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Artur R. Gonçalves disse...
Um texto com as características do «Naufrágio nos mares do Talvai» não necessita de grandes comentários. Todo ele é auto-suficiente e fala por si.
Um texto com as características do «Naufrágio nos mares do Talvai» não necessita de grandes comentários. Todo ele é auto-suficiente e fala por si.
A permanência do Zé Luís nas terras banhadas pela margens ocidentais do grande mar oceano não beliscou em nada a verve com que nos descreve a história trágico-marítima da sua infância. Fá-lo com grande segurança estilística e domínio de língua. Melhor do que muitos daqueles que permaneceram na margem oriental desse mesmo mar oceano, em contacto directo e continuado com o idioma que mamaram no berço. Espantoso.
As minhas vivências de pouco mais ou menos 17 anos intermitentes nas CdR nunca me motivaram a conhecer em pormenor as freguesias rurais que formam o meu concelho natal. Tive e continuo a ter uma existência muito urbana. Desconheço os benefícios do campo e não me vejo a viver num outro cenário que não seja o da cidade. Terei atravessado o Chão da Parada uma meia dúzia de vezes (se tanto) ao longo de toda a minha permanência no oeste estremenho. A minha família não tem raízes na região, pelo que até as férias eram passadas noutros quadrantes geográficos. As praias eram outras, os campos eram outros. Visualizo, assim, os Mares do Talvai como um espaço perfeitamente exótico. No sentido exacto do termo: singular, estranho, raro.
A leitura das desventuras do menino que esperava ansiosamente o regresso do pai dessas viagens pelo mundo repartido tocou-me muito particularmente. Fiquei com vontade de o ouvir contar outras histórias de vida vivida. Ficar a conhecer melhor esse meu colega de escola que só começo a conhecer com algum pormenor passados tantos anos e com todo um mar de permeio. Um espaço imenso a separar-nos / juntar-nos através destas navegações virtuais tão mais eficientes do que muitas das viagens reais que constituem a nossa caminhada pela vida.
Fico a aguardar. Até breve...
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Ana Braga disse...
Gostaria de agradecer a J.L Reboleira Alexandre por esta oportunidade que me deu de ler um magnífico texto, cuja profundidade e alcance não se limita ao aparente relato da sua aventura infantil.
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Ana Braga disse...
Gostaria de agradecer a J.L Reboleira Alexandre por esta oportunidade que me deu de ler um magnífico texto, cuja profundidade e alcance não se limita ao aparente relato da sua aventura infantil.
A par da realidade das vivências, nem sempre doces, da sua meninice, apresenta-nos uma descrição nua e crua da vida rural dos anos sessenta. Senti-me emocionada com as suas palavras e voltei atrás no tempo. Fui uma criança, talvez mais afortunada do que o autor, no diz respeito às condições económicas em que cresci, mas também vivi toda a minha infância e adolescência numa aldeia, onde eu e os meus irmãos frequentámos a escola, convivemos indiscriminadamente com todos os meninos e meninas da nossa idade, explorámos todos os recantos dos campos, dos pinhais e da beira do rio e, em plena liberdade, corremos à solta, levados pelos sonhos. Ora piratas e índios, ora polícias e cowboys, invariavelmente criaturas aventureiras e corajosas, que retardávamos o regresso a casa e a passagem do sonho à insípida realidade. Para alguns, a realidade era mais do que insípida era mesmo muito dura e nós, embora sendo crianças, tínhamos consciência disso e aprendemos cedo a ser solidários, muito antes de conhecermos sequer tal palavra.
Ainda bem que as condições de vida mudaram e que os meninos de hoje têm acesso a uma existência com muito mais qualidade do que aquela de que usufruíam os seus avós, mas duvido que o melhor brinquedo já feito, comprado e pronto a usar, dê mais gozo do que uma viagem pelo “Mar do Talvai”, dentro dum bidão.
Ana Braga
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Soberbamente bem descrita esta tua aventura “nos mares do Talvai”. Fizeste-me reviver esses tempos de rigorosos invernos trazendo-me à memória, aquele particular inverno em 1966, que destruiu a ponte de madeira na Estrada Nacional em Tornada e a ponte sobre o rio de Salir na estrada Salir - S. Martinho, sobre as quais já referi numa estória que escrevi para o blog da Escola.
E esta foi uma data que jamais esqueci porque nesse dia outro acontecimento marcou o nosso passado pois foi o dia em que “Os Magriços”, depois de estarem a perder por 3-0 com a Selecção da Coreia dos Norte, deram a volta ao resultado muito por acção do sempre recordado herói “Pantera Negra”.
Invernos esses em que S. Martinho se tornava num istmo só acessível pelo lado da Nazaré pois os campos da Quinta do Gama, Vale do Paraíso, Alfeizerão e Quinta do Talvai no Chão da Parada, por um lado e Salir do Porto por outro, até aos arredores de Tornada ficavam ligadas por água.Crescemos nesse ambiente de embarcadiços, que na nossa zona formava um vasto triangulo que comportava Tornada, Nazaré e S. Martinho onde se incluíam todas as aldeias de permeio.
Mas isto também já faz parte do passado, no tempo em que os comboios circulavam na linha do Oeste e paravam em apeadeiros e estações… agora nem em estações!Um abraço amigo
A.Justiça
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Antonio Jose disse...
Belo texto, que me toca de sobremaneira porque a minha pool genética também tem a ver com esse lugar. O meu bisavô era do Chão da Parada e emigrou para o Pará com 13 anos, regressando com 40, o meu avô teve um casal no Bouro e imagino que muita gente com raízes aí é meu primo distante.
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Antonio Jose disse...
Belo texto, que me toca de sobremaneira porque a minha pool genética também tem a ver com esse lugar. O meu bisavô era do Chão da Parada e emigrou para o Pará com 13 anos, regressando com 40, o meu avô teve um casal no Bouro e imagino que muita gente com raízes aí é meu primo distante.
Os jovens de hoje não podem imaginar aquele Portugal dos anos 60 de que nós nos lembramos.
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Luis disse...
Muito bom,mesmo MUITO bom este post.
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Luis disse...
Muito bom,mesmo MUITO bom este post.
Um retrato de uma época que todos vivemos mas que nem todos recordamos damesma forma.E São Martinho,Tornada,Alfeizerão eram aqui tão perto e eram tão desconhecidos para a juventude urbana?
Parabéns José Luis(que não conheço)este é um grande momento deste blogue!L
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ana lucia disse...
Óptimo relato de um época que muitos miúdos e alguns graúdos de hoje não tiveram o prazer, sim prazer, de saber como foi.
O meu pai contava-me muitas das suas peripécias de miúdo, eram como um embalar em recordações coloridas de um outrem cheio de nostalgia.
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ana lucia disse...
Óptimo relato de um época que muitos miúdos e alguns graúdos de hoje não tiveram o prazer, sim prazer, de saber como foi.
O meu pai contava-me muitas das suas peripécias de miúdo, eram como um embalar em recordações coloridas de um outrem cheio de nostalgia.
J J disse...
Esta aventura, apesar de não ser "motorizada", encerra com brilho esta série sobre trangressões. Curiosamente o autor parece ter sido o "herói" que saiu mais penalizado de todas elas...
Este post é um emotivo retrato de uma infância certamente com algumas dificuldades, mas de que o autor guarda boas recordações e transparentes afectos. Guarda e transmite com aparente facilidade, como podemos ver (ler) mais uma vez neste blogue.
Magnífico enquadramento social, económico e geográfico da narrativa, é um privilégio contar com o Zé Luis como colaborador deste blogue. Um abraço.JJ
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vitor b disse...
Gostei muito deste post.Já outros comentadores aqui referiram o excelente casamento entre a história que é contada e a descrição dos tempos em que se passou.
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vitor b disse...
Gostei muito deste post.Já outros comentadores aqui referiram o excelente casamento entre a história que é contada e a descrição dos tempos em que se passou.
Vejo os posts do JJ como se fossem filmes de aventuras,vejo os do José Luis como se estivesse a contemplar um quadro com vários planos:as pessoas,depois as casas e caminhos,ao fundo o horizonte e o mar...
Excelente,Parabens!!!Vitor
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João Ramos Franco disse...
Não vos vou falar, novamente, do meu conhecimento da envolvente rural de Caldas da Rainha e de que a maioria dos homens do Chão da Parada, e outras aldeias, emigravam para o mar.
Transcrevo umas palavras que o Zé Luís escreveu como comentário no meu blogue (Estar Presente):
"Olha João afinal temos mais coisas em comum. É que se a comida era boa no Vera Cruz quando regressaste de Angola agradece ao meu pai. Se não era desculpa-lhe que a culpa não era dele. Foi muitos anos cozinheiro nesse navio e veio para o Canadá exercer a mesma profissão quando o barco encostou. Apesar de hoje estar com 88 anos (em Maio 89) ainda se lembra perfeitamente dessa época. Das melhores da vida dele.Abraço.Zé Luis.25 de Janeiro de 2009"
Um abraço amigo do
João Ramos Franco
Transcrevo umas palavras que o Zé Luís escreveu como comentário no meu blogue (Estar Presente):
"Olha João afinal temos mais coisas em comum. É que se a comida era boa no Vera Cruz quando regressaste de Angola agradece ao meu pai. Se não era desculpa-lhe que a culpa não era dele. Foi muitos anos cozinheiro nesse navio e veio para o Canadá exercer a mesma profissão quando o barco encostou. Apesar de hoje estar com 88 anos (em Maio 89) ainda se lembra perfeitamente dessa época. Das melhores da vida dele.Abraço.Zé Luis.25 de Janeiro de 2009"
Um abraço amigo do
João Ramos Franco
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