li o seu comentário ao de Carlos Nogueira. É bom relembrar esses tempos.
Quanto ao ou a ALEX, para mim, a diversão foi sempre diurna, e nunca me custou menos de 15$00. Da Nhenha não me recordo quem era. Lembro-me sim da Campainhas e da Gadinhas, mas nunca me constou que trabalhassem no referido local. Eram trabalhadoras independentes, andavam quase sempre juntas e o seu ar pouco asseado deixava muito a desejar.
Quando vim morar para O, encontrei por cá a Gadinhas duas ou três vezes, mas não sei se ainda exercia a profissão.
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2008-03-20
Isabel disse:
...e eu a pensar que o Alex era uma casa de jogos (bilhar, matraquilhos, etc) e que a Nhenha e a Gadinhas as empregadas...!!!
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2008-03-20
Luis Ferreira disse:
Breve comentário?... é maior que o artigo! Só não cocnordo com o nome mas gostei de ler tudo.
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2008-04-06
João Ramos Franco disse:
Quem era o João (Traga Balas)
O José Carlos Nogueira colocando-me entre “heróis”e companheiros do ERO, deu-vos a nossa época de estudantes e os locais que mais frequentávamos.
Locais que frequentava, para além dos mencionados pelo JCN.
Tascas: A mercearia do Manuel, (junto ao Colégio, ainda no tempo do Dr. Perpétua), Adega da Ginjinha, A Viúva (Cova da Onça) e O Caseta (estrada de Tornada;
Bar do Casino: O Barbeiro do Casino (garrafas Brandy L34, lá escondidas antes dos bailes;
Desporto: Caça aos Pardais à noite, Tarzan da Quinta da Boneca, as corridas loucas de bicicleta no Parque e os “combates” de barco no Lago;
Quartel do Parque: exploração das instalações abandonadas e tomada do Paiol para nosso centro de divertimento (nem queiram saber o que isto deu);
Foz do Arelho: Acampamentos no Gronho (as galinhas das moradias desapareciam).
E há mais, deixem-me recordar.
Mas o João (Traga Balas) ainda tem algumas aventuras a contar-vos, até o porquê do Traga Balas. Aos “heróis” do JCN mas também aos que estudaram no ERO e na Escola Comercial e Industrial por agora fiquem esta citação (desse tempo ficámos com isto):
"Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer o que importa não é o que tens na vida mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitem escolher. Aprendes que não temos de mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos." William Shakespeare
Até breve, com uma aventura do Traga Balas
João Ramos Franco

OS LOCAIS DE ENCONTRO DA JUVENTUDE CALDENSE 1945-1974

Começa aqui amanhã a publicação de artigos, crónicas e depoimentos sobre os locais de encontro da juventude caldense entre 1945 e 1974. Embora o período escolhido corresponda ao período de actividade do Colégio, coincide com os anos que medeiam entre o fim da guerra e o 25 de Abril. Entre a saída dos refugiados, que mudaram um pouco as Caldas e de que já aqui se falou, e a revolução que iria transformar o País .

Por tudo isto atrevo-me a pensar que os testemunhos e opiniões que aqui vão aparecer interessarão a um grupo mais vasto do que o dos antigos alunos do ERO que, de forma entusiástica e massiva, têm acompanhado este Blog. Por isso foi pedida a colaboração do Blog da Escola Comercial e Industrial, no sentido de alargar o âmbito desta “consulta”. Até ao fim destas publicações, suponho que durante 3 a 4 semanas, estaremos abertos a incluir as colaborações de todos quantos viveram a sua juventude nas Caldas entre 45 e 74, independentemente de qualquer ligação ao Externato Ramalho Ortigão.

E fotografias? Alguém tem fotos destes locais nessa altura? Procurem lá no baú, há aqui algumas mas precisamos sempre de mais.

Abrimos amanhã com uma evocação dessa época escrita pelo José Carlos Nogueira. Espero que tenham tanto prazer como eu a lê-la (e como ele parece ter tido a escrevê-la).

Enviaram-nos um velho diário de um colega nosso, teenager durante a segunda metade da década da década de 60, de que vamos publicar algumas páginas, inéditas até hoje. Não há por aí mais diários? Tenho a certeza que sim.

Contribuições do Chico Cera, Miguel B M, São Caixinha, Júlia Ribeiro, João Ramos Franco, Zequinha Pereira da Silva, Luísa Nascimento, Nuno Mendes, Isabel Caixinha, Paulinha Pardal, Margarida Araújo, A J F Lopes e João Bonifácio Serra (com textos de “Continuação” e outros inéditos) irão sendo publicadas (há mais prometidas, espero que cheguem entretanto).

Na medida do possível irei tentando datar e situar os depoimentos, munido de um “datómetro” que o João B Serra me emprestou. É um instrumento caseiro, de factura e uso manual, que classifica em “mais ou menos”, “aí por volta de”, “entre o ano tal e o ano tal”, “no tempo dos...”, etc.; noções aproximativas, portanto , lê-se nas instruções. Vamos lá a ver como é que eu me desenvencilho com o instrumento, apresentando leituras e resultados satisfatórios.

Encontramo-nos amanhã aqui.

INQUÉRITO

Estamos a tentar reconstituir os locais de encontro e convívio das juventudes caldenses entre as décadas de 40 e 70. Esta é uma iniciativa conjunta em que vão colaborar, pela primeira vez, os Blogues da Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha e do Externato Ramalho Ortigão. Outras entidades vão dar o seu apoio, de forma a obtermos o máximo de respostas possíveis. Agradecemos a divulgação junto de todos quantos viveram a sua juventude nas Caldas da Rainha entre o final da guerra e o 25 de Abril (1945/1974).
Temos neste artigo uma lista provisória. Ajuda-nos a completá-la, com outros locais que aqui não estejam referidos, e envia-nos um pequeno depoimento com lembranças de algum desses lugares onde "foste feliz".
E o que distinguia os locais, o que vos fazia preferir uns aos outros? A localização, os jogos, a qualidade da imperial ou das bifanas, as pessoas que lá iam, as horas a que fechavam, as conversas, o dono ou os empregados, a música? Tudo o que se lembrarem é importante, as informações podem ser dadas de forma mais ou menos sintética, conforme a disponibilidade de cada um.
Respostas para:
.
ou directamente para qualquer dos Blogues:

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1 - Cafés da Praça




. Lusitano . Flor de Liz . Zaira . Invicta . Bocage . Central


2 - Outros cafés
. Capristanos/Claras . Maratona . Taiti

3 - Cervejarias
. Marinto . Camaroeiro .Caldas Bar


4 - Pastelarias, Esplanadas
. Machado . Esplanada do Parque . Pão-de-Ló (Alfeizerão)


5 - Tascas
.Ginginha . Floresta


6 - Noite
. Inferno d'Azenha . Ferro Velho . Alex . Casino

7 - Livrarias/papelarias
. Tália . Parnaso . Silva Santos . Tertúlia . Turita . Jornália

8 - Encontros/ bailes



. Casino . Lisbonense . Bombeiros . Pimpões . Cefrol . Columbófila .Garagens


9 - Jogos





. Casino . Clube de Inverno . Central . Marinto . Camaroeiro .Floresta. Sporting Club das Caldas .Camaroeiro





10 - Cinema/teatro





. Pinheiro Chagas . Saláo Ibéria . CCC

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11 - Foz do Arelho (Verão)
. Café Caravela . Fnat (café e esplanada) . Felix (restaurante) . Facho (bar)

12 - Óbidos
. IbnEricRex . Mansão da Torre . Estalagem do Convento

13. Alfeizerão/S. Martinho
.Pão de Ló de Alfeizerão .Samar

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Postais da colecção de Miguel Chaby, podem ser vistos online em:

ESTAMOS À ESPERA !

Desta vez invertemos os papéis. Desta vez é o Blog que aguarda os vossos textos. Estou até a aproveitar para descansar um pouco. Querem saber porquê ?
Temos recebido algumas respostas ao inquérito, mas esperamos muitas mais. Como prova de boa vontade decidimos aguardar mais alguns dias antes de divulgarmos publicamente os nomes dos colegas em falta, como é hoje em dia costume fazer-se… Têm pois os retardatários mais uma semana para cumprirem com a sua obrigação de depor.
Alguns limitaram-se a enumerar dois ou três cafés/bares alternativos, outros indicaram apenas os locais que frequentavam. Mas nós esperávamos um pouco mais, queríamos uma pequena estória lá passada; ou então as cores, sons, cheiros, gostos, desses locais e as sensações dos seus frequentadores. Ou dos não frequentadores. Por exemplo, porque é que não iam à Zaira (porque era um ninho de víboras) ou ao Central (porque era um antro de intelectuais presumidos) ou ao Casino (porque era um covil de burgueses decadentes) ou à Maratona (porque era onde os meninos ricos mostravam os seus brinquedos caros) ou à FNAT (porque era um local onde pequenos burgueses conformistas se encontravam com trabalhadores resignados). Não sei se alguém pensava ou pensa realmente alguma destas coisas, mas gostava de saber como viam e sentiam os locais onde iam ou não iam, os motivos das preferências e das exclusões.
Quais os filmes das vossas vidas que viram no Chagas ou no Ibéria? Quais os homens ou mulheres que conheceram no Lisbonense, nos Pimpões ou no Casino e que vos marcaram até hoje? As músicas das vossas vidas estavam nas Juke Boxes do Pão-de-Ló ou da esplanada? E ouviram-nas no Ferro Velho ou no Inferno d’Azenha?
E o pessoal da Escola? Pelas poucas respostas recebidas daria para pensar que estavam sempre em casa… Mas eu sei que não, eu estive com eles em muitos destes bares, cervejarias, locais de jogos, fiz amigos que ainda mantenho hoje, porque é que estão calados? Esta é uma iniciativa conjunta deste Blog com o Blog da Escola Industrial e Comercial, os resultados serão partilhados e utilizados por ambos conforme entenderem e constituirão um contributo importante para o conhecimennto e caracterização da vida nas Caldas nessa época. A vossa participação é pois muito importante.
Estamos à espera das respostas de todos em:
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inqueritoscaldas@gmail.com
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ex.alunos.ero@gmail.com
.
A bola está do vosso lado.

MARIA DE LURDES RODRIGUES FOI ALUNA DO E.R.O. (1º DE ABRIL)




Descobrimos, durante uma recente investigação sobre os últimos anos do Externato Ramalho Ortigão, que Maria de Lurdes Reis Rodrigues era lá aluna em 1973, quando o Colégio encerrou. Embora alguns defendam que os dois factos podem estar relacionados não dispomos, neste momento, de qualquer prova ou testemunho nesse sentido.


Contactámos o gabinete da Sra. Ministra com o intuito de obter um depoimento sobre esses período da sua vida, depoimento que muito honraria e valorizaria o nosso Blog. Foi-nos respondido pelo seu Assessor de Imprensa que isso seria "muito difícil, já que a Sra. Dra Maria de Lurdes Rodrigues mantinha, nessa altura, uma péssima relação com os seus professores, que a marcou para toda a vida! Não gosta, por isso, de relembrar esses tempos."


Vamos continuar a proceder a mais investigações que possam esclarecer melhor todas este assunto. Agradecemos a quem tenha sido seu colega ou se lembre de a ver no Colégio que nos envie o seu testemunho.
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comentários:
2008-04-01
Alberto Reis Pereira disse...
Abençoado 1º de Abril que permite estas coisas. Será que ainda iremos usufruir dele por muito mais tempo nesta pobre democracia portuguesa?
Alberto Pereira


2008-04-01
Vasco disse:
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
1 de abril
granda caixa :-)


2008-04-01
Isabel Noronha disse:
Essa é velha! Eu já sabia há muito tempo :-»
Gargalhadas de Óbidos Castelo
Isabel de Azevedo Noronha
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2008-04-01
Luis A disse:
Péssima aluna, esta LuLu. Lembro-me bem dos profs estarem sempre a tentar pô-la na rua! Já foi em 73? como o tempo passa...

PADRE ANTÓNIO EMÍLIO - Yolanda Faria

HOMENAGEM AO PADRE ANTÓNIO EMÍLIO



“ As palavras ainda não estão gastas” (não o ficarão nunca!). Se recordar é viver, então gostaria, também, de engrossar a lista dos infindáveis amigos e admiradores dessa figura genial que a todos nos marcou, pelas razões já sobejamente conhecidas.

Conheci o Padre António Emílio aos 11 anos quando, recém chegada do Quénia e profundamente traumatizada por uma infância infeliz e dramática, me refugiei nos seus conselhos e na sua orientação espiritual. Diria mesmo que somente a minha participação nos jogos do Parque,(com a Madre-de-Deus, Asdrúbal e Jorge Calisto, Fernando Figueiredo, Tony, Zé Carlos, entre outros), a par do meu entusiasmo pelo estudo enquanto aluna do Externato Ramalho Ortigão, me traziam alguma alegria e descontracção. Mais tarde, já adulta, residindo e trabalhando na capital, tive a grata emoção de acompanhar o seu percurso na igreja de S. João de Deus, primeiro como coadjutor do Padre Teodoro e depois na Casa Pia, para mais tarde tomar posse da Paróquia de Stº Estêvão (Alfama), onde desempenhou uma acção pedagógica e humanitária notáveis, sempre admirado e amado por todos quanto tiveram o privilegio de com ele privar quotidianamente. Dizia-se que tinha acabado com a mendicidade nas ruas do bairro e eu própria testemunhei, como uma das salas da Igreja fora transformada em refeitório para as crianças carenciadas da zona poderem, pelo menos, beneficiar de refeições ligeiras.

Evoco, igualmente, o seu dinamismo e entusiasmo na organização das Festas Populares de Alfama (ao tempo, umas das mais carismáticas) que se realizavam no adro da Igreja, onde também colaborei, quer participando na confecção das ementas, na sacristia, quer na angariação de artistas conhecidos, que actuavam gratuitamente perante um público atento e participante. Apesar de, já nessa altura, começar a evidenciar os primeiros sinais de doença, nunca perdia a sua afabilidade e o propósito de cumprir, até ao fim, a sua espinhosa mas gratificante missão.

Seria fastidioso continuar a enumerar outros episódios a que assisti noutras paróquias e no prosseguimento da sua obra. O que quero realçar, sim, é que pela vida fora e foram muitos anos em que à distância ou por perto, vivenciando situações dolorosas e deprimentes, nunca deixei de sentir a sua palavra amiga, o seu amor incondicional pelo próximo, a sua enorme compreensão.

Quando o visitei pela última vez, há cerca de quatro anos, na Santa Casa da Misericórdia, senti um calafrio e um choque pela sua decadência física, contrastando com a figura erecta e esbelta dos seus tempos de juventude. Todavia, algo no seu olhar, ainda revelava o fulgor e a bondade que o caracterizavam.

Agora, que se libertou do invólucro terreno e ascendeu a outras Dimensões de Luz e Amor, só me resta acrescentar:

OBRIGADA E… ATÉ SEMPRE, PADRE ANTÓNIO EMÍLIO!

Yolanda Faria 15.4.2008

PADRE ANTÓNIO EMÍLIO - Fernando Figueiredo

Em nome da família do Padre António Emílio, agradeço a todos os antigos alunos do E.R.O. e da Escola Comercial as inúmeras e diversas manifestações de pesar, nomeadamente as memórias e mensagens que deixaram no “blog”.

Permitam-me, porém, que, como antigo aluno do E.R.O. e companheiro de meu irmão desde os tempos de menino, traga também aqui as minhas recordações.
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Vim ao mundo 13 anos depois dele e tive a sorte de ter participado também nas brincadeiras e jogos no parque e nos passeios, que ele organizava ainda seminarista.

Os colegas do Seminário, no livro de curso, quase todos destacaram o seu gosto pela música – foi mestre-escola da Schola Cantorum da Sé de Lisboa – e principalmente o seu Amor à gente nova. Escrevia um deles:
«Muito eu gostaria de ser das Caldas!... E não só por causa das cavacas… contentar-me-ia com menos…ser um modesto grilo, escondido entre a relva, para te ver, alegre como um pintassilgo, no meio da tua petizada do parque».



Já Padre, a paroquiar Tornada e Salir do Porto e a leccionar na Escola Comercial, foi convidado para director do E.R.O. … uma oportunidade de servir, de uma forma mais eficaz, a juventude da sua terra.
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Veio depois o desafio da construção do novo edifício do E.R.O., tarefa a que se dedicou de alma e coração.











Mas todas as aventuras têm um final, nem sempre feliz…








No entanto, a aventura continuou noutras paragens…havia muita gente nova à espera da sua Alegria, da sua generosidade, aquela forma aberta de estar, de ser, de conviver que lhe criou tantos “amargos-de-boca” e incompreensões.

Mas tenho Fé que o Senhor dos Justos, Aquele que foi sempre o guia da sua existência e da sua missão, já o recompensou de todos os dissabores e dos muitos sofrimentos físicos que o atormentaram ao longo de toda a vida.

Fernando Figueiredo.

PADRE ANTÓNIO EMILIO - As outras fotos

Recebi a mensagem acima publicada do irmão do Padre António Emílio, Fernando Figueiredo, e um total de treze fotografias. Tentei reproduzir o melhor possível a forma como o texto e as imagens estavam articuladas no Word que recebi, já que não era possível fazê-lo exactamente.

Posteriormente recebi dele mais cinco fotos que aqui exibo. Todas elas estão num novo álbum, integralmente dedicado à figura do falecido.
Tentei colocar tudos estes elementos online o mais rápido possível, espero que não haja muitos erros ou falhas.
JJ



















As fotos seguintes tinham sido recentemente enviadas pelo colega João Ramos Franco e destinavam-se a integrar o álbum em preparação.



Imagem da 1ª Missa do Padre António Emílio


Na Quinta de S. Jorge, propriedade do Dr. Asdrubal Calisto.

Em casa do Joca Calisto, em 1996

PADRE ANTÓNIO EMÍLIO - Anabela Miguel

UMA PALAVRA DE MUITO CARINHO,
ONDE QUER QUE ELE SE ENCONTRE ...

No sábado ao ir ao nosso blog fiquei muito triste ao ter conhecimento que o nosso querido Padre António Emílio se encontrava num estado de saúde bastante complicado, depois de uma cirurgia a que tinha sido submetido.

Não sabia nada dele e foi no almoço de Novembro que, ao tentar ter notícias do Padre António Emílio, me foi dito que se encontrava na Santa Casa da Misericórdia e, já nessa altura, bastante debilitado.

Não consigo imaginá-lo “velhinho”, recordo um homem com um porte muito bonito, carinhoso e de uma grande humildade.

Já há algum tempo tinha vontade de exprimir o meu carinho por ele e hoje, mais do que nunca, devo fazê-lo, pois soube a triste notícia da sua morte.

Era muito novinha quando conheci o Padre António Emílio, andava eu na Primária e ele era o nosso Director. Foi um ser humano que me marcou para sempre devido ao seu carinho, disponibilidade e à palavra de conforto que tinha sempre para nós , qualquer que fosse a situação.
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Não me esqueço da sua presença assídua durante os nossos recreios, o que nos transmitia uma segurança tão doce.

Aqui fica uma lágrima e um beijo para ele.

Anabela Miguel
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