ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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COMENTÁRIOS A "Mueda - 1971"

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Eva Mar. disse...
Considero-me com muita sorte por vários motivos. Tive uma infância feliz e cresci numa casa onde "sentir é permitido" e ler algo assim, escrito pela mão, e coração, do meu próprio pai enche-me a alma de orgulho.
Obrigada, pai. :)um beijinho grande.
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Ana Braga
disse...
É tão bonito o seu poema Alfredo Justiça, e tão triste! Mas não podia deixar de o ser. Que sentimentos de impotência, de revolta e de medo a maioria dos jovens do meu tempo – na altura em que ele foi escrito tinha eu 19 anos – viviam, perante esse fantasma da ida para a guerra. Uma guerra longínqua e estúpida, uma empresa inglória, sem futuro, que ensombrava os dias, como uma ave agoirenta de grandes asas a ofuscar a luz dos nossos sonhos.
Que solidão, lá longe. E como soube traduzir tão bem neste poema esse sentir.
A distância, o desconhecido, a insegurança, o receio do futuro aproximava os jovens soldados daqueles que mais amavam e levavam-nos, a encurtar as distâncias através da expressão dos sentimentos, através da palavra, dizendo o que não diriam em circunstâncias menos adversas. Porque esse ainda era o tempo em que se ensinava aos meninos que: “Um homem não chora.”
Obrigada por partilhar connosco este momento tão comovente da sua vida e parabéns pela forma como escreve.
Ana Braga
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IJustiça disse...
E pronto pai... lá me conseguiste pôr a chorar. E foi nos meus braços, debaixo do meu olhar que jamais esquecerei, sem o meu consentimento, que a mãe partiu para descansar. Sim para descansar... apenas o corpo.. de resto, certeza tenho, que cmg está...para sempre

Poema

Mãe que Levei à Terra

Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
que farei destas tuas artérias?
Que medula, placenta,
que lágrimas unem aos teus
estes ossos? Em que difere
a minha da tua carne?

Mãe que levei à terra
como me acompanhaste à escola,
o que herdei de ti
além de móveis, pó, detritos
da tua e outras casas extintas?
Porque guardavas
o sopro de teus avós?

Mãe que levei à terra
como me trouxeste no ventre,
vejo os teus retratos,
seguro nos teus dezanove anos,
eu não existia, meu Pai já te amava.
Que fizeste do teu sangue,
como foi possível, onde estás?

António Osório, in 'A Ignorância da Morte'

Amo-te mto meu pai... ja to disse imensas vezes.. mas ainda não as suficientes.. AMO-TE
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Julinha disse.
Muita coragem do A.Justiça em compartilhar este poema "tão seu", connosco, aqui no blog .Quantos A.Justiça não sofreram,desanimaram,não teriam vontade de deixar tudo e voltar...voltar!
Ao ler tudo isto comovi-me,não só com o poema do A.Justiça como com todos os comentários, nomeadamente os das suas filhas e da Anabela Miguel, que também retrata parte da vivência daquela guerra e nos descreve o desespero de tantos homens.
Um Abraço
JúliaR
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Manuela Gama Vieira disse:
Nunca esqueci o sofrimento- por antecipação - de um Pai que ia assistir ao embarque dos militares que partiam…Dizia ele que se andava a preparar para o dia da partida do seu próprio filho. Chorava sentidamente, acenava com um lenço branco…
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Como se preparariam os jovens que partiam?
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“Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.”
Trova do Vento que Passa - Manuel Alegre
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Alfredo Justiça, a minha Homenagem por ter partilhado connosco um “lugar” seu, de tão íntimo.
Manuela Gama Vieira
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J.L. Reboleira Alexandre disse...
Os sentimentos de um miúdo de 20 anos enviado contra a sua vontade e a dos seus, para ambientes diferentes e hostis. Afinal, a maior parte de nós fomos os tais soldados, de que o «império se orgulha» ou tão apenas bandos de garotos deslocados, roubados precocemente ao seu meio ambiente, por via da vontade de uns quantos loucos que nos governaram tanto tempo?Vou por esta última opção.
O Alfredo escrevia poesia. Eu acabava a leitura em Português dos Irmãos Karamazov. E será que a bela Nani, que dormia no jardim do seu quarto, daquela pequena vivenda térrea, ali à Sagrada Familia em Luanda o chegou a ler, depois de, com os seus pais, ter sido, ela, deslocada para Portugal em Julho de 75?
E perguntava-me vezes sem conta o que fazia naquelas latitudes, 4 anos depois do Alfredo. Mas pior que isso, perguntava-me porque razão todas as Nanis de Luanda tiveram de abandonar a terra onde nasceram?
Bravo amigo, pela coragem que tiveste ao tirar cá para fora momentos tão intimos. Como já aqui foi dito, um dos bons momentos deste blog.Abraço.
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José Carlos Abegão disse:
Parabéns ao blogue do ERO, parabéns João Jales, por continuar a manter este blogue, independentemente do muito trabalho que te dá, parabéns pela contínua ligação que continuas a fazer entre os ex alunos do ERO e da Bordalo Pinheiro.
Embora nunca tenha sido aluno do ERO, não deixei de ter por lá muitos amigos, alguns dos quais reconheço nessa foto onde estão o Luis Rolim, o Hilário, o Rui Silva o Bento Loureço da Silva, o Zé Castro e mais alguns, e é com muito prazer que continuo a ler os diversos textos que a rapaziada da "minha época", aí publica. Boas referências para o "Naufrágio nos Mares do Talvai", do José Luis Reboleira, "Viagens a S. Martinho e à Nazaré", do Tó-Zé Hipólito, assim como este poema do meu ex-colega da Bordalo, A.Justiça.
Um abraço
J. Carlos Abegão
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João Ramos Franco disse:
Ao ler a “Carta enviada de Mueda em 1971 – Poema de Amor”, encontro um sentimento que muito respeito e admiro, para mais porque em mim é difícil encontrar durante o tempo que estive na guerra colonial anos antes (saí em 1967), em Angola.
Ainda bem que conseguiste escrever um “Poema de Amor”, numa situação da nossa vida em que é mais fácil escrever um de raiva e ódio.
Desse momento da minha vida recordo um único retrato de amor: “A Beleza da Natureza e o Povo indígena”.
Bem hajas por ter encontrado em ti espaço para este Poema.
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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Luis disse:
Muito comovente e sincera esta descrição do estado de espírito do autor naquele momento.Curiosamente nunca aqui tinha aparecido nada sobre África nem a Guerra Colonial que eram assuntos tabus naquela altura mas sobre os quais já há certamente distanciamento suficiente para falarmos hoje.
Concordo com o Abegão,está aqui um dos bons posts do nosso blogue.Abraço.L
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2 comentários:

J.L. Reboleira Alexandre disse...

Os sentimentos de um miúdo de 20 anos enviado contra a sua vontade e a dos seus, para ambientes diferentes e hostis. Afinal, a maior parte de nós fomos os tais soldados, de que o «império se orgulha» ou tão apenas bandos de garotos deslocados, roubados precocemente ao seu meio ambiente, por via da vontade de uns quantos loucos que nos governaram tanto tempo ?

Vou por esta última opção.
O Alfredo escrevia poesia. Eu acabava a leitura em Português dos Irmãos Karamazov. E será que a bela Nani, que dormia no jardim do seu quarto, daquela pequena vivenda térrea, ali à Sagrada Familia em Luanda o chegou a ler, depois de, com os seus pais, ter sido, ela, deslocada para Portugal em Julho de 75 ?

E perguntava-me vezes sem conta o que fazia naquelas latitudes, 4 anos depois do Alfredo.

Mas pior que isso, perguntava-me porque razão todas as Nanis de Luanda tiveram de abandonar a terra onde nasceram ?

Bravo amigo, pela coragem que tiveste ao tirar cá para fora momentos tão intimos. Como já aqui foi dito, um dos bons momentos deste blog.

Abraço

Anónimo disse...

Nunca esqueci o sofrimento- por antecipação - de um Pai que ia assistir ao embarque dos militares que partiam…Dizia ele que se andava a preparar para o dia da partida do seu próprio filho. Chorava sentidamente, acenava com um lenço branco…

Como se preparariam os jovens que partiam?

“Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.”
Trova do Vento que Passa - Manuel Alegre

Alfredo Justiça, a minha Homenagem por ter partilhado connosco um “lugar” seu, de tão íntimo.

Manuela Gama Vieira