EMIGRANTES e A SELVA
(Ferreira de Castro)
por João Ramos Franco
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A razão da escolha e leitura dos Emigrantes, está nas palavras que Ferreira de Castro escreve no PÓRTICO desta edição:
……..”Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor.
- Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições.
Curvam-se nos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço do tumulo – a ver, pacientemente, a vida que vivem outros homens mais felizes. Outros, porém não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para fruição duma minoria. E eles, mordidas as almas por justificada ambição, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais ás que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério em hemisfério, em busca do seu pão.”………
Texto de Ferreira de Castro – Emigrantes – 7ª edição, 1946 – PÒRTICO, pág. 1 e 2
A edição é de 1946, a culpa do mau estado é minha, que li e reli este romance quando era estudante.
A razão da escolha e leitura dos Emigrantes, está nas palavras que Ferreira de Castro escreve no PÓRTICO desta edição:
……..”Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor.
- Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições.
Curvam-se nos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço do tumulo – a ver, pacientemente, a vida que vivem outros homens mais felizes. Outros, porém não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para fruição duma minoria. E eles, mordidas as almas por justificada ambição, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais ás que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério em hemisfério, em busca do seu pão.”………
Texto de Ferreira de Castro – Emigrantes – 7ª edição, 1946 – PÒRTICO, pág. 1 e 2
A edição é de 1946, a culpa do mau estado é minha, que li e reli este romance quando era estudante.
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Na envolvente rural da cidade onde vivia (Caldas da Rainha), o fenómeno da emigração, era real. Nas aldeias encontrávamos famílias em que alguém era embarcadiço ou tinha utilizado este meio de “dar o salto”, para o Estados Unidos ou Canadá, que eram os seus destinos preferidos nesta região.
Na envolvente rural da cidade onde vivia (Caldas da Rainha), o fenómeno da emigração, era real. Nas aldeias encontrávamos famílias em que alguém era embarcadiço ou tinha utilizado este meio de “dar o salto”, para o Estados Unidos ou Canadá, que eram os seus destinos preferidos nesta região.
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No meu interesse por estes assuntos e esclarecimento dos mesmos estão sempre presente o meu Pai e a sua biblioteca…
No meu interesse por estes assuntos e esclarecimento dos mesmos estão sempre presente o meu Pai e a sua biblioteca…
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Na Oral do 5º ano de Letras, depois da 1ª parte da mesma, em que era obrigatório Camões, me disseram para escolher um escritor do meu agrado, respondi:
.Na Oral do 5º ano de Letras, depois da 1ª parte da mesma, em que era obrigatório Camões, me disseram para escolher um escritor do meu agrado, respondi:
- Ferreira de Castro.
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Na sala fez-se um certo silêncio, naquele tempo um aluno optar por este autor (que não muito bem visto pelo regime) era arrojado…
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- Quais obras do escritor que escolhe para falar?
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- Quais obras do escritor que escolhe para falar?
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- Emigrantes e A Selva - respondi eu.
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Não me recordo, o suficiente para vos dizer textualmente as respostas dei… Sei que passei com 18 valores a Português e saí satisfeito do exame por ter libertado um certo estado espírito que tomava forma em mim…
Não me recordo, o suficiente para vos dizer textualmente as respostas dei… Sei que passei com 18 valores a Português e saí satisfeito do exame por ter libertado um certo estado espírito que tomava forma em mim…
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O examinador foi Dr. José Gonçalves, Vice-Reitor do Liceu Rodrigues Lobo, era assim que se chamava, só mais tarde passou a ser designado como Liceu Nacional de Leiria.
.O examinador foi Dr. José Gonçalves, Vice-Reitor do Liceu Rodrigues Lobo, era assim que se chamava, só mais tarde passou a ser designado como Liceu Nacional de Leiria.
Recordo-me bem dele porque era cunhado do Dr. Correia Rosa (da farmácia Rosa, em Caldas) e eu tinha-o conhecido pessoalmente, por intermédio da sobrinha (nossa colega do ERO), Guida Rosa.
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Confesso que o facto de o conhecer pessoalmente teve influência na escolha do escritor, sabia que quem me estava examinar era contra o regime…
Confesso que o facto de o conhecer pessoalmente teve influência na escolha do escritor, sabia que quem me estava examinar era contra o regime…
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João Ramos Franco
João Ramos Franco
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C O M E N T Á R I O S
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Isabel X disse...
Muito bem escolhidos, estes dois livros, pelo João Ramos Franco! A mim o que mais encantou foi "A Selva" e as respectivas descrições de uma natureza intensa e crepitante. Parece até que ouvimos os seus sons e vemos as suas cores. Isto para além do lado humano, igualmente trágico, a que o João R. F. já aludiu!
Muito bem escolhidos, estes dois livros, pelo João Ramos Franco! A mim o que mais encantou foi "A Selva" e as respectivas descrições de uma natureza intensa e crepitante. Parece até que ouvimos os seus sons e vemos as suas cores. Isto para além do lado humano, igualmente trágico, a que o João R. F. já aludiu!
Agradeço a lembrança! Abraço a todos.
- Isabel Xavier -
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Fernando Santos disse:
É pena que o João Ramos Franco só tivesse recebido um comentário sobre este escritor autodidacta.
Não fora a minha actual falta de tempo e eu teria muito gosto em comentar sobre o assunto.Creio ter lido toda a obra deste escritor bem como a sua biografia e, para informação do amigo Ramos Franco, tenho o privilégio de possuir a primeira edição de um dos primeiros livrinhos deste autor, creio que anterior à sua partida para o Brasil.Chama-se: SENDAS DE LIRISMO E AMOR. Foi adquirido na Feira da Ladra há muitos anos. É uma edição de Edições Spartacos, Lisboa 1925.
O meu obrigado ao João Ramos Franco por me ter trazido à memória um dos escritores que mais contribuiu para o início da minha formação cultural.
Um abraço.
Fernando Santos.
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João Jales disse:
Os comentários são imprevisíveis e inconstantes, não estão ligados às qualidades dos posts ou aos seus temas.
Os méritos do texto do João Ramos Franco, bem como a importância de Ferreira de Castro como escritor, estão bem patentes nas palavras do Fernando Santos que são elucidativas e suficientes (embora eu também gostasse de ver mais leitores manifestarem-se...).
Um abraço ao João e ao Fernando.
JJ
1 comentário:
Muito bem escolhidos, estes dois livros, pelo João Ramos Franco! A mim o que mais encantou foi "A Selva" e as respectivas descrições de uma natureza intensa e crepitante. Parece até que ouvimos os seus sons e vemos as suas cores. Isto para além do lado humano, igualmente trágico, a que o João R. F. já aludiu! Agradeço a lembrança! Abraço a todos.
- Isabel Xavier -
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