Pela mão da Ana Braga abri e li, fechei e reabri a janela do João e li, de ambas as vezes, de um só fôlego o relato de uma “caldista” de coração, sem corpo presente, pois na altura a sua cidade era Coimbra.Um texto soberbo que relata a sua vivência infantil, escola primária, e juvenil, escola secundária, as viagens de camioneta e comboio, de e para as escolas, e a feliz coincidência do primeiro encontro com o João comprovando que afinal o nosso País é uma grande Aldeia.
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O seu comentário sobre o “nacional cançonetismo” referindo o António Mafra, Hermínia Silva e as suas canções deixaram-me, a princípio,desiludido mas depois fiz um exame retrospectivo… espera lá… naquela idade e situação pensavas da mesma maneira, ou até nem pensavas, simplesmente, este tipo de canções não te dizia nada, quando o rádio a pilhas as transmitia mudavas de estação, querias era Adamo, Beatles,Johnny Hallyday e tantos outros, Françoise Hardy, France Gall, Dalida...e só lá longe, a milhares de kilómetros do ninho, anos mais tarde,quando a saudade atacou forte e feio, quando o segundo seguinte da tua vida era incerto no teu quotidiano, quando tinhas o medo por companhiae por vezes as lágrimas à flor dos olhos, quando os nervos e a ansiedade tomava conta do teu ser, começaste a apreciar o que afinal era teu, nosso, e nos anos seguintes, cada vez mais passaste arespeitar o que por cá era feito.Depois deste exame, sorri, fiquei melhor comigo mesmo.
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Não há dúvida que só se pode sentir este sentimento estranho, saudade, aquando da ausência das coisas.Não devo ter conhecido alguma vez a Ana ou o João mas conheci bem o Prof. Calheiros Viegas, por quem tive a honra e o prazer de ser chamado amigo, principalmente quando em 1966, sob a sua sábia e inteligente orientação, eu os meus colegas de equipa lhe demos o primeiro lugar e respectiva taça do torneio inter-turmas em andebol da Escola Comercial e Industrial de Caldas da Rainha.Guardo religiosamente a fotografia tirada nesse ano pois foi, para nós, um marco histórico.
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Ainda hoje recordo o seu semblante, transbordando alegria e felicidade com o triunfo alcançado e a gratidão sentida quando lhe oferecemos a taça para que a guardasse na sua sala de troféus.
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A primeira fotografia é bem representativa porque, apesar da rivalidade desportiva que reinou ao longo desse ano de jogos de competição, ao ser convidado para ficar na fotografia dos campeões o Prof. Silva Bastos não se fez rogado em aceitar e posou connosco. Dois grandes Senhores que muito saber nos transmitiram, não só no desporto, mas no convívio, camaradagem, sacrifício e espírito de equipa.
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Ao Prof. Calheiros Viegas, um senhor… um GRANDE SENHOR.
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Um abraço
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A. Justiça
Ainda hoje recordo o seu semblante, transbordando alegria e felicidade com o triunfo alcançado e a gratidão sentida quando lhe oferecemos a taça para que a guardasse na sua sala de troféus.
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A primeira fotografia é bem representativa porque, apesar da rivalidade desportiva que reinou ao longo desse ano de jogos de competição, ao ser convidado para ficar na fotografia dos campeões o Prof. Silva Bastos não se fez rogado em aceitar e posou connosco. Dois grandes Senhores que muito saber nos transmitiram, não só no desporto, mas no convívio, camaradagem, sacrifício e espírito de equipa.
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Ao Prof. Calheiros Viegas, um senhor… um GRANDE SENHOR.
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Um abraço
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A. Justiça
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C O M E N T Á R I O S
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Guida Carvalho da Silva
Janelas que se vão abrindo... uma a uma, devagarinho, sem pressas, janelas que se abrem para o passado de cada um de nós e que nos vão trazendo tantas recordações fantásticas.
Janelas que se vão abrindo... uma a uma, devagarinho, sem pressas, janelas que se abrem para o passado de cada um de nós e que nos vão trazendo tantas recordações fantásticas.
Janelas que nos encantam a todos e que me deixam a mim, completamente admirada com tanta gente a escrever tão bem!!!! Que bom que é poder recordar, que bom que é poder ir espreitar a cada uma dessas janelas e através dos olhos e da memória de cada um, reviver tantos momentos únicos de um tempo que não voltaria mais, se não fossem essas janelas mágicas, abertas de par em par, para nos transmitirem a frescura dessa nossa juventude perdida que se recorda e reencontra em cada janela que se abre.
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Ana Braga disse:
Fiquei muito contente por saber que o meu post despertou no Alfredo Justiça memórias tão gratas da sua juventude. Este folhear sereno dos nossos álbuns de recordações é saudável e leva-nos a trazer à luz do dia pessoas e factos que não seria justo esquecer. Neste caso, a tão merecida homenagem ao Dr. Calheiros Viegas, não esquecendo, evidentemente as equipas de jovens que ele treinava.
Quanto ao “nacional cançonetismo” a que me referi, acho que o Alfredo percebeu bem, mas devo reforçar essa ideia, confirmando que naquela altura, e naquela idade não apreciávamos de todo a música que por cá se fazia, preferindo, de longe, o que nos chegava do estrangeiro, sobretudo tendo em conta que se tratou de uma época especialmente rica em produções musicais de grande qualidade.
Havendo pouco acesso aos discos, que demoravam a chegar a Portugal, lembro-me que os meus irmãos e eu nos mantínhamos informados, escutando atenta e diariamente a Radio Caroline, famosa rádio pirata, que transmitia de um navio fundeado ao largo de Inglaterra, através de uma galena, que o meu irmão construira sozinho, com o material que vinha incluído num curso de electricidade por correspondência. E, pasme-se: o invólucro desse pequeno rádio era uma singela caixa de charutos que ele encontrou perdida lá por casa!
Foi através desse objecto mágico, feito pelo Zé, que padecia de “engenheirite” aguda e congénita, que no dia 22 de Novembro de 1963 ouvimos a notícia da morte de J.F.Kennedy, tinha eu 11 anos e a equipa de Alfredo Justiça, “sob a sábia e inteligente orientação do Dr. Calheiros Viegas”, vencia o torneio inter-turmas em andebol da Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha.
Nota: Devo acrescentar que eu sentia essa galena um pouco como obra minha, e apregoava isso descaradamente, aos quatro ventos, pois ajudara o meu irmão, segurando, atenta, no ferro de soldar.
Ana Braga
Quanto ao “nacional cançonetismo” a que me referi, acho que o Alfredo percebeu bem, mas devo reforçar essa ideia, confirmando que naquela altura, e naquela idade não apreciávamos de todo a música que por cá se fazia, preferindo, de longe, o que nos chegava do estrangeiro, sobretudo tendo em conta que se tratou de uma época especialmente rica em produções musicais de grande qualidade.
Havendo pouco acesso aos discos, que demoravam a chegar a Portugal, lembro-me que os meus irmãos e eu nos mantínhamos informados, escutando atenta e diariamente a Radio Caroline, famosa rádio pirata, que transmitia de um navio fundeado ao largo de Inglaterra, através de uma galena, que o meu irmão construira sozinho, com o material que vinha incluído num curso de electricidade por correspondência. E, pasme-se: o invólucro desse pequeno rádio era uma singela caixa de charutos que ele encontrou perdida lá por casa!
Foi através desse objecto mágico, feito pelo Zé, que padecia de “engenheirite” aguda e congénita, que no dia 22 de Novembro de 1963 ouvimos a notícia da morte de J.F.Kennedy, tinha eu 11 anos e a equipa de Alfredo Justiça, “sob a sábia e inteligente orientação do Dr. Calheiros Viegas”, vencia o torneio inter-turmas em andebol da Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha.
Nota: Devo acrescentar que eu sentia essa galena um pouco como obra minha, e apregoava isso descaradamente, aos quatro ventos, pois ajudara o meu irmão, segurando, atenta, no ferro de soldar.
Ana Braga
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Luis disse:
Não param as memórias,que são aqui como as cerejas.Lembro-me bem do pai do João e do seu contagiante amor pelo desporto(vários).É justa a homenagem e a evocação.
Também não morria de amores pelo nacional-cançonetismo e preferia ouvir alguns dos nomes que o Justiça refere.Embora ache graça,devido ao distanciamento,a algumas canções portuguesas daquela época ainda hoje é evidente que nunca se produziu cá nada ao nível de nenhum dos grandes nomes internacionais,até porque não havia condições para isso.
Nunca mais acabam as Janelas!Ainda Bem...L
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jorge disse...
é pena o joão calheiros viegas não responder a tudo o que aqui tem sido escrito,especialmente sobre o seu pai como acontece neste texto do alfredo j.o autor tem sempre uma perspectiva muito pessoal de todos os acontecimentos,o que é enriquecedor para o blogue!abraço.j.
J.L. Reboleira Alexandre disse...
Na altura em que o Alfredo andava a defender o império estava eu, parafraseando a Ana Braga, a tentar decifrar se o Kerensky fora ou não um traidor do proletariado, ou mais, um miserável renegado! Nenhum de nós o conheceu mas, quem não se lembra do renegado Kerensky?
é pena o joão calheiros viegas não responder a tudo o que aqui tem sido escrito,especialmente sobre o seu pai como acontece neste texto do alfredo j.o autor tem sempre uma perspectiva muito pessoal de todos os acontecimentos,o que é enriquecedor para o blogue!abraço.j.
J.L. Reboleira Alexandre disse...
Na altura em que o Alfredo andava a defender o império estava eu, parafraseando a Ana Braga, a tentar decifrar se o Kerensky fora ou não um traidor do proletariado, ou mais, um miserável renegado! Nenhum de nós o conheceu mas, quem não se lembra do renegado Kerensky?
Como me dão vontade de rir estas nossas preocupações quando tinhamos 20 anos. Mas enfim, foi o somatório de tudo isto que deu o resultado do que somos hoje.Agora podemos fazer o balanço, e realizar que o saldo é positivo.
Lanço também daqui o desafio ao João, para abrir algumas das infinitas janelas que tem para nos abrir. Não sei se caberão num pequeno espaço como este, mas vá lá meu amigo, pega na caneta e mãos à obra.
Abraço
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J J disse...
Apreciei o post do Alfredo pela "reflexão musical", pela evocação de uma figura caldense que conheci bem e com quem convivi muito (não no andebol, mas no ténis) e pelo facto de, como fez notar o Jorge, haver sempre uma grande carga pessoal na sua escrita que a torna única.
Apreciei o post do Alfredo pela "reflexão musical", pela evocação de uma figura caldense que conheci bem e com quem convivi muito (não no andebol, mas no ténis) e pelo facto de, como fez notar o Jorge, haver sempre uma grande carga pessoal na sua escrita que a torna única.
O professor Silva Bastos foi também meu professor no ERO (as nossas memórias acabam sempre por se cruzar) e esteve presente no nosso último Encontro.
Um abraço
JJ
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Estive a reler pela enésima vez os comentários ao meu comentário sobre a Janela do João Calheiros e, não sei porquê, a minha consciência tocou uma pequena campainha, já antes tinha acontecido e perguntava-me porquê, e, agora, mais a frio vi onde estava a falha, ou melhor dizendo a falta.
Seria deselegante e principalmente injusto, tanto para mim como, e principalmente, para com o Sr. Prof. Silva Bastos omitir o seu papel no triunfo do 3º. Ano dos Serralheiros nesse, para nós, ano de 1966 e da conquista do Campeonato Inter-Turmas. Salvo erro, desde o 1º. Ano do Ciclo (1960/1961), e isto carece de confirmação, que o nosso Prof. De Educação Física foi o Prof. Silva Bastos, e perdoem-me a teimosia de continuar a referir-me a Prof. e não a Doutor mas naquele tempo Dr.s só os médicos.
Naquele ano lectivo 65/66 e penso que também o anterior 64/65, este último não tenho a certeza, a nossa turma passou a ter como educador o Prof. Calheiros Viegas. Sendo assim fácil é descortinar que esta classe de campeões foi “desbastada e limada” pelo Prof. Silva Bastos e “aperfeiçoada e entrosada” com o requinte do Prof. Calheiros Viegas.Foi ainda com o Prof. Silva Bastos que uma Selecção da Escola, da qual também fiz parte, foi disputar o Campeonato Distrital de Andebol em Leiria.Dessa Selecção fizeram parte os melhores, passo a imodéstia, jogadores da Escola onde se incluíram alunos, tanto do Comércio como da Industria. Foi nesse ano que algumas regras, a nível nacional, do jogo foram alteradas e a nossa participação foi fraca, senão desastrosa, pois comparecemos a jogo com regras em desuso.
Quis com este exame ao subconsciente referir e realçar a importância que ambos estes Senhores tiveram na nossa formação.
Um abraço
A.Justiça
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Alfredo disse...
Ainda a Janela da Ana Braga e João Calheiros
As conversas são como as cerejas, e se há ditados certos este é sem dúvida um dos mais acertados.
Conforme se vão desenvolvendo as estórias sobre as janelas outras janelas se vão abrindo e até receio que já vamos empurrando os postigos também. A Ana Braga ao falar da “sua” Rádio “escutando atenta e diariamente a Radio Caroline” recordou-me uma fase da minha vivência desses tempos, não ouvindo esta Rádio, mas outras de ondas curtas que nos traziam noticias das embarcações que navegavam ao largo e muito particularmente uma que começava a transmitir à meia-noite.
Éramos um grupelho de amigos, estudantes finalistas da Escola de Caldas que nas noites de fim de semana, depois do jantar, se juntavam numa esplanada de café em S. Martinho e depois do grupo estar completo, cinco ou seis, não recordo bem a quantidade, mas claro que os amigos eram muitos mais mas, havia alguns que era mais aconselhável não nos acompanharem no périplo que se seguiria, ou pelo menos na segunda parte da reunião. Da esplanada e depois das chamadas conversas de “chacha”, que se podiam desenvolver nas esplanadas de café, os ouvidos eram muitos e… nunca se sabia se eram ouvidos “de tísicos”, saíamos dali e íamos até ao Clube Recreativo fazer uma “jogatana” de bilhar, snooker ou ping-pong para, não só nos distrair-mos mas também para passar o tempo.
Quando o relógio e os seus ponteiros avançavam para depois das 11h00 da noite saíamos do Clube e lá nos íamos encaminhando para o Cais falando e brincando de algumas jogadas feitas, ou mal feitas, a conversa, alta e sonora, servia para distracção, gozando com uma ou outra azelhice praticada por este ou por aquele, e servia principalmente para que os ouvidos indiscretos resolvessem que aquele grupo era um inocente grupelho de rapaziada com sangue na guelra e que dali não viria “mal ao mundo”.
Chegados ao final, perscrutado o cais em toda a sua extensão, o grupo já se tinha dividido em dois ou três, uns mais á frente, outros mais atrás, a uma distância razoável precavendo assim prováveis abelhudos “pidescos”, retirávamos o “tijolo” AM e LM, o FM ainda era um sonho, ou talvez nem isso, procurávamos o posto desejado e esperávamos até ouvir “Aqui BBC, Rádio Moscovo não fala verdade”. A partir daqui, ouvidos bem abertos, olhos pequeninos postos no infinito até onde alcançavam por aquele cais afora.
Depois era o regresso só que desta vez “bichanando” baixinho, com olhares cúmplices, ar inocente e cândido… isto será verdade? Argel fez isso? É pá, esta história de Konacri está mal contada! Que diabo aquilo lá pela África está feio. Queres ver que ainda vamos bater com “os cornos” nesta m…*. Bem que o meu amigo Coronel me disse que ainda havíamos de ir defender os interesses de uma série de pulhas.
Este meu amigo militar tinha sido reformado compulsivamente devido ás suas ideias menos conformes com o regime de então. O tal de Santa Comba mandou-o chatear outro e ele continuava nessa situação embora a cadeira já tivesse mudado de dono á pouco tempo.
E lá íamos fazendo desta forma a nossa conspiraçãozinha. Mas o engraçado é que nos sentíamos bem, eu pelo menos, e creio que os outros também, após estes “pecadozitos”. Pelo menos serviu, e muito, para não irmos com os olhos tapados defender o Império… ou terá sido defender os tais pulhas?
Seja como for o certo é que depois vieram outros pulhas, e estes sem vergonha alguma, e entregaram aquilo que tanto sangue custou e até se esqueceram que, lá para os lados da Ásia, tínhamos um quintalzinho.
Um abraço
A.Justiça
9 comentários:
Não param as memórias,que são aqui como as cerejas.Lembro-me bem do pai do João e do seu contagiante amor pelo desporto(vários).É justa a homenagem e a evocação.
Também não morria de amores pelo nacional-cançonetismo e preferia ouvir alguns dos nomes que o Justiça refere.Embora ache graça,devido ao distanciamento,a algumas canções portuguesas daquela época ainda hoje é evidente que nunca se produziu cá nada ao nível de nenhum dos grandes nomes internacionais,até porque não havia condições para isso.Nunca mais acabam as Janelas!Ainda Bem...L
é pena o joão calheiros viegas não responder a tudo o que aqui tem sido escrito,especialmente sobre o seu pai como acontece neste texto do alfrdo j.o autor tem sempre uma perspectiva muito pessoal de todos os acontecimentos,o que é enriquecedor para o blogue!abraço.j
Na altura em que o Alfredo andava a defender o império estava eu, parafraseando a Ana Braga, a tentar decifrar se o Kerensky fora ou não um traidor do proletariado, ou mais, um miserável renegado! Nenhum de nós o conheceu mas, quem não se lembra do renegado Kerensky? Como me dão vontade de rir estas nossas preocupações quando tinhamos 20 anos. Mas enfim, foi o somatório de tudo isto que deu o resultado do que somos hoje.
Agora podemos fazer o balanço, e realizar que o saldo é positivo.
Lanço também daqui o desafio ao João, para abrir algumas das infinitas janelas que tem para nos abrir. Não sei se caberão num pequeno espaço como este, mas vá lá meu amigo, pega na caneta e mãos à obra.
Abraço.
Janelas que se vão abrindo... uma a uma, devagarinho, sem pressas, janelas que se abrem para o passado de cada um de nós e que nos vão trazendo tantas recordações fantásticas.
Janelas que nos encantam a todos e que me deixam a mim, completamente admirada com tanta gente a escrever tão bem!!!! Que bom que é poder recordar, que bom que é poder ir espreitar a cada uma dessas janelas e através dos olhos e da memória de cada um, reviver tantos momentos únicos de um tempo que não voltaria mais, se não fossem essas janelas mágicas, abertas de par em par, para nos transmitirem a frescura dessa nossa juventude perdida que se recorda e reencontra em cada janela que se abre.
Guida Carvalho da Silva
Fiquei muito contente por saber que o meu post despertou no Alfredo Justiça memórias tão gratas da sua juventude. Este folhear sereno dos nossos álbuns de recordações é saudável e leva-nos a trazer à luz do dia pessoas e factos que não seria justo esquecer. Neste caso, a tão merecida homenagem ao Dr. Calheiros Viegas, não esquecendo, evidentemente as equipas de jovens que ele treinava.
Quanto ao “nacional cançonetismo” a que me referi, acho que o Alfredo percebeu bem, mas devo reforçar essa ideia, confirmando que naquela altura, e naquela idade não apreciávamos de todo a música que por cá se fazia, preferindo, de longe, o que nos chegava do estrangeiro, sobretudo tendo em conta que se tratou de uma época especialmente rica em produções musicais de grande qualidade.
Havendo pouco acesso aos discos, que demoravam a chegar a Portugal, lembro-me que os meus irmãos e eu nos mantínhamos informados, escutando atenta e diariamente a Radio Caroline, famosa rádio pirata, que transmitia de um navio fundeado ao largo de Inglaterra, através de uma galena, que o meu irmão construira sozinho, com o material que vinha incluído num curso de electricidade por correspondência. E, pasme-se: o invólucro desse pequeno rádio era uma singela caixa de charutos que ele encontrou perdida lá por casa!
Foi através desse objecto mágico, feito pelo Zé, que padecia de “engenheirite” aguda e congénita, que no dia 22 de Novembro de 1963 ouvimos a notícia da morte de J.F.Kennedy, tinha eu 11 anos e a equipa de Alfredo Justiça, “sob a sábia e inteligente orientação do Dr. Calheiros Viegas”, vencia o torneio inter-turmas em andebol da Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha.
Nota: Devo acrescentar que eu sentia essa galena um pouco como obra minha, e apregoava isso descaradamente, aos quatro ventos, pois ajudara o meu irmão, segurando, atenta, no ferro de soldar.
Ana Braga
Apreciei o post do Alfredo pela "reflexão musical", pela evocação de uma figura caldense que conheci bem e com quem convivi muito (não no andebol, mas no ténis) e pelo facto de, como fez notar o Jorge, haver sempre uma grande carga pessoal na sua escrita que a torna única.
O professor Silva Bastos foi também meu professor no ERO (as nossas memórias acabam sempre por se cruzar) e esteve presente no nosso último Encontro.
Um abraço
JJ
Aprofundar a janela do João Calheiros
Estive a reler pela enésima vez os comentários ao meu comentário sobre a Janela do João Calheiros e, não sei porquê, a minha consciência tocou uma pequena campainha, já antes tinha acontecido e perguntava-me porquê, e, agora, mais a frio vi onde estava a falha, ou melhor dizendo a falta.
Seria deselegante e principalmente injusto, tanto para mim como, e principalmente, para com o Sr. Prof. Silva Bastos omitir o seu papel no triunfo do 3º. Ano dos Serralheiros nesse, para nós, ano de 1966 e da conquista do Campeonato Inter-Turmas.
Salvo erro, desde o 1º. Ano do Ciclo (1960/1961), e isto carece de confirmação, que o nosso Prof. De Educação Física foi o Prof. Silva Bastos, e perdoem-me a teimosia de continuar a referir-me a Prof. e não a Doutor mas naquele tempo Dr.s só os médicos.
Naquele ano lectivo 65/66 e penso que também o anterior 64/65, este último não tenho a certeza, a nossa turma passou a ter como educador o Prof. Calheiros Viegas. Sendo assim fácil é descortinar que esta classe de campeões foi “desbastada e limada” pelo Prof. Silva Bastos e “aperfeiçoada e entrosada” com o requinte do Prof. Calheiros Viegas.
Foi ainda com o Prof. Silva Bastos que uma Selecção da Escola, da qual também fiz parte, foi disputar o Campeonato Distrital de Andebol em Leiria.
Dessa Selecção fizeram parte os melhores, passo a imodéstia, jogadores da Escola onde se incluíram alunos, tanto do Comércio como da Industria. Foi nesse ano que algumas regras, a nível nacional, do jogo foram alteradas e a nossa participação foi fraca, senão desastrosa pois comparecemos a jogo com regras em desuso.
Quis com este exame ao subconsciente referir e realçar a importância que ambos estes Senhores tiveram na nossa formação.
Um abraço
A.Justiça
Ainda a Janela da Ana Braga e João Calheiros
As conversas são como as cerejas, e se há ditados certos este é sem dúvida um dos mais acertados.
Conforme se vão desenvolvendo as estórias sobre as janelas outras janelas se vão abrindo e até receio que já vamos empurrando os postigos também. A Ana Braga ao falar da “sua” Rádio “escutando atenta e diariamente a Radio Caroline” recordou-me uma fase da minha vivência desses tempos, não ouvindo esta Rádio, mas outras de ondas curtas que nos traziam noticias das embarcações que navegavam ao largo e muito particularmente uma que começava a transmitir à meia-noite.
Éramos um grupelho de amigos, estudantes finalistas da Escola de Caldas que nas noites de fim de semana, depois do jantar, se juntavam numa esplanada de café em S. Martinho e depois do grupo estar completo, cinco ou seis, não recordo bem a quantidade, mas claro que os amigos eram muitos mais mas, havia alguns que era mais aconselhável não nos acompanharem no périplo que se seguiria, ou pelo menos na segunda parte da reunião. Da esplanada e depois das chamadas conversas de “chacha”, que se podiam desenvolver nas esplanadas de café, os ouvidos eram muitos e… nunca se sabia se eram ouvidos “de tísicos”, saíamos dali e íamos até ao Clube Recreativo fazer uma “jogatana” de bilhar, snooker ou ping-pong para, não só nos distrair-mos mas também para passar o tempo.
Quando o relógio e os seus ponteiros avançavam para depois das 11h00 da noite saíamos do Clube e lá nos íamos encaminhando para o Cais falando e brincando de algumas jogadas feitas, ou mal feitas, a conversa, alta e sonora, servia para distracção, gozando com uma ou outra azelhice praticada por este ou por aquele, e servia principalmente para que os ouvidos indiscretos resolvessem que aquele grupo era um inocente grupelho de rapaziada com sangue na guelra e que dali não viria “mal ao mundo”.
Chegados ao final, perscrutado o cais em toda a sua extensão, o grupo já se tinha dividido em dois ou três, uns mais á frente, outros mais atrás, a uma distância razoável precavendo assim prováveis abelhudos “pidescos”, retirávamos o “tijolo” AM e LM, o FM ainda era um sonho, ou talvez nem isso, procurávamos o posto desejado e esperávamos até ouvir “Aqui BBC, Rádio Moscovo não fala verdade”. A partir daqui, ouvidos bem abertos, olhos pequeninos postos no infinito até onde alcançavam por aquele cais afora.
Depois era o regresso só que desta vez “bichanando” baixinho, com olhares cúmplices, ar inocente e cândido… isto será verdade? Argel fez isso? É pá, esta história de Konacri está mal contada! Que diabo aquilo lá pela África está feio. Queres ver que ainda vamos bater com “os cornos” nesta m…*. Bem que o meu amigo Coronel me disse que ainda havíamos de ir defender os interesses de uma série de pulhas.
Este meu amigo militar tinha sido reformado compulsivamente devido ás suas ideias menos conformes com o regime de então. O tal de Santa Comba mandou-o chatear outro e ele continuava nessa situação embora a cadeira já tivesse mudado de dono á pouco tempo.
E lá íamos fazendo desta forma a nossa conspiraçãozinha. Mas o engraçado é que nos sentíamos bem, eu pelo menos, e creio que os outros também, após estes “pecadozitos”. Pelo menos serviu, e muito, para não irmos com os olhos tapados defender o Império… ou terá sido defender os tais pulhas?
Seja como for o certo é que depois vieram outros pulhas, e estes sem vergonha alguma, e entregaram aquilo que tanto sangue custou e até se esqueceram que, lá para os lados da Ásia, tínhamos um quintalzinho.
Um abraço
A.Justiça
Ainda a Janela da Ana Braga e João Calheiros
As conversas são como as cerejas, e se há ditados certos este é sem dúvida um dos mais acertados.
Conforme se vão desenvolvendo as estórias sobre as janelas outras janelas se vão abrindo e até receio que já vamos empurrando os postigos também. A Ana Braga ao falar da “sua” Rádio “escutando atenta e diariamente a Radio Caroline” recordou-me uma fase da minha vivência desses tempos, não ouvindo esta Rádio, mas outras de ondas curtas que nos traziam noticias das embarcações que navegavam ao largo e muito particularmente uma que começava a transmitir à meia-noite.
Éramos um grupelho de amigos, estudantes finalistas da Escola de Caldas que nas noites de fim de semana, depois do jantar, se juntavam numa esplanada de café em S. Martinho e depois do grupo estar completo, cinco ou seis, não recordo bem a quantidade, mas claro que os amigos eram muitos mais mas, havia alguns que era mais aconselhável não nos acompanharem no périplo que se seguiria, ou pelo menos na segunda parte da reunião. Da esplanada e depois das chamadas conversas de “chacha”, que se podiam desenvolver nas esplanadas de café, os ouvidos eram muitos e… nunca se sabia se eram ouvidos “de tísicos”, saíamos dali e íamos até ao Clube Recreativo fazer uma “jogatana” de bilhar, snooker ou ping-pong para, não só nos distrair-mos mas também para passar o tempo.
Quando o relógio e os seus ponteiros avançavam para depois das 11h00 da noite saíamos do Clube e lá nos íamos encaminhando para o Cais falando e brincando de algumas jogadas feitas, ou mal feitas, a conversa, alta e sonora, servia para distracção, gozando com uma ou outra azelhice praticada por este ou por aquele, e servia principalmente para que os ouvidos indiscretos resolvessem que aquele grupo era um inocente grupelho de rapaziada com sangue na guelra e que dali não viria “mal ao mundo”.
Chegados ao final, perscrutado o cais em toda a sua extensão, o grupo já se tinha dividido em dois ou três, uns mais á frente, outros mais atrás, a uma distância razoável precavendo assim prováveis abelhudos “pidescos”, retirávamos o “tijolo” AM e LM, o FM ainda era um sonho, ou talvez nem isso, procurávamos o posto desejado e esperávamos até ouvir “Aqui BBC, Rádio Moscovo não fala verdade”. A partir daqui, ouvidos bem abertos, olhos pequeninos postos no infinito até onde alcançavam por aquele cais afora.
Depois era o regresso só que desta vez “bichanando” baixinho, com olhares cúmplices, ar inocente e cândido… isto será verdade? Argel fez isso? É pá, esta história de Konacri está mal contada! Que diabo aquilo lá pela África está feio. Queres ver que ainda vamos bater com “os cornos” nesta m…*. Bem que o meu amigo Coronel me disse que ainda havíamos de ir defender os interesses de uma série de pulhas.
Este meu amigo militar tinha sido reformado compulsivamente devido ás suas ideias menos conformes com o regime de então. O tal de Santa Comba mandou-o chatear outro e ele continuava nessa situação embora a cadeira já tivesse mudado de dono á pouco tempo.
E lá íamos fazendo desta forma a nossa conspiraçãozinha. Mas o engraçado é que nos sentíamos bem, eu pelo menos, e creio que os outros também, após estes “pecadozitos”. Pelo menos serviu, e muito, para não irmos com os olhos tapados defender o Império… ou terá sido defender os tais pulhas?
Seja como for o certo é que depois vieram outros pulhas, e estes sem vergonha alguma, e entregaram aquilo que tanto sangue custou e até se esqueceram que, lá para os lados da Ásia, tínhamos um quintalzinho.
Um abraço
A.Justiça
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