por António José Neto
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Cupido quis tentar o Padre Albino e disparou as suas setas sobre uma viúva das Caldas, de certo nível e fortuna, com familiares no ERO, a ponto de esta lhe escrever cartas apaixonadas. A posição social do director, os seus modos, a sua água de colónia de boa griffe, os seus “tours de force” como vigário surtiram efeitos indesejados.
Tal importunava-o tremendamente, a ponto de um dia desabafar com alguns alunos, grupo em que eu fiquei incluído. Sabe-se lá porquê, estes não foram a correr contar aos colegas. Esta história verídica caiu num quase esquecimento, do qual a vou recuperar hoje, sem comprometer ninguém.
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Vou abreviar o nome e tratá-lo como seria proibido naquele tempo, mas se usa hoje tantas vezes em contextos profissionais, pelas iniciais, por PA.
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Que qualidades veria a senhora nele?O PA não se inibia transmitir a imagem de pessoa culta, fina e viajada. “Os meninos sabem, essa vossa viagem de finalistas… eu já visitei esses lugares muitas vezes; se for convosco é só para vos explicar, porque não vou ver nada de novo”.
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Num grupo restrito, ouvi-lhe uma vez esta perplexidade perante aquele texto que muitos cristãos e não-cristãos consideram a melhor síntese de justiça moral jamais escrita: o sermão da montanha. Comentava o PA: “Jesus disse : Bem aventurados os pobres de espírito. Pobres de espírito?! O senhor me perdoe, mas essa não!”
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Sobre o Rock'n Roll: “Quando vi dançar essa música pela primeira vez estava num cruzeiro. Havia um rapaz tolo, um atrasado mental. “Pois, a orquestra tocou e era só ele na pista. Os restantes passageiros educados não se levantaram das cadeiras. Aí eu disse para mim: Albino, aqui tens uma música que é para tolos e atrasados”.
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Um psicanalista poderia talvez encontrar por detrás da sua personalidade alguns traumas. Contou que sofreu muito com a morte da mãe. Ainda novinho, a mãe apareceu-lhe em sonhos, criando-lhe uma fé e esperança que encaminhou a sua vida para o seminário.
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Por vezes baixava as barreiras da auto-censura e deixava sair as suas ansiedades. “Tenho estado com uma ideia fixa de construir uma casa. Já fiz um plano mental das divisórias. Falei com o Padre Tal e com fulano que me disseram que isto é uma tendência altamente normal na minha idade. Tenho de estar preparado para lidar com ela”.
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Poderia este homem, como tantos padres, escorregar numa tentação do sexo oposto ? Alguém terá achado que sim, pois um dia, o PA, agastado com o assédio feminino de que estava a ser alvo, explodiu com 2 ou 3 de nós:
.- “A ________ “ (não, não era mãe) “de ____________ “ , (não, não era da nossa turma, era mais novo ou nova; eu sei mas não vou dizer, por isso não me perguntem) já me escreveu três cartas de amor. Primeiro pedia audiência para conselhos educacionais e agora são estas cartas descaradas. Diz que está apaixonada, que eu sou assim e mais assado…”
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O Padre Albino admitia que ela estava apaixonada. A senhora teve a ousadia de ver nele o homem ideal e nela própria a companhia de que ele precisava. Podemos apenas imaginar as complexas teias emocionais e dilemas de vida e aventura lançadas pelas cartas. Estavam destinadas ao fracasso.
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Agora não me venham dizer, “É pá, nós sabemos todos isso. Era a __________!”
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António José Neto - ERO(1964-1971)
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C O M E N T Á R I O S
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Isabel X disse...
Não faço a menor ideia de quem seria e, já agora, nem sequer gostaria de saber, quem era a pessoa em causa,cuja identidade é mantida secreta neste depoimento do Neto. O certo é que o autor deste texto aqui nos revela o lado mais humano(e mesmo assim nada bonito de conhecer - um cavalheiro nunca se gaba das mulheres que por ele se apaixonam, mesmo, ou principalmente - sendo padre) do Padre Albino. Afinal teve mãe e foi traumatizado por ela, afinal ele teve quem se apaixonasse por ele, por mais inverosímil que isso possa parecer - muito belos são os olhos de quem ama - e era vaidoso, gabava-se de viagens e incómodas apaixonadas junto de alguns dos seus alunos. Paz à sua alma!
Não faço a menor ideia de quem seria e, já agora, nem sequer gostaria de saber, quem era a pessoa em causa,cuja identidade é mantida secreta neste depoimento do Neto. O certo é que o autor deste texto aqui nos revela o lado mais humano(e mesmo assim nada bonito de conhecer - um cavalheiro nunca se gaba das mulheres que por ele se apaixonam, mesmo, ou principalmente - sendo padre) do Padre Albino. Afinal teve mãe e foi traumatizado por ela, afinal ele teve quem se apaixonasse por ele, por mais inverosímil que isso possa parecer - muito belos são os olhos de quem ama - e era vaidoso, gabava-se de viagens e incómodas apaixonadas junto de alguns dos seus alunos. Paz à sua alma!
- Isabel Xavier -
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João Jales disse:
Deixam-me algo perplexo estas conversas do Sr. Director, eu que só lhe ouvi palavras de recriminação, advertência e crítica, mas conhecendo o Neto como conheço, o relato é seguramente verídico.
Também eu não sei quem era a senhora que tal paixão nutria mas, ao contrário da Isabel, não desdenharia saber (para completar os arquivos históricos do ERO, claro).
Curiosamente conheço um episódio absolutamente idêntico em que o Padre Albino se queixou, não a um aluno mas a um professor do Colégio, do assédio a que era sujeito por uma outra senhora. Foi esse confidente, pessoa acima de qualquer suspeita, que me contou. Seriam verdadeiras estas estórias ou viveria o Sr. Padre, na sua enorme e evidente vaidade, na ilusão de ser um D. Juan?
Noutra coisa concordam as nossas memórias: os discos com que ele me via por vezes no Colégio eram sempre alvo de inspecções e duras apreciações (e só pelas capas, nem queria ouvir!). Tinha verdadeiro horror ao Rock, aos cabelos compridos e às roupas coloridas que se começavam a usar na década de sessenta.
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Miguel Bento Monteiro disse:
Esta história de amor comoveu-me. Quase não consigo balbuciar quanto mais verbalizar.Já agora,e por falar em paixão impossível, alguém me diz qual foi a razão que impeliu o Conde a encontrar refúgio na Cartuxa de Évora ?
MBM
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Isabel Esse disse...
Achei muita graça a esta história que desconhecia cmpletamente.Parabéns ao autor por ter conseguido tratar este assunto de forma tão delicada.
Achei muita graça a esta história que desconhecia cmpletamente.Parabéns ao autor por ter conseguido tratar este assunto de forma tão delicada.
A pergunta do anterior comentador faz sentido porque se falava insistentemente do facto da ida do Padre A para a cartuxa tinha origem numa Love Story infeliz.Mas não parece ser esta.Já agora pergunto:o Padre A era Conde de quê?Nunca em tal ouvi falar!!!
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Miguel B M respondeu:
Esclarecimento à pergunta da Isabel Esse :
- Qual é o conde mais famoso da história ?
MBM
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João Ramos Franco disse...
Na História de Portugal parece-me que seja D. Afonso IV, Conde se Ourém , neto de D. João I e de D Nuno Alvares Pereira. Mas como não sei o sentido que o MBM pretende dar ao assunto poderá estar a referir-se ao Conde Drácula, Conde Andeiro ao ou até ao Conde de Monte Cristo.Mas talvez para neste assunto o MBM se refira ao Conde Drácula...
Na História de Portugal parece-me que seja D. Afonso IV, Conde se Ourém , neto de D. João I e de D Nuno Alvares Pereira. Mas como não sei o sentido que o MBM pretende dar ao assunto poderá estar a referir-se ao Conde Drácula, Conde Andeiro ao ou até ao Conde de Monte Cristo.Mas talvez para neste assunto o MBM se refira ao Conde Drácula...
João Ramos Franco
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Isabel Esse disse...
O pai do actual rei de espanha era o Conde de Barcelona.Teria o Padre A conhecido esse senhor,que era muito religioso e viveu em Portugal?Ou estarão a brincar e é o Conde de Monte Cristo ou alguma coisa do género?
O pai do actual rei de espanha era o Conde de Barcelona.Teria o Padre A conhecido esse senhor,que era muito religioso e viveu em Portugal?Ou estarão a brincar e é o Conde de Monte Cristo ou alguma coisa do género?
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António José Neto disse:
Os comentários da Isabel Xavier são pertinentes, designadamente a propósito do comportamento de um cavalheiro.
Deixem-me também esclarecer algo sobre a foto, que me foi tirada pelo Padre Chico no Bom Sucesso, por ocasião de um acampamento com alguns alunos que convidou. A minha pose foi uma brincadeira deliberada de imitação de um hipnotizador, que depois repeti para a câmara. Sempre tão humano e cordial o Padre Chico! E depois, como se diria de um "Businessman" na classe de inglês: "He could handle his affairs".
António José Neto
António José Neto
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Tó Quim disse:
O brilhante texto do Neto, para mim é uma das maiores surpresas desde os tempos do ERO.O Padre Albino com uma apaixonada e ainda por cima a verbalização que ele fazia disso?Estou de boca aberta.
Quantos de nós, no tempo em que ele estava no ERO, tínhamos um imenso receio das reprimendas dele, das longas lições de moral que levávamos?
Apesar dos meus anteriores comentários, o Padre Albino foi uma das grandes figuras que marcou a vida do ERO.Quem se lembra do carro que ele tinha?
António Fialho Marcelino
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Luis disse:
O carro do Padre A era um Volkswagen,conhecido na altura por "carocha",não era?
5 comentários:
Não faço a menor ideia de quem seria e, já agora, nem sequer gostaria de saber, quem era a pessoa em causa,cuja identidade é mantida secreta neste depoimento do Neto. O certo é que o autor deste texto aqui nos revela o lado mais humano(e mesmo assim nada bonito de conhecer - um cavalheiro nunca se gaba das mulheres que por ele se apaixonam, mesmo, ou principalmnente - sendo padre) do Padre Albino. Afinal teve mãe e foi traumatizado por ela, afinal ele teve quem se apaixonasse por ele, por mais inverosímil que isso possa parecer - muito belos são os olhos de quem ama - e era vaidoso, gabava-se de viagens e incómodas apaixonadas junto de alguns dos seus alunos. Paz à sua alma!
- Isabel Xavier -
Achei muita graça a esta história que desconhecia cmpletamente.Parabéns ao autor por ter conseguido tratar este assunto de forma tão delicada.
A pergunta do anterior comentador faz sentido porque se falava insistentemente do facto da ida do Padre A para a cartuxa tinha origem numa Love Story infeliz.Mas não parece ser esta.
Já agora pergunto:o Padre A era Conde de quê?Nunca em tal ouvi falar!!!
Na Historia de Portugal parece-me que seja D. Afonso IV, Conde se Ourém , neto de D. João I e de D Nuno Alvares Pereira. Mas como não sei o sentido que o MBM pretende dar ao assunto poderá estar a referir-se ao Conde Drácula, Conde Andeiro ao ou até ao Conde de Monte Cristo.
Mas talvez para neste assunto o MBM se refira ao Conde Drácula...
João Ramos Franco
Na Historia de Portugal parece-me que seja D. Afonso IV, Conde se Ourém , neto de D. João I e de D Nuno Alvares Pereira. Mas como não sei o sentido que o MBM pretende dar ao assunto poderá estar a referir-se ao Conde Drácula, ao Conde Andeiro ou até ao Conde de Monte Cristo.
Mas personagem em questão será que éo Conde Drácula...
João Ramos Franco
O pai do actual rei de espanha era o Conde de Barcelona.Teria o Padre A conhecidoesse senhor,que era muito religioso e viveu em Portugal?Ou estarão a brincar e é o Conde de Monte Cristo ou alguma coisa do género?
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