ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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A MINHA JANELA SOBRE O BORLÃO

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Ouvi bater palmas e alguém chamar –Paula! - muito perto da minha janela. Mesmo estando num terceiro andar não me admirei, a janela da Tucha, no prédio ao lado, ficava muito perto da minha, ali a dois metros, se tanto. Larguei o meu livro e fui lá dizer-lhe que a minha irmã não estava… que tinha saído…mas ela já entrava pela porta do meu quarto, entusiasmada com a perspectiva de dois dedos de conversa (se se pode chamar conversa a algum “corte e costura” na toilette de umas amigas e umas vagas insinuações sobre uns problemas de coração…). A minha esperança para recuperar o sossego era que a Ana Salgado, moradora no 3º andar seguinte, as ouvisse e viesse exigir que passassem para as janelas das traseiras, onde a ausência do ruído da rua (e dos ouvidos dos transeuntes) lhe permitia também participar.
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Exceptuando nestes momentos, sempre gostara do meu quarto e da vista que usufruía sobre o Largo do Borlão, desde que a minha família viera inaugurar um dos andares dos três prédios que os Capristanos aqui tinham construído no início da década de sessenta. A casa era boa, o meu quarto parecia-me enorme e a Praça Oliveira Salazar/antigo Burlão (como se escrevia na correspondência postal, para mais fácil localização) além de espaçosa “cheirava a novo”, já que todas as construções eram recentes.

No meu prédio morava inicialmente no 1º andar a família do Dr. Ramos Franco, veterinário municipal, com dois filhos, o João e o Rui, infelizmente bem mais velhos que eu, o que nunca favoreceu qualquer convívio. No 2º andar habitava um casal, eram ambos muito simpáticos, não sei o nome, lembro-me apenas que ele era médico ortopedista. No 4º andar vivia uma conhecida actriz de teatro, Eunice Muñoz , que nos suscitava enorme curiosidade porque aparecia nalgumas Noites de Teatro da RTP. Mas só muito mais tarde tive noção da sua importância artística, na altura interessava-me mais saber que ali habitavam três garotos da nossa idade, numa casa com pouca mobília, onde eram possíveis, por isso, algumas brincadeiras proibidas no 3º andar.

Da minha janela via os dois outros prédios, arquitectonicamente iguais. No seguinte, também no 3º andar, como já disse, morava a Fátima Vasconcelos (Tucha) e os pais - o Sr. Vasconcelos era o gerente do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, ali na esquina.

No 2º andar morava o casal Álvares Pereira com os seus três filhos. A irmã ainda lá mora, por cima do Maratona, na casa onde o seu irmão João morreu num trágico acidente anos mais tarde, mas nunca mais vi o Nuno ou, se o vi, não o reconheci.

Os primeiros andares destes três prédios acabaram unidos e habitados pelo futuro Presidente da Câmara, Engº Luís Paiva e Sousa, a mulher (Gininha) e os dois filhos (Teresinha e Luis). Todo este espaço era importante para tornar possíveis as suas magníficas festas nos anos sessenta, de que nos lembramos bem, eu e certamente todos os outros convidados que as frequentaram.

.A minha irmã Paula e a Tucha eram inseparáveis e tinham, no 3º andar seguinte, outra amiga, como elas nascida em 1956, a Ana, filha mais nova da família Saez Salgado. Os irmãos mais velhos eram o Xavier, o Carlos e o Jaime. O seu pai era o engenheiro Jaime Buceta, responsável pela famosa fábrica de sabão na estrada da Foz (ainda hoje lá está), que mais tarde fabricaria os conhecidos produtos Lander. Uma das sócias dessa fábrica viria ocupar, com a sua filha Pilar, o 2º andar do nosso prédio. A proximidade permitiu que a Sr.ª D. Maria Luísa Paneiro Amate me ensinasse a jogar Canasta e, um dia em que falei sobre um jogo a que assistia, ensinou-me também que “nos jogos de cartas os mirones são de gesso, quando falam são de merda”. Disse isto placidamente, enquanto chupava uma passa de um dos incontáveis cigarros Monserrat que queimava constantemente. Fiquei chocado, mas a minha mãe não pestanejou, a casa não caiu e eu aprendi uma lição para a vida.

Da minha janela via todas estas pessoas passarem, entrando e saindo de casa. Por cima dos Saez Salgado, no 4º andar, morava o dono da fábrica de móveis, o Sr. Serrano, a D. Luisa e os seus filhos, o Zé e a Mafalda; esta última manteve até hoje a vizinhança com o Xavier Salgado.

Na varanda do 2º andar viam-se, nas noites mais amenas, o Sr. Arquimedes, a esposa e as suas duas vistosas filhas.

Da minha janela via também o Padre Albino, o Padre Xico e o Sr. Dario saírem do prédio da esquina oposta para se deslocarem para o ERO no VW carocha azul claro – seria mesmo azul, ou sou traído pela memória? Ainda hoje mora nesse Lote 42 o Dario, que encontro quase diariamente. Da mesma porta saíam também a filha do dono do prédio, a Benilde Saramago, sempre luminosa, mesmo nos dias mais cinzento (quem a conhece, sabe que era assim) e a Nô e a Té, que eu já conhecia por termos sido vizinhos na Rua Dr. Leão Azedo. Eram filhas do Sr. Albertino, que possuía uma fábrica de garrafões para o lado do Avenal (frente ao quartel), e tinham duas cadelas pretas (uma chamava-se Chinha) que eu muito invejava, porque nunca tive um cão.

Da porta do prédio seguinte, já junto ao Tribunal, abria entretanto a porta a Ana Isabel, excelente aluna e minha colega de turma. Como a Mafalda e eu, ela também casou com um colega do colégio, o Zé Sancho. Namoriscou em certa altura um outro nosso colega, o Pedro Nobre, que geralmente me esperava no carro que o pai, trabalhador dos CTT, estacionava às 7h 55m em frente à Igreja. Eu debruçava-me um pouco e via-o aproveitando aqueles minutos até eu sair para completar algum trabalho de casa atrasado ou estudar mais um pouco para um ponto (havia “pontos” e não “testes” nessa altura). Quando eu descia ele fechava o carro e lá íamos a discutir música, que era (é) uma paixão comum.

No vértice oposto do Borlão, à direita do tribunal, a porta da rua abria-se também às oito e um quarto para a saída da Mercês e do Eduardo, os dois irmãos que ali moravam e também frequentavam o Externato, respectivamente três anos e um ano à minha frente.

Vinham da Coronel Santos Costa (hoje Raul Proença) os irmãos Noronha, o Jorge e a Isabel, os Agudos (a Ana Luísa que foi sempre minha colega, e o mais novo, o Manuel) e o Raul Curado e o Manuel Lino; aí viriam a morar, no final da década, o Dr. Jaime Serafim e a D. Esperança. Da esquina dessa Rua com a Avenida, apareciam de um lado (Lote 40) a Ana Clara Andrade e Sousa e o Luís Filipe Vasconcelos e, do outro (nº 18) , a Salette e os Gouveias (Ana Paula, Luís Abel e Cláudia, todos passaram pelo ERO). Já na Avenida moravam o João Mário e a Pilar (Lote 41) e, em frente, a Mami (Marta Figueiredo) e a Élia Mendonça (numa porta que, em vez de nº, exibe ainda hoje,estranhamente, “MOF”). Lá mais do fundo, de perto da estação da CP, vinham os Netos (Tó Zé, meu colega de turma, e o Jaime, mais novo). Uns passavam e seguiam a pé, outros paravam debaixo das arcadas da “casa dos padres”, onde esperavam a “carrinha” (uma camioneta dos Capristanos alugada para transportar alunos e professores para o Colégio).

Esticando um pouco o pescoço via da minha janela as traseiras do primeiro prédio da Rua Duarte Pacheco, onde moravam os meus colegas e amigos Zé Luís Azevedo (em casa do conhecido professor), Belica e Aida Mesquita, Zé Sancho e Belão, Tó Zé e Rui Hipólito, Alberto R. Pereira , Rui Malaca e Miguel Bento Monteiro; este último depressa se mudaria para a Diário de Notícias, trocando a instrução primária da D. Rosa pela do ERO. Eu iria atrás, convencidos os meus pais pela colorida argumentação da Elvira Bento Monteiro (nunca a tratei por Dona!) de que “os rapazes estão melhor a correr naquele recreio ao ar livre, do que a respirar as bufas da D. Rosa!” – lembro-me da frase, que me escandalizou (um pouco) e divertiu (muito), com se a tivesse ouvido hoje. Foi em 1962 e eu tinha oito anos. Referia-se à D. Rosa Magina, professora reformada, já com 80 anos nessa altura, que nos dava aulas em sua casa, na Duarte Pacheco 16 R/C-Esq., com o auxílio da filha, a D. Alice.

De uma das janelas desse prédios saía frequentemente o som de um piano, hesitante e engasgado, enquanto a Madame Palavicini tentava transformar num pianista uma criança que provavelmente preferiria jogar futebol ou ao ringue… hoje lamento não ter sido uma delas, mas na altura nem quis ouvir falar nisso.

Da minha janela não via o Hemiciclo Frederico Ulrich (depois Guiné-Cabo Verde, depois João Paulo II …), a rua em forma de U que rodeia a igreja. Sempre tive enormes dificuldades burocráticas com meu nome e morada, nenhum funcionário da administração deste país foi jamais capaz de escrever, correcta e simultaneamente, “Jales” e “Hemiciclo” sem variadas explicações e múltiplas tentativas e erros…. Bom, mas voltando ao Hemiciclo, para o ver precisava de vir às janelas das salas viradas à Igreja e aí já avistava o prédio a seguir ao nosso, onde morava o nosso professor de Ginástica Silva Bastos, a família do Zé Mário Rego e a do Dr. Palma. Este último viria a mudar-se, com a esposa Maria Helena e os quatro filhos (Ana Margarida, João Paulo, Cristina e Alexandra) para o andar por cima de nós, enquanto a Eunice Muñoz rumava a Lisboa e à justa consagração - seria no final da década de sessenta a mais bem paga actriz portuguesa, ganhando trinta contos por mês! Tudo isto sem prejudicar a sua carreira paralela de mãe, já que teve um total de seis filhos.

Onde hoje é a R. Padre António Emílio havia um descampado em que se brincava e jogava à bola (foto anexa). Vinham ali ter connosco os ocupantes do prédio da Miguel Bombarda cujas traseiras confinavam com esse terreno: o Jorge Pedro (que cedo partiria para Leiria) e também o Baltazar Lourenço, irmão mais novo da Ilda e do João (de quem só me tornei íntimo muito mais tarde), os três filhos do Dr. Rosado Lourenço. Aí moravam também o Luis e a Teresa Machado, cujo pai também é médico e foi director do Termal. Mais tarde conheci lá a Anabela (também minha colega) e o seu irmão Zé Garcia. As escadas daquele prédio têm estórias fabulosas para contar, se um dia o quiserem fazer (as escadas, não eu!).

Depois desse terreno baldio (foto anexa) havia “a casa dos Juízes” onde habitaram o João Licínio, a Manuela , a Fáfá (minha colega) e o Luís Filipe Gama Vieira (ainda hoje um “puto”, só nasceu em 1966, nem devia ter direito a menção aqui no Blog, mas enfim…). O pai era um juiz austero e severo, uma reputação que não melhorou quando uma testemunha faleceu durante uma inquirição dirigida por ele; apesar da culpa não ser obviamente sua, constava que ninguém se atrevia a mentir ao Sr. Dr. Juiz Gama Vieira!

No Castelo Encantado a seguir vivia a Princesa, que eu via fugazmente entre as ameias do 2º Dtº ; lembro-me pouco de a ver ir “a butes” com a plebe, tenho ideia que o Coronel Miguel a transportava habitualmente no seu coche (um Ford azul?) para o Colégio. Já sei que a Anabela Miguel vai responder que ia pé quase todos os dias, mas é assim que eu me lembro…

Era muito povoado de EROs o edifício seguinte (por cima do actual Viveiro): no 3º os Gomes, Mena e Ruca (os pais tiveram ali no R/C a primeira loja Traviata, que depois mudou para a Heróis da Grande Guerra), no 2º andar os manos Pereira Fernandes (S. Luís, Fátima e Jorge) e no 1º andar os Pimenta de Castro. Destes recordo o Raul, a Madalena e a Conchita, mas penso que havia mais. Lembro-me melhor da Conchita por dois motivos: era da nossa idade, apenas um ano mais nova, e fazia bater mais depressa os adolescentes corações masculinos de todo o quarteirão, mas especialmente o do meu amigo Miguel, que desesperava na inútil busca pela atenção dos seus enormes e belos olhos castanhos… Aconteceu em 1965 ou 1966, tínhamos, nessa altura, onze ou doze anos.

No prédio de esquina, que completa o Hemiciclo, habitavam (e habitam) o Rogério e a Milena Caiado e, nessa altura, os seus quatro filhos (Paulo, Xinha, Teresa e Alexandra). A família detinha a Frami, importante fábrica de sumos e conservas ali em Tornada.


Ainda hoje vivemos nesta Praça do Estado Novo, uma espécie de Praça do Areeiro das Caldas, eu e uma outra colega do ERO que eu via passar sob a minha janela, com curiosidade, no longínquo ano de 1971… Mas isso é outra estória, hoje queria apenas terminar dizendo que nas casas das três dúzias de adolescentes e jovens que aqui moravam, e que aqui recordei (que me desculpem os que esqueci), se instalaram entretanto escritórios de advogados e meia-dúzia de imobiliárias. Já não há aqui nesta zona sítios para brincar ou jogar à bola, mas não fazem falta, porque já não vivem miúdos no Borlão…

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João Jales
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NOTAS:
1 -Escrevi este texto mais ou menos de chofre, de uma só vez e sem quase trocar impressões com mais ninguém. A minha memória falhou certamente, agradeço as correcções.
2 - Usei as duas imagens do Borlão que tinha à mão. A primeira foi roubada no livro "50 Fotografias dos Anos Cinquenta" que me foi oferecido pela autora (Isabel Xavier) e a segunda é uma foto tirada por mim. O problema é que o meu texto se refere ao início da década de 60 e as imagens são, respectivamente, dos anos 50 e 70. Talvez alguém tenha a foto certa para este texto, fico a aguardar. A terceira fotografia é de 1964 e já a usei aqui, mas vinha a propósito, é exactamente da época e desta vez está legendada.
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C O M E N T Á R I O S

O BORLÃO QUE VOCÊS NÃO CONHECERAM E OS COMENTÁRIOS AO BORLÃO QUE EU CONHECI...

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Estes são os comentários ao post A MINHA JANELA SOBRE O BORLÃO . Se ainda não o leu clique AQUI , se já o leu aprecie os comentários e as duas magníficas fotos do Borlão em duas épocas bem anteriores ao texto ...
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Júlia Ferreira disse...
Obrigada pelas fotografias de umas Caldas que eu também não conheci.
Tenho lido os «posts».
A crónica do João Serra é uma ternura. A narrativa de um episódio das tropelias do «suspeito do costume» mostra bem que, como diz algures o Drummond de Andrade, «mãe não tem limite». Boa escolha também da fotografia da janela, espaço de descoberta, espelhando nuvens, de onde o menino curioso espera «sinais».
Quanto à tua crónica sobre o Borlão (que memória e que boa escrita!), até a mim, que vivi tão pouco tempo nas Caldas, me trouxe memórias de alguns nomes e de alguns rostos conhecidos. Por isso, JJ, obrigada por me «presentificares» momentos da juventude!
Nesta «recherche du temps perdu», cada um escolheu a sua «madeleine» para ter o passado de volta.
Continuem a escrever, para me darem o prazer de boas leituras.
Júlia Ferreira
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Luis Machado disse:
Bolas, Jales, que memória. Lembro-me de quase toda a gente que falas.
Das escadas não te vou adiantar nada.
Mas recordo-me de um episódio, no Borlão, numa noite sem nada para fazer, eu, o João Lourenço e o Henrique Conceição.Andávamos às voltas à estátua do Carmona tecendo considerandos sobre as nossas colegas e amigas.Basicamente se nos tinham dado bola ou não.E a conversa lá se ia arrastando mais ou menos nesta base:
-É pá essa já andou com todos, só faltamos nós, e aqui o Carmona.
Acho que nós na altura curtíamos assim uma onda beat burguesa de esquerda folcloricó carnavalesca.E a ladainha lá continuava:
-É pá só faltamos nós e aqui o Carmona.
Até que se fala de uma bonita moçoila e o Henrique diz:
-Desculpem lá, mas agora ficam sozinhos com o Carmona...
Abraços
Luís Machado
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Inês disse:
JJ
Como não adorar este documento verdadeiramente histórico! Você é uma fonte a jorrar memórias dos que viveram nesta Praça do Areeiro das Caldas. Bebe-se cada gole desta sua fonte de águas santas e cristalinas que refresca saudades esquecidas. Humor, amor... reconstrução desse imaginário juvenil intocado. É um belo retrato do seu coração generoso guardador de pérolas.
Este não é mais um comentário, atenção. É apenas um beijo! De quem conheceu o Borlão quando você era ainda um bebé, e eu menina a olhar os presos que chegavam agrilhoados para construir o Tribunal, uma visão inédita. Agora entrei nos prédios em volta e conheci os inquilinos muitos dos quais revi com saudade e muitos sorrisos. Que belo, que divertido relato.
Agradeço-lhe por querer o meu nome na lista dos comentadores, e com vanitas!
Inês
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Luisa disse:
João,
Senti-me ao ler-te como que embalada por alguém que sabe tudo o que aconteceu e como tudo se passou.....no meio da confusão e do esquecimento há alguém que não está indiferente e traz de volta a nossa adolescência,como diz e bem a Isabel Xavier.Era assim que se afastavam os fantasmas e os medos quando éramos miúdos.
Só posso agradecer....e esperar por mais!!!
Beijos a todos.L
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Miguel Bento Monteiro disse:
Johny
A tua descrição é simplesmente magnífica e comovente, o que aliás se depreende dos diversos comentários já publicados.
Não me lembro de todo da observação feita pela minha mãe sobre o funcionamento dos intestinos da professora mas, por outro lado, lembro-me perfeitamente desse mesmo funcionamento,que era rítmico,regular e deveras oloroso. E para uma criança com a idade que eu tinha na altura, tornou-se quase uma vivência. Mas a verdadeira razão da minha ida para o ERO foi de ordem geográfica e, portanto, prática pois como disseste fui viver para muito próximo do ERO. Assim o meu pai não mais precisou de me ir buscar (?) à escola pois eu passei a regressar sozinho a casa. O (?) deve-se ao facto de ele se esquecer sistematicamente de mim e, na realidade, nunca me foi buscar, pois era sempre a minha mãe que acabava por passar a apanhar-me.
Mas seria também interessante entrar um pouco na residência Jales. Por exemplo, um dia fui lá jantar. Para além do arroz que a Maria Helena Jales fazia (eu trato-a aqui da mesma forma que o fazia directamente) e que era simplesmente divinal,fui servido de outro acepipe que de todo detestei,mas que degluti galhardamente. "Gostas?" pergunta a dona de casa, solícita. "Adorei" "Então toma lá mais"... bom,que remédio. Mas o pior ainda estava para vir,pois das vezes seguintes que lá fui jantar aguardou-me sempre o mesmo pitéu de que eu tanto tinha gostado,e com que a mãe Jales simpaticamente me presenteava.
Houve uma ocasião em que os pais do JJ se deslocaram por diversas vezes a Lisboa.Logo após a sua saída de casa tinham início umas batotadas (na altura era o king,o poker só surgiu mais tarde) mas o baralho utilizado tinha uma particularidade: os símbolos dos naipes e, em especial, as figuras eram nus femininos,o que baralhava completamente os jogadores.
Lembro-me ainda de ter ido à residência em questão buscar umas garrafas de vinho, isto porque o pessoal estava numa festa em casa do Rui Malaca,já bem bebidos,e por ser o único a não beber,fui nomeado voluntário para ir buscar os oxidrilos. Quando me viu de garrafas na mão,tipo saloon, o pai Jales ainda me mandou umas bocas no género "estás tocado"!,"andas nos copos a esta hora?",etc.
É claro que todas estas aventuras não passavam despercebidas, mas a Maria Helena apenas dizia fleumaticamente: "Espero, pelo menos, que ninguém vá dormir para a minha cama".
Um grande abraço para ti e muitos parabéns pelo texto.
Miguel B M
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Rosa disse:
Comecei a ler o teu texto sobre o Borlão e, efectivamente, tem um ritmo tal que não consegui parar senão mesmo no fim ... gostei muito.
E achei graça a uma referência que fizeste à família Pimenta de Castro, já que não imaginava que tinham vivido nas Caldas – se forem os mesmos que conheci, claro. Em Lisboa, na Escola Lusitânia (antiga escola tipica do Estado Novo, exclusivamente feminina, ao Arco-do-Cego, bem pertinho do Archote, lembras-te?), por volta de 1970, fui colega e amiga de uma Madalena Pimenta de Castro que morava em Cascais, salvo erro. Muito gira, alta, espertíssima... Vou procurar uma foto que suponho não ter ainda perdido, para veres se é mesmo ela (esperando que a possas reconhecer), feita numa excursão a Tânger.
Nunca mais soube dessas minhas colegas mas voltei a ver a Madalena há poucos anos, no Conservatório, enquanto esperávamos por audições das nossas crianças. Acho que tenho essas fotos nas Caldas. Faço um scan e mando-to, se a busca correr bem.
Bjs. Rosa
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Anabela disse:
Era muito miúda, mas recordo-me perfeitamente do descampado que era o Borlão e também da feira do 15 de Agosto ser lá realizada.Felizmente que se foi transformando, tornando-se numa zona habitável, senão não estaríamos a ler esta magnífica descrição feita através da janela do João, para não falar na sua incrível memória!!!
Olha meu querido João, quero-te dizer que aquela subida da rampa das Cinco Bicas foi feita a maioria das vezes a "butes".Aqui a tua memória falhou, desculpa lá… (Está bem, por vezes o meu Pai levava-me de carro, que não era azul, naquela altura seria talvez branco, mas era um Ford).
Fizeste-me recordar e com saudade as brincadeiras nas escadas de serviço do prédio dos Pimenta de Castro com a S.Luís e os seus irmãos, Fázinha e Jorge.
Confesso que sinto uma nostalgia quando passo pelo Borlão, pois já não é o Borlão da minha meninice…
Anabela Miguel
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Manuela disse...
Antes de mais, Jales, felicito-te pelo teu excelente texto, o Borlão, “visto” da tua Janela. Um perfeito documentário!
As palavras estão cá e elas próprias desencadeiam as imagens.Por momentos regressei à “minha” janela do Hemiciclo Frederico Ulrich. Vi as carinhas bonitas daqueles meninos que jogavam à bola atrás da Igreja e no descampado mesmo ao lado da "minha" casa. Percorri, tendo por guia a tua espantosa memória, todas aquelas ruas, até a toponímia me não escapou, já quanto aos andares e números de polícia das casas dos nossos colegas e Professores…A Benilde, a Anabela, a Mafalda, as colegas e amigas que me eram mais “próximas”. A a Benilde,"luminosa", como a definiste bem! Ainda hoje em dia mantém essa mesma "luminosidade".
"Há palavras que fazem bater mais depressa o coração…" disse Almada Negreiros.O meu bateu mais forte por não te teres esquecido de mim e dos meus irmãos e, muito especialmente, pelas palavras elogiosas com que te referes a meu Pai. A testemunha, com toda a certeza, não se sentia bem no “papel” de mentirosa. Quem pode gostar da mentira?
Manuela Gama Vieira
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SALETTE disse...
Olá,João
Que óptima memória e que descrição deliciosa!adorei rever o nosso querido Borlão...olha,quando da tua janela espreitavas a EngºDuarte Pacheco nunca avistaste o Nuno Mendes? Ele morava aí, no prédio em frente ao dos manos Hipólitos.
Eu,antes de morar no chamado prédio da Rocaltur, morei alguns anos na Duarte Pacheco,nº13, daí que recordo muito bem essa zona.Era emocionante a altura das feiras bem como a vinda ocasional de companhias de teatro que actuavam numa tenda junto á igreja.
Eu e a Benilde (que nessa altura era minha querida vizinha de prédio)chorámos baba e ranho a ver ''Amor de Perdição''.E as idas á Avenida da Estação para apanhar folhas para os nossos bichos da seda? Tantas memórias...
Beijinho
Salette
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Ana Luisa disse...Tanto ou mais do que a escrita admiro a tua memória. Por momentos lembrei um Borlão bem mais bonito do que estava na semana passada.
E da Ana Isabel por acaso sabes alguma coisa? Fomos muito amigas enquanto estive no ERO e claro também passávamos férias em S. Martinho, mas depois de alguns anos perdi o contacto.Algumas tardes ao lanchinho que a mãe dela nos preparava também íamos dando umas espreitadelas ao largo para "ver quem passava"...
Beijinhos
Ana Luisa
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Paulinha disse...
Olá João
Eu e a minha amiga Anabela Castro Afonso, inseparáveis como sempre, estamos a passar uns dias de férias aqui no Algarve e como habitualmente atentissimas ao nosso blog, lemos juntas mais um fantástico texto escrito por ti. Memória prodigiosa!!!! realmente brilhante como sempre, continuo a achar que devias escrever um livro...
Parabens João.

Bjs PP
jorge disse...a memória do jj é fantástica(ou eu estou muito mais senil do que julgava)mas o que mais me admirou foi a capacidade de transformar o que poderia parecer uma lista telefónica num documentário,como´disse a manuela.mas lembro-me também do nuno,do azevedo santos e da salette na duarte pacheco,quando estavam a ser construidos os prédios de que aqui se fala.
junto os meus parabéns aos muitos que já cá estão!j
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Isabel X disse...
Recém-construído e vaticinado para novo centro da cidade, era toda uma geração de colegas e amigos nossos que morava no Borlão e nas suas imediações.
A prodigosa memória do Jales e a forma quase fotográfica como descreve o que via, de umas e de outras janelas, com o pescoço mais ou menos esticado, fascinam-me!
A Paula Jales e a Tucha chegaram a ser minhas colegas no colégio, porque tiveram que repetir um ano; a Ana Salgado não, porque, em condições idênticas às das colegas, foi mandada para o Colégio Andaluz de Santarém, pelos pais.Lembro-me bem de frequentar a casa da Paula e a da Ana. Belas festas de aniversário!
A amiga da minha geração que mais cedo "me morreu", a Isabel Reis Vieira, também morava no Borlão e uma outra amiga da primária, a Célia, de quem nunca mais soube nada.
Não fazia a menor ideia de que a Eunice Muñoz tinha morado nas Caldas, mas achei graça. Pena nunca me ter apercebido...
Tal como o Xavier e a Mafalda Serrano, também o João Jales e a Ana Paula Gouveia continuam "vizinhos" hoje em dia, mas com o o importante "pormenor" de ser no mesmo bairro da adolescência. "O bom filho à casa torna" ou será antes "os bons filhos que tornam a casa?"
Muito gratificante encontrar este retrato tão vivo dos amigos antigos. Até parece que voltamos à adolescência.
Parabéns, JJ!
- Isabel Xavier -
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Luis Abel disse :
Vivi no Borlão desde 1964, conheci bem o autor da prosa meia dúzia de anos depois quando me tornei pau-de-cabeleira para que pudesse mamoriscar a minha irmã Paula e ainda melhor quando, muitos anos depois, se tornou meu cunhado oficial.
Por isso, não é para mim novidade nenhuma a sua impressionante capacidade de memorizar factos e de os relatar. Já a minha...enfim, acho que nunca me contaste que a Eunice Munoz vivia por cima de ti, essa foi nova para mim!
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Alfredo disse...
A sorte que o fotógrafo teve de apanhar apenas um carro estacionado frente ao Tribunal (ironia)!Se calhar era dos noivos!
Nesta data passava por aqui todos os dias rumo á Escola Comercial e Industrial, ía saír por um portão de ferro frente á Praça de Touros. Às segundas feiras havia um mercado de cebôlo e outros artigos de horta, ao longo da avenida que começava no Largo da Estação e se prolongava até ao Quartel dos Bombeiros.
Joaquim disse:
João, na segunda destas duas fotos mais antigas, olhando de frente está a igreja e já se vê no meio a "rotunda". Mais para a direita está uma velha arrecadação que julgo pertencia à Câmara e que permaneceu lá durante muitos anos.
Na Rua Fonte do Pinheiro, que fazia parte desse Largo do Borlão, havia um muro "cor avinhada" que se alongava talvez até à Rua do Jasmim, com umas "humildes" casas de rés do chão e nelas moravam duas figuras simples e populares da nossa pequena cidade: eram o nosso " Ti'Pacheco" dos gelados e das quentinhas e boas e o Ti'Sebastião que era o "bagageiro" de serviço das Caldas, que percorria a cidade com a sua carroça e a sua esposa ao lado para dar uma ajuda se tal fosse necessário Quaisquer comerciante da época e não só...se lembrarão deles.
Bem hajam
Joaquim
(Estou fora do nosso país há mais de quatro décadas ,o quer dizer posso estar a ver o filme um pouco mal focado. Espero que não)
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Meus Sonhos disse...
O centro das Caldas continuou a ser a Praça da Fruta,o Borlão era as Avenidas Novas ou o Arieiro das Caldas como diz o JJ.
A memória do autor é realmente invulgar e o seu relato um testemhnho único de um tempo que não volta.Ninguém referiu ainda a conclusão final,em que se diz que as famílias com crianças foram substituídas por escritórios e serviços,desertificando o centro da cidade.Isso é verdade em quase todas as cidades portuguesas.
Grande post.
Parabéns, Jales!
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Não vos dou a certeza do ano em que fui habitar no “Borlão”, mas parece-me foi em 1959, para a rua Coronel Santos Costa, que à data nem estava alcatroada.
Esta mudança de residência deveu-se ao detectar do problema cardíaco do meu Pai, e aos médicos o mandarem evitar todos os esforços, até subir escadas; devido a isso fomos habitar um prédio com elevador.
A Laura tem toda razão em eu me recordar de ser ali o recinto da feira, o primeiro ano que eu habito lá, é precisamente o último das feiras no “Borlão”, tudo o resto coincide com o que eu me recordo.
Pouco tempo habitei na R. Coronel Santos Costa, logo que os prédios dos Capristanos estão construídos, vou residir para lá.
“A MINHA JANELA SOBRE O BORLÃO”, aproveitando as palavras do João Jales, apenas a ocupei quatro anos, em 1963 o serviço militar colocou-me perante outras janelas.
João Ramos Franco
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Benilde disse...
Olá João,
Que memória prodigiosa...
Gostei muito!
Bjs
Benilde
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João Joaquim disse...
Boa memória a do João, saber aqueles nomes todos é de apreciar.
Antes do João por ali morar, eu deslocava-me muitas vezes à Rua das Flores, onde o meu pai tinha uma pequena oficina de serralharia com o Constantino (pai do conhecido ceramista Constantino ) e então corria toda aquela área para brincar e jogar à bola com a "malta" do Bairro do Viola.
Dizia-se que nas traseiras dos armazéns de ferro do T. dos Santos(Rua 31 de Janeiro) teriam sido ali fuzilados alguns locais que se teriam revoltado contra as forças francesas. Toda aquela área era de terra batida e ali, no Largo do Borlão, se fizeram as melhores feiras anuais que as Caldas conheceram, a do São João e logo a seguir a do 15 de Agosto. Depois veio o progresso e tudo isso desapareceu, a Igreja e esses prédios, alguns sem classe alguma (os primeiros, vá lá, vá lá, depois os outros foram apenas construção e mais construção) .
O João apesar de mais novo uns anitos ainda tem a visão de tudo que existia por detrás da igreja e que se manteve durante muitos anos. Não sei ao certo o que havia de verdade nisto mas dizia-se que para tirar o tráfego desde a Rainha à Praça da Fruta, a calçada 5 de Outubro seria alargada, desde o Largo C. de Fontalva, passava no lado esquerdo da antiga Praça do Peixe , até à presente rua Padre A. Emílio e por ai fora.... Seria ideias dos arquitectos de obras feitas (opiniões), ou seriam planos da Câmara de então?
Parabéns
João Joaquim
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Isabel X disse...
Houve mesmo fuzilamentos na cerca do Borlão, no período das Invasões Francesas. Eu já escrevi sobre isso para a Gazeta, mas o que é realmente relevante é saber que há lá um "monumento" de homenagem aos fuzilados que é da autoria do "nosso" Zéquinha Pereira da Silva!
E esta... ein? Uma "caixinha de surpresas", o Zéquinha!...
- Isabel Xavier -
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J.L. Reboleira Alexandre disse...
O João diz que escreveu isto de chofre e nós até acreditamos. A verve dele está toda aqui.
Afinal Caldas, cidade, nesta altura não se distinguia muito das aldeias circundantes, no que à vivência da miudagem diz respeito. A maioria dos garotos jogava a bola e só se distraia quando aparecia à janela uma daquelas «princesas» que alteravam o ritmo cardiaco daqueles.
Lá na minha aldeia tudo se passava da mesma forma, a única diferença estaria na mudança da identificação dos progenitores para:
- os filhos do Zé Mau, do Zé Sapateiro (da familia da avó dos meus netos Antoine e Coralie), do Zé Rato, do Zé da Quinta (pai daquele que segundo o nosso amigo Sanches, e eu concordo, era na altura o conterrâneo mais ilustre da terra) «et ainsi de suite».
Belo retrato de uma época.
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Isabel disse...
Olá Colegas,
Adorei ver o Borlão como ele era nos meus tempos de miúda. Quem disse algum dia que não vivemos de recordações? Eu prezo as minhas como se petiscos fossem!
Saudades dos outros tempos em todos nós tínhamos uma vidinha estudantil mais apetecível. Abençoados todos vocês que colocam fotos inexcedíveis no Blog do meu Colégio de excelência...
Mil abraços de Óbidos,
Isabel de Azevedo Noronha
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Alberto Pereira disse:
Um texto bem giro; lembro-me de ir à caça das rãs que existiam nos charcos de água que se formavam atrás do Tribunal ainda não havia prédios por lá.
Também me recordo do circo que se instalava no local onde agora é a Câmara; uma noite o urso fugiu pela R.Engº Duarte Pacheco e, partindo as vidraças, entrou na Mercearia Simão; os meus Pais chamaram a Polícia pensando tratar-se de um assalto e imaginem os guardas quando lá chegaram e viram que o assaltante era um urso que estava calma e tranquilamente a comer todos os rebuçados que o Sr. Simão tinha em stock.
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Belão disse...
Mas que memória, João!Ler o teu texto foi um mais um regresso ao passado e que me trouxe à memória tantos episódios...Éramos tantos e todos vizinhos!
Lembrei-me das brincadeiras nas escadas do tribunal enquanto esperávamos a carrinha do ERO, logo pela manhã.
Também me lembro da cena do urso, que o meu vizinho do 1º andar(o Alberto) aqui conta e que deixou sem palavras os clientes mais notívagos do Avenida, um deles, segundo consta, não sei se anestesiado pela cerveja,pensou tratar-se de uma senhora pela rua de casaco de peles.
Adorei.
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Antonio Hipolito disse:
Um pequeno apontamento que a prosa do JJ me atiçou a fazer, provocado talvez por ainda hoje lamentar não ter continuado a aprendizagem do piano, por a madame Palavicini se ter ido embora das Caldas ... sim eu tambem era uma daquelas crianças.
Falta na lista de nomes apresentada, quer pelo autor como pelos comentadores, e atendendo que se chegou práticamente à estação da então CP, em frente ao Zé Neto, na esquina do outro lado da avenida morava a nossa colega Cristina Rolim e o mano.
Abraço do Tózé H.
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Inês disse:
Parabéns, JJ. Como você escreve bem!
Inês
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Manuel Agudo disse:
Obrigado J Jales, por me ter recordado os tempos de miúdo. De facto naquele bairro habitacional vivíamos muitos colegas do ERO, dos quais o JJ tem uma lista quase completa. Se me recordar de mais alguns digo! Apenas para recordar que entre mim e a minha irmã Ana Luísa, há um outro irmão do ERO (Zé) e recordo-me também de a minha irmã ter uma colega - Ana Isabel que morava no quarteirão mais próximo do Tribunal .Parabéns pela recordação da "Burlópole"
Manuel Agudo
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JJ respondeu:
Faltava realmente o vosso irmão Zé, mas a Ana Isabel está no texto.
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Laura disse...
João,os meus parabéns, está um texto muito bom e elucidativo!As coisas que eu aprendo com as publicações deste blog! Adorei mesmo...
Por seres muito novinho não te lembras das feiras, que também poderias ver da tua Janela! Mas o João Ramos Franco deve lembrar-se...pois não foge muito da minha geração.Eram muito engraçadas as feiras do São João e do 15 de Agosto no largo do "Borlão".
Retenho na minha memória uma pombinha de madeira...que ao ser empurrada batia as asas...uma delicia!!! Coisas de criança...e prendas de um avô!!
Laura Morgado
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Luis disse...
Para completistas - Faltam que me lembre a Célia, Maine,Guilherme, Domingos Afonso (filho de sub-gerente do BES), Carlos e irmãos (filhos do juíz) no hemiciclo; Graciano e irmãos (da Sapataria Mário), na avenida; Meirim na transversal da av.; Luís Brito e João Pedro (família Correia), Paulo Moreira, Pedro Mil-Homens, na Eng. Duarte Pacheco. Eu e a família Castro, vizinhos na Heróis da Grande Guerra e com passagem pedonal das traseiras para o Hemiciclo, zona das oficinas do A. Flores. Há mais...
Luís Lamy
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Luis disse...E faltam tb os irmão Santos (filhos do chefe dos CTT), na Eng. Duarte Pacheco - Luís Lamy
PS: Põe o Manique na Eng. Duarte Pacheco - Lamy
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Artur Henrique Ribeiro Gonçalves no Facebook:Uma evocação muito viva do Borlão que eu ainda conheci, um pouco de raspão...
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Paulo Caiado no Facebook:Tantos nomes que me são próximos!
Faltam os da minha geração claro, como as manas Velhinho, Cristina Caramelo, Paula Melo, Bandeira Duarte, Tomás Marques, Costa Faro, os Ruas também conhecidos pelos ''Torralta'' (Sónia, Luis e Paulo) o Luis Correia (filho do Dr. João Correia) e mais tarde os Morgado (Nuno, Vasco e Marcelo), Rosário (Pedro e Sandra), os meus primos do outro lado da Praça, a Rosarinho Moreira, a Paula do tribunal , os Cabrais (Manuela, João Paulo e Tiago) e outra familia que viviam no prédio da Telstar (Manuela e dois rapazes, um já falecido) e toda a troupe da Raul Proença que são tantos que encheriam o blog!
(Na sua maioria todos os ''habitantes do Borlão e Avenida e perpendiculares'' dos anos 70 estão enunciados na crónica ''Cruzando os Anos em Poucos Dias - Diário de um Estudante''.)Paulo Caiado (Facebook)

A NOVA IMAGEM DO BLOG

por Lena Arroz
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Mais uma foto lindíssima, pelo menos para mim.
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Aqui estão os meus queridos colegas:
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- Em cima a começar pela esquerda, Sérgio, Ema, Natércia, Efigénia ( Geninha), Lena Vieira Pereira, o jovem seguinte, que sei muito bem quem é, não me lembro do nome;
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-Em baixo da esquerda para a direita, Victor, Zé Manel, João Lourenço, e Ângelo.

A Ema seguiu letras, mas não sei que licenciatura tirou, talvez línguas e literaturas. A Natércia, o Zé Manel, o João Lourenço (infelizmente falecido muito novo, com quarenta e poucos anos) a Ilda Lourenço e o Xico Vieira Lino (estes 2 não estão na foto) tiraram o curso de medicina, a Efigénia o curso do ISLA, a Lena Vieira Pereira e a Emiliana (que também não está na foto), tiraram o curso de Assistência Social. Do Victor e do Ângelo falámos na foto anterior.
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Agora reparo que muitos dos meus colegas foram para medicina. É de referir que nessa altura se entrava em medicina porque se queria mesmo ser médico e se tinha vocação. Não era preciso ter grande nota para entrar. A nota de entrada em engenharia, por exemplo, era mais elevada do que a de medicina.
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No dia do aniversário da Efigénia, telefonei-lhe. Todos os anos me lembrava, naquele dia, mas ou não tinha disponibilidade ou não tinha o nº do telefone e por isso há uns vinte ou mais anos que não falávamos. Eu não lhe disse quem era logo de início. Fui-lhe apenas dando pistas para ela descobrir quem lhe estava a telefonar.
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Dizia-lhe :
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-Ia brincar contigo para aquele sótão transformado em casa de bonecas que ficava no prédio do café das Cavacas, ao fundo da praça...
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-Ia com a Dadinha e a Guida reunir contigo para formarmos o clube "qualquer coisa " ( não me lembro o nome) do qual eu era a tesoureira e por isso juntava moedinhas numa caixinha de folha...
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- Era tua colega de turma até ao 5º ano...
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- Era amiga do teu namorado Zé Manel...
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- etc, etc...
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Foi muito divertido quando ela descobriu que era eu. Lá pusémos um pouco a "escrita" em dia, mas ficou muito por dizer e muitas saudades.
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Beijinhos, para todos.
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Lena Arroz
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C O M E N T Á R I O S
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Guida disse...
Se não estou em erro o jovem da fotografia, em pé à direita, é o Zé Mendoça.
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(ES)QUINAS



(Es)quinas





O chamamento, num tom ansioso, chegava-me cada vez mais distintamente. – “João José? Filho? João José?”. Agora percebia que era a voz da minha mãe. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam-me. Procurei levantar-me, mas o corpo não obedecia. Mexi os lábios, mas não consegui articular qualquer palavra.

Ergui o braço que logo voltou a cair. A minha mãe continuava a pronunciar o meu nome. A sua voz estava agora muito perto. Estremeci, agitado. “Oh, graças a Deus!” – disse ela, num tom que me sossegou. “Não deve ser grave”, pensei, tentando perceber se a aflição em redor podia ter sido ocasionada por mim. No meu quotidiano o síndrome de “suspeito do costume” era tão frequentemente activado que me treinara a descortinar todas as escapatórias. E ali, na solicitude inquieta da minha mãe, eu podia adivinhar uma folga oportuna. Fosse o que fosse que tivesse acontecido, não parecia ter sido culpa minha. De modo que me atrevi a perguntar: - “Que foi, mãe?” - e, desta vez, a minha voz, embora trémula, soou-me clara.

– “Consegues levantar-te?” Só então percebi que estava deitado no chão, meio torcido sobre mim próprio, uma perna e um braço dobrados e a cabeça muito demasiado perto do tamborete que suportava o pote antigo das azeitonas. Fiz um esforço e consegui sentar-me. Não me doía nada, outra conclusão desafiadora, pois era sabido que um extenso cardápio de pequenas dores faz parte das atribulações do dia a dia de um miúdo irrequieto. Confiante, tentei pôr-me de pé, mas sem o auxílio da minha mãe, provavelmente teria voltado ingloriamente ao chão. Sentia-me um pouco zonzo, mas estranhamente feliz, como se tivesse regressado à vida, sentindo pouco a pouco o corpo readquirir equilíbrio e as sensações reconfortantes do espaço e do tempo.

Não me lembrava do que sucedera. A última sensação que retivera era do mundo a rodopiar à minha volta e da queda iminente. – “Perdeste os sentidos, meu filho.“ A expressão era nova para mim, tentei absorver o significado das palavras: - “Perdi os sentidos?” - repeti em voz alta. – “E agora, mãe, já apareceram?” – “Ouvi um grito teu, seguido de um estrondo e vim a correr. Estavas caído no chão e não me ouvias. Que aconteceu? Porque gritaste”?

Parca em novidades, a pequena aldeia fez do acontecimento tema de comentários no dia seguinte.

- “O menino teve um desmaio”, contou a Francelina. - “A mãe não o deixou sair toda a tarde, coitadito”. -“Foi um grande susto”, rematou o Tóino. -“Aquilo passou-se quando ele estava à janela”. – “Muito gosta ele de ir para aquela janela!” – observou o Rosinda. – “Põe-se ali a ver os animais que passam no carreiro, os pássaros que se empoleiram na árvore. Às vezes cola papéis com palavras nos vidros. E desenhos. Fotografias. Bocados de jornais. Outras vezes, abre-a para ouvir melhor”. – “Oh, é para escutar o ruído dos carros e das camionetas que passam além, na estrada de macdam”. – “Põe-se a olhar para os montes e para as nuvens como se dali viessem sinais”. - “Foi o que aconteceu ontem. Ao abrir a janela bateu com o cotovelo na quina”. – “Até me faz impressão só de pensar. Dizem que é uma dor horrível”. – “Quina contra quina – quina do braço contra quina da janela”.
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João B Serra
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C O M E N T Á R I O S
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Isabel disse:
Até parece que sentimos a aflição da mãe, ansiosa por que o filho recobre os sentidos. Até parece que sentimos a estranheza e o alívio do filho quando, aospoucos, se sente voltar a si. Naquele dia o protagonista do acidente foi o centro das atenções, dos cuidados, das conversas de todos(eu lembro-me de em criança, quando fazia um disparate, me esconder e desejar ardentemente que me acontecesse qualquer coisa de mal para, em vez do merecido castigo que me aguardava, passar a ser alvo do carinho de todos).
Eis revelado (julgo) o motivo original da paixão do João por janelas! Curioso do que o rodeava, debruçou-se tanto, que caíu da janela abaixo: uma atracção que lhe ia sendo fatal e que lhe deixou sequelas... sentimentais. Quina contra quina (da janela, do autor), no título subtilmente transformadas em es(quinas), outra grande afeição do João, também dá que pensar! É que há uma lição de vida a retirar deste caso: quem se apaixona por janelas é porque em algum momento sofreu por elas, ou caíu delas abaixo. Como em tudo na vida, aliás.
Belíssima narrativa! Viva, expressiva, cheia de simbolismo! Gostei imenso!
- Isabel Xavier -
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Isabel Esse disse...
Um menino irrequieto e curioso teve um acidente invulgar e,pelos vistos,muito doloroso -resultado um post muito engraçado,irrequieto como deve ter sido o seu autor.
É sempre um prazer ler a prosa de João Serra!!!IS
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J J disse...
Interrogo-me muitas vezes sobre os motivos que levam a que determinados episódios do nosso passado fiquem tão nítidos na nossa memória, enquanto outros, aparentemente de igual (ou até maior) importância, se esfumam sem rasto...
Este parece ser um episódio marcante na vida do autor, mas porquê? Pela dor, pela perca dos sentidos, pela preocupação materna, pelos comentários dos outros ou porque lho relataram ou referiram posteriormente com frequência?
Não tive aqui resposta para a minha interrogação, confesso, mas é sempre com gosto que vejo um retrato "pintado" desta forma, com lápis fino e economia de traços.
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João Ramos Franco disse...
Ler esta narrativa de um episódio, do então menino João Serra, tem uma certa piada.
Ao dizer “No meu quotidiano o síndrome de “suspeito do costume” (visto pela Mãe) “, ou até como é visto pelos outros: “Põe-se a olhar para os montes e para as nuvens como se dali viessem sinais”. - “Foi o que aconteceu ontem. Ao abrir a janela bateu com o cotovelo na quina”.
Visto agora e rebuscando todos os relatos que tenho lido, encontro o João Serra que conheço e de quem me tornei amigo.
Um abraço amigo do
João Ramos Franco
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jorge disse...
histórias em estilo telegráfico,muita uva e pouca parra...muito bom,como de costume,o post do j s,levando-nos não só ao tempo mas ao local da sua infância.optimo.j
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Belão disse...
Se eu não estava nada a ver o João como um rapazinho irrequieto ao ponto de o "síndrome de suspeito do costume" ser tão "frequentemente activado"? Não foi uma surpresa, de facto. Os miúdos reguilas têm sempre muito mais para contar. E o João fá-lo como ninguém.
Um beijo ao meu amigo JS.
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Alfredo disse...
(Es)quinas
(“Não deve ser grave”, pensei, tentando perceber se a aflição em redor podia ter sido ocasionada por mim. No meu quotidiano o síndrome de “suspeito do costume” era tão frequentemente activado que me treinara a descortinar todas as escapatórias. E ali, na solicitude inquieta da minha mãe, eu podia adivinhar uma folga oportuna. Fosse o que fosse que tivesse acontecido, não parecia ter sido culpa minha.)
-O conto que o João Serra nos traz, para além de uma prosa excelente, a que já estamos habituados a ler, traz-nos também que, já ao tempo, uma rara subtileza política, o que me leva a crer que se tivesse seguido esta carreira, talvez, se tivesse saído vitorioso, senão vejamos: já tinha o espírito treinado para descortinar todas as escapatórias para possíveis erros cometidos, e fosse qual fosse o acontecido a culpa seria sempre de terceiros e nunca dele.Será que isto nos faz lembrar os políticos de hoje ou é somente impressão minha? Até parece o outro a dizer que o Governo não mentiu (TVI). Pois não. A acusação também não diz que foi o Governo, foi ele.
Um abraço
A.Justiça
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Joaquim disse...
Eu gosto muito dos contos do João Serra e neste está um pouco da criancice de todos nós "uns mais traquinas que outros e lá íamos causando sarilhos aos pais, mas por vezes pagávamos pela fama (bicho carpinteiro), mas sempre com o amor deles".
A minha estória de verdade, não era uma quina ou esquina, talvez... a quina partida de um tronco de árvore e um sexto sentido ou preocupação de uma mãe. Quem conhece as Caldas e em particular a área da antiga praça do peixe até ao Largo da Feira Velha, conhece as duas ruas que se unem, apenas divididas pela Calçada 5 de Outubro. Elas são a Rua das Vacarias e a Rua da Ilha. A das Vacarias era uma dum antigo calcetado,uma espécie de paralelepípedos toscos. A Rua da Ilha era de terra solta e argilosa. Elas eram um mundo rural dentro da cidade, pois nelas haviam currais para bovinos, estábulos para cavalos, cocheiras para burros e outros animais. A meio da Rua da Ilha existia a casa e o quintal do Zé Martins (latoeiro bem conhecido dessa época) da família dos Clérigos, conhecido empresário com um estabelecimento de ferragens e torrefacção de café na Rua H. da Grande Guerra em frente aos Caldeanos. Essa propriedade na dita Rua da Ilha tinha a casa para a rua e o quintal ìa até ao chafariz na estrada da Foz, mesmo em frente da antiga casa do João Franco (veterinário), dos Paramos e depois o mui conhecido Zé de Sousa.
Em Setembro era uma alegria, havia o chegar das uvas que vinham das vindimas, pois nessa casa havia um grande lagar e com a azafama da entrega das mesmas sempre havia um cacho ou dois que conseguíamos "desviar". Ora para fazer a estória mais curta; nesse quintal havia uma serie de árvores de fruta, o que quer dizer "a good supply" de sobrevivência Entre essas árvores de fruta havia uma grande nespereira. E como tal, mesmo contra a lei lá íamos "roubar" esses deliciosos frutos,até que um belo dia, eu ao ouvir o alarme de um dos "fora da lei"... vem aí o dono (mentira), ao tentar fugir fiquei preso num tronco da árvore, quase de cabeça para baixo sem conseguir sair dele. Eu lembro-me que a minha mãe que era costureira de calças tinha-me feito uns calções de alças que não tinham botões para que eu não os pudesse arrancar para o jogo do "botão" por isso eu não conseguia sair daquela aflita situação. Tanto, tanto gritei que a minha saudosa mãe, de quem se dizia que tinha ouvidos de "tuberculosa",disse à Josefa (sogra do Mário Lino): -o meu filho está a gritar - e lá foram em meu salvamento.
Moral da estória: o meu pai soube do sucedido e lá vai o então "chá de pau de marmeleiro". Para quem não saiba o significado desse tal chá . é que o tronco do marmeleiro é cheio de nós e quando bate nas costas faz mesmo mossa
Eu menciono nomes e ruas como eram nos anos 50 para que não se percam na história e que certamente a fizeram na nossa cidade, mesmo pequeno que fosse esse contributo.....
Joaquim
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Manuela disse:
Tudo tem uma explicação. A Francelina e o Tónio, carinhosamente, na posse de alguns indícios - os momentos passados à janela, os papéis com “dizeres” nela colados, a falta de autorização para sair de casa - logo se apressaram a encontrar a razão de tamanha dor. Dor de juventude. Sequiosa, sonhadora, inquieta, arrojada. Só não souberam identificá-la. Os sinais, esses, reconheceram-nos com notável sensibilidade.
Que bonita a troca de afectos entre Mãe e filho, entre “palavras” de despertar da perda de sentidos.Linda homenagem que o João aqui presta a sua Mãe e às pessoas simples da sua terra.
O que as (es)quinas de uma janela e de um cotovelo podem ocasionar e revelar!
Manuela Gama Vieira
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Júlia Ferreira disse...
A crónica do João Serra é uma ternura. A narrativa de um episódio das tropelias do «suspeito do costume» mostra bem que, como diz algures o Drummond de Andrade, «mãe não tem limite». Boa escolha também da fotografia da janela, espaço de descoberta, espelhando nuvens, de onde o menino curioso espera «sinais».
Júlia Ferreira
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À JANELA DO ERO

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C O M E N T Á R I O S
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Laura Morgado disse:
Das 3 fotografias acho que só conheço o menino da primeira foto. É o Canhão... será?
Os outros são crianças encantadoras mas não sei identificar. Tem que ser um trabalhinho para a nossa querida Ana Nascimento.
Um beijinho para ti Ana.
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Ana Nascimento disse...
Com que então um trabalhinho para mim ... lol....Tens razão Laurinha ,o primeiro é o António Manuel Canhão Veloso, a seguir é a Isabel Pinto Ribeiro (colega da minha irmã Luisa) e depois o Luís, irmão da Isabel, que foi meu colega...
(esta foi fácil eheheh)
Beijinhos
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Ana Nascimento disse:
Oh enganei-me !!!! desculpem-me este lapso de memória... quem me valeu foi a mana Luisa ...o menino Pinto Ribeiro não é o Luis, é o João, gémeo da Isabel.
bjs
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A JÚLIA À JANELA DO BLOG

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Olá, J J (João Jales?)!
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Foi por indicação de uma amiga que me enviou o endereço para ler o texto in memoriam à Noémia que descobri o blog (ou blogue?) do ERO.Fiquei muito comovida com a homenagem porque já éramos amigas antes de irmos para as Caldas e essa amizade de jovens era ainda uma realidade para as sexagenárias que, em pequenas e grandes cumplicidades, fizeram percursos profissionais semelhantes, partilharam momentos bons e que se apoiaram em momentos duros de perdas e de sofrimentos.
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Falei com a Noémia na véspera do AVC fatal que a levou para lhe dar os parabéns pelo aniversário. Divertidas, fizemos imensos planos para tirarmos partido das vantagens da entrada na terceira idade (cinemas mais baratos, viagens de comboio, etc.). E, quando dias depois, me fui despedir dela para sempre, parecia-me estar a viver um pesadelo!
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Falávamos muitas vezes da época das Caldas de que guardávamos muitas recordações e saudades.Por isso, foi um prazer enorme ler o blogue. Há três dias que vasculho, vasculho… E a memória, que às vezes já me trai, traz-me o passado de volta com a leitura de certas narrativas.Lembro-me de nomes completos como Maria Margarida Alves da Costa Rego e o do irmão (Filipe José…) ou semi-completos como José Carlos Faria, Paula Jales, Maria João Gomes, Luís Lamy, Margarida Barreto, Rui Ferreira da Silva, Chico Carrilho, Luísa Pinheiro, São e Isabel Caixinhas ou apenas Zé, Nami… Filipa, Anabela, Natércia, Rogério, Hipólito, Palhoto…
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Dos colegas lembro-me de todos e gostava de ter os contactos da Inês e do Serafim, cujo humor fino animava os intervalos na sala dos professores.
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Adorei a caricatura da São (só não me lembro da saia às flores…) e a caracterização da Isabel que me achava «um tanto esgrouviada».Fiquei sensibilizada por ainda se lembrarem de mim. Acho que não era assim tão boa professora: na altura, sabia ainda muito pouco (ainda hoje sei pouco!), mas tentava fazer o melhor que sabia… Só queria fazer diferente e não seguir as práticas da escola que tanto tinha contestado, que confundia respeito com medo.Essa foi aliás uma linha que orientou toda a minha vida profissional até à aposentação…E, dos quase quarenta anos de docência, os dois passados no ERO estão agora mais vivos graças ao blogue. Obrigada!
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Gosto muito do Oeste (agreste!) e talvez porque a recordação da juventude me arrastou para lá, tenho um apartamento perto da Consolação, onde passamos (eu e o meu marido) grande parte do Verão desde que nos aposentámos. Vou às vezes às Caldas, mas nunca encontrei ninguém dos velhos tempos (a não ser a Joana na Farmácia).Será que posso ir ao próximo almoço? Podem mandar-me o contacto da Guida Rego já que, segundo percebi, é ela a organizadora dos encontros?
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Um abraço grande para todos e até breve.
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Júlia Ferreira ou, simplesmente, Júlia
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Nota: A caricatura da São Caixinha e o texto da Isabel Xavier a que a Drª Júlia se refere no texto estão AQUI.
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C O M E N T Á R I O S
.Isabel X disse...
A autora do "um tanto esgrouviada" (no bom sentido, claro!) sou eu, Isabel Xavier. Não se lembra de nós, Dra. Júlia? Dos manos Xavier? Não se lembra do Vasco Baptista, por exemplo? Éramos de sua casa, da casa da Dra. Noémia. Eu nem tanto, que sou mais nova mas a Helena e o Mário, meus irmãos, colegas de turma, não por serem gémeos, mas por terem apenas um ano de diferença e a Helena ter chumbado, davam-se bastante com professoras como a dra. Júlia e a Dra. Noémia. Gostei muito do seu depoimento, gostei muito que aqui viesse encontrar-se connosco. Considero estimulante e exemplar saber que a sua amizade com a Dra. Noémia foi para a vida. Cános encontramos todos outra vez, uns de cada vez, neste blogue, mantido graças ao esforço e ao desvelo do João Jales (nome de guerra: JJ!). Quem se quer bem sempre se encontra!
Abraço
- Isabel Xavier -
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Luís Lamy disse...
Até que enfim uma excelente notícia, seja bem aparecida Drª Júlia, tinhamos saudades da sua presença. Se tiver paciência pf apareça nos nossos encontros, ao princípio parece que estamos no primeiro dia de aulas, curiosos e não conhecemos ninguém, umas horas depois sentimo-nos em pleno recreio com os nossos amigos de sempre, como a Drª Júlia. Ainda estamos em dívida, um grande abraço e faça o favor de aparecer quando lhe apetecer.
Luís Lamy, um aluno exemplar ;-)
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Belão disse...
Ainda bem que finalmente a Drª Júlia apareceu. Encontrei-a há 19 anos no Hospital de Santa Maria, onde o meu pai estava internado e tinha como companheiro de quarto, penso que o pai da Drª Júlia. Ficámos a olhar uma para a outra por breves momentos, mas deu-se o reencontro. Fiquei na altura com o seu contacto, que escrevi num papel que perdi. E como fez falta esse contacto para os nossos encontros do ERO!
Embora as razões que promoveram a sua aparição não tenham sido as melhores (o desaparecimento da Drª Noémia, a prof.que me fez passar a "suportar" a História), é bom saber que doravante a vamos ter connosco.
Um beijo, Drª Júlia.
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São disse:
Fez-me muito feliz encontrar hoje aqui este depoimento da Dra. Júlia, apesar do triste motivo que o conduziu neste sentido!
Agradeço as simpáticas palavras...e simultanêamente talvez seja acertado salientar que eu também não me lembro de alguma vez a ter visto com uma saia ás flores!!! Terá surgido como forma de acentuar o inovativo, alegre,e tolerante da sua extraordinária personalidade que de uma forma tão positiva nos impressionou!! Proporcionou-nos preciosos tempos novos de liberdade e tolerância que recordo com muita saudade! Como é que alguma vez poderiamos esquecer! Estou-lhe eternamente grata!
Um beijinho.
São Caixinha
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Zé Carlos Faria disse...
Drª Júlia: Agora que, para nossa alegria, veio aqui meter o nariz, seja muito bem-vinda e fique desde já sabendo que está convocada para o próximo almoço. Livre-se de não aparecer! Beijos. ZCF
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Rui disse...
Olá Dra. Júlia
Quantas vezes tenho pensado no que sera feito de si e da Dra. Noémia. Há pessoas que nos marcam, de quem nunca nos esquecemos, mesmo que tenham tido uma curta passagem pela nossa vida. Dra. Noémia e Dra. Júlia , duas professoras com uma postura modernaça que fazia toda a diferença.
Talvez nāo se lembre de mim, mas eu ainda tenho na memória a imagem nítida do nosso primeiro encontro. Cheguei atrasado à minha primeira aula no colégio, primeira de português, abriu-me a porta e não conseguiu esconder um sorriso ao olhar para o meu ar desarrumado. Eu tinha acabado a escalada da ladeira do chafariz das cinco bicas, entrei e sentei-me onde me indicou, olhei para o meu colega do lado, o Rui Aniceto, e disse:- Daqui dou porrada a todos. Atrás de nós sentava-se o Fernando Real, que eu não tinha medido bem, e que tratou de regularizar o assunto logo no intervalo dos 20 minutos - talvez por isso nunca mais me esqueci, ficámos amigos.
Também não me esqueço das boleias no mini da Dra. Noémia, sempre guiado com grande despacho. Sobretudo lembro-me que as aulas de história e de português nunca foram uma seca.
Agora, passados todos estes anos, aqui está a Dra. Júlia a fazer-me escrever pela primeira vez num BLOG. As novas tecnologias tem destas coisas, muitas vezes isolam-nos, noutras ligam-nos novamente.
Obrigado a quem dá parte do seu tempo para construir e manter este BLOG, pela minha parte, vou fazer o possível por estar presente no próximo jantar, onde espero rever a Dr. Júlia.
Quanto à Dra. Noémia, agora a residir noutro plano, já quase tudo foi dito e de forma eloquente. Infelizmente quando chegámos a este ponto de encontro ela já se tinha ido embora, fica para quando chegar a nossa vez...
Para si, Dra. Júlia, um grande beijo, carregado de amizade
Ruca (Gomes)
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Laura Morgado disse:
Não conheço a Júlia...mas tenho de agradecer o belo texto que publicou no nosso blog!
Conheci a Noémia num colégio em Lisboa onde demos aulas. Gostei muito de ter convivido com ela. Uma das qualidades que lhe conheci foi a sinceridade!!!
Foi pena ter desaparecido do mundo dos vivos tão cedo.
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Júlia disse...
Olá!Tenho lido os comentários e estou muito sensibilizada com o que escreveram… Nunca pensei que havia tanta gente a lembrar-se de mim! E não é que, à excepção da Laura Morgado (que não conheço), me lembro bem de todos os que escreveram?Tinha-os algures guardados num qualquer escaninho do cérebro e a leitura de passagens do blogue recordou-me rostos, nomes e episódios que pensava ter esquecido. Fiquei comovida, mas não quero falar de lamechices.
A minha «APARIÇÃO», como lhe chamou o JJ, faz-me quase sentir uma espécie de Nossa Senhora de Fátima!Lembro-me muito bem dos três manos Xavier referidos pela Isabel X (mas não havia ainda outro, mais novinho, o Tó Zé?), do Zé Carlos Faria (que era o ai-jesus da sua querida avó), da artista que tão bem me caricaturou, da Belão (que voltei a ver em circunstâncias difíceis para ambas), do Lamy «aluno exemplar» (como ele se autodefine) e do Ruca «reguila» (irmão da Mena?).
Mas lembro-me de muitos mais: havia molhadas de «Anas» (era um nome muito em voga na época, felizmente bem mais bonito do que a onda de «Tânias» e «Vanessas» que se seguiu…), várias «Luísas» (Pinheiro, Nascimento, Papoila, etc.). E havia também um Eurico (mas nenhuma Hermengarda…).Se não me lembro de todos, desculpem! Só aí estive dois anos e, em quase quarenta de profissão, tive muitos, muitos, muitos alunos… E, já que vim meter o nariz no blogue, vou procurar não faltar à convocatória do ZCF…Vão ter surpresas, porque Cronos tem feito o seu trabalho… Mudei muito: mais volume, menos músculo, mais cintura, «que é dos meus óculos? sempre à procura», mas continuo «um tanto esgrouviada»... Quem torto nasce…E, pela minha parte, também as vou ter porque na minha memória há meninos de 10 e 11 anos, outros na adolescência ou a saírem da dita, e sei que vou encontrar alguns «cotas», em que o tempo, pela lei natural das coisas, também fez os seus desgastes.Foi bom este reencontro!
Viva o JJ que o permitiu!Um abraço grande e até breve,Júlia Ferreira
P.S. Pensava assinar só Júlia, mas, verifiquei que há uma homónima (irmã da Filipa Ribeiro?), colaboradora assídua do blogue, que assina muitas vezes assim. Para não lhe roubar direitos adquiridos por antiguidade, passo a pôr também o nome de família…
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Isabel disse.
Que agradável surpresa ler o artigo da Dra Julia no Blog do Ero!A Dra Julia era uma das professoras que pertencia ao pequeno grupo de professores que tinhamos então, com metodos muito diferentes dos que ate aí usados!Muito moderna e querida tinha um especial sentido de humor! Era sobretudo muito tolerante.Inesquécivel!Juntamente com a Dra Noemia trouxeram uma nova vida ás nossas aulas e ás nossas vidas!Vai ser um verdadeiro prazer revê-la num próximo encontro!
Beijinho amigo
Isabel Caixinha
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Luísa Pinheiro disse...
Depois do desgosto que tive com o desaparecimento da nossa querida Dra. Noémia, fiquei muito feliz por saber da Dra.Júlia.
Os outros que me perdoem, mas sem dúvida foi a minha professora favorita. A minha boa relação com os meus alunos deve-se muito ao exemplo e ao que senti como aluna com esta professora e também com a Dra. Noémia. Lembro-me que até estudei Português com mais vontade, só para lhe agradar.Ai que saudades!!!!!
Beijinho, querida Dra. Júlia!
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Isabel X disse...
Ah Bom! Grande memória! Sim senhora...Eu só perguntei porque me pareceu que a Dra. Júlia não se tinha apercebido de que era eu a autora do texto que acompanhava as caricaturas da São Caixinha. Não quis perder "direitos de autor" sobre a expressão "esgrouviada" que aqui tão desassombradamente assume, mostrando o seu peculiar sentido de humor.
Pois é como diz há mais manos: o Tozé, um ano mais novo do que eu e há ainda dois outros "Xavieres", mais velhos, que a Dra. Júlia não conheceu. Somos seis ao todo: "à meia dúzia era mais barato", a crer no adágio popular.
Sabe? ainda hoje me "fartei" de falar de si com o Filipe Rêgo, meu colega de escola (continuamos assim, veja lá, passados tantos anos: colegas de escola!). Dizia ele de quanto a Dra. Júlia foi importante para ele. Para nós todos, afinal.
Beijinhos, muitos.
- Isabel Xavier -
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Inês disse...
‘Noémia & Júlia’, um filme que hoje revejo com dolorosa ternura. Nele, o tempo é de Vietnam, Bob Dylan e Portugal amargurado.
Com o Padre Francisco ao comando, o Colégio ganhou uma espiritualidade nova, rescende a flower-power. A autenticidade derruba a máscara séria do uniforme dos professores e já rimos, livres! ‘All you need is love, brother.’
Os novos ventos que sopram, explica-os o João Serra algures neste blogue. Ventos da nossa história. Brisa suave e firme, a Noémia… O vendaval é a Júlia, que entra de rompante e varre a quietude morna das convenções. Segura, simples e ‘moura de trabalho’ a vejo. E a revejo anos depois. Pois que voltei a ver Noémia & Júlia de passagem e soube que as duas eram tradutoras nos “Cadernos D. Quixote”, que ali tenho. ‘Quando vires o nome X, já sabes que somos nós’ . Mas eu esqueci o nome, era feminino, ficou um mistério… o raio do nome X. Será que se lembra a Júlia? Querida Júlia!
Welcome aboard!
Inês
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ana lucia disse...
Dra. Júlia,
Que grande surpresa. Já há algum tempo atrás tinha tentado saber algo sobre o seu "paradeiro" por isso estou contente por poder saber noticias suas. Não se vai lembrar de mim, quase ninguém se lembra, mas eu sou a Ana Lucia, uma entre as muitas Anas.
Sempre a achei "diferente", uma diferenca que me deve ter sido muito especial pois um dia tive a coragem de levar a minha câmara fotografica para a aula e tirei-lhe umas fotos às escondidas. Essas fotos, penso ainda as ter, se as encontrar repartirei consigo.
Um grande beijinho e benvinda ao Blogger.
Ana Lucia
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