ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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O RUI


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“Apesar da nortada, sol e bandeira verde”, era este o teor do SMS da Rosa que recebi quinta-feira depois de almoço. Nem tive tempo de responder porque, às 15.09, ela telefonou e, enquanto eu lhe explicava que não podia ir à praia, ela informou-me “o Rui morreu”. Não precisou de dizer o Rui Hipólito, todos os seus amigos que ouviram aquela frase naquele dia sabiam a quem se referia. Há cerca de dois anos que sofria de uma neoplasia disseminada por vários órgãos e, por isso, inoperável. Segundo os médicos sobreviveu este tempo devido a uma boa reacção da doença à quimioterapia, segundo os amigos que o conheciam sobreviveu graças sobretudo a um enorme gosto de viver, a uma inquietação existencial e uma enorme curiosidade por tudo quanto o rodeava. O Rui não queria morrer sem ler as notícias de amanhã, sem saber a última novidade caldense, sem ver o novo filme do Tarantino, sem conhecer as novas contratações do Sporting que iriam permitir finalmente que o seu clube fosse campeão! Também penso que foi essa força interior, esse apego a todos os pequenos momentos da vida que permitiram que ele sobrevivesse cerca de dois anos, mas era um jogo com o resultado falseado à partida.
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O funeral do Rui realizou-se na passada sexta-feira, às 16 horas, no Cemitério Velho. Como em todos os dias da sua vida esteve acompanhado de muitos amigos, de todas as idades, profissões e classes. O Rui era muito popular, conhecia e era amigo de toda a gente, mesmo daqueles que temiam as suas observações mordazes e cáusticas … como um homem do futebol que, quando vinha às Caldas depois de uma derrota, hesitava em ir à Praça onde sabia que o Rui lhe recordaria ironicamente o resultado… As tertúlias na Praça ou no Central, que mesmo doente continuou a frequentar, não serão nunca mais as mesmas.
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Optimista, bon vivant, sempre desprendido dos problemas (apenas o Sporting o deixava verdadeiramente amargurado), observador e comentador impiedoso da sociedade que o rodeava, amigo dos seus amigos, mais facilmente empenhado em projectos colectivos do que em ambições pessoais, o Rui sempre representou o que de sui generis e único existe (existiu?) na vivência caldense. Tinha cinquenta e cinco anos .
Rui Hipólito no Encontro de Verão de 2009
Somos amigos desde a nossa infância, apesar de ele ser um pouco mais novo, porque eu e o seu irmão Tó Zé fomos sempre colegas. Cruzámo-nos depois no andebol e no futebol, onde nenhum de nós atingiu o merecido estrelato, e encontrámo-nos em Lisboa onde não fomos talvez alunos exemplares mas sempre noctívagos aplicados. Regressámos às Caldas, ele esteve no início do Cine Clube Caldense e depois ambos fizémos parte do grupo fundador da Cooperativa Margem e da Rádio do mesmo nome. O Rui esteve sempre no pequeno grupo que reanimou os encontros do ERO, era o “tesoureiro oficial” das diversas reuniões que se sucederam nos últimos anos. O seu entusiasmo e dedicação a estes projectos era inexcedível, a sua disponibilidade era total e sem calculismos, podia-se sempre contar com o Rui. Refilava a Arlinda, claro, e certamente com razão, porque ele dedicava sempre demasiado tempo e esforço a estas causas que nenhuma vantagem pessoal lhe traziam. Quem os conheceu sabe que a Arlinda era a força que fazia com que a vida pessoal e familiar do Rui funcionasse de forma organizada e ele sabia-o (embora se fosse sempre rebelando contra a sua “tirania”, como todos os bons maridos devem fazer). Os seus filhos são já adultos, o João tem vinte e cinco e a Mafalda vinte e três anos. 
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O Zé Nascimento pediu-me um texto para o Jornal das Caldas. Colei uns pensamentos que me acudiram durante o seu funeral e espero ter evitado uma nota necrológica fúnebre que ele não merecia. Mais depressa o recordarei quando beber uma bica no Central, uma imperial no Camaroeiro ou fizer uma “piscina” na Praça do que na campa do cemitério onde aposto que ninguém o vai convencer a ficar.
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 COMENTÁRIOS:


Belão disse...
"- Olha a Belãozinha! Então como vai isso?" Era sempre assim, quando nos encontrávamos. Mesmo com ele já bem doente. Chegámos a lanchar várias vezes no Van Gogh, pequeno café onde eu entrava sempre que lá o via e onde ele cheio de esperança e força de viver me falava de tudo o que comia, tudo o deixara de comer, das análises que tinham melhorado, dos tratamentos que iam recomeçar... À despedida, ele descia a rua. Eu subia, procurando aquela justificação inexistente, uma resposta convincente àquela pergunta que nos invade sempre que a um familiar ou amigo é diagnosticada tão estúpida e cruel doença: Mas porquê? Um beijo grande à Arlinda, ao João, à Mafalda. Belão
Joao Fernando Orozco Paneiro disse...
Há reletivamente pouco tempotive um acidente do tipo do Rui. Muito conversávamos sobre a situação dele e do nosso Sporting. Durante três anos o Rui trabalhou comigo Em S.Martinho do Porto, o que reforçou a nossa amizade, já que eu sou um pouco mais velho do que ele. A ultima vez que nos vimos, falámos das nossas contractações e das nossas maleitas. Ele disse-me (sic) Olha desta é que estou lixado. Tudo regrediu. Não tenho hipótese! Espero que tu tenhas mais sorte do que eu. Obrigado Rui, meu amigo.
Isabel Esse disse...
Texto perfeito como sempre e em apenas quatro parágrafos um retrato completo.Só lamento que seja sobre uma coisa tão triste. Beijo grande a toda a família.
Guida Sousa disse...
A morte do Rui é uma perda irreparável para todos nós e para as Caldas.Concordo com o autor que o Rui representava uma maneira de ser e estar caldense que se tem vindo a perder e agora ainda mais com a sua morte.O Rui está nestas palavras com que concordo.Abraço a todos.
Meus Sonhos disse...
Tocante,comovente,verdadeiro.O blog e a tua excelente prosa não servem só para recordar dias felizes... Abraço a todos,condolências à família.Ana

5 comentários:

Belão disse...

"- Olha a Belãozinha! Então como vai isso?" Era sempre assim, quando nos encontrávamos. Mesmo com ele já bem doente.
Chegámos a lanchar várias vezes no Van Gogh, pequeno café onde eu entrava sempre que lá o via e onde ele cheio de esperança e força de viver me falava de tudo o que comia, tudo o deixara de comer, das análises que tinham melhorado, dos tratamentos que iam recomeçar...
À despedida, ele descia a rua. Eu subia, procurando aquela justificação inexistente, uma resposta convincente àquela pergunta que nos invade sempre que a um familiar ou amigo é diagnosticada tão estúpida e cruel doença: Mas porquê?
Um beijo grande à Arlinda, ao João, à Mafalda.

Belão

Joao Fernando Orozco Paneiro disse...

Há reletivamente pouco tempotive um acidente do tipo do Rui. Muito conversávamos sobre a situação dele e do nosso Sporting. Durante três anos o Rui trabalhou comigo Em S.Martinho do Porto, o que reforçou a nossa amizade, já que eu sou um pouco mais velho do que ele.
A ultima vez que nos vimos, falámos das nossas contractações e das nossas maleitas. Ele disse-me (sic) Olha desta é que estou lixado. Tudo regrediu. Não tenho hipótese!
Espero que tu tenhas mais sorte do que eu.
Obrigado Rui, meu amigo.

Isabel Esse disse...

Texto perfeito como sempre e em apenas quatro parágrafos um retrato completo.Só lamento que seja sobre uma coisa tão triste.
Beijo grande a toda a família.

Guida Sousa disse...

A morte do Rui é uma perda irreparável para todos nós e para as Caldas.Concordo com o autor que o Rui representava uma maneira de ser e estar caldense que se tem vindo a perder e agora ainda mais com a sua morte.O Rui está nestas palavras com que concordo.Abraço a todos.

Meus Sonhos disse...

Tocante,comovente,verdadeiro.O blog e a tua excelente prosa não servem só para recordar dias felizes.
Abraço a todos,condolências à família.Ana