ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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Monólogos na aula de Matemática

por sousalaurinda@live.com.pt
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- Quem é que se está a rir?

O professor espreitava por trás do Júlio, de onde tinha vindo um movimento.

-Ah, és tu?

O professor tinha visto o Zé a tentar esconder-se.

- Vem cá meu “lindo”…

O Professor apontava para o Zé com a mão estendida e um sorriso nos lábios, como se fosse para o encorajar a aparecer.

- Sim tu. Não te escondas! Já te vi, chega aqui ao pé de mim.

O Zé não teve outro remédio. Levantou-se e foi até ao estrado. Quando passou perto do professor apanhou um “caldo” no pescoço. Encolheu-se, e apressou o passo para fugir do alcance da mão do professor e evitar outro “caldo”.

- Pega no giz!

Ordem peremptória e proferida em voz alta e firme.

- Agora escreve: cinco xis ao quadrado, mais três xis igual a dois. Hum. Eu disse ao quadrado…

“Carolada” na cabeça do Zé, com o ponteiro!

- É assim que se escreve? Apaga!

O Zé não sabia o que apagar e olhava espantado para o que tinha escrito.

- Não ouviste?

“Carolada”.

- Apaga, disse eu!

A turma, em silêncio inquieto, concentrava-se na cena. O Zé, aflitíssimo, enganava-se a todo o momento. Quando apagou o xis apanhou uma “carolada”, quando apagou o três apanhou outra. Já não sabia o que apagar. Algumas meninas rezavam para que ele acertasse, pondo um fim àquele suplício.

Mas o professor continuava:

-Então não sabes? Nem isto ao menos tu sabes?

O Zé finalmente acabou por ver que não tinha escrito o dois em cima do xis e, a muito medo, levou a mão até lá para finalmente o apagar e pôr em forma de potência. Às vezes quando íamos para emendar apanhávamos com o ponteiro nos dedos… Bom, desta vez, ao menos isso não aconteceu. Mal escreveu o xis ao quadrado e o resto da equação, ouviu-se:

- Está bem!

Acto contínuo, o professor virou-se de costas para o Zé (uma folga para ele, que soltou um pequeno suspirou de alívio) e dirigiu-se à secretária onde se sentou.

-Resolve!

Disse ele, enquanto se sentava cruzando as mãos sobre a barriga, sem olhar para o Zé.

Passados poucos segundos dirigiu-se a nós:

- E vocês também, ou o que é que julgam que estão aqui a fazer?

Olhava-nos ameaçador.

-Se vejo alguém sem estar a escrever vou até lá dar um “caldinho”! Sabem como são os meus “caldinhos”, não sabem?

Sabíamos… uns melhor que outros, mas todos sabíamos. Por acaso, o Zé era o que costumava levar mais “caldos”. As meninas levavam muito menos. O professor continuava com aquele sorriso trocista.

- Pois então façam! Resolvam a equação!

E logo a seguir:

- Que é que estão a olhar para mim? Sou bailarino? Não sou pois não? Sabem o que é que eu sou, não sabem?

A turma em silêncio aguardava a resposta, que viria do próprio professor, como de costume.

- Sou pequenino…

E continuava a sorrir e levantava as sobrancelhas realçando a evidência!

Ninguém tirava os olhos dos cadernos. Mesmo que não soubéssemos que volta havíamos de dar à equação, tínhamos que estar a olhar para baixo. Todos conhecíamos de cor a frase emblemática daquele professor: “homem pequenino, ou velhaco ou bailarino”…

sousalaurinda@live.com.pt
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COMENTÁRIOS
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JJ disse:
Este depoimento foi-me enviado por correio electrónico.
O email é a única assinatura que obtive, pelo que a utilizei no texto, depois de confirmar que existe e responde às mensagens.
O nome do professor não constava no original, que é publicado sem uma só vírgula alterada.
Comentários?
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São Caixinha disse:
(...) fartei-me de rir com todos os depoimentos sobre o Azevedo e a excelente caricatura do Licínio mas, na minha opinião, os Monólogos superaram tudo! Eu não me lembro mas creio que sim...que seriam exactamente assim as aulas com este professor. Que extraordinária personalidade!
Coibi-me de comentar porque, como na realidade nunca nos entendemos muito bem, o que retenho das lições de matemática é mesmo apenas a memória do disparatado medo que me possuía durante aquelas longas e opressivas horas! Neste ponto devo contudo fazer justiça à verdade, e não posso deixar por dizer que eu era má aluna nesta disciplina. Ou melhor...era péssima aluna! Embirrei com os números desde sempre e a tudo a que deram origem, com as elevações a potências, com eu sei lá que equações... aquilo absolutamente tudo e com o professor também! Pois bem, no meu caso particular, os seus intransigentes métodos talvez tivessem alguma justificação!!! Eu era mesmo como se dizia um zero à esquerda...ou é à direita o zero? WHATEVER!
Bjs São
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João Ramos Franco disse:
Não arrisco nomes, devido ao comentário anterior,em que confessei que era "marreta" a Álgebra, mas a cena parece-me passada com o outro personagem de que falei. Pelo menos ele era muito parecido com este...João Ramos Franco
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Ana Luisa disse:
O Professor é o Azevedo, não tenho qualquer dúvida.Quem é a Laurinda,duvido que alguém saiba,já telefonei a colegas mais velhos,ninguém sabe.Mas o Zé e o Júlio,é possível saber os apelidos?
Como relato é muito bom,de um realismo impressionante,até eu torci para ele acertar!AL
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Guida Roberto disse:
Esta abundância de caroladas e caldinhos só pode ser do Dr. Azevedo numa qualquer segunda feira depois de uma derrota do Benfica. Parece que estou a vê-lo na sua batinha branca desabotoada e com aquela careta de dor por causa dos "bicos de papagaio" que o atacavam mais naquelas alturas. Wicca

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João B Martins disse:
Olá caro João Jales.
Não nos conhecemos pois somos de gerações diferentes. Chamo-me João B. Martins. Sigo o blog há tempos e se agora escrevo é por causa do Dr. Azevedo. Este homem foi, para mim, um excelente professor e um bom amigo.
Deve ter sido o professor que mais anos leccionou no ERO. Por coincidência foi, ao longo do curso liceal, o primeiro e o último professor de matemática. Entrei para o Colégio em 1949 e tive-o logo como Prof. de Matemática. Em 1954 vim para Lisboa para fazer o terceiro ciclo no Liceu Passos Manuel mas como chumbei a Físico-químicas e Matemática, em 56/67 voltei às Caldas e ao ERO para as repetir. Foi então que de novo o Dr. Azevedo me voltou a ensinar Matemática. Trabalhamos muito nesse ano mas mereceu a pena. Por exemplo: quer eu quer o Nozes tiramos 17. Para quem tinha tido 5.4 no ano anterior foi bem bom. Como disse, trabalhámos muito. Até em muitos sábados de manhã íamos para o colégio para fazer exercícios. Tivemos aulas práticas de Trigonometria no Parque para onde ele levava um teodolito.
Foi no 2º ciclo professor de Ciências, Geografia e, salvo erro, até de História Universal (pelo menos em parte do 3" ano). Criou as sabatinas que nos ajudavam a consolidar a matéria de empinanço, pois era assim naquela época. Tinha com ele um senão: não havia caldaços mas um par de chapadas apenas a um aluno - dizia-se que a mãe o havia autorizado. Aproveitava-se de todos os pretextos para o fazer.
Em 1957 voltei para Lisboa e os meus regressos às Caldas passaram a ser raros. Só voltei a estar com o Dr. Azevedo 2 vezes: no princípio dos anos 60 no velório de minha avó Maria José e depois na grande reunião de antigos alunos de 1988, a que fui arrastado pelo meu primo Fernando (Figueiredo). Neste encontro apanhei-o junto com o Dr. Luís Rosa Bruno e perguntei a ambos quem eu era. –Olha é o Martins ! Passados tantos anos ainda se lembravam de mim. Curioso.

Um abraço. Até sempre.
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Manuela Gama Vieira disse:
Nunca imaginei que o Prof. em causa, até me custa dizer o nome- não lhe conheci esta faceta- fosse capaz de actos de tortura; deculpem-me, mas o que é descrito tem o nome de TORTURA!Faz-me lembrar outros tempos e situações vividas nesse tempo no Portugal salazarento, de tão má memória!
Fiquei absolutamente chocada e, por solidariedade, não posso deixar de saudar os meus colegas vítimas destes execráveis métodos!
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Óscar Oliveira disse:
Julgo que alguns ainda se lembrarão de outro tipo de "tortura" (a ironia tem a ver com os tempos presentes, onde os professores até podem levar dos alunos, mas ai deles se, nem que seja em legítima defesa, tocarem num cabelo dos meninos) do dr. Azevedo.
Só não me lembro quem era o "mártir" dessa actuação, mas tenho a sensação que era um colega nosso precocemente desaparecido, o Joaquim do Norte (a alternativa que imagino só podia ser o Zé Carlos Faria...).
Então não é que o dr. Azevedo, quando queria aplicar um enxota moscas na cara, para que o aluno em causa não pudesse fugir, tinha o cuidado de, antecipadamente, lhe pisar a ponta do sapato, só o largando quando a mão dele atingia o objectivo?
Julgo que existirão outros colegas a lembrar-se desta particularidade.
Oscar
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João Ramos Franco disse:
Caros colegas se a verdade é para se dizer, existiram na realidade dois professores que ensinavam "torturando-nos": o Dr. Perpétua (na sala de aula pairava o medo) e o Dr. Azevedo, com as atitudes de já falaram.João Ramos Franco
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jorge disse...
o j r franco pergunta se a verdade é para se dizer?que blogue seria este se não fosse?
se o licinio fez uma grande caricatura,está aqui um belo texto.devias ter juntado os dois oh jj. jorge

5 comentários:

João Ramos Franco disse...

Não arrisco nomes, devido ao comentario anterior,em que confessei que era "marreta" a Algebra, mas cena parece-me passada com o outro personagem de que falei. Pelo menos ele era muito parecido co este...
João Ramos Franco

Anónimo disse...

Esta abundância de caroladas e caldinhos só pode ser do Dr. Azevedo numa qualquer segunda feira depois de uma derrota do Benfica. Parece que estou a vê-lo na sua batinha branca desabotoada e com aquela careta de dor por causa dos "bicos de papagaio" que o atacavam mais naquelas alturas.

Unknown disse...

Julgo que alguns ainda se lembrarão de outro tipo de "tortura" (a ironia tem a ver com os tempos presentes, onde os professores até podem levar dos alunos, mas ai deles se, nem que seja em legítima defesa, tocarem num cabelo dos meninos) do dr. Azevedo.
Só não me lembro quem era o "mártir" dessa actuação, mas tenho a sensação que era um colega nosso precocemente desaparecido, o Joaquim do Norte (a alternativa que imagino só podia ser o Zé Carlos Faria...).
Então não é que o dr. Azevedo, quando queria aplicar um enxota moscas na cara, para que o aluno em causa não pudesse fugir, tinha o cuidado de, antecipadamente, lhe pisar a ponta do sapato, só o largando quando a mão dele atingia o objectivo?
Julque que existirão outros colegas a lembrar-se desta particularidade.
Oscar

João Ramos Franco disse...

Caros colegas se a verdade é para se dizer, existiram na realidade dois professores que ensinavam "Torturando-nos" o Dr. Perpétua, (na sala de aula pairava o medo) e o Dr. Azevedo com as atitudes de já falaram.
João Ramos Franco

jorge disse...

o j r franco pergunta se a verdade é para se dizer?que blogue seria este se não fosse?
se o licinio fez uma grande caricatura,está aqui um belo texto.devias ter juntado os dois oh jj. jorge