ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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O PEUGEOT DA AVÓ

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Já algumas vezes me perguntaram quanto tempo demora uma viagem Foz do Arelho – Caldas a pé. É uma pergunta difícil mas diz-me a experiência, agora que o texto do João Serra sobre as noites do Virgílio Pestana me avivou a memória, que depende das circunstâncias, da hora do dia, das condições climatéricas e até da família do caminhante.
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Passo a explicar.

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A garagem ficava ali no primeiro quarteirão da Rua da Fonte do Pinheiro, uma transversal à Av. Primeiro de Maio, muito perto de onde vivo ainda hoje. Ao lado havia uma pequena taberna, local de encontro de vizinhos e amigos, hoje desaparecida. Para quem conhece as Caldas, ficava mesmo por trás da actual Farmácia Rosa. A rua é estreita, qualquer carro que ali passava era ouvido pelos moradores, que na altura eram mais que hoje e se conheciam melhor. Esse era o problema! Porque dentro da garagem estava o automóvel da avó do João Hespanhol que significava a possibilidade de uma viagem às inúmeras atracções oferecidas pelas povoações próximas das Caldas e que seriam de outra forma inacessíveis. E eram tantas … Foz e S. Martinho eram irresistíveis no Verão, Alfeizerão e Óbidos todo o ano, Bombarral, Vermelha e Cadaval tinham magníficos bailes das Vindimas, lembro-me de locais inesperados como o Campo, a Sancheira, o Painho, Salir, etc, terem festas e bailaricos de dimensões surpreendentes, comiam-se umas bifanas inesquecíveis na Matoeira e nas Gaeiras… Claro que a maioria dos frequentadores e residentes desses locais suspiravam por vir às Caldas ao Casino, ao Ferro Velho ou à Azenha e percebiam mal como é que alguém fazia o trajecto inverso, mas suponho que esse seja um eterno mistério do comportamento humano.

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Mas, com tudo isto, esqueci-me do Peugeot 203 que estava dentro da garagem.

Como eu estava a explicar, não era possível retirar a viatura com o motor a trabalhar porque isso atrairia a atenção dos vizinhos e, principalmente, da sua proprietária, a avó do meu amigo que vivia mesmo por cima. O facto de nem ele nem nós, os seus companheiros de viagens, possuirmos carta de condução contribuía fortemente para a relutância da senhora em emprestar o tão desejado meio de transporte. Era pois necessário abrir o portão e empurrar o carro à mão, só usando a ignição depois de virar a esquina da Avenida. A partir daí, era sempre a abrir! Os viajantes (aventureiros) e os locais de destino foram variando ao longo do tempo.
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Foi o último baile da época balnear na FNAT que nos atraiu nessa noite para a Foz: eu, o Miguel Bento Monteiro, o João Hespanhol (conhecido pelo Spa) e o Santiago Freitas (o Freitax). Juntámos oito paus para dois litros de gasolina, que metemos na bomba frente ao Quartel, e lá fomos. Tivemos a habitual dificuldade para entrar, penso que os bailes eram reservados aos residentes e meia-dúzia de habitués, e a enorme decepção de verificar que o último turno de veraneantes era constituído só por adultos, muitos já idosos, não incluindo as formosas donzelas com que sonháramos ao idealizar a viagem.

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Foram pois quatro desiludidos adolescentes que, à uma da manhã, decidiram voltar para as Caldas. Uma última tentativa de ir beber uma cerveja ao Hotel do Facho esbarrou no silêncio e escuridão do edifício onde os hóspedes já dormiam não havendo, neste final de Setembro, forasteiros que mantivessem o bar aberto até estas horas, como acontecia frequentemente em Julho e Agosto…O condutor deu a volta e quis aproveitar a luz dos faróis para ver o mar mas, quando travou, ouvimos um barulho de metal a ceder e a parte de trás do automóvel assentou no chão! Saímos todos e, embora desconhecendo os princípios básicos do funcionamento de um Peugeot 203 (ou de qualquer outra viatura motorizada) percebi, pelo tom de voz com que o diagnóstico foi pronunciado, que era certamente grave:

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-Partiu-se o semi-eixo!

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Era mesmo grave; fiquei a saber que, naquelas circunstâncias, a imobilidade do veículo é tão irresolúvel como a do mais teimoso dos burros. As rodas traseiras faziam um ângulo de 45º com o solo, os guarda-lamas estavam amolgados, as portas abriram mas já não fecharam convenientemente… um cenário de verdadeira catástrofe.

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Com tudo isto eram duas da manhã, as Caldas estavam a dez quilómetros e rapidamente verificámos que nenhum veículo (principalmente o nosso) iria percorrê-los antes da manhã seguinte. Restava-nos regressar “à pata”… em ocasiões anteriores (poucas e, ao contrário desta, voluntárias) tínhamos efectuado dessa forma o trajecto em pouco menos de duas horas. Mas foi aqui que dois poderosos factores motivadores entraram em cena: além de estar frio e vestirmos apenas camisas e t-shirts, não estava certamente nos planos dos nossos pais a chegada a casa por volta das quatro da manhã dos seus filhos. Foi pois num passo muito acelerado que bati o record dos 10.000 m (o meu, pelo menos, gastando cerca de 40 minutos), sempre acompanhado pelos outros atletas, que enfrentavam problemas semelhantes.

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Claro que havia ainda a questão de informar a proprietária do Peugeot da sua má sorte, como se foi tristemente lamentando o João Hespanhol durante todo o trajecto, enquanto arfava audivelmente. O Miguel, atleta consciencioso e pessoa de temperamento optimista, foi-lhe respondendo:

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- Não fales, que só te cansas mais. E pode ser que o carro não tenha nada, que esteja só alguma coisa desencaixada….

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João Jales
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C O M E N T Á R I O S
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António J M disse...
Deve haver muitas histórias destas por aí,a paixão da malta nova pelos automóveis é de sempre e é imparável!Não há é muitos que tenham a capacidade de a contar com este humor e mestria.Parabens JJ!AJM
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jorge disse...
"obrigam-me" a comentar duas vezes na mesma semana mas depois do mini do pestana que ia ao aeroporto não podia deixar de elogiar esta história tão real que nos leva à foz.tambem voltei mais de uma vez de lá a pé,não por avaria mas por falta de boleia...magnífico escrito.j
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Artur Henrique Ribeiro Gonçalves disse:
Ao ler histórias de proveito e exemplo como esta é que me apercebo como foi pacata a minha passagem pelas CdR...
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João Serra disse:
Curioso. De repente, surgiu aqui um filão de memórias que tem a ver com automóveis, numa época em que eles eram acessíveis apenas a um segmento restrito da sociedade, depois de termos aqui evocado a magia do aeroporto,num tempo em que saír de Portugal era também uma prática incomum.
Julgo que antes tinhamos também abordado ­- ou estarei a fazer confusão? - o surto das motoretas que alterou a relação da periferia rural com a cidade.Em todos estes domínios, lembro-me de episódios curiosos, significativos,que ajudam a evocar e matizar um tempo que morreu.
Os comentários e textos magníficos que aqui vão surgindo, cruzando trajectos e reminiscências pessoais e de geração distintas, emprestam um novo elan a este blogue.
Obrigado, João Jales, pelo sugestivo texto que nos oferece e pela sábia gestão diária deste blogue.
João Serra
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Ana Braga disse:

Gostei muito da estória do "Peugeot da Avó", como aliás tenho gostado de todas as que tenho lido do João Jales, neste blog onde agora me iniciei. São textos muito bem escritos, vivos e cheios de humor, que retratam primorosamente as vivências juvenis que, afinal, são de todos nós. Acho imensa piada quando dou por mim, divertidíssima, a ler textos sobre pessoas que não conheço, mas que,no entanto, viveram situações com as quais me identifico perfeitamente - basta sermos da mesma geração! Os acontecimentos, as peripécias não diferem muito, vivessemos nós nas Caldas, em Coimbra ou noutra qualquer cidadezinha de província, naquele Portugal dos anos 60/70. Este texto, assim como um anterior do João Bonifácio Serra, sobre as misteriosas saídas nocturnas do Virgílio, são a prova evidente de que era habitual os rapazes, de um modo geral, saberem conduzir antes de terem idade para tirar a carta. E quem é que os ensinava a guiar? Nos casos que eu conheço, eram os próprios pais ou os avós que faziam essa iniciação, ensinando os meninos com todo o afinco, para depois de concluída a tarefa, os proibirem de o fazer. Contradições!Deviam achar que isso fazia parte da educação masculina, como era noutros tempos o saber andar a cavalo ou conhecer as artes da guerra?!Lá em casa, pelo menos foi assim, julgo que o meu irmão já sabia guiar automóvel antes dos 10 anos e gabava-se, não sei se foi verdade, que o nosso avô o tinha deixado conduzir com essa idade, o seu Citroen "arrastadeira" no trajecto entre Mangualde e Nelas!?
Pelo contrário, a maior parte das raparigas do meu tempo só começava a aprender a guiar na primeira lição de condução - pelo menos foi o que aconteceu comigo - daí talvez o mito de que as mulheres conduzem pessimamente(ideia com a qual não estou nada de acordo, devo dizer). E já eu levava uma boa dúzia de lições, quando ousei pedir ao meu pai se podia dar uma volta no carro dele ao que o senhor lá acedeu, não sei se por influência da minha mãe, o certo é que durante todo o trajecto, numa estrada secundária, reparei que ele ía muito apreensivo, não sei se por temer pela vida, se apenas com medo que eu lhe desse cabo do veículo. E a discriminação não se limitava a essa fase pré carta, digamos, pois lembro-me de que já a minha irmã tinha carta e ainda nos aconteceu sair de noite às escondidas, utilizando a técnica do empurrão para fora da garagem e ao longo do jardim. Felizmente, tratava-se de um automóvel pequeno, caso contrário as duas, sendo mulheres, não conseguiriamos empurrar o carro. Se calhar era por isso que não nos ensinavam a guiar mais cedo - se nos metessemos em sarilhos, não teríamos força para empurrar. Bem vistas as coisas...
Ana Braga
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Fátima Clérigo disse...
Recordam-se Vocês do Bom Tempo d'Outrora

Recordam-se vocês do bom tempo d'outrora,
Dum tempo que passou e que não volta mais,
Quando íamos a rir pela existência fora
Alegres como em Junho os bandos dos pardais?
C'roava-nos a fronte um diadema d'aurora,
E o nosso coração vestido de esplendor
Era um divino Abril radiante, onde as abelhas
Vinham sugar o mel na balsâmina em flor.
Que doiradas canções nossas bocas vermelhas
Não lançaram então perdidas pelo ar!...
Mil quimeras de glória e mil sonhos dispersos,
Canções feitas sem versos (…)
E que nós, (,,,) havemos “de continuar” a cantar!

Por isso, quando o Sol da vida já declina,
Mostrando-nos ao longe as sombras do poente,
É-nos doce parar na encosta da colina
E volver para trás o nosso olhar plangente,
Para trás, para trás, para os tempos remotos
Tão cheios de canções, tão cheios de embriaguez,
Porque, ai! A juventude é como a flor do lótus,
Que em cem anos floresce apenas uma vez.
(…)
Assim, Amigos meus, eu vou sobre um tesouro,
(…)
Desprender, desfolhar estas canções sem nexo,
Estas pobres canções, tão simples, tão banais,
Mas onde existe ainda um “vivo” reflexo
Do tempo que passou, e que não volta mais.

Poema de Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias', ligeiramente adaptado por mim, nas palavras entre aspas.

Um tempo que volta sempre, essencialmente pela forma, que tão vivamente aqui o recordam.
Duplamente Parabéns JJ, pelo excelente e expressivo texto e por persistir na “sobrevida” deste Blogue, que é sempre um verdadeiro Prazer acompanhar.

Bjs

Fátima
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Julia R disse:
Mais uma estória fascinante do amigo Jales! Isso é que foi bater o record...e porque não tentares outro?
Realmente recordo que os rapazes eram muito precoces na aprendizagem da condução - mal sabiam os papázinhos o que daí viria !
Vou contar-vos a minha "odisseia" quando tirei a carta. Chego à escola de condução e o Sr. Capela (o instrutor) interroga-me sobre algumas questões a que vou respondendo naturalmente... a certa altura diz-me: agora vamos pôr o pé direito no pedal do acelerador e eis a minha 1ª grande dúvida! Não a do pé... mas a identificação dos pedais!
Este post sugeriu-me uma ideia: que tal organizar uma maratona do ERO das Caldas à Foz ? Considera-me inscrita...
Obrigada João por me proporcionares mais uns momentos agradáveis no nosso blog.
Júlia R
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M do Rosário disse...
Parabéns,João Jales,por esta deliciosa narrativa num estilo tão realista e bem humorado.
Lembro-me bem da importãncia,na época, da condução precoce e do que representava o automóvel para a juventude masculina. Por isso,sorri durante toda a leitura desta excelente estória que,agradavelmente me fez recuar no tempo. Porém,terminada a leitura,ficou-me uma curiosidade-e a AVÓ?
MRosário Pimentel
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Ana Lúcia disse:
Fantástica narrativa.
É uma passagem que deixa algumas saudades desses belos tempos de infância e, como alguém comentou, nos faz pensar que houve realmente gente que se divertiu a grande... (...)
Ana Lúcia

9 comentários:

Casa da Caldeira disse...

Gostei muito da estória do "Peugeot da Avó", como aliás tenho gostado de todas as que tenho lido do João Jales, neste blog onde agora me iniciei. São textos muito bem escritos, vivos e cheios de humor, que retratam primorosamente as vivências juvenis que, afinal, são de todos nós. Acho imensa piada quando dou por mim, divertidíssima, a ler textos sobre pessoas que não conheço, mas que,no entanto, viveram situações com as quais me identifico perfeitamente - basta sermos da mesma geração! Os acontecimentos, as peripácias não diferem muito, vivessemos nós nas Caldas, em Coimbra ou noutra qualquer ciddezinha de província, naquele Portugal dos anos 60/70. Este texto, assim como um anterior do João Bonifácio Serra, sobre as misteriosas saídas nocturnas do Virgílio, são a prova evidente de que era habitual os rapazes, de um modo geral, saberem conduzir antes de terem idade para tirar a carta. E quem é que os ensinava a guiar? Nos casos que eu conheço, eram os próprios pais ou os avós que faziam essa iniciação, ensinando os meninos com todo o afinco, para depois de concluída a tarefa, os proibirem de o fazer. Contradições!Deviam achar que isso fazia parte da educação masculina, como era noutros tempos o saber andar a cavalo ou conhecer as artes da guerra?!Lá em casa, pelo menos foi assim, julgo que o meu irmão já sabia guiar automóvel antes dos 10 anos e gabava-se, não sei se foi verdade, que o nosso avô o tinha deixado conduzir com essa idade, o seu Citroen "arrastadeira" no trajecto entre Mangualde e Nelas!?
Pelo contrário, a maior parte das raparigas do meu tempo só começava a aprender a guiar na primeira lição de condução - pelo menos foi o que aconteceu comigo - daí talvez o mito de que as mulheres conduzem pessimamente(ideia com a qual não estou nada de acordo, devo dizer). E já eu levava uma boa dúzia de lições, quando ousei pedir ao meu pai se podia dar uma volta no carro dele ao que o senhor lá acedeu, não sei se por influência da minha mãe, o certo é que durante todo o trajecto, numa estrada secundária, reparei que ele ía muito apreensivo, não sei se por temer pela vida, se apenas com medo que eu lhe desse cabo do veículo. E a descriminação não se limitava a essa fase pré carta, digamos, pois lembro-me de que já a minha irmã tinha carta e ainda nos aconteceu sair de noite às escondidas, utilizando a técnica do empurrão para fora da garagem e ao longo do jardim. Felizmente, tratava-se de um automóvel pequeno, caso contrário as duas, sendo mulheres, não conseguiriamos empurrar o carro. Se calhar era por isso que não nos ensinavam a guiar mais cedo - se nos metessemos em sarilhos, não teríamos força para empurrar. Bem vistas as coisas...

António J M disse...

Deve haver muitas histórias destas por aí,a paixão da malta nova pelos automóveis é de sempre e é imparável!Não há é muitos que tenham a capacidade de a contar com este humor e mestria.
Parabens JJ!AJM

Fátima Clérigo disse...

Recordam-se Vocês do Bom Tempo d'Outrora

Recordam-se vocês do bom tempo d'outrora,
Dum tempo que passou e que não volta mais,
Quando íamos a rir pela existência fora
Alegres como em Junho os bandos dos pardais?
C'roava-nos a fronte um diadema d'aurora,
E o nosso coração vestido de esplendor
Era um divino Abril radiante, onde as abelhas
Vinham sugar o mel na balsâmina em flor.
Que doiradas canções nossas bocas vermelhas
Não lançaram então perdidas pelo ar!...
Mil quimeras de glória e mil sonhos dispersos,
Canções feitas sem versos (…)
E que nós, (,,,) havemos “de continuar” a cantar!

Por isso, quando o Sol da vida já declina,
Mostrando-nos ao longe as sombras do poente,
É-nos doce parar na encosta da colina
E volver para trás o nosso olhar plangente,
Para trás, para trás, para os tempos remotos
Tão cheios de canções, tão cheios de embriaguez,
Porque, ai! A juventude é como a flor do lótus,
Que em cem anos floresce apenas uma vez.
(…)
Assim, Amigos meus, eu vou sobre um tesouro,
(…)
Desprender, desfolhar estas canções sem nexo,
Estas pobres canções, tão simples, tão banais,
Mas onde existe ainda um “vivo” reflexo
Do tempo que passou, e que não volta mais.

Poema de Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias', ligeiramente adaptado por mim, nas palavras entre parêntesis.

Um tempo que volta sempre, essencialmente pela forma, que tão vivamente aqui o recordam.
Duplamente Parabéns JJ, pelo excelente e expressivo texto e por persistir na “sobrevida” deste Blogue, que é sempre um verdadeiro Prazer acompanhar.

Bjs

Fátima

jorge disse...

"obrigam.me" a comentar duas vezes na mesma semana mas depois do mini do pestana que ia ao aeroporto não podia deixar de elogiar esta história tão real que nos leva à foz.tambem voltei mais de uma vez de lá a pé,não por avaria mas por falta de boleia...magnífico escrito.j

Anónimo disse...

Ao ler histórias de proveito e exemplo como esta é que me apercebo como foi pacata a minha passagem pelas CdR...

Artur Henrique Ribeiro Gonçalves.

Unknown disse...

Renault Dauphine
No inicio dos anos 60’s o meu pai resolveu comprar um carro. Entre o Renault Gordini (4 velocidades para a frente e uma para traz), e o Renault Dauphine (3 velocidades para a frente e uma para traz) optou pelo segundo. Aspecto exterior igual mas de preço e performance diferentes.
Um dia deixou-me conduzir um pouco e lá segui para Caldas. Primeira… arranco, entro na estrada principal, por alturas da saída de S. Martinho meto a segunda… e vai de acelerar… meto a terceira, apanho a recta da Caldeira e perto deste edifício… bem lançado… meto a quarta e… era uma vez um carro!!!
Não chegou a Alfeizerão.
Um abraço
A.Justiça

Anónimo disse...

Parabéns,João Jales ,por esta deliciosa narrativa num estilo tão realista e bem humorado.Lembro-me bem da importãncia,na época, da condução precoce e do que representava o automóvel para a juventude masculina.Por isso,sorri durante toda a leitura desta excelente estória que,agradavel
mente me fez recuar no tempo.
Porém,terminada a leitura,ficou-me uma curiosidade-e a AVÓ?

MRosário Pimentel

Anónimo disse...

Fantástica narrativa.

É uma passagem que deixa algumas saudades desses belos tempos de infância e, como alguém comentou, nos faz pensar que houve realmente gente que se divertiu a grande...

Ana Lúcia

Anónimo disse...

hi, new to the site, thanks.