ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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MITOS ESTIVAIS - DESMONTAGEM DAS ESPECULAÇÕES E REPOSIÇÃO DA VERDADE

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No encontro de Verão na Foz do Arelho, há cerca de um mês, foram recordados alguns episódios estivais rodeados de uma carga de fantasia que o tempo inevitavelmente cola à História. Pretende esta pequena crónica repor a verdade dos factos. JJ

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Durante a época balnear na Foz do Arelho, era organizado pelo menos um piquenique. Há estórias destas em todos os anos e, era eu ainda muito garoto, lembro-me de umas “burricadas” (meados da década de 60, ainda participei numa ou duas) mas, nessa altura, os actores e organizadores eram de uma geração mais velha. Talvez um dia alguém queira evocar aqui esses episódios, que eu recordo de forma difusa mas de que conheço até várias fotografias.
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No final da década de sessenta, lembro-me de um grupo de cerca de vinte jovens, alguns do ERO e outros veraneantes de fora das Caldas, atravessar a Lagoa e ir passar o dia com um farnel do “lado de lá”. Antes da Aberta, na zona onde, nessa altura, a Lagoa mais se aproximava do Gronho, formavam-se dunas consolidadas por alguma vegetação rasteira. Essas formações caíam a pique sobre a água e estendiam-se com mais fraca inclinação para o lado oposto. Protegiam por isso quem se instalava desse lado da habitual nortada e dos olhares indiscretos dos banhistas da Lagoa e do Mar.

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O transporte era garantido essencialmente em bateiras mas também em um ou dois barcos a motor dos participantes.
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A errada interpretação de vários episódios enriqueceu durante anos a rica e colorida história oral dos usos e costumes caldenses (que entretanto se perdeu), obstando a que alguns pais mais zelosos autorizassem as filhas (também alguns filhos, mas sobretudo as filhas) a participar nesses eventos. Foi esse o motivo, e não a falta de entusiasmo dos participantes, do fim dessas travessias.


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Eu nunca fui muito de ligar a mexericos, mas acho que está na altura da verdade histórica ser reposta, acabando com alguns mitos estivais relacionados com esses piqueniques.


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Lembro-me de ser abundantemente referido um episódio em que duas jovens apanharam um enorme escaldão em zonas do corpo que deveriam, em princípio, estar protegidas pelos fatos de banho.
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Claro que a má-língua caldense, gente ociosa com mentes perversas, equacionou imediatamente a hipótese de, em algum momento, as ditas peças de vestuário não estarem colocadas de acordo com os bons usos e costumes da época. Nada mais falso! O problema é que os fatos de banho, em vez de terem sido adquiridos na Nobela ou na Góia, tinham sido importados de Espanha, comprados em Badajoz conjuntamente com uns caramelos ranhosos que se colavam irritantemente aos dentes lusitanos. Ora o tecido de que eram fabricados esses fatos de banho era também de muito má qualidade, como toda a produção espanhola da época, não garantindo a necessária protecção contra os nefastos efeitos dos raios ultra-violetas, motivo porque, apesar de em nenhum momento a moral e os bons costumes terem sofrido qualquer atropelo, as já referidas, e muito sensíveis, zonas dérmicas terem ficado muito afectadas.
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Por mais que isto fosse explicado, havia gente que não percebia, insistindo em transformar um caso de mau controlo de qualidade industrial num escândalo!
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Noutra ocasião alguns rapazes foram também vítimas de alguma incompreensão por não suportarem a perigosa travessia de regresso com o estoicismo supostamente exigível aos descendentes dos grandes navegadores lusitanos.
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Perante as alterosas ondas da Lagoa e a manifesta instabilidade das bateiras utilizadas no transporte, era natural e normal o aparecimento de fenómenos de náuseas, regurgitação, perda de equilíbrio e desorientação entre os turistas.
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Claro que as mesmas mentes malévolas, que já não tinham percebido bem a questão das queimaduras solares, com o espírito envenenado por alguns observadores menos informados, insinuavam que a introdução de álcool na ementa do saudável repasto era responsável pelos sintomas verificados. Incrível!
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Não era verdade, era apenas o enjoo, absolutamente natural em qualquer um que desafia o Mar.
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Havia, nessa época, pouca gente que possuísse máquina fotográfica e, mesmo entre os que a possuíam, era difícil ultrapassar as objecções paternas quanto ao seu transporte e utilização numa excursão aquática. Lembro-me de haver poucas, quase nenhumas, fotografias destes piqueniques por causa disso mesmo.
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Isto tinha aspectos bons e maus. Maus porque a recordação desses dias seria certamente mais saborosa com imagens que evocassem o prazer e a alegria com que eram vividos; bons porque as fotografias transmitiam, por vezes, uma imagem distorcida do que realmente acontecia. Estou-me a referir a uma famosa (na sua época) fotografia, justamente apelidada de “O Banho de Touca”, tirada no último ano em que se realizou a passeata. A imagem era absolutamente inocente, um grupo de meia dúzia de teenagers tomava banho na Lagoa, apenas se vendo as suas cabeças, já que estavam imersos na água até ao pescoço. A graça era que todos, rapazes e raparigas, estavam de touca na cabeça, o que dava um tom muito alegre e divertido ao grupo!
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A fotografia, da autoria de uma jovem artista, obviamente ausente da imagem, foi revelada na Tália onde, posteriormente, foram pedidas várias cópias. Aparentemente esse facto despertou a curiosidade do Sr. Diogo que mostrou uma delas ao pai de uma das banhistas. As mesmas mentes perversas e malévolas do costume começaram a especular que nenhuma das raparigas possuía ou usava touca, muito menos os rapazes!
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Começaram a interrogar-se onde é que teriam arranjado as toucas no meio de nenhures e, não sei se depois de ampliarem a foto, aventaram a absurda hipótese de que não eram toucas mas sim calções de banho que o alegre grupo exibia na cabeça! Seriam eventualmente calções suplementares que a miudagem, sempre precavida, tinha levado para a eventualidade de precisar de os trocar? Isto explicava tudo excepto talvez o facto de alguns dos divertidos banhistas usarem na cabeça calções do sexo oposto... A aceitação generalizada desta hipótese levou à não aceitação da primeira explicação (de outra forma lógica e cabal) e foi um rude golpe num convívio que não pode assim repetir-se.
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Não posso deixar de reflectir no facto de terem sido as versões distorcidas e malévolas que ficaram na recordação de quase todos e não a realidade inocente que aqui reponho. Como diz Gerald M. Edelman:
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"Cada acto de percepção é, em certa medida, um acto de criação.
Cada acto de memória é, em certa medida, um acto de imaginação."
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João Jales
(fotografias de Margarida Araújo)

5 comentários:

vitor be disse...

Este é o artigo do VERÃO 2009!Como é que estas histórias estavam guardadas na gaveta há tanto tempo?
Só se foram mesmo as conversas do encontro de agosto a avivar tudo isto e seja essa a explicação.
Muito muito divertido e escrito com muito humor.Gostaria de saber uns nomes mas suponho que isso esteja fora de causa.....
As melhoras para as meninas do "escaldão",para os rapazes enjoados e quero saber onde arranjo uma cópia dessa fotografia!!!VB

Isabel Esse disse...

O que eu me ri!!!As queimaduras,os enjoos dos marinheiros e os banhos de touca,uma velha tradição da Foz,mas também da Nazaré.Mas que fique bem claro que EU NÃO FUI a NENHUM desses piqueniques :-)
Disse um dia destes que o blogue estava sensacional,nem sei o que mais diga hoje...
Bjs.IS

Guida disse...

É incrível a capacidade de invenção e má língua de algumas pessoas. Só inveja e mau gosto! Não participavam nas coisas e depois arranjavam historietas para estragar a vida aos outros. Mas já agora pergunto. Ondas na lagoa? Quando? Correntes, sim.

Belão disse...

Eu sempre achei que os fatos de banho espanhóis eram ranhosos..... A prova está aqui, neste post. Quanto aos enjoos, também acho que é muito natural tal fenómeno durante a travessia da lagoa. Com ou sem álcool. No que se refere aos banhos de touca, devo dizer que eram de certeza e mesmo, toucas. E havia delas giríssimas: lisas, às riscas (com lacinhos), às flores. Modelos ousados para a época, sobretudo nas cabeças dos meninos.
Adorei, João!

António J M disse...

Não comento tanto neste blogue como gostaria e como acho que merecia.Mas há momentos em que não posso deixar de dizer alguma coisa como forma de retribuir o prazer que tenho ao visitá-lo.
Estas três Histórias retratam uma época de abertura de costumes,de confronto entre o Novo e o Velho de uma forma aparentemente ligeira,mas só aparentemente.e com um humor "inocente" que é irresistível e divertídissimo,do melhor que nos têm aqui oferecido.Abraço.A