ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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AINDA 1975 (A. Justiça)

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Alfredo Justiça escreveu:
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Fiz a guerra colonial numa província onde, assim que coloquei os pés em terra firme, no porto marítimo da Beira, senti, por parte dos chamados colonos, o ódio da recepção ao ponto de proferirem, cara a cara, sem pejo e respeito o seguinte apupo:
- Que vens para aqui fazer? Terrorismo? Não precisamos cá de ti.
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Jorge comentou:
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Não refere a data em que tal facto aconteceu. Se foi em 1975, talvez encontre explicação para a recepção que teve. Eu estava em Angola na altura, às voltas com o meu repatriamento e as histórias que corriam sobre o comportamento dos militares em Moçambique no periodo de 1974-75 até à sua independência, não eram nada abonatórias da farda que vestiam.
Cordiais cumprimentos.
Jorge Nicola
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Alfredo respondeu:
Amigo Jorge Nicola, se tivesse acompanhado o Blog saberia que estive na guerra colonial em Moçambique nos anos 1971, 1972 e 1973 e que fiz a comissão em Mueda, Cabo Delgado, Planalto dos Makondes, fronteira com a Tanzânia.


Por outro lado a farda não se veste, enverga-se, e usa-se com orgulho e devoção pátrio que, parece, é coisa que hoje não se sabe bem o significado.

O ambiente de guerra existente em Angola era bem diferente do de Moçambique pois em Luanda era mesmo “ali ao lado” enquanto que Lourenço Marques estava a mais de mil kilómetros e os combates só aconteciam de Nampula para cima, norte, ela nunca veio para sul e as evacuações em helicópteros, de feridos e mortos, não sobrevoavam estas cidades pelo que, até sobre este aspecto, estas cidades eram poupadas ao flagelo não só da guerra como, bem pior, psicologicamente.

Não direi que o desconhecimento, na capital, sobre o que se passava “nas zonas quentes” era total mas as noticias eram bem filtradas, só assim se percebe o porquê da proibição do uso de camuflado e bem assim o uso de trajo civil aquando qualquer estadia nestas cidades do sul, se não estivéssemos de serviço.

Só que ninguém avisou “os checas”, quando desembarcamos no porto da Beira, que o deveríamos fazer à civil e não fardados, com a agravante de ostentarmos divisas amarelas nos ombros transformando-nos assim em responsáveis e ofensores à boa harmonia, paz e tranquilidade de um burgo que tinha uma vaga ideia de que, talvez, a mil kilómetros lá mais para norte se travassem combates de vida e morte, na tentativa de travar a ascensão comunista evitando que estes tomassem conta de território avesso a este regime politico.

Recordo que, anos mais tarde, muitos anos mesmo, em conversa com amigos, alguns deles com cerca de 80 anos de idade, disse que, numa incursão que fiz ao cemitério de Mueda, ainda lá vi campas de militares que tinham morrido durante a segunda guerra mundial, na defesa da fronteira norte de Moçambique contra os alemães. Passei por mentiroso fantasista porque o país não tinha entrado nessa guerra e por conseguinte não houve mortes. Fiquei atónito a olhar para as pessoas que me contradiziam. Será que pensam que durante 500 anos só nesta época, a da guerra colonial, é que foram enviados militares defenderem as províncias ultramarinas?... mas depois caí em mim e lembrei-me do tabu em volta da vivência, não secreta, mas muito restrita, do que por lá acontecia.
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Por isso, amigo Jorge, não acredite em tudo o que os interesses instalados fizeram circular em Luanda no ano de 1975. Não saio em defesa ou repúdio para a sua frase “e as histórias que corriam sobre o comportamento dos militares em Moçambique no período de 1974-75 até à sua independência, não eram nada abonatórias da farda que vestiam.” Não estava lá, nem em Angola nem em Moçambique, para aquilatar o ambiente vivido mas dificilmente me convencem que homens, especialmente furriéis, alferes, tenentes e capitães, enfim os milicianos, homens com conhecimento e cultura acima da média se comportassem fora de ética que desde os bancos da escola nos foi ensinada.

1 comentário:

PLB disse...

Caro Alfredo Justiça:

A alusão à segunda guerra mundial, em Moçambique, foi com certeza um lapso, na primeira guerra mundial é que tivemos que defender a fronteira norte de Moçambique dos alemães.

http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_mocam02.html

http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_mocam04.html

abraço
Pedro Bandeira