ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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VILAR DE MOUROS, 1971 - O FILME

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O Festival de Vilar de Mouros foi uma ideia do médico António Augusto Barge, com o objectivo final de transformar Vilar de Mouros num destino turístico. A partir de 1965  aí se divulgou a música popular do Alto Minho e Galiza.
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Com o apoio e o incentivo dos filhos, o organizador decidiu, depois da edição de 1968, transformar o Festival, integrando música Pop e Rock, chegando a contactar Beatles, Rolling Stones, Moody Blues e Pink Floyd para ali actuarem. As dificuldades eram muitas, incluindo a oposição do regime e da Igreja, mas finalmente, em 1971, foi possível contratar Manfred Mann e Elton John bem como a maioria das melhores bandas portuguesas da época : Quarteto 1111, Pentágono, Sindikato, Chinchilas, Contacto, Objectivo, Bridge, Beartnicks, Psico, Mini-Pop, Pop Five Music Incorporated, Celos... Foram fixados os dias 7 e 8 de Agosto para este evento.
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Num país estagnado e isolado como era Portugal nessa altura, um fim de semana de música interpretada pelos nomes anunciados, num ambiente idílico e longe das famílias, era um atractivo irrecusável para todos os jovens portugueses. Lembro-me de pensar organizar uma excursão e saber até o preço de uma camioneta alugada especialmente para o efeito, que nos levaria na sexta-feira e nos traria no domingo à noite. Nunca pensei que o grupo inicial de dezenas de entusiastas fosse reduzido pelas reticências familiares a três pessoas : eu, o Pedro Nobre e o Nuno Mendes .

"A PIDE e um pelotão de 45 homens da GNR do Porto estiveram presentes no festival, mas numa atitude discreta.  Ao contrário das forças policias, a Igreja posicionou-se contra o evento e pedia aos pais que não deixassem os seus filhos ir ao festival por ser organizado por "pessoas de leste". A família Barge acabou inclusivamente por ser excomungada”. (Alexandra Sumares - RTP)

 Acabei por ir de comboio, gastando um dia inteiro no percurso (o que na altura era normal para atravessar metade do país). Mas no sábado lá estávamos, num dia de sol magnífico, com mais quatro ou cinco mil jovens como nós . Menos do que a organização esperava - tal como o Woodstock, o Vilar de Mouros acabou também em grande prejuízo para a organização (cerca de 1000 contos). Só Elton John recebeu 600 contos, uma fortuna para a altura. O único subsídio que existiu foi dado pelo Secretariado Nacional de Informação (30 contos).Os outros patrocínios prometidos falharam. Ao todo foram gastos cerca de 2500 contos, pagos pela família Barge.
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Os concertos decorreram Sábado e Domingo , começando às cinco da tarde e prolongando-se pela madrugada do dia seguinte. Os Manfred Mann encerraram o primeiro dia e Elton John o segundo. Eu tinha dezassete anos, feitos um mês antes; independentemente de algumas falhas de som e muitas demoras entre actuações, o convívio, a liberdade, as novas experiências, tornaram aqueles dias inesquecíveis para mim (e julgo que para a maioria dos outros presentes).

Não sei como consegui convencer o meu pai a emprestar-me a sua máquina de filmar de 8mm (infelizmente sem som)  para poder gravar as imagens do acontecimento mas o que é um facto é que o filme (que eu julgava perdido) reapareceu agora e aqui está para testemunhar o que foi o Festival de Vilar de Mouros de 1971 e a nossa passagem por lá. As imagens originais estão bastante degradadas, embora eu pense que seja possível talvez obter um filme digital um pouco melhor do que este que coloquei no Youtube com o inestimável colaboração do Vasco Baptista . Não se esqueçam que o filme é originalmente mudo, por isso não filmei os músicos mas a assistência . Além dos três alunos do ERO referidos estava lá (e está no filme) o Dr. Custódio Maldonado Freitas e a família, vejam com atenção...
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Por curiosidade acrescentei, no final do post, o relatório da PIDE sobre os dois dias do Festival. Uma pérola...


(NOTA : o filme teve 1150 visionamentos completos 
no YouTube, no espaço de um mês)

ANEXO
Relatório PIDE/DGS Vilar de Mouros '71
Assunto: Festival de música “Pop” em Vilar de Mouros

A seguir se transcreve o texto de uma informação redigida por um nosso elemento informativo que assistiu ao “festival” em questão, que teve lugar nos dias 7 e 8 do corrente, a qual se reproduz na íntegra, para não alterar os detalhes que foram alvo do seu espírito de observação:

“Dias antes do festival, foram distribuídos, nas estradas do País e nas estradas espanholas de passagem de França para Portugal, panfletos pedindo aos automobilistas que dessem boleias aos indivíduos que iam ver o festival.

No 1º dia, o espectáculo começou às 18h00 e prolongou-se até às 4 da manhã.
Ao anoitecer, o organizador, um tal Barge, anunciou que tinham sido vendidos 20 mil bilhetes (a 50$00 cada).
Esperavam vender 50 mil bilhetes para cobrir as despesas, que seriam aproximadamente a 2.500 contos.
Diziam que tiveram de mandar vir o conjunto Manfred Mann de Inglaterra, mas parece que estava no Algarve, e por isso, a despesa com eles não foi tão grande como parecia.

Um dos cantores, Elton John, causou desde o começo má impressão, com os seus modos soberbos e as suas exigências: carro de luxo para as deslocações, quartos de luxo para os acompanhantes e guarda-costas, etc.
O recinto do festival era uma clareira cercada de eucaliptos, com um taipal à volta e uma grade de arame do lado do ribeiro.

Na noite de 7 estavam muitos milhares de pessoas e muita gente dormiu ali mesmo, embrulhada em cobertores e na maior promiscuidade.
Entre outros havia:
crianças de olhar parado indiferentes a tudo
grupos de homens, de mão na mão, a dançar de roda
um rapaz deitado, com as calças abaixadas no trazeiro
um sujeito tão drogado que teve de ser levado em braços, com rigidez nos músculos
relações sexuais entre 2 pares, todos debaixo do mesmo cobertor na zona mais iluminada
sujeitos que corriam aos gritos para todos os lados
bichas enormes a comprar laranjadas e esperando a vez nas retretes (havia 7 ou 8 provisórias) mas apesar disso, houve quem se aliviasse no recinto do espectáculo.
porcaria de todo o género no chão (restos de comida, lama, urina) e pessoas deitadas nas proximidades

Viam-se algumas bandeiras. Uma vermelha com uma mão amarela aberta no meio (um dos símbolos usados na América pelos anarquistas); outra branca, com a inscrição “somos do Porto” com raios a vermelho e uma estrela preta.

A população da aldeia, e de toda a região, até Viana do Castelo, a uns 30 km de distância, estava revoltada contra os “cabeludos” e alguns até gritavam de longe ao passar “vai trabalhar”. Foram vistos alguns a comer com as mãos e a limparem os dedos à cabeleira.
Viam-se cenas indecentes na via pública, atrás dos arbustos e à beira da estrada.

Em Viana do Castelo dizia-se que os “hippies” tinham comprado agulhas e seringas nas farmácias da cidade.
Havia muitos estudantes de Coimbra, e outros que talvez fossem de Lisboa ou do Porto. Alguns passaram a noite em Viana do Castelo em pensões, e viam-se alguns de muito mau aspecto, parece que vindos de Lisboa, que ficaram numa pensão.

Houve gritos de Angola é… (qualquer coisa) durante a actuação do conjunto Manfred Mann (de que faz parte um comunista declarado, crê-se que chamado Hugg).
Fora do recinto, junto do rio e de uma capela, havia muitas tendas montadas e gente a dormir encostada a árvores ou muros e embrulhada em cobertores.
Houve grande confusão junto às portas de entrada.
Havia quatro bilheteiras em funcionamento permanente e muito trânsito.

Toda aquela multidão de famintos, sem recursos para adquirir géneros alimentícios indispensáveis, como se de uma praga de gafanhotos se tratasse, se lançou sobre as hortas próximas colhendo batatas e outros produtos hortícolas, causando assim, grandes contrariedades aos seus proprietários, muitos deles de débeis recursos económicos.
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comentários: 

 



Cesar Pratas
Excelente ideia a de publicar o texto promiscuo do promiscuo informador da PIDE. Ajuda à interpretação do que foi a ditadura.
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José Carlos Faria   

A prestimosa organização sempre presente: O seu relatório dá bem a dimensão da tacanhez e da mentalidade daquela gente. Pobre país...

Guida Sousa disse...
Não sei se gostei mais do filme,do texto e da excomunhão da família Barge ou do Relatório da PIDE!Genial!
É bom ver o blogue reanimado porque fico triste quando o vejo parado.
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IsabelS disse
Grandes recordações!

sixtiesjoe disse
Lembrei-me mais uma vez de quanto gostaria de lá ter estado.Mas o preço do bilhete,dos transportes e da estadia estava para lá das minhas possibilidades e os meus pais não ajudaram porque não queriam que eu fosse.Há poucos filmes deste Festival,ainda bem que este aqui apareceu!
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Victor disse:
É pena não ter som, mas como mostra o recinto e a assistência é um precioso documento de época, como já alguém escreveu. Gostei e recomendei a outros amigos.

Artur disse:
Não estive presente, era longe e caro ir a Vilar de Mouros.O ambiente mostrado no filme é realmente parecido com o que tenho visto em relação a Woodstock que foi dois anos antes.Gostei muito de ver o filme e ouvir o Mighty Quinn.
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Luis Santos disse:
 Foi em 1971 que, e apesar da ditadura, se produziu em Portugal a 1ª grande edição do Festival Vilar de Mouros,o maior festival de sempre no país. O clima de paz, amor e liberdade fez com o que o Vilar de Mouros de 71 fosse considerado, nacional e internacionalmente, como o Woodstock português. Elton John e Manfred Mann actuaram no fim-de-semana de 7 e 8 Agosto,com Quarteto 1111, Pentágono, Sindikato, Chinchilas, Contacto, Objectivo, Bridge, Beartnicks, Psico, Pop Five Music Incorporated,etc.

Luisa disse
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José Manuel disse:
Não conheço realmente nenhum filme a cores de Vilar de Mouros.Só filmes a preto & branco com escassos segundos de actuações de algumas bandas. Porque é que este filme esteve escondido tanto tempo? É um documento único!!!
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Inês disse:
Muito giro!
Parabéns ao amador pela realização impecável. Um documento de época, bem interessante!
vicmanval disse :
Também estive em Vilar de Mouros em 1971 e este filme é um documento extraordinário para a história da música e dos seus festivais e para a compreensão de uma geração, ainda debaixo do regime fascista. Obrigado por esta fantástica memória.
Seaman disse:
Ehehehehehehehehe isto ficou mesmo bom !
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Anónimo deixou um novo comentário:
Nice post! I love your blog.

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 Anónimo disse...
Acho estranho que depois de tanto sucesso na era da "ditadura" o Festival não existir na "democracia" dando lugar a outros festivais que anularam aquele,com tantas "pides" que há agora, porquê?
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Resposta a "Anónimo":

1 - Lamento sempre que as pessoas não assinem os comentários que escrevem;
2 - O Festival de Vilar de Mouros teve várias edições depois do 25 de Abril. Assisti também à de 1982, que  foi um enorme sucesso, mas houve mais posteriormente. Nunca foi "anulado";

3 - Penso ter ficado claro no texto do post que foi maior a oposição da Igreja do que a do regime à realização do Festival;
4 - A Pide não proibia nem autorizava espectáculos, limitava-se a impedi-los ou vigiá-los, conforme as ordens que recebia do Governo;
5 - Conheço vários casos de serviços de informação que são utilizados abusivamente hoje para fins ilícitos, mas desconheço que haja "tantas pides" agora. Esclareça-me.

5 comentários:

Guida Sousa disse...

Não sei se gostei mais do filme,do texto e da excomunhão da família Barge ou do Relatório da PIDE!Genial!
É bom ver o blogue reanimado porque fico triste quando o vejo parado

Anónimo disse...

vicmanval has made a comment on FESTIVAL DE VILAR DE MOUROS, 1971 :

Também estive em Vilar de Mouros em 1971 e este filme é um documento extraordinário para a história da música e dos seus festivais e para a compreensão de uma geração, ainda debaixo do regime fascista. Obrigado por esta fantástica memória.

Anónimo disse...

Acho estranho que depois de tanto sucesso na era da "ditadura" o Festival não existir na "democracia" dando lugar a outros festivais que anularam aquele,com tantas "pides" que há agora, porquê?

Anónimo disse...

Nice post! I love your blog.

Margarida Pires Amaro disse...

Adorei ver o filme, ouvi falar durante anos do Festival e nunca lá fui pois em 71 tinha 1 ano de idade, mas fui vários anos vizinha no mesmo prédio do Dr. Barge e tenho muito carinho por ele e pela família e adorei ver as imagens.