ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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D. CLARISSE

por Luis Filipe da Gama Vieira

No curso vertiginoso das nossas vidas todos nos deparamos com algumas figuras que nos marcam para o resto dos nossos dias. Curiosamente, a marca que deixam vincada nas nossas almas não tem nada a ver com os "desvalores" globais dos tempos actuais.

A personalidade de que vos quero falar não apareceu em capas de revistas nem exerceu o poder como forma de ascenção social ou prepotência sobre os demais. No seu tempo, sem o saber, foi uma verdadeira Líder, referência incomensuravelmente mais relevante do que muitos dos ufanamente auto-proclamados dirigentes actuais. Chamava-se Dona Clarisse. Nem Doutora, nem Engenheira, nem Empresária, nem Professora Doutora, nem Técnica Superior de 1a Classe. Simplesmente, Dona Clarisse. Foi minha Professora da instrução primária entre 1972 e 1974 no Externato Ramalho Ortigão nas Caldas da Rainha, cidade onde me orgulho de ter nascido. Perguntarão porque a tenho em tão elevada consideração. Muito simples. A Dona Clarisse tinha o dom de combinar qualidades bem raras nos tempos que correm: inspirava respeito sem ter que dominar pelo medo, exercia a autoridade sem vaidade nem manipulação, ensinava com carinho e compreensão. Tudo qualidades próprias dos verdadeiros Líderes. Tive o previlégio de conviver com alguns ao longo dos meus 42 anos. Não mais do que 5, sendo o meu Pai o maior de todos. A Dona Clarisse faz parte deste grupo de estrelas que para sempre brilhará na minha memória.

Os tempos passados nas Caldas da Rainha e no Externato Ramalho Ortigão foram de uma vivência extraordinária. Foram tempos de transformação e crescimento exponenciais para toda uma sociedade acabrunhada por décadas de medo, mesquinhez e prepotência de poucos sobre muitos. Subitamente, tudo explodiu com uma força libertadora, irresistível, que a todos acordou num irrepetível dia 25 (por coincidência incrível, também dia do meu aniversário). Um dos episódios de que me recordo desses inigualáveis tempos foi o dia 1˚ de Maio de 1974, a maior manifestação de convivência fraterna e solidária entre cidadãos a que assisti nos 3 continentes em que já vivi. Um outro episódio, de aventura repleta de adrenalina, foi quando, juntamente com o meu companheiro de traquinices Paulo Monteiro, assisti ao assalto à sede de um partido político no verão quente de 1975. Lembro-me como se fosse hoje: mobília e papéis a voar pelas janelas e a Polícia Militar a chegar para apaziguar os ãnimos. Com uma coragem digna do Regimento de Comandos, lembro-me de eu e o meu amigo Paulo, muito próximos do calor da acção, devidamente agachados junto a uma viatura, procurando protecção das rajadas de G3 que pareciam a ponto de estalar a qualquer momento, Quem não gostou da brincadeira foi a minha extremosa Mãe e protectoras irmãs que andavam aflitas à minha procura... Sem dúvida, uma saborosa experiência vivida muitos anos antes dos nossos voluntariosos repórteres Albarran e Rodrigues dos Santos afrontarem, com capacete e colete à prova de bala (acessórios "desnecessários" no Portugal de 1974), os perigos da Guerra do Golfo e de outras que tais...

"... the more you see, the less you know ... I knew much more then than I do now"

in "City of Blinding Lights" - "How to Dismantle an Atomic Bomb" - U2





Escrito no aeroporto de Monterrey, Mexico, à espera do meu vôo de regresso a Chicago, USA, 12/Novembro/2008



Luis Filipe Gama Vieira

A música é uma escolha pessoal do Luis Filipe Gama Vieira
para acompanhar a leitura do seu texto.





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C O M E N T Á R I O S
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Manuela Gama Vieira disse:
"---------":
Por incrível que pareça, não tenho palavras....para ti!
Foste a razão da minha "Tarde Extraordinária"(o autor desta frase perdoar-me-á o plágio..), no dia 25 de Abril de 1966...associado a um célebre "dia de suspensão" no ERO!
Quem diria, 42 anos depois, a correr Mundo!
Abraço-te!!!
Assino: "---------"


José Luís Reboleira Alexandre disse:
Não conheço o L.F. Gama Vieira, e quando ele estava na primária já eu andava por Lisboa. Depois disso, se volto muitas vezes às Caldas, as estadias são geralmente muito curtas.
Sinto no entanto, na homenagem que faz à sua professora primária uma sensibilidade especial, que creio ser o resultado de uma vida repartida por vários continentes como o próprio menciona, e acentua no final, com a indicação do local, Monterrey cidade mítica, onde escreve.
No texto diz, e cito:
«Nem Doutora, nem Engenheira, nem Empresária, nem Professora Doutora, nem Técnica Superior de 1a Classe. Simplesmente, Dona Clarisse».
Será que, como muitos portugueses que por motivos vários trabalham fora do nosso pequeno cantinho, sempre que lá volta necessita de algum tempo para se reabituar a determinadas formas de estar?
Fazer a pergunta será talvez responder-lhe.
Não é numa geração, que os efeitos da «longa noite» que nos foi imposta pelo ancião de Santa Comba se dissiparão!
J. L. Reboleira Alexandre

Isabel X disse:
Este texto é um testemunho muito interessante e que me fez lembrar os tempos em que também fui aluna da D. Clarisse. Mas eu, menos afoita que o seu autor, confesso que lhe tinha muito medo e isto sem que ela alguma vez me tivesse batido! Mas batia em muitos dos meus colegas por "razões" que eu nunca compreendi. Ainda hei-de escrever sobre isso.
- Isabel Xavier -
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Júlia Ribeiro disse:
Li agora o comentário da Isabel X e posso dar uma achega à interrogação que faz à razão das "reguadas" da D. Clarisse. Eu nunca levei nenhuma, mas estou a ver algumas desgraçadas das colegas a levarem-nas.....era uma por cada erro (se davam muitos). Outras razões não me recordo, mas a régua tinha cerca de 1cm de espessura, 5cm de largura e ,aí 35 a 40 cm de comprimento (o peso não sei !!!!!).
Parabéns ao Luis Filipe, pelo texto e pela homenagem. Júlia
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João Jales disse:
Como se fosse ficção, o 25 de Abril de 1974 surge aqui não só como evocação de libertação mas também como aniversário do autor. O nascimento dele, em 1966, tinha já estado no Blog a propósito de um dia de suspensão de uma comentadora, que o recordou quando outro antigo aluno nos descreveu o nascimento da irmã em 1957… E é assim que estas memórias se entrelaçam.
E agora vem o Luís Filipe falar da D. Clarisse e da Instrução Primária no ERO, num momento em que eu já me passeava pela Universidade de Lisboa. Mas a escolha musical dos Kinks (irrepreensível) une-nos, quarenta anos depois, fazendo com que nos encontremos no reconhecimento do génio de Ray Davies, nós que nunca nos encontrámos no Colégio.
Todos estes encontros, desencontros e reencontros (que evoluem sozinhos, sem que nada nem ninguém aparentemente os controle) são a magia deste Blog.
Aguardamos, claro, o próximo texto do mais jovem dos Gama Vieira, escrito num aeroporto por aí…
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Manuela G V disse:
Pode ser que hoje, neste momento dentro de um avião, em viagem para vir passar o Natal, tenha escrito algum.Uma coisa vos digo, enquanto não entrou no avião, trocámos mensagens, a pedido dele, para lhe transcrever o que os colegas (não importa a diferença de idade) comentaram!Quando ler isto, ai, ai, ai...
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Paula disse:
Os Gama Vieira, família de talentos, tomaram conta do Blog! O Luís Filipe também desenha? Ou só escreve e tem bom gosto musical?
Pena a D. Clarisse não ler esta bela homenagem que lhe é aqui prestada, espero que alguém da família a leia e comente, em seu nome.
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Zé Carlos Faria disse:
A propósito do escrito do Luis Filipe Gama Vieira, dizia eu ao JJ, em conversa electrónica sobre este nosso blog: «O texto, esse, até me comoveu e mais não digo porque não posso». E não posso mesmo, dado tratar-se da minha Avó; de, por isso, me sobrar a força desordenada de emoções, recordações (mesmo as das reguadas, sinal de um tempo antigo, em que tal era tido por «normal») e de, sobretudo, me faltar o discernimento das palavras justas. Leio aquelas linhas num recolhimento interior, que é o lugar onde, por fim, se vai instalar a verdade genuína da gratidão e da felicidade. Z C Faria
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Amélia Viana disse:
Achei o texto do Luís Filipe muito interessante, pois consegue perceber-se a ternura e o carinho que sente ainda, passados todos estes anos, pela sua "velha" professora.
Do neto, Zé Carlos, também me lembro bem dele em miúdo, no ERO.
Parabéns ao autor e BOAS FESTAS para todos os E R O(S)
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São Cx disse:
(...) Quantos são na realidade os Gama Viera? Acho que já houve a participação de 3 deles, pelo menos! A Manuela lembro-me muito bem dela, dos irmãos é que não! Que família tão extraordinária!
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Manuela Gama Vieira disse:
Dirijo este comentário à simpática São Caixinha! Faltaria à verdade se lhe dissesse que me “lembro” de si, como, de resto, de uma quase esmagadora maioria dos colegas que por aqui vão aparecendo. Vicissitudes da vida, da idade…que vão atraiçoando a memória. Contudo, apesar disso, sinto que me lembro e os reconheço a todos! Engraçado, não é? O que importa é que, passados tantos anos…nesta “sala de convívio” que o João Jales mobilou tão confortavelmente para nós, nos falemos, falemos uns dos outros, como se nos tivéssemos “visto” ontem!
Quanto aos manos “Gama Vieira”, somos quatro. Já apareceram três, o João Licínio, a Manuela, o Luís Filipe (que já viveu em Haia, de onde é natural um dos filhos)- o benjamim da Família ! Só falta aparecer a Maria de Fátima, que deve andar a criar “suspense”…para nos fazer uma surpresa!
Claro que não falo das nossas idades…apenas posso dizer que o “benjamim” tem menos 14 anos que eu!!! Os restantes, temos idades muito próximas uns dos outros, em “escadinha”, uns jovens, à semelhança dos nossos(as) colegas(os).
Aproveito a oportunidade para lhe desejar a si e sua irmã, duas talentosas raparigas, devo dizer, um Feliz Natal e que o Novo Ano lhes traga tudo quanto desejam, nesse belo país que, como se diz, Deus fez o Mundo e os holandeses fizeram a Holanda.
Um abraço e espero que surja uma oportunidade para a (re)ver, a si e a sua irmã.
Manuela Gama Vieira
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São Caixinha respondeu:
Olá Manuela!
Que agradável surpresa a sua simpática cartinha de Boas Festas, que agradeço reconhecidamente!Acho muito normal que não se lembre de mim, pois comigo passa-se exatamente o mesmo em relação a muitos colegas e até professores. Eu da Manuela lembrei-me apenas quando vi a fotografia com a Anabela Miguel que acompanhava o seu texto sobre o Sr. Padre Renato! Era uma menina sempre alegre e bem disposta, é a ideia que tenho! Mas como diz, o que importa é que isso não nos impede de nos reencontrarmos nesta sala virtual e partilhar recordações, como se realmente nunca nos tivessemos esquecido!
A propósito, devo dizer que tem sido muito agradável ler as suas intervenções, que prezo pela espontaneidade e o humor, qualidades que são particurlamente do meu apreço, sem esquecer a participação dos seus irmãos que tem sido igualmente um valioso contributo para o nosso blogue! Que curioso o seu irmão Luís Filipe ter vivido em Haia, parece ser um verdadeiro cidadão do mundo!
Vou terminar dizendo que foi um prazer relembrar Miguel Torga e desejar-lhe também, e a toda a família, um BOM NATAL e as maiores felicidades para o NOVO ANO! E claro que hão-de surgir oportunidades para um reencontro!! Com um saudoso abraço, São Caixinha.

4 comentários:

Anónimo disse...

"---------":
Por incrível que pareça, não tenho palavras....para ti!
Foste a razão da minha "Tarde Extraordinária"(o autor desta frase perdoar-me-à o plágio..), no dia 25 de Abril de 1966...associado a um célebre "dia de suspensão" no ERO!
Quem diria, 42 anos depois, a correr Mundo!
Abraço-te!!!
Assino: "---------"

Anónimo disse...

Não conheço o L.F. Gama Vieira, e quando ele estava na primária já eu andava por Lisboa. Depois disso, se volto muitas vezes às Caldas, as estadias são geralmente muito curtas.

Sinto no entanto, na homenagem que faz à sua professora primária uma sensibilidade especial, que creio ser o resultado de uma vida repartida por vários continentes como o próprio menciona, e acentua no final, com a indicação do local, Monterrey cidade mítica, onde escreve.

No texto diz, e cito:
«Nem Doutora, nem Engenheira, nem Empresária, nem Professora Doutora, nem Técnica Superior de 1a Classe. Simplesmente, Dona Clarisse».

Será que, como muitos portugueses que por motivos vários trabalham fora do nosso pequeno cantinho, sempre que lá volta necessita de algum tempo para se re-habituar a determinadas formas de estar ?

Fazer a pergunta será talvez responder-lhe.

Não é numa geração, que os efeitos da «longa noite» que nos foi imposta pelo ansião de Santa Comba
se dissiparão !

Anónimo disse...

Este texto é um testemunho muito interessante e que me fez lembrar os tempos em que também fui aluna da D. Clarisse. Mas eu, menos afoita que o seu autor, confesso que lhe tinha muito medo e isto sem que ela alguma vez me tivesse batido! Mas batia em muitos dos meus colegas por "razões" que eu nunca compreendi. Ainda hei-de escrever sobre isso.
- Isabel Xavier -

Anónimo disse...

Pode ser que hoje, neste momento dentro de um avião, em viagem para vir passar o Natal, tenha escrito algum.
Uma coisa vos digo, enquanto não entrou no avião, trocámos mensagens, a pedido dele, para lhe transcrever o que os colegas (não importa a diferença de idade) comentaram!
Quando ler isto, ai, ai, ai...