ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
.
.

Os Locais da Amélia Teotónio Viana

Para além dos comentários já publicados, deveras interessantes, pouco mais haverá para acrescentar. No entanto, ao ler sobre os locais referenciados, vieram-me à memória algumas imagens que tentarei descrever em breves palavras.


Mata 63 - Lena VP, Padre Xico, Laura Lopes, Manela Carvalheira, Tamé, Lucília, ???
Sentadas - Melita, Amélia Teotónio, Fátima Barreto, Lurdes Serrazina



ZAIRA – Pastéis de nata fresquinhos que se vinham comer num intervalo das aulas, aí pelo nosso sexto/sétimo ano.

CAPRISTANOS - Local onde se saboreava o melhor bolo de coco, o que acontecia com alguma frequência, dado ser nesse mesmo local que se “apanhava “a camioneta que nos levava e trazia da Usseira para as Caldas, durante o nosso primeiro e segundo ano no ERO.

MACHADO – “Russos” deliciosos... Primavera... Passeios.... Pois era quando o bom tempo começava a aparecer que se ia até ao Parque enquanto as aulas da tarde não começavam e, de caminho, se visitava o Machado. E é engraçado porque ao visitarmos hoje este local sentimo-nos transportados àquela época. Não foi só a parte arquitectónica que não mudou… Se repararem bem a cara que encontramos atrás do balcão é igual à que se encontrava à data, só com a diferença de que, naquele tempo, era a mãe que nos atendia...

TÁLIA - Já bastante referenciada. Sempre sentida como uma segunda casa, onde éramos acolhidos pela simpatia do Sr. Nogueira e onde se comprava o necessário, e não só (depois o pai pagava).

PARNASO - Pequena livraria, situada igualmente na R. das Montras, do lado esquerdo quando se caminha para a Praça. E aqui aconteceu um dia uma pequena estória. Um cavalheiro, em conversa com o dono da papelaria, e parado à porta da mesma, insistia em tratá-lo por Sr. Parnaso: ”Sr. Parnaso gostava de lhe pedir...Sr. Parnaso tive muito gosto...Sr. Parnaso… “ e nós, miúdos, fingindo observar a montra do estabelecimento, riamo-nos, deliciados com a cena!

CASINO – Lembra o tempo de algum encantamento, onde se misturam festas e outros tantos bailes em que nos esforçávamos por parecer bonitas....

TRIBUNAL - Uma memória relativa à passagem de um grupo de presidiários que, saindo da prisão localizada no topo superior da Praça da Fruta, se dirigia para o largo onde se situa a Igreja da Nossa Senhora da Conceição para aí trabalhar na construção do edifício que é hoje o tribunal.

Não me recordo do ano da inauguração, mas tenho na memória a visita que alguns de nós fizemos a este tribunal, novo mas já em funcionamento, acompanhados por um professor (nome?). Estando a decorrer nesse momento um julgamento, não resistimos e fomos espreitar, com alguma curiosidade…

PENSÃO AMÉRICA – Onde, durante alguns anos, com inesgotável paciência, a Sr.ª Dª. América e a Sr.ª Dª. Lucinda nos serviram aqueles bifes suculentos. Situava-se na rua que sobe da Rainha para a Praça, do lado direito, mais ou menos a meio da rua. Éramos um grupo de alunos não residentes nas Caldas que, antes de existir a Cantina do ERO, aí almoçava com alguma regularidade. Alunos de várias faixas etárias, dos mais novos, nos quais me incluía, bem como os meus primos Teotónios (10/12 anos), aos mais velhos, dos quais recordo o Laborinho Lúcio e o Honório, que à data viviam já uma adolescência madura. Talvez por esse facto, tinham para com os miúdos uma atitude de carinho e protecção.

Lembro ainda:
O consultório do Dr. Mário de Castro (pai do Chico e da Papi, que viria a ser mais tarde professora de inglês no ERO), julgo que situado ali nas imediações da Zaira, e onde eram tratadas gripes e outras maleitas.
Recordo com carinho a sua figura distinta, haveria mais tarde de acompanhar um familiar meu com todo o profissionalismo, desvelo e amizade numa fase menos boa da vida

Outra figura inesquecível para mim, e julgo que também para muitos outros colegas, era o pai das nossas colegas e amigas V.P.s que, sempre que por nós passava no seu vagaroso “2 Cavalos” vermelho, nos oferecia uma boleia simpática. Obrigada Dr. Vieira Pereira.

E não posso deixar de referir uma outra figura incontornável que faz parte do nosso imaginário, não só feminino como masculino, mas que, por motivos óbvios, julgo ser mais marcante no universo feminino dado que era nas aulas dessa grande SENHORA, que as meninas tomavam contacto com aquele estranho mundo dos pontos e nós.
Nas suas aulas de Lavores Femininos, sempre com grande simpatia, compreensão, carinho e sentido do dever, lá ia lutando para que as suas alunas viessem a ter créditos firmados no mundo dos bordados. Mais tarde, já imbuída de outras funções, mas sempre com o mesmo espírito de ajuda e um ombro amigo para o melhor e para o pior. Era também companhia imprescindível nos passeios de finalistas e atravessou gerações sempre com a mesma boa disposição e aquele sorriso que nos abria o coração.
Hoje, e aqui, para a TIA ANITA um grande BEM HAJA. E julgo poder dizer que este será o sentimento das muitas “sobrinhas do coração” que foi granjeando ao longo da vida !

Amélia Teotónio Viana

-
.................................................................................................................................

COMENTÁRIOS

A maioria dos Locais são, como é natural, comuns à maioria dos alunos do Colégio dessa época. Ah sim, falta a época, como de costume, porque é que os autores são avessos às datas? Diria que estamos aqui no final da década de 50, já que é nessa altura que se constrói o Tribunal, e a primeira metade da década de 60.

A Pensão América, na Rua General Queirós, aparece aqui pela primeira vez, mas pelo que vejo muitos alunos a frequentavam. Sei que além dos citados Laborinho Lúcio e Honório , das inúmeras Amélias Teotónios, respectivos gémeos e primos, também a nossa habitual colaboradora Júlia Ribeiro lá comia os tais bifes. Curioso como só agora aqui aparece, uma demonstração que é a união das memórias que permite a reconstituição de um tempo, ninguém isoladamente o consegue.

O "Sr Parnaso" é um episódio delicioso e a demonstração de uma boa memória, que virá certamente a ser útil a este Blog no futuro.

O consultório do Dr. Mário de Castro, a quem se deve este Blog, já que se não fosse ele eu não estaria aqui a escrever, era no nº 61 da Rua General Queirós, na porta antes da Drogaria Central. Foi, como perceberam, o meu médico e um grande amigo.

O Dr. Vieira Pereira era o Pai das nossas colegas do mesmo nome, cuja casa recordo melhor do que aquela em que vivi nos meus primeiros anos nas Caldas. O que se explica facilmente pelo facto de lá ter passado mais tempo... VPs há umas melhores e outras piores (não me vão perdoar esta!), mas o Sr. Dr. Vieira Pereira era um Gentleman com um coração de ouro, só equiparável ao da sua mulher: a Féu , como sempre conheci e chamei à Sra. Dª Ofélia Vieira Pereira. Gostava muito dos dois.

A Tia Anita é um local de encontro recorrente desta geração, que eu próprio tenho frequentado ultimamente em busca de memória(s). E a da D. Anita é melhor do que a da maioria dos que têm metade da idade dela, garanto-vos...
.
JJ

30-04-2008

Júlia Ribeiro disse:
Como há "ALGUÉM "que soube e se lembrou que eu também desfrutei dos suculentos bifes na Casa América, reforço a ideia de que realmente foi um local de encontro da malta. Por acaso não me lembro do Honório....mas ele não residia nas Caldas? Só ele o poderá confirmar…
Recordo a nossa passagem pela cozinha e ver aquelas travessas de feijoada para outros clientes, que por acaso,também seria o seu local de encontro à 2ª feira-os pais de alguns de nós, o filho da D.Lucinda, o Sr João (tio da nossa colega Susana Caetano)....a D Lucinda que recordo com saudade era avó da Susana.
Um beijinho para a Susana!
Uma achega para recordar....alguns dos nossos passatempos enquanto aguardávamos os bifinhos.....Pelo Carnaval íamos à lista telefónica e, os mais descarados, faziam uns telefonemas brincando com algumas pessoas que tinham o" azar"de ter nomes ou apelidos mais engraçados ou pelo menos fora do comum.
Não te lembras, Mélita????
Beijinhos
Júlia R.

01-05-2008
Fernando Santos disse:
Li os locais da Amélia T. Viana e achei graça quando se refere aos presidiários que trabalharam na construção do Tribunal. O meu pai chamava-lhes reclusos, e foi ele que durante anos os acompanhou nas obras que a Câmara executou na cidade e nas freguesias em redor. A pavimentação do Bairro da Ponte e a electrificação da Foz do Arelho foram duas das muitas obras onde os ditos reclusos trabalharam.Um abraço. Fernando Santos.

Os Locais do José Carlos Abegão

Anos sessenta ...........................................................................José Carlos Abegão

JUVENTUDE ESTUDANTIL CALDENSE

É precisamente nesta década que um razoável número de jovens caldenses, após a quarta classe, segue os seus estudos. Para isso, tiveram de realizar exames de admissão aos diferentes cursos, a saber: ensino liceal e ensino técnico. Ora como o primeiro tipo de ensino só se administrava nas capitais de distrito, os jovens viram-se na obrigação de frequentar o ensino técnico ministrado na Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha, porque era gratuito, como o outro, mas este estava presente nesta terra.

Contudo, alguns ainda puderam optar pelo ensino liceal, já que o seu poder económico lhes permitia pagar esse ensino que era leccionado no Colégio Ramalho Ortigão. Numa primeira fase, e na opinião de alguns, esta situação (ensino técnico/ensino liceal) originou alguns ténues elitismos que se foram esbatendo, a partir dos anos sessenta, e teve a sua conclusão quando a criação do Ensino Liceal Oficial se tornou uma realidade, nos anos setenta, nas Caldas da Rainha, com a instauração do Liceu, nos pavilhões do parque, hoje Escola Secundária Raul Proença.

Este aparente elitismo tem uma explicação.

Com a perspectiva generalizada, na época acima referida, da necessidade do prosseguimento de estudos, muitos alunos destas duas escolas, embora situadas na mesma área geográfica, eram oriundos de diferentes localidades como Bombarral, Nazaré, S. Martinho do Porto… Assim, e numa fase inicial, como é normal, o desconhecimento instala-se, mas a proximidade gradual vai vencendo esta distância de modo rápido, porque os jovens caldenses matriculavam-se cada vez mais no ensino secundário, independentemente das escolas que viriam a frequentar. Muitos deles viviam na mesma rua e frequentaram a mesma escola primária o que fez com que os laços fossem cada vez mais fortes, aumentando também a aproximação entre os alunos de ambos estabelecimentos de ensino. Este cenário teve início nos primeiros anos da década de sessenta.


LOCAIS DE REUNIÃO DA JUVENTUDE CALDENSE


Cada vez mais jovens aderiam ao ensino secundário, administrado em ambas as escolas secundárias, a saber Colégio Ramalho Ortigão e Escola Industrial e Comercial. Contudo, foi esta última que mais inscrições teve, por proporcionar estudos gratuitos ou baixas propinas.

Não era, no entanto, esta diferença social que afastava toda esta juventude, já que havia gostos e motivações comuns: espaço de encontro e desporto.

No que aos espaços diz respeito, refira-se a importância da Pastelaria Zaira, um espaço de referência para a juventude do ERO (Externato/Colégio Ramalho Ortigão). A este respeito, e em jeito de informação, desejo manifestar a minha discordância com o artigo escrito por Miguel BM, que aponta aquele espaço como o local para a juventude das Caldas. Ora, a realidade era que a Zaira era frequentada quase em exclusividade pelos jovens do ERO. Logo, a presença dos jovens da Escola Comercial e Industrial não era muito evidente.

Isto não quer dizer se registasse discriminação, já que havia espaços comuns aos jovens de ambos estabelecimentos de ensino, como Maratona, Camaroeiro, Central e , principalmente, Taiti. Era aqui que tudo se discutia, desde o assunto mais fútil ao mais útil.

E a Floresta, claro! Imperdível este local de encontro, sem distinção social/ escolar como a sua “traça arquitectónica” obrigava! Ali jogava-se matraquilhos, jogava-se a laranjinha, e comiam-se as melhores bifanas…Os operários e os reformados também eram presença constante, matando o tempo com os matraquilhos, laranjinha e bifanas…


Se se atentar nas actividades desportivas, regista-se que era o futebol a actividade rainha, tornando-se no pólo de união. Por esta altura, finais dos anos sessenta, ecoavam os jogos Taiti/Zaira, como os mais famosos, pois as equipas agrupavam jovens das duas escolas, destacando-se o peso da equipa Taiti, com jogadores de ambas.
De pé: ? , Pereira, Manuel Nunes, Agostinho, Saloio, João, Brás.
No chão: Freitas, Fernando, Joaquim do Norte, Abegão, Ricardo.


Era, então, o futebol que mais unia esta juventude.

O futebol também era a preocupação do Caldas, que começa a apostar nas camadas jovens e são os senhores António Alfredo Aniceto, Joaquim Ramos. José Faria, farmacêutico, Ramos, de Salir do Porto, que em parceria com José Nascimento, treinador, que através da sua dinamização conseguem atrair os jovens caldenses para a prática do futebol federado.

Inicialmente, os alunos da ERO aderem pouco. (lembro-me, à época, quando o Caldas foi disputar pela primeira vez o campeonato nacional de juvenis, de o Orlando Silva, jogador de referência desta equipa, comentar comigo: “ Que pena aqueles meninos do ERO não quererem vir para a nossa equipa!” E esses “meninos” eram Luís Rolim e Carlos Branco.) Passados dois anos, o cenário modificou-se. Os alunos do ERO mostraram a sua adesão ao futebol federado, tornando o Caldas muito mais forte, porque podia contar com os melhores jovens de ambos estabelecimentos de ensino. Saliente-se a presença de Miguel MB, Manuel Nunes (Lotarias), Adriano (Bagaço), Pedro Louceiro (Semilha), Manuel Teixeira Gomes (Quecas), entre outros, oriundos do ERO, e Inguila Lúcio, Santiago Freitas, Mário José, Vital e Vítor, entre outros, provenientes da Escola Industrial e Comercial.

Mas nem só do futebol viveu esta gente. O ténis de mesa foi outra actividade sua favorita que teve a mesma função do futebol: a união.

E nele me integrei, após convite do Caldas. Por esta altura, já faziam parte Araújo, José António Filipe (Mauser), Carlos Branco e o Rui Silva, do ERO. Da Escola Industrial e Comercial tinham ingressado Jaime Costa, Marques, Barros e Alpalhão.
Verifica-se, assim, que o desporto tem um papel unificador desta juventude das Caldas, nos anos sessenta.

Não quero acabar esta minha participação sem antes fazer um esclarecimento. Li no blogue que o Zequinha, José Manuel Pereira da Silva, dá o nome de Paris ao café que estava no local onde hoje se encontra a Venézia. Ora, isto é falso, porque o café que ali existia tinha o nome de Bijou e era maioritariamente frequentado por jovens que tinham concluído o ensino primário e enveredado pelo mercado de trabalho.

O único lugar de nome Paris nas Caldas é a foto Paris! Aliás, foi! Também esse já acabou! O Vasco Castelhano não quis ser o sucessor da mãe, aqui nesta terra. Preferiu outros ares!

Perdoa-me, Pereira da Silva! Mas isso deve ser do doutoramento que andas a tirar! Está a dar-te a volta ao miolo!

P.S. Caso esta saga bloguista se faça prolongar, estarei disponível para colaborar. Apenas um senão: a minha disponibilidade está sujeita à disponibilidade que a minha patroa, Maria de Lurdes Rodrigues, tem para mim.
Agradeço ao meu amigo JJ (João Jales) o convite feito a partir do qual consegui recordar os famosos e inesquecíveis anos sessenta caldenses, vistos com olhos de aluno da Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha.

Disponham!

José Carlos Abegão
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

COMENTÁRIOS


Esta é mais uma perspectiva diferente, como o próprio refere, já que o Abegão era aluno ( e é hoje professor) da Escola. Digo mais uma porque, felizmente, apareceram muitas colaborações exteriores ao ERO.

A reflexão sobre o ensino técnico e liceal, bem como dos locais de origem dos alunos, aqui fica, poderemos eventualmente voltar a este tema e ouvir mais opiniões.


Embora sem data, como habitualmente, estas são memórias da década de 60. Os jogos de futebol Taiti-Zaira começaram no final dessa década. Como disse, a propósito do texto do Zequinha, cheguei a pontapear umas canelas num destes encontros, mas em 1971 ou 1972.

Não há também data na foto, o autor situa-a em 68, eu penso que deverá ser um pouco posterior, seria fundamental saber quando abre o Taiti. Se o meu colega Luis António Fialho de Almeida lê este Blog, poderia informar-nos.

Os locais são, afinal e mais uma vez, comuns a outros depoimentos, com duas pequenas notas: presenças com peso diferente dos alunos do ERO e da escola na Zaira e no Desporto Federado. Presenças inversamente proporcionais, o que deve ter um significado e ser motivo de alguma reflexão. Comentários?


O desporto é um "ponto de encontro" natural do Abegão, afinal estamos a ler as reflexões e memórias de alguém que faz na vida aquilo de que gosta, e por isso ele é professor de ginástica. A maioria dos nomes são conhecidos, muitos continuam ligados ou a residir nas Caldas. Refira-se como curiosidade que o Chico Vital deixou posteriormente o Caldas para jogar em grandes clubes, Benfica e Futebol Club do Porto, por exemplo.

Partilhamos o mesmo encanto pela Floresta. Aproveito para relembrar que havia um jardim quando se passava a porta do fundo, oposta à porta de entrada. Almocei lá algumas vezes com um grupo de amigos do meu Pai, sendo o organizador o João José Falcão, amigo do dono porque tinha a ourivesaria mesmo ao lado (onde hoje é o Centro Comercial da Rua das Montras). Caras de Bacalhau, febras assadas, a cozinha era boa e o local, na Primavera e Verão, muito agradável, desde que não se tivesse medo de aranhas porque os numerosos vasos, onde cresciam principalmente cactos, tinham teias onde viviam bichos dignos de figurar em Aracnofobia! Gostava de me entreter a caçar, vivos, aqueles moscardos abundantes no tempo quente e lançá-los nas teias para poder observar o monstruosos aracnídeos a sair, velozes, dos seus esconderijos. Deveria ter 13 ou 14 anos.

É óbvio que não quero meter-me numa discussão entre dois distintos profs da Bordalo Pinheiro a propósito de toponimia caldense, mas se o Zequinha meteu água na Bijou mas será que o Abegão o fez também em relação à Pastelaria Paris? Não havia um estabelecimento com esse nome ali para os lados da antiga Praça do Peixe? Entre aí um dos "veteranos" a esclarecer.

Obrigado Abegão pelo teu depoimento, é evidente que contamos contigo no futuro, assim a nossa amiga Maria de Lurdes te deixe algum tempo livre entre as intermináveis reuniões e burocracia com que vos atolou (com discutível utilidade). O nosso Presidente queixa-se que os alunos não sabem factos elementares da nossa História recente mas nos horários do 7º, 8º e 9º ano a Ministra preconiza uma aula semanal de História. Não seria melhor quinzenal?

28-04-2008
Fernando Santos disse:
Sobre os locais do J.C. Abegão apenas me limito a comentar o termo "elitismo"Nos anos 60 era assim nas Caldas? Então nem queiram saber como era nos anos 40 quando estudei na Escola Industrial Marquês de Pombal em Lisboa! Próximo da minha escola existia a Escola Comercial Ferreira Borges, e um pouco mais abaixo na Junqueira, uma secção do Liceu Rainha D. Leonor. O tal elitismo era patente. Não havia futeboladas que nos unissem. Antes pelo contrário! Não nos podíamos cruzar sem que houvessem cenas de pancadaria. Dum lado os filhos da classe média, e alta. Do outro, a classe mais baixa, geralmente filhos de operários que eram apelidados de "ferrugentos"

28-04-2008
JJ disse:
Embora a maioria com pedidos de não publicação (!?) tenho recebido emails e testemunhos divergentes da perspectiva do Abegão. Voltaremos ao tema, que merece uma cuidadosa reflexão, já que parece mexer com formas muito diferentes de recordar e reflectir a mesma realidade.
Consultem Breves notas e comentários a "Os Locais do Artur Alves"

Os Locais do João Bonifácio Serra

Pontos de encontro 1965/1966

Se os pontos de encontro são sempre pontos de encontro com o mundo à nossa volta, escolho na memória que guardo dos anos 1965/66, alguns dos lugares que nos ajudaram a crescer.

O Central e a Zaira


Ao velho Rossio quinhentista, as duas ou três gerações precedentes trouxeram comércio e serviços modernos. Começaram por mandar calcetar o tabuleiro central e ordenar a venda de géneros. Na Praça renovada, instalaram os estabelecimentos da civilização: barbearias e cabeleireiros, bancos e farmácias, lojas de roupas e de utensílios de casa, mercearias e pastelarias, ferramentas e instrumentos agrícolas, papelarias e livrarias. E cafés.

Os cafés não se distribuíram igualmente pelos lados da Praça. A maior concentração deu-se sempre a sudoeste (o Lusitano e a Flor de Liz) e a noroeste (Bocage, Invicta, Zaira). Como se a abertura ao sol da manhã fosse condição de favor indispensável.
Nesse sentido, o Central constitui excepção. Mas a proximidade com o antigo Terreirinho (Largo Dr. José Barbosa) permitiu-lhe abrir duas frentes e, deste modo, contrariar a “maldição” do lado ensombrado.

Cada café procurava fidelizar os seus clientes, manter os seus empregados e estabilizar os serviços adjacentes (engraxadores, armazenamento provisório de compras). Por vezes registavam-se migrações de clientes e transferências de empregados. Havia também grupos (raros) que circulavam entre cafés: de manhã num, depois de almoço noutro, ao fim da tarde e à noite noutro ainda.

Na Praça das Caldas da Rainha, em meados dos anos 60, dois cafés emergiam, como pólos de tal modo distintos que a circulação entre ambos se tornava quase impossível: o Central e a Zaira. Situados em lados diferentes, eram também os mais afastados entre si, por uma diagonal que rondaria a centena de metros. De resto, ambientes, decoração, além da topografia, tudo os contrapunha. Subia-se um degrau para entrar no Central, descia-se um degrau para entrar na Zaira. Em vez do amplo corredor em dois planos da Zaira, o salão do central era quase quadrado e num só plano. Em vez de espelhos, o elemento decorativo que era a marca da Zaira, o Central exibia cavalos esgrafitados por um Julio Pomar dos anos 50. A Zaira criara um espaço separado, intimista, propício ao encontro e ao reconhecimento dos grupos de frequentadores. O Central era, em contrapartida, uma varanda aberta sobre a praça, cujos sons, cores e personagens se podiam sentir e observar através das janelas altas rasgadas em duas das paredes do café.

Duas identidades tão marcadas forçoso seria que se traduzissem em estereótipos sociais e até ideológicos. Os frequentadores fiéis de cada um dos cafés teriam certamente consciência da etiquetagem a que se sujeitavam por parte dos seus homólogos. Alguns dos visitantes regulares da cidade, instruídos nos meandros desta marcação social dos territórios, divertiam-se perturbando esta “coexistência fria”: de manhã liam o jornal do Central, desdenhando a Zaira, e à tarde tomavam a bica na Zaira, desmerecendo o Central. Alguns grupos juvenis também transgrediam a fronteira imaginária entre os dois espaços. Como sempre acontece nestes casos, queriam o melhor de ambos. Não estavam dispostos a abdicar dos pastéis de nata da Zaira nem dos duelos de xadrez do Central. Tinham curiosidade pelo ambiente “feminino” que se espalhava pela Zaira e admiração pelo ambiente “masculino” que se cultivava no Central. Sentiam-se atraídos pela sofisticação urbana que se vivia na Zaira, mas não eram indiferentes às raízes populares que sustentavam o Central.


A Tália


Se a Rua das Montras era o eixo central da nossa cidade, por onde corria o que de mais moderno o engenho caldense sabia fazer, a Tália era o centro da Rua das Montras. Na rua de passeios estreitos, por onde o trânsito circulava em dois sentidos, nós apinhávamo-nos à porta, no fim das aulas, atraídos ao local por um chamamento secreto e irresistível. Não havia maneira de trocar um livro ou um caderno que não fosse na Tália, não havia processo de marcar um encontro ou de combinar uma acção que não fosse na Tália, não havia modo de fechar o dia sem passar pela Tália.

Havia um sem número de razões para ir à Tália. Porque ali havia os livros e todos os outros materiais de papelaria que a escola exigia, sem dúvida. E porque ali havia os discos que se podiam ouvir e eventualmente comprar, pois claro. Porque ali havia prateleiras e gavetas repletas de outros objectos mais decorativos ou funcionais, que talvez um dia, no ensejo de um aniversário ou de um natal, pudessem vir a ser nossos. Porque dali se podia observar, a certas horas, o que de novo a cidade pudesse ter para nos oferecer. Se algum felizardo mudava de carro, ali passaria. Se alguém conseguia namorada, certo era que ali a mostraria. Um qualquer sinal de mudança, no olhar, no andar, na atitude, só verdadeiramente existiria quando ali fosse notado.

Acima de tudo, a Tália era a nossa janela. Através dela, respirávamos o ar da cidade cosmopolita, percebíamos os sons e as cores, as evocações da cidade viva. A Tália devolvia-nos, em imagem, a ambição da juventude.

Passávamos o dia no colégio, entre rotinas, algumas absurdas, matérias por vezes sem sentido, professores, alguns, parados no tempo. Mas tudo isso podia ser superado se fossemos à Tália.

Íamos à Tália para termos a certeza de que estávamos realmente perto do mundo.

J. B. Serra

.............................................................................................................................

COMENTÁRIOS

Penso que nenhum dos que aguardava "Os Locais do João Serra" ficou certamente desiludido com as inesperadas escolhas da Zaira, do Central e da Tália.

Curiosamente, e em meia dúzia de parágrafos do primeiro texto, ficamos a saber tudo sobre os dois cafés, os seus frequentadores,o seu ambiente característico, só não ficamos a saber qual dos dois o autor frequentava e preferia. Sentia-se mais próximo da feminilidade sofisticada da Zaira ou da masculinidade popular do Central? Mas eu nem lhe pergunto, porque o João responderia certamente que ia muito ao Lusitano…ou à Flor de Lis…

Eu era um incondicional da Zaira mas frequentava também a cave do Central, em busca do bilhar e de aprender algum xadrez. Saboreando as “bocas” com que se picavam alguns adversários eternos de bilhar e damas. E também alguns silêncios, horas de silêncio e imobilidade, de alguns xadrezistas, e mirones, como se a vida para eles só existisse nas peças do tabuleiro.

O meu Word não reconheceu "esgrafitados" e eu preparei-me, na minha ignorância que aqui confesso, para saudar um neologismo. Aqui fica a informação, caso não seja eu o único ignorante: ESGRAFITO- Decoração que se coloca sobre peças cruas, engobadas e ainda húmidas, desenhando sobre o engobe e deixando aparecer a cor da argila do corpo da peça. Também conhecida como sgraffito.

Num tempo sem Internet nem centros comerciais estiveram todos os colaboradores destes “Locais”, o João incluído, de acordo que a Tália era o centro das Caldas, o local de todos os encontros e todos os desejos (de consumo, claro). E a disponibilidade com que havia, por exemplo, livros e discos na Tália, para compradores ou meros “cherinhas”, é uma prova de que espaços como a FNAC, por exemplo, se limitaram a copiar conceitos que o Sr. Nogueira e a D. Rosa já praticavam há cinquenta anos! (Fico a pensar se ainda hoje se usará este termo, “cheirinhas”?)

A data está lá, 1965/1966, é o último ano lectivo da turma do João nas Caldas. Podem (re)conhecer a turma em
EXCURSÕES DE FINALISTAS 1 - CEUTA,1966 e
O BARCO DO AMOR .

Os Locais da Isabel Caixinha



















Isabel Caixinha


Finalmente vou responder ao inquérito.Então é assim:

Cafés da Praça

- o Central sobretudo pelas pessoas que o frequentavam e o ambiente...Mentes abertas e tolerantes!

Pastelarias


- Machado devido aos deliciosos bolos, entre eles a tarte de maçã e os russos, que só de pensar até me cresce água na boca!

- Bar Restaurante do Parque - pela música que saía da juke box . Difícil de escolher...uma favorita era sem dúvida “Without You” ( Harry Nilsson ??)





Bailes

- Casino - pelos bailes giríssimos e que normalmente era um ponto de encontro geral. Frequentei pouco porque não tinha autorização do meu pai...

- O Inferno da Azenha - bem, este aqui, não tinha nada de inferno (talvez a temperatura!), só a ideia e tenho que me rir...
Ia aos domingos à tarde e encontrava-me com um grupo muito giro. Lembro-me da Guida Barreto e do irmão dela, o Luís, do Carlos Gouveia (ia-me lá esquecer!), do Brilhante, do Graça, da Anabela...e da música. Desde os Procol Harum aos Credence Clearwater Revival, passando por uma enorme variedade de música `celestial `(foi a ideia que me ficou)! Havia também longos slows é claro! Um sítio com muito queridas recordações onde vivi grande parte do meu primeiro “namoro”!





Livrarias:


- Tália. Pessoas simpáticas, artigos giros e diversos, novidades e ponto de encontro da malta!

Foz do Arelho

- O Caravela , também como ponto de encontro.

- O Félix porque a dona (D. Celeste) era uma querida e porque a montanha russa era a melhor do mundo!


Alfeizerão

– O Pão de Ló era mesmo muito especial (ainda é) , um sítio muito agradável para estar.


Óbidos

- Estalagem do Convento porque era sossegado e confortável, para se poder ter uma conversa e uma tarde agradável.

- A Mansão da Torre pela decoração e ambiente medieval que se adaptava tanto a muito género de brincadeiras.

Lembro-me de um amigo meu descer a escadaria para o Bar, enrolado numa ponta dos pesados cortinados com grande Altivez Real proclamando, durante o percurso, ser a Rainha da Prússia. Isto durante os pequenos espaços de tempo em que o empregado ia ao andar de cima. Claro que o gozo era o empregado não o apanhar nestes propósitos (pouco adultos!).

Esta "personificação", levada ao exagero, dava origem a sessões hilariantes, é claro!
Anos mais tarde, muitos anos mesmo, conheci através do meu emprego um dos Príncipes da Prússia. Quando lhe fui apresentada só conseguia pensar :"Hum, a mãezinha de V.Ex já eu conheço, velhas amigas até..."

A muito custo me contive de desatar a rir, com a aparatosa imagem do meu amigo, cheio de salamaleques, constantemente na ideia!

Como vês uma estória típica de miúdos, a que acho graça pela coincidência deste encontro, mais tarde.


Esta foi uma ideia muito gira.


Bjs
Isabel C

................................................................................................................................
BREVES NOTAS E COMENTÁRIOS

Falta uma legenda para a fotografia, que a autora seguramente enviará. Aquela foto com aquela "aura" tem seguramente uma estória, E faz roerem-se de inveja os que não iam à Azenha nessa altura...

Tive que ligar o "datómetro", já que, mais uma vez, não há datas no texto. Atendendo à idade da Isabel e às indicações do texto, eu situaria o depoimento no limite do nosso inquérito, entre 1971 e 1974. Vejamos:

- "Without You" , um original dos geniais (e muito ignorados) Badfinger, foi um êxito na versão de Nilsson em 1971.

- Creedence e Procol Harum apontam para o final de 60, princípio de 70. Estes últimos estiveram em Cascais em 1972 para um concerto de promoção do LP "Grand Hotel". Escolhi-os para ilustrar o artigo, e não os CCR, já que são habitualmente menos divulgados (e porque esta é uma das músicas da banda sonora da minha vida).

Da montanha russa é que não me recordo. Era mesmo esse o nome? Comi várias vezes no Félix , mas não me lembro dessa sobremesa.

A Isabel deve estar a descrever o Inferno d'Azenha em 1970/71 porque o Graça, Brilhante e Carlos Gouveia já estão a estudar em Lisboa no ano seguinte. Corrijam-me se estiver errado.
Quem sabe tudo sobre a Azenha é a Guidó, que também lá andava de certeza nessa época, mas o Teatro e uma intensa actividade no campo da Edição e Publicação Livreira impedem actualmente a sua colaboração neste Blog.

Os meus comentários sobre a Estalagem e a Mansão da Torre já apareceram em Os Locais do João Jales
JJ
.
26-04-2008
Isabel Caixinha respondeu:
Quanto á legenda da fotografia, foi tirada no dia que fiz 16 anos no Parque. Como a `paisagem´ indica, nas proximidades do museu. E quem foi o fotógrafo?... podes não acreditar mas não me lembro!
Tambem fiquei na dúvida sobre o nome da sobremesa da D.Celeste e é claro que tive que desvendar o mistério. Eu até sou boa nisto...(só de ver a fotografia...tenho que ir o supermercado buscar farinha Maizena, de resto tenho tudo, e meter mãos á obra!). Ai credo, eu e os bolos!


R E C E I T A :




Ingredientes: 1 colheres de sopa de açúcar por cada 1 Clara. Bater as claras em castelo até ganharem consistência. De seguida, junte o açucar e bata até que as claras fiquem firmes. Colocá-las num recipiente e levar ao forno quente a 180 º. Vai a cozer exactamente 1 minuto por cada clara, quando estiverem douradinhas, desliga-se o forno, abrindo a porta do forno e deixando repousar um pouco. Passado uns 10 minutos, retira-se do forno.
Para o molho: 5 colheres sopa de açúcar, 6 gemas, 2 colheres de farinha Maizena, casca de limão, 1/2 Litro de leite e 1 colher de margarina.Faz-se o creme: num tachinho junta-se os ingredientes. Mistura-se bem e vai ao lume a engrossar (não demasiado!!). Quando o creme de gemas estiver frio, retire as cascas de limão e deite sobre as claras. Leve ao frigorífico para ficar bem fresco.
.
26-04-2008
Guidó disse:
Alguém falou em mim?????Cá estou eu, cá estou eu.
Da Azenha prometo falar em breve, mas não podia deixar de comentar o texto da Isabel Caixinha: então não é que vivemos ambas um "primeiro amor" na Azenha?
Ah, em breve vou colocar aqui fotografias da Azenha (actuais) e poderás reavivar recordações. Um beijo Margarida (Guidó)
.
27-04-2008
Miguel BM disse:
"Uf" estou com o coração aos saltos. Nunca pensei ficar assim passados mais de trinta anos ao ver uma arrebatadora foto da Isabel. Felizmente ela já está mais crescidinha senão eu ainda pensava que estava com pensamentos pedófilos. De qualquer modo Isabel, estavas espectacular. Não sei se tens filhas, mas se sim, espero que sejam parecidas contigo. Bj Miguel
.
28-04-2008
Júlia Ribeiro disse:
Oh! Isabel Só hoje vi o teu texto.... Ai aquele bolo!! Deve ser bom... tenho que experimentar, pois só pela foto me "faz crescer água na boca". Quando vieres a Portugal, no Verão, podemos juntar o doce e a ginginha. Que tal a ideia? Estou mesmo a ver "Alguém" a propor fazer-nos companhia..... Aceitamos, que achas? Beijinhos. Júlia
.
28-04-2008
JJ protestou:
Então agora passei a ser chamado "Alguém"? Só porque me "bati" a uma ginjinha e um bolinho? Que falta de respeito...
.
29-04-2008
Isabel respondeu:
Querida Júlia tu apareces com cada boa ideia!!! Realmente a combinação perfeita e eu que nem me tinha apercebido... Quantos dias faltam até ao verão??? Posso garantir que a Montanha Russa é quase como a D.Celeste, eu no fim de semana pu-la à prova!Em relação ao tal "alguém"... cá por mim, acho que nestas coisas há sempre lugar para mais um! Beijinhos. Isabel Caixinha

Os Locais de Fernando Santos - 2

O Fernando Santos não foi aluno do ERO nem da Escola, mas passou alguns bons tempos nas Caldas, onde fez muitos amigos e onde casou. Enviou-nos duas contribuições para os "Locais de Convívio da Juventude Caldense" , no caso dele referentes aos anos 50 . Aqui está a segunda.







OS BAILES DA FOZ






Por volta dos anos 56 ou 57 fiz parte de um grupo que costumava acampar no pinhal existente à entrada da Foz.

Além de mim faziam parte o Carlos Alberto, do cinema Ibéria, o Luzio, o Pinho Marques e mais uns quantos cujos nomes não me vem à memória. Cada um tinha a sua tenda e naquele Verão quase todos os Sábados montávamos as nossas bicicletas com o respectivo farnel e ali passávamos o fim de semana. Todos nós conhecíamos moças da Foz, com as quais convivíamos, e a partir de certa altura algumas, entre as quais se encontravam a Dulce, a Rosa, a Rute, a Gabriela e outras, decidiram organizar bailes em garagens particulares que pediam emprestadas aos respectivos proprietários.

Não sei qual a razão mas a verdade é que só convidavam rapazes das Caldas e os primeiros bailes até correram muito bem. Mas, a partir de certa altura, os rapazes da Foz não estavam a gostar nada da coisa e deram em apedrejar as portas das garagens onde se realizavam os bailes. Escusado será dizer que as moças começaram a ter dificuldade em arranjar locais para os bailaricos e, como tal, recorreram a uma sala situada nas traseiras duma taberna um pouco adiante do Café Caravela. Como de costume o encarregado do som era eu, que levava um enorme gravador de fita magnética alugado na loja do pai do Vasco de Oliveira com as músicas previamente gravadas. Logo na primeira noite, com a sala cheia de moças acompanhadas das respectivas mamãs, alguém começou a apedrejar o portão das traseiras. Ainda fui espreitar, mas não vi ninguém. Depois dirigi-me á taberna para tomar uma laranjada e notei que estava cheia de moços da terra que me foram dando alguns apertões. Fiquei assustado e, no meio de certa confusão, consegui regressar á sala. Porém, com grande espanto, constatei que tinha havido sururu e toda a gente tinha fugido pelas traseiras.

Completamente só e desorientado, pensei logo que ia levar uma carga de porrada. Peguei no gravador saí a correr pelas traseiras com o dito cujo ao ombro e, quando cheguei á rua, já os meus companheiros iam a correr em frente ao Caravela. Desatei a gritar para esperarem por mim e depois lá fomos todos cheios de medo até ao acampamento. Aqui chegados vimos as nossas tendas abertas, onde faltavam algumas coisas. Pensamos logo que nos tinham assaltado. O resto da noite foi passada em branco com medo de qualquer represália e, na manhã seguinte, constatámos que apenas nos faltavam os sacos da comida que encontrámos dispersos pelo campo, e concluímos que teria sido obra de cães esfomeados.

A partir daqui pensei que os bailes tinham acabado. Mas não! As moças da Foz gostavam da rapaziada das Caldas e eram persistentes. Na semana seguinte voltaram a convidar-nos para outro baile no mesmo local. Alguns mais corajosos foram, mas eu não. Porém, como era necessário levar o gravador, pedi a um colega de nome Viriato, que não pertencia ao grupo, para ir no meu lugar.

Na segunda feira o Viriato apareceu no trabalho com o nariz todo esfolado, contou-me que tinha havido porrada de criar bicho e, para dizer a verdade, já não me lembro do estado em que ficaram os meus companheiros do grupo.

O Verão estava a findar, continuei a ter uma boa relação com as moças da Foz, mas quanto aos bailaricos, para mim terminaram de vez.

Fernando Santos
Olhão, 16-3-2008
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
COMENTÁRIOS
.
24-04-2008
JJ disse:
Quando iniciámos esta série sempre pensei que os bailes de garagem constituissem uma parcela importante dos textos recebidos. Tal não aconteceu e este é, até à data, o único que lhes é completamente consagrado. Como receberemos textos até ao final do mês, talvez surja outro.
Não tenho pessoalmente grandes comentários, é um tempo que não é o meu (tinha 3 anos,acabado de chegar às Caldas) e a estória fala por si. Se algum dos intervenientes quiser, tem aqui um espaço de comentário para acrescentar e esclarecer.
Resta-me agradecer ao Fernando que, não sendo sequer aluno do ERO, teve duas colaborações muito interessantes.
.
25.04-2008
São Caixinha disse:
Gosto muito de como o Fernando conta as estórias e das estórias que conta! Esta parece quase o "West Side Story" da Foz do Arelho!! Uma interessante contribuição para a manta de retalhos dos locais de encontro que assim se vai tornando a cada dia, mais variada e colorida!! São
.
25-04-2008
Isabel Knaff disse:
Em relação ao artigo do Fernando Santos pergunto-me se as meninas da Foz tambem vinham aos bailes das Caldas ?
.
26-04.2008
F Santos respondeu:
Que me conste, a resposta é não!
As meninas da Foz não podiam vir aos bailes nas Caldas porque naquele tempo ninguém tinha Pó-Pó. Viajava-se na camioneta ou bicicleta, e como de noite não havia carreiras, logicamente bailes em Caldas nada!
Não faltavam era por altura das Feiras do 15 de Maio e 15 de Agosto que se realizavam na antiga cerca do Borlão, juntando-se aos rapazes das Caldas para se divertirem nos carroceis e pistas de automóveis.
Das que conheci, não sei se alguma foi aluna do E.R.O. mas da Bordalo Pinheiro lembro-me de duas ou três que vinham de bicicleta todos os dias.

Os Locais do João Ramos Franco - 2



João Ramos Franco





Sou um pouco avesso a dizer que estou num Local quando a minha presença nele é só de corpo, a mente vagueia e só uma parte mim está presente.

Cafés:
Lusitano: ainda muito novo, para tomar um garoto e, mais tarde, para estar na conversa com o meu Pai (era o café que ele frequentava);
Bocage: era ponto de reunião depois de almoço, antes ir para ERO;
Zaira: ponto de encontro com a namorada (convinha que fosse ali, perto das mães, porque com muitas raparigas disfarçava qual era o namorico e isso naquele tempo convinha);
Central: no princípio era só o bilhar e Xadrez, depois a convivência com os mais velhos ajudou-me a analisar a sociedade onde vivia e, citando Lenine, Que Fazer?

Cervejarias:
Poucas existiam nas Caldas, no meu tempo. O Marinto abriu já eu tinha 17 ou 18 anos e recordo-me de ter lá alguns convívios com a malta.

Tascas:
Ginginha: há por aí alguém da malta que não tenha passado por lá?
A Viúva: o nosso copinho de tinto, na companhia de amigos mais velhos; Caseta: centro de ceias fora de portas, para não dar nas vistas. É que para lá íamos direitos mas, na vinda, ás vezes a estrada estava torta;

Noite:
Alex: não vos conto, mas digo-vos que dei barraca suficiente na cidade, chegou para o meu pai me chamar à realidade;
Casino: se as paredes falassem contavam os meus amores correspondidos e os falhados; o nosso Bar no Casino era no WC, havia lá um barbeiro e ele guardava L34 (brandy) para nós irmos molhar o “bico”;
O Inferno d’Azenha: ajudei no começo das obras.

Livrarias/Papelarias:
Silva Santos: Foi o primeiro que conheci, pela mão do meu pai, lá fui comprar os livros e os cadernos para a instrução primária e mais tarde os livros (com o carimbo livro único) para o liceu;
Tália: ponto certo de passagem porque dar um beijinho à D. Rosa e cumprimentar o Sr. Nogueira era um prazer familiar, depois ficar por lá a ouvir as novidades musicais que tinham saído. Às vezes tinha vergonha de comprar, a D. Rosa dizia logo “leva meu filho”;
Parnaso: ponto para encontrar alguns livros proibidos pela Censura e outros que procurava, na ânsia de aumentar a formação cultural;
Tertúlia: assisti à inauguração, mas já não a desfrutei;

Encontros/Bailes:
Casino, Lisbonense, Bombeiros, Pimpões e Columbófila;
Eu era tipo marinheiro, um namorico em cada porto, ás vezes dava para o torto, numa Cidade tão pequena era difícil, mas fazia-se o por manter o estatuto;

Jogos:
Sporting Club das Caldas: Hóquei, Pesca Desportiva(federado) e Poker; Café Central: Bilhar e Xadrez;
Casino: Canasta, (enquanto as senhoras esperavam uma parceira), King, Loba e, mais tarde, Poker;

Cinema/Teatro:
Pinheiro Chagas e Salão Ibéria tiveram um lugar de destaque na minha memória de estudante, vi tanto filme, mas o mais importante era levar o namorico ao Cinema;

Foz do Arelho:
Eu, o Samagaio, o Chico Castro e mais alguns, que não me recordo, acampávamos no Gronho. Só o estarmos ali, longe de tudo, era como que um grito de independência; o Félix era uma das nossas bases de reabastecimento, mas os assaltos aos galinheiros das moradias também faziam parte da nossa subsistência;

Óbidos:
Conheci o Montês no Café Bocage muito antes de ele pensar em abrir o IbnEricRex mas estive, já como seu amigo, na inauguração;

Alfeizerão/S. Martinho:
Convívios, à noite, com o Vasco Luís, Ferreira da Silva, Raimundo Neto (foi Professor) e amigos do C.C.C.

João Ramos Franco
.............................................................................................................................................................
COMENTÁRIOS
.
01-05-2008
Fernando disse:
Neste texto encontrei namoricos em todo o lado: Pinheiro Chagas e Ibéria, Casino, Pimpões, Bombeiros, Columbófila, Lisbonense, Alex, Casino outra vez (as paredes estão felizmente caladas!) e Zaira. Mas é o D. Juan (Ramos Franco) das Caldas!!! Como é que ele ainda arranjava tempo para os outros locais todos?
.
28-05-2008
João R Franco respondeu:
Sobre os namoricos do D. Juan (Ramos Franco), se encontrar algum colega da geração de 1942 que queira descortinar o véu deste meu passado peça-lhe que lhe conte, porque eu não me explico. Quanto ao problema de arranjar tempo, ainda consegui um bocadinho para editar o Almanaque Caldense 1963 e fazer quatro cadeiras do 7º ano do liceu. Não sou dono do tempo, ele passou tão depressa que já tenho 66 anos e tudo o que conto parece-me que aconteceu ontem.
Um abraço de quem só vive 24 horas por dia.
João Ramos Franco

Os Locais da Luisa Nascimento



















Luisa Nascimento













No meu 5º ano, secção de letras, 6º e 7º ano reuniamo-nos diariamente na Cardenha, loja onde trabalhava a minha muito querida dona Maria José, mãe do nosso querido Ortigão Rui Ferreira da Silva. A Cardenha situava-se no espaço onde hoje é a Galeria da Maria Cândida Botelho ( para quem não se lembra).

A dona Maria José foi sempre uma pessoa com um espírito muito aberto, muito actualizada, muito nossa amiga e com quem se podia falar de todos os assuntos que constituíam, nessa altura, os nossos grandes problemas. Aí se encontravam todos os dias, no final das aulas, eu própria, a Ofélia Patriarca, o Rui Ferreira da Silva e o Pedro Louceiro (um quarteto inseparável), assim como o Zequinha. Não podiam faltar os pastéis de nata que eram comprados, ainda quentinhos, na fábrica do beco, com os restitos das nossa semanadas e partilhados entre risos e conversas de alto gabarito.

Anterior a esta "fase" foi a passagem, tambem obrigatória, pela Tália onde se passavam horas a ouvir música com a complacência do sr. Diogo.

Recordar estes episódios faz saudades de um tempo que, para mim foi maravilhoso. Considero que tive uma juventude muito feliz com amizades verdadeiras e muito fortes.

Aqui fica o apontamento de algumas recordações, entre os ofícios e as informações a despacho superior que me chamam ao trabalho.

Beijinhos,

Luisa Osório


................................................................................................................................



COMENTÁRIOS


23-04-2008
JJ disse:
A Cardenha como local de encontro é uma novidade. Lembro-me da loja mas nunca naveguei até lá, depois de sair da fábrica dos bolos "encalhava" sempre na Tália ou na Floresta.


As reuniões deste quarteto+1 deviam decorrer, apesar da ausência de data no texto, entre 1969 e 1972.
.
24-04-2008
Isabel Caixinha disse:
Quer queira quer não acabo sempre a pensar em bolos!Desta vez os pastéis de nata quentinhos(ao mesmo nível do russo)da fábrica do beco!Doces memórias que a Luisa me veio acordar...

Os Locais do José Luis Reboleira Alexandre

J.L. Reboleira Alexandre



Chão da Parada, algures na década de 60. 5 ex-alunos da Escola Industrial e Comercial, estando eu bem ao centro e,
à esquerda, o Eng. César Reboleira da Câmara Municipal da nossa cidade.



Apesar de nunca ter sido aluno do ERO (a culpa foi do Sr Padre director na altura, quando eu aos 15 anos recusei mudar da escola para lá, por causa daquela história das missas a que os alunos tinham de assistir...seria mesmo assim?), vou tentar vasculhar nos cantos da memória os locais por onde andei nesses anos em que, para se ser feliz, bastavam vinte e cinco tostões nos bolsos das calças, uma toalha e uns calções de banho. Esta fase da minha vida terminou um pouco quando, aos 17 anos, passei a apanhar regularmente a automotora do Domingo à tarde para Lisboa, lá na estação do Bouro, no final da década de sessenta.

Não sei se por não viver nas Caldas, se por não ter sido aluno do ERO, a Zaira e o Central só mais tarde foram por mim frequentados, bem como o Casino ou os outros locais aqui mais mencionados noutros comentários. Era mais nas tabernas como a do Manel (António?) Henriques, ali frente à Praça de Touros, que eu comia uma sandes no fim das aulas e via um pouco de televisão, enquanto a bicicleta estava a guardar na loja do Sr. Castanheira. Luxo enorme, se pensarmos que no Chão da Parada não existia electricidade em 1973.

Garagens dos burros (não haverá outro nome para isto?), conheci algumas, mas mais durante a minha meninice, e aquela que minha mãe mais vezes utilizava para guardar o nosso meio de transporte mais usual, ficava ali na esquina da Rua Capitão Filipe de Sousa com a rua que desce para os Claras/Capristanos.

Aliás a Rua Capitão Filipe de Sousa, entre essa esquina e a garagem da BP (não sei se ainda é BP), tem para mim um significado especial. É que durante um Inverno, andava eu no 1º ano do Curso Geral do Comércio (ainda não tinha idade para conduzir motorizada), os meus pais chegaram a acordo com uma família que aí morava para que eu lá passasse os frios meses de Dezembro a Março. O apelido deles era Graça e tinham um filho mais velho que eu (andaria na altura no 5º ano do ERO), que se chamava Henrique, que me deu a série quase completa, encadernada, do Cavaleiro Andante (ainda hoje a guardo aqui em Montreal). Apesar de lá ter sido sempre tratado como um filho da casa, com direito a chá de limão à noite e tudo antes de ir dormir, e aí ter saboreado as minhas primeiras tangerinas (a família tinha criada), um dia disse lá em casa à minha mãe que preferia fazer a ida e volta do Chão da Parada para as Caldas de bicicleta, com frio de rachar, que ficar lá na cidade, pois não me sentia à vontade. No apartamento ao lado morava um outro ex-aluno do ERO cujo pai era oficial (major? no RI 5) de quem recebi igualmente imensos livros de BD. Sempre que volto às Caldas e passo frente àquele prédio lembro-me como se fosse hoje.

Não pensem no entanto que o pessoal da aldeia não se divertia. Em vez da Foz, para mim a praia de Salir do Porto era o local onde as férias grandes começavam em Junho e duravam até Outubro. Os jogos de futebol durante a maré baixa lá no rio de Salir duravam de manhã à noite, a barraquinha da Dona Amália (a mãe do Barrote que era nosso colega na Escola), no local onde agora estão as piscinas e o Abílio não pára de fazer obras, tinha uns bolos e umas laranjadas maravilhosos. O café do Alexandrino lá em Salir ou o Cortiço de Tornada, nos tempos do Sr Manel da Foz, com máquina de discos e tudo, para ouvir o « Have You Ever Seen the Rain» dos Creedence Clearwater Revival, dos irmãos Fogerty,






ou o «Lady Jane» dos Stones.





Pelas mesmas razões, o Pão de Ló de Alfeizerão. Todos estes locais ficam para sempre nos nossos arquivos.

Era ainda na praia que se namorava em português, mas também em francês com pronúncia belga. Aprendi nessa altura a dizer septente em vez de soixante-dix. Ainda hoje os meus amigos francófonos me perguntam se sou belga. Aliás foi nas areias da duna de Salir que encontrei aquela que me atura há quase trinta anos. Ela corrigiria de imediato para vinte e oito e meio, pois diz que eu tenho sempre a mania de me envelhecer.

«Et voilà», de forma sucinta, os locais da minha juventude.

José Luis Reboleira Alexandre


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
BREVES NOTAS E COMENTÁRIOS
.
Não conheci o Zé Luis, três anos mais velho do que eu. Ele ajuda na datação numa segunda mensagem:
Nasci em 1951, fui aluno da escola entre 62 e 69 (o último ano como assistente - chumbo na primeira tentiva no exame de admissão ao ICL - recusa de ir para o ERO por causa das tais missas). Parti para Lisboa continuar os estudos no Instituto Comercial de Lisboa em 1969. Depois da tropa a partir de Outubro de 73, com 12 meses de Angola pelo meio, até Outubro de 75, parti para Montreal onde vivo desde 1976.
Já lhe expliquei que não havia qualquer obrigatoriedade de assistir à missa para os alunos do Colégio. Eu próprio fui apenas a duas ou três ao longo de nove anos, nunca por motivos religiosos nem por imposição de ninguém.

A caracterização que tem sido feita da Zaira e do Casino como locais "exclusivos" dos alunos do ERO é claramente abusiva e não corresponde à realidade. Eu frequentei muito os dois locais, com muitos colegas, mas posso assegurar que 2/3 da minha turma de 6º e 7º Ano não ia habitualmente à Zaira e 3/4 não ia, ou ia muito esporadicamente, ao Casino. E claro que a maioria os frequentadores desses locais não eram alunos do ERO. O Zé Luis não os frequentava simplesmente porque, morando fora das Caldas, não tinha ligações familiares aos frequentadores adultos desses locais. Essa, para mim, é a explicação, mas tenciono voltar a este tema.

A tasca em frente à Praça de Touros era propriedade do António (e não Manuel) Henriques, se confiarmos na memória do Vítor Silva, um dos colegas da Escola que contribuiu para esta série sobre os locais de encontro. E há mais citações, foi um local relevante.

Sei que após o 25/4/74 a principal reivindicação das freguesias caldenses junto da comissão directiva da Câmara foi terem acesso à electricidade. Como habitante da zona urbana das Caldas talvez não me tenha apercebido, na altura, da enorme quantidade de pessoas do concelho que não dispunham de um bem tão essencial e do intransponível obstáculo que isso constituía para qualquer desenvolvimento das populações dele privadas. Nas Caldas havia electricidade, embora nem sempre… Lembro-me de se dizer que:
“Caldas da Rainha é uma cidade que seduz,
De dia não há água e de noite não há luz...”

Os dois alunos do ERO citados no texto são o Henrique Graça e o Nuno Mendes. Embora o nome do segundo não estivesse lá escrito, foi fácil descobrir quem era um filho de militar com a mania da BD.
.
A maioria dos locais de encontro citados no texto são novidade, mas não a referência às célebres belgas de S. Martinho…

Conheci o Cortiço desde muito cedo mas não me lembro de lá existir uma Juke Box.
.
Os nossos três anos de diferença não nos separam na música, conheço bem as duas canções citadas (e recordadas). Have You Ever Seen The Rain dos CCR foi incluída no LP “Pendulum” (1970) e Lady Jane, dos Stones, em “Aftermath” (1966); embora nunca assumido pelos autores, parece referir-se a Jane Seymour, uma das seis mulheres do Henrique VIII .
.
23-04-2008
João Rodrigues Lobo
Nos locais de José Luis R. Alexandre é referida a ZAIRA como ponto de encontro de alunos do ERO.
Nas breves Notas e Comentários áquele depoimento é dito que não era a ZAIRA ponto de encontro.
Posso afirmar que em 1965 a Zaira era ponto de encontro da malta do 7º ano como aliás confirmam 3 fotografias que enviei e,reparem no convite para o Baile de Finalistas, que também enviei, a Marcação de Mesas é pelo telefone 22288 "ZAIRA" o que prova que "estávamos lá".

.
23-04-2008
JJ disse:
Nem o Zé Luis refere a Zaira como ponto de encontro dos alunos do ERO (nem poderia, ele afirma que não ia lá), nem eu contradisse o que ele não escreveu.
Especulámos ambos porque é que ele não o teria feito e, das suas duas hipóteses, não ser aluno do Colégio ou habitar fora das Caldas, eu escolho a segunda, já que ser aluno do ERO não era condição para a frequentar.
A minha nota destinava-se a negar uma interpretação abusiva, que poderia decorrer de alguns textos anteriormente publicados e até da afirmação do autor, de que a Zaira e o Casino seriam locais “reservados” aos alunos do Ramalho Ortigão. Se não era verdade para a Zaira, era absurdo para o Casino.
.
25-04-2008
Isabel Cx disse:
De não menosprezar as garagens de burros (outro nome? estacionamento de jumentos?) da nossa cidade! Hoje pontos de referência, quase ao nível da "Rainha": A Lena A. caíu em frente duma, o Zequinha ia à sopa de pedra, a mãe do Reboleira guardava o meio de transporte e eu passava lá com a minha mãe!

Os Locais do Miguel B M

Miguel Bento Monteiro




Embora de um modo geral eu passasse por todos os locais referidos no Blog, apenas referirei os que frequentava assiduamente.

A Zaira era sem dúvida o local preferido da juventude caldense, a qualquer hora do dia e em qualquer altura do ano, a par do Casino no Verão. Era um café particularmente acolhedor, com uma localização privilegiada, em que se cruzavam várias gerações de caldenses, pais e filhos. Recordo-me de lá ir sempre aos sábados à noite, era de lá que, após uns momentos de convívio, se arrancava para outros destinos, o Ferro Velho, o Casino e Óbidos, por exemplo. No que diz respeito aos cafés, a Zaira era definitivamente a minha escolha.

Com o aparecimento do Camaroeiro surgiu outro espaço de convívio, embora com características totalmente diferente. Era uma cervejaria com uma sala de bilhar e snooker, com excelentes bifes e fatias douradas. As pessoas que o frequentavam não tinham muito a ver com as que iam à Zaira e sobressaía a inexplicável antipatia e arrogância do dono (Júlio) e dos empregados que eram certamente seleccionados de acordo com aquela característica. Lembro-me de estar sentado ao balcão e ser autenticamente “vigiado”, não fosse o caso de comer um ovo cozido e não pagar. E não me venham com tretas que já tinham sido intrujados anteriormente, pois temos o direito (mesmo quando somos jovens) de sermos considerados honestos, até prova em contrário. Tirando esta faceta desagradável, era um bom sítio.

Quanto às pastelarias, sem dúvida o Machado. Tinha (penso que ainda tem) os melhores bolos da terra, pelo menos os "triângulos de ovos "continuam a ser muito apreciados cá em casa pelos meus filhos, em particular pelo mais novo, que é incapaz de comer doces de qualquer espécie, abrindo no entanto uma honrosa excepção para os referidos bolos. Era perto do parque, o nosso habitat natural desde o início das férias da Páscoa até ao fim do Verão.

Em relação às tascas, a habitualmente frequentada era a Floresta. Começou por ser o ponto de encontro dos sextanistas e coincidiu com o início das saídas nocturnas nos dias de semana, mesmo durante as aulas. Como fechava cedo, às dez horas, jantava cedo e chegava igualmente cedo a casa, após renhidas partidas de "pimbolim", ainda aproveitando muitas vezes para estudar um pouco ou ficar a fazer exercícios de matemática do triste Palma Fernandes, enquanto ouvia as emissões roqueiras nocturnas. Em relação aos jogos de matrecos eu jogava com os bonecos da defesa e fazia pares com atacantes talentosos como o Semilha, Pedro Nobre ou Flores. É claro que muitas das vezes esses atacantes jogavam contra mim, o que era sempre um problema. Mas o defesa mais perigoso (onde é que eu já escrevi isto?) era precisamente o bloguista JJ que enviava tremendos mísseis contra as tabelas a fim de iludir os adversários e forçar o factor sorte. Claro que os jogos eram sempre "ao perdes pagas". Enquanto nós jogávamos disputavam-se, com igual animação, partidas de laranjinha. Outro tipo de jogadores, que emborcavam copos de tinto no intervalo de cada jogada, até ao final da noite.

Outro local em que eu normalmente ia ao sábado à tarde era a Tália. Ficava perto da fábrica dos bolos e da padaria Teixeira, esta visitada por causa do pão quente.

Jogava muitas vezes king, e até lerpa, mas o forte era mesmo o poker sintético. Muitas vezes, depois do casino fechar, as partidas eram transferidas para minha casa quando os meus pais não estavam lá.

Frequentei a ginástica nos Bombeiros, durante os anos lectivos entre 1966 e 1969. As férias de Verão eram passadas nos campos de ténis. Foi lá que aprendi a jogar e fiquei com o “vício”, que ainda hoje me persegue e atormenta.

Mas recordo sobretudo as grandes futeboladas na Foz, no Verão, normalmente de manhã e na Mata, durante o tempo de aulas.

O futebol era também ele um “vício”, o qual chegou a ser saciado em plenas aulas de Educação Física, quando o prof Silva Bastos nos mandava fazer corta-mato na mata e a turma optava, e na minha opinião bem, por correr atrás da bola em vez de correr atrás de nada.

Também me lembro de um tremendo remate enviado pelo Malinha contra a porta de fundo do ginásio, no final de um jogo de vólei em que rapaziada optou, justamente e mais uma vez, por dar uns toques de futebol, usando a mesma bola. Isto para o Bastos era um sacrilégio, ainda por cima com ele a observar, embora ninguém o soubesse.

Definitivamente o melhor foram sempre as futeboladas que jogávamos a toda a hora, antes e depois das aulas, apesar de a minha mãe me proibir de o fazer, exigindo que eu viesse para casa imediatamene após o seu término. Uma vez cheguei a casa tão sujo que a senhora me obrigou a despir à porta de casa e apenas entrei em cuecas!

Deixo para o fim o Casino, que foi sem dúvida o local mais marcante para mim embora, infelizmente, só o frequentasse no Verão. Lá passei talvez os melhores momentos da minha juventude, que me marcaram indelevelmente. Lembro-me dos bailes, do convívio, dos jogos de cartas e de figuras carismáticas dessa altura. O Dr. Calheiros Viegas, de boa memória, com quem aprendi o "killer instinct" que um jogador de ténis deve ter. O excelente José Augusto Silva, que desligava a electricidade que alimentava as bandas quando estas exageravam nos decibéis: "isto é que é calma " dizia Muller, o baterista de uma das bandas a quem ele cortou o som por este ser considerado atroador por meia dúzia de mamãs e papás com ouvidos mais sensíveis; que não pagou ao Paulo de Carvalho pois este não cumpriu o contrato de actuação em termos de horário ( "o Elton John também só cantou uma hora em Vilar de Mouros " " mas tu não és o Elton John …") e que se mascarava de rocker no Carnaval.

Teria ainda que falar do meu grande amigo Toni Vieira Pereira, das sortidas para Lisboa durante os bailes ou as idas ao jogo do Faraó. Também teria que falar dos jogos de poker e das suas continuações na rua Andrade em Lisboa.

Os bailes do casino eram espectaculares e muitas vezes abrilhantados por verdadeiras cenas de pancadaria dignas de westerns de série B e normalmente envolvendo os betinhos de S.Martinho ou os forcados de Santarém, esses belos exemplos de “homens de coragem”, especialmente quando em grupo e bem bebidos. As cenas de pancadaria eram mais frequentes nas casas de banho mas chegaram a ocorrer em pleno Salão de Baile. Enfim o casino dava para escrever um livro e seria interessante que o blog desenvolvesse este tema específico.

Os bailes de passagem de ano eram muito animados, ainda me lembro de determinada mamã empoleirada em cima de uma mesa, com uma lanterna acesa na mão, procurando com um foco a menina sua filha quando soaram as doze badaladas e as as luzes, como habitualmente, foram desligadas. Como se fosse a ocasião própria para ser perdida a inocência… Eu, apesar de procurar durante anos a fio, nunca encontrei nenhum sapato de cristal perdido.

Mas o mais importante era a música, a dança, os corpos, a transpiração e, especialmente, o convívio. Também os copos, para quem bebia: uma noite o Tó Zé Hipólito despachou sozinho, e num curto espaço de tempo, uma garrafa de Johnie Walker Red Label (Juanito Caminante como dizem nuestros hermanos) mas conseguiu aguentar-se à bronca apesar de, em determinada altura, se ter fixado excessivamente, e quase mergulhado, no decote da esposa de um alto representante do poder local! No fim, tudo se compôs…

Houve grupos apenas sofríveis, mas outros excelentes. Recordo um inesquecível concerto realizado pelos Objectivo e que proporcionou ao Zé da Cadela um vertiginoso show de bateria.

Houve a morte do Burguete, vocalista dos Xaranga Beat, e de toda a família com quem viajava (Outubro de 1970). E o acidente de carro que deixou tetraplégico o baixo da mesma, aparentemente amaldiçoada, banda.

Houve o JJ que, já entornado, chamou "filha do pecado" a uma colega, facto que a ofendeu sobremaneira…mas descansa, eu abstenho-me de recordar as "antigas namoradas e outras horríveis recordações"…
.
MIGUEL B M