Esta, algures em Abril deste ano, marcou uma “entrevista” com a nossa antiga professora.
O encontro decorreu em casa dela, no Bombarral, num ambiente muito descontraído e familiar ― até deu para conhecer aqule que causou um célebre telefonema durante uma aula (e que será tema da próxima crónica).
Desta conversa, resultaram informações nunca dantes imaginadas.
Natural de Martim Joanes, Cadaval, fez o liceu em Santarém e licenciou-se em Ciências Biológicas em Lisboa em 1961.
Acabada de licenciar, com 22 anos, foi para o Colégio, levada pela Dra. Maria do Rosário Leal (no momento não lhe ocorrem os pormenores), onde permaneceu 2 anos lectivos, 1961/62 e 1962/63, tendo saído «para se casar e ser mãe a tempo inteiro».
Leccionou Geografia às turmas do 3º ao 7º ano. Para dar Geografia aos 6º e 7º da alínea G (Económicas e Financeiras), ia para Lisboa à sexta-feira e enfiava-se na Biblioteca da Faculdade de Ciências para se preparar, sobretudo para «aquela maldita Astronomia». Não tem recordação de nenhum percalço, mas os que a tiveram como professora que o digam!
Também leccionou Ciências Naturais ao 3º e 4º anos e deu Desenho a uma turma do 3º ou 4º ano (não se lembra bem).
Logo no início da sua permanência no Colégio, foi criada uma disciplina de Moral Feminina, por iniciativa do Pe. António Emílio, para as raparigas dos 3º, 4º e 5º anos. De que se falava nessas aulas? Ninguém se lembra de programa nenhum. Falava-se de tudo: das relações rapazes-raparigas, de moda, etc., etc. A verdade é que, de parte a parte, todas sentíamos que era muito bom. Estas aulas eram dadas nas escadinhas do lado de fora do fim do corredor do rés-do-chão (ver fotografia de abertura do blog) ou, muitas vezes, na mata. Se calhar, quando chovia, seriam dadas no interior, mas não nos lembramos disso; por que será?
A Dra. Alda confessou-nos a sua estratégia para se aproximar dos alunos, fosse em que disciplina fosse: começou por dar as aulas sentada atrás da secretária; depois, no estrado, fora da secretária e, finalmente, aventurou-se a «sair do pedestal» e descer ao nosso nível. A sensação era bem diferente!
E as nossas memórias de alunas?
A Dra. Alda era uma pessoa completamente diferente que aparecia no Colégio. Era alta, elegante, gira, descontraída e tinha duas coisas que nos encantavam: os mocassins e o seu inesquecível Triumph cinzento. Além disso, tinha uma forma muito peculiar de entrelaçar as pernas quando se sentava e até quando andava naquele corredor das salas de aula.
Recém-licenciada, veio directamente para as Caldas, onde exerceu uma actividade que a marcou muito positivamente e lhe deixou muitas e boas recordações, que não escaparam às comparações quando, mais tade, foi leccionar noutras paragens.
A Dra. Alda refere que, antes de começar a leccionar, tinha lido o Diário de Sebastião da Gama, que a motivou com esta frase: «Sebastião, tens muito que fazer?» ― «Não, tenho muito que amar». E foi isto mesmo o que sentiu durante os 2 anos que passou entre nós: Amou e foi Amada.
Conclusão:
Foi professora a tempo inteiro.
Casou e foi mãe a tempo inteiro.
Reformou-se para ser esposa e avó a tempo inteiro.
QUE MULHER EXTRAORDINÁRIA!!!!!
Júlia Ribeiro
Isabel V. P.
Mélita Teotónio
.........................................................................................
COMENTÁRIOS
João B Serra disse:
Agradeço às meninas que aqui trouxeram esta bela memória de uma professora que não esqueci.
Fui aluno da Dr.ª Alda no meu 3º ou 4º ano, a Ciências Naturais. A imagem que guardo da professora desse tempo corresponde por inteiro à que foi traçada pela Júlia, pela Isabel e pela Mélita: dedicação e competência, entusiasmo e alegria. Gostaria de sublinhar este aspecto: a Dr.ª Alda era uma professora que sorria. E que o fazia com a mesma naturalidade com que se sentava no tampo da secretária, entrava e saía do seu Triumph.
A figura, que as autoras do post definem como "alta, elegante, gira" não diz, no meu modo de recordar, tudo. Para quem, como eu, tivesse 13 ou 14 anos, a Dr.ª Alda era "altíssima, elegantíssima e giríssima". Não creio que nenhum rapazito da minha turma se não aplicasse, daquela forma "discreta" e "ajeitada" que caracteriza o comportamento dos adolescentes, e competindo duramente para tal, em "chamar a atenção" da Dr.ª Alda.
Vim a encontrá-la, muito mais tarde, nos finais da década de 70, no Bombarral, onde exercia funções directivas numa escola secundária. Foi também esse um acontecimento que retive. A memória que guardara da antiga professora ajustava-se perfeitamente à da pessoa que inesperadamente revia 17 ou 18 anos depois.
Hoje sou colega das suas duas filhas, Teresa e Maria da Graça, amigo e também colega do seu genro João. Estas continuidades testemunham e dão sentido ao novelo cuja ponta começou a ser desenrolada vai (quase) para meio século!
J. Serra ( O João tem também um post a propósito da Dr.ª Alda no seu blogue em http://oqueeuandei.blogspot.com/2009/02/professora-alda.html ).
farofia disse...
amo,amas,amare,amavi,amatum(?!). Estas são memórias de afectos que nos põem perante o que não envelhece dentro de cada homem, a anima. Esta capacidade de o 'ontem' ser 'hoje'. Sem stress, receita o João Jales. thanks!
João Jales disse:
Tive o privilégio de conhecer a Dr.ª Alda no Verão passado, numa destas "organizações surpresa" da Júlia, em Óbidos. Está documentado esse encontro em FIM DE TARDE COM A DRA. ALDA LOPES (ÓBIDOS, 26-07-2008)
Não fui seu aluno, mas não precisava de ler o comentário do João Serra para o lamentar, bastou-me essa deliciosa tarde em casa da Júlia para me render aos encantos vários desta Senhora. Já tinha o prazer de conhecer o seu marido, o verdadeiro "gentleman" que é o Dr. Mouga, desde o início da década de oitenta. Esta é pois uma evocação merecida, e claramente sentida, dos seus antigos alunos.
Obrigado às “meninas”, como diz o João, por mais este artigo para uma série de que o Trio Maravilha (é este o nome?) tem sido um dos grandes dinamizadores. Como eu disse à minha amiga Dra. Inês, e ela não esqueceu, tudo isto feito “sem stress”, por puro prazer, sem obrigações nem outras intenções.
Manuela Gama Vieira disse:
Bem, Jales, este blog atingiu velocidade de cruzeiro! Não conheci a Drª Alda Lopes, contudo, as fotos confirmam que a beleza e a elegância não têm idade.
Gostaria de voltar atrás, não para ficar mais nova(….) mas para conhecer facetas dos nossos Professores, que há 40 anos me passaram totalmente despercebidas: as cumplicidades - o arabês- e o sentido de humor que havia entre eles, num Colégio onde o Director (P.e Albino) fazia questão de tornar o ar pesado.
Drª Inês, nem sabe quanto o poema que me dedica me tocou, agradeço-lhe imenso.
Todos os Professores nos deixaram lembranças, outros deixaram-nos recordações e estas ficam perenemente guardadas no coração. Manuela Gama Vieira
Manuela Carvalheiro disse...
Caros amigos:
Rever a Drª Alda no jantar da passada semana em Lisboa, conjuntamente com um grupo de colegas, Júlia, Laura, Isabel Vieira Pereira; Melita e Quim(novamente por mão da Júlia) foi de uma emoção extraordinária.Nâo só porque voltamos atrás nas nossas vidas, mas porque em simultâneo e de novo conseguimos reencontrar-nos no presente.
A ternura, a emoção à flor da pele, o abraço amigo que se estendia no olhar, nas palavras e no sentir, estava de novo presente. Foi díficil separar a memória da Drª Alda professora de ciências da Drª Alda uma amiga e de novo confidente das nossas vidas. A partilha dos afectos e a proximidade, eram entre muitas algumas das suas grandes qualidades. Foi essa diferença que fez dela uma professora diferente, que nos (me)marcou de forma especial.
Vi com alegria que se mantinha apesar da idade (afinal só mais 10 anos que nós. O que é isso agora?)feliz e segura partilhando as alegrias e preocupações. Uma palavra especial para o seu companheiro de toda a vida (o tal do telefonema) o Dr Mouga. Não o conheciamos bem da altura do colégio mas passados anos reencontrei-o em Coimbra. Estava no Internto Complementar de Cirurgia e eu era uma recém-formada. Não convivemos muito na altura. mas deu para agora recordar com ternura
Um abraço a todos. Manuela Carvalheiro
3 comentários:
amo,amas,amare,amavi,amatum(?!). Estas são memórias de afectos que nos põem perante o que não envelhece dentro de cada homem, a anima. Esta capacidade de o 'ontem' ser 'hoje'. Sem stress, receita o João Jales. thanks!
Continuo ver com alegria o desfilar de Professores, que não foram os meus, uma leve citação à Dra. Maria do Rosário Leal,
de quem fui aluno e amigo (ainda de casa de seus Pais) faz-me ir ao passado, continuar a ler com atenção as palavras que dedicam aos Vossos Professores e agrada-me o valor que lhes dão.
João Ramos Franco
Caros amigos
Rever a Drª Alda no jantar da passada semana em Lisboa, conjuntamente com um grupo de colegas, Júlia, Laura, Isabel Vieira Pereira; Melita e Quim(novamente por mão da Júlia) foi de uma emoção extraordinária.
Nâo só porque voltamos atrás nas nossas vidas, mas porque em simultâneo e de novo conseguimos reencontrar-nos no presente.
A ternura, a emoção à flor da pele, o abraço amigo que se estendia no olhar, nas palavras e no sentir, estava de novo presente. Foi díficil separar a memória da Drª Alda professora de ciências da Drª Alda uma amiga e de novo confidente das nossas vidas. A partilha dos afectos e a proximidade, eram entre muitas algumas das suas grandes qualidades. Foi essa diferença que fez dela uma professora diferente, que nos (me)marcou de forma especial.
Vi com alegria que se mantinha apesar da idade (afinal só mais 10 anos que nós. O que é isso agora?)feliz e segura partilhando as alegrias e preocupações. Uma palavra especial para o seu companheiro de toda a vida (o tal do telefonema) o Dr Mouga. Não o conheciamos bem da altura do colégio mas passados anos reencontrei-o em Coimbra. Estava no Internto Complementar de Cirurgia e eu era uma recém-formada. Não convivemos muito na altura. mas deu para agora recordar com ternura
Um abraço a todos
Manuela Carvalheiro
Enviar um comentário