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(Este é um email pessoal que recebi e que, com a devida autorização da autora, aqui reproduzo. É uma reflexão serena de uma comentadora "sábia".JJ)
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Foi bom ver temperada a opinião mainstream sobre o Director com o outro lado da moeda, pois aquele comentário da Júlia Ribeiro mostra, com grande coragem, o sentimento de gratidão que o Quim Oliveira guarda em relação ao Pe Albino.
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Como o JJ disse, também eu estava numa posição - enquanto testemunha da época e do homem - privilegiada se a compararmos com a dos alunos. Porque pertencia ao grupo dos professores e porque tinha talvez uma capacidade maior, pela idade e pela experiência de vida, de conseguir ver para lá da máscara do padre Albino. Li algures no blog, mas agora não consegui localizar, uma expressão de um Gama Vieira que quando chegou ao E.R.O. gostou do director. Gostou! Porque ele vinha do liceu de Faro, onde conheceu o reitor, esse sim, um verdadeiro terror! Senti-me perfeitamente identificada, pois foi sob esse 'verdugo' que vivi dos 9 aos 16 anos, e as marcas ficaram (como as dos escravos da roça...) por isso entendo bem os alunos.A comparação desse reitor com o padre Albino fazia deste um verdadeiro gentleman, imagine!
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Sob a ditadura os comportamentos sociais estavam altamente programados, quer para os ‘homens’ quer para as ‘senhoras’ e a gente aprendia que tinha que ler nas entrelinhas para achar as ‘bondades’ das pessoas. Excepcionalmente, como aconteceu com o Quim, ou então no convívio diário prolongado, descobriamos uma 'bondade' porque nos era dado ver o tirar da máscara. Era aí que Albino se reduzia à dimensão humana e 'descia' simplesmente à nossa escala.
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Como o JJ disse, também eu estava numa posição - enquanto testemunha da época e do homem - privilegiada se a compararmos com a dos alunos. Porque pertencia ao grupo dos professores e porque tinha talvez uma capacidade maior, pela idade e pela experiência de vida, de conseguir ver para lá da máscara do padre Albino. Li algures no blog, mas agora não consegui localizar, uma expressão de um Gama Vieira que quando chegou ao E.R.O. gostou do director. Gostou! Porque ele vinha do liceu de Faro, onde conheceu o reitor, esse sim, um verdadeiro terror! Senti-me perfeitamente identificada, pois foi sob esse 'verdugo' que vivi dos 9 aos 16 anos, e as marcas ficaram (como as dos escravos da roça...) por isso entendo bem os alunos.A comparação desse reitor com o padre Albino fazia deste um verdadeiro gentleman, imagine!
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Sob a ditadura os comportamentos sociais estavam altamente programados, quer para os ‘homens’ quer para as ‘senhoras’ e a gente aprendia que tinha que ler nas entrelinhas para achar as ‘bondades’ das pessoas. Excepcionalmente, como aconteceu com o Quim, ou então no convívio diário prolongado, descobriamos uma 'bondade' porque nos era dado ver o tirar da máscara. Era aí que Albino se reduzia à dimensão humana e 'descia' simplesmente à nossa escala.
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Um beijo
Um beijo
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Inês
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Júlia respondeu:
Inês
Desculpe tratá-la assim mas,pela sua maneira de escrever e comentar,não o consigo fazer de outro modo.Conheci-a nas fotos do P. Chico,ainda antes de chegar ao blog, até aí dizia Drª Inês....
Aprecio imenso os seus comentários ,é para mim sempre um prazer lê-los ,de tal maneira que me parece já conhecê-la!Como são as coisas,através de simples leituras termos a sensação que vamos conhecendo as pessoas.Permita-me que a "compare "a uma professora que já aqui foi bastante mencionada,a Drª Alda Lopes.O Jales,no almoço do blog disse que tinha pena de não ter tido a Drª Alda como professora e ,eu mesmo sem a conhecer pessoalmente,apenas do que se tem dito aqui e dos seus comentários digo:Se tivesse tido a Inês como professora teria provavelmente mais uma amiga agora.....
Muito obrigada pelas suas palavras,sempre de conforto, e um beijinho.
Espero ter o prazer de a conhecer no almoço de 14 de Novembro.
Júlia Ribeiro
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Isabel Caixinha
"The much loved Mr. Iceberg..."
O meu pai conta muita vez uma estória do Albino (ele que nunca foi muito de estórias). Como possivelmente podem imaginar, o meu pai tinha uma enorme admiração pelo Padre Albino. Era sempre com entusiasmo que glorificava os seus (a seu ver!) consequentes métodos de disciplina e a sua (ainda a seu ver!) exemplar integridade de carácter. Uma manhã fria e chuvosa de inverno o Director abordou o meu pai com a notícia do falecimento do seu pai. Seria necessário que ele o conduzisse nessa noite e, no dia seguinte, seria o funeral... mas que a notícia não se desse a conhecer, para evitar...aflições!
E assim foi...ainda hoje o meu pai elogia a sobrenatural capacidade do Director no domínio das profundas emoções próprias de tal acontecimento e a força para prosseguir corajosamente impávido e sereno com os encargos do dia! (A São e eu tínhamos a dúvida de qual dos pais do Padre Albino tinho sido o funeral de que o meu pai falava e assim hoje telefonei-lhe e confirmei que tinha sido do pai!).
Fiquei mesmo chocada ao saber do comportamento tão pedante e insensível do Padre Albino ! Incrível...Tão incoerente com a imagem que ele queria projectar...
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Emiliana Rego Filipe
A LARANJA
Vir substituir o Padre António temos que reconhecer que seria para qualquer um uma tarefa difícil! Ainda por cima de uma maneira tão abrupta e imprevisível.No entanto ao padre Albino parecia dar um certo gosto afirmar-se pela negativa.Foram tempos difíceis para nós! Posso mesmo confessar que o colégio, antes um lugar lindo,alegre e agradável tinha muitos dias que me parecia um outro lugar, escuro e triste.
Entre os poucos episódios que recordo vividos com o Padre Albino( eu por estratégia prefiro esquecer as memórias que me são desagradáveis) lembro-me de um que, na altura ,foi para mim muito embaraçoso mas que agora recordo com um sorriso divertido:
Cumprindo um programa bem organizado, tinhamos chegado a Sevilha.Nada conseguia beliscar o entusiasmo com que estávamos a viver a nossa viagem de finalistas a Ceuta. Havia no entanto para mim um senão, a comida espanhola que me ia fazendo acumular alguns dias de quase jejum.
Aquele hotel em Sevilha tinha um ar acolhedor.Vindo da cozinha espalhava-se um tentador cheirinho a carne guizada com esparguete,refeição ainda hoje das minhas preferidas. À hora de ser servido o jantar deixei que o meu prato ficasse substancialmente farto tal era a prespectiva de me deliciar com aquele apetitoso manjar.O Padre Albino, na mesa em frente,lançava-me um olhar reprovador...
Eis senão quando, logo à primeira garfada, eu solto um incontido vómito!...A massa tinha queijo e eu detesto comida com queijo! Gargalhadas soltas, alegres, dos meus companheiros de mesa continuavam a contrastar com o olhar do Padre Albino,agora agravado com um significativo abanar de cabeça.
Chegou por fim a hora da sobremesa. A fruta era laranja, lindas laranjas que me pareceram uma boa alternativa ao prato principal.O único senão desta vez é que teria de as descascar com faca e garfo, tarefa que, confesso,ainda hoje me deixa um pouco desconfortável.Bom,tinha mesmo que ser...e eu considero-me uma mulher corajosa nas grandes decisões. Mas a sorte não estava decididamente do meu lado naquele dia e, logo à primeira tentativa, a laranja resvala do meu pequeno prato e vai projectar-se sem mais nem menos em direcção...adivinhem de quem? Da mesa do Padre Albino!
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Júlia Ribeiro disse:
Estive a ler o blog. A Emiliana já me tinha lido ao telefone a história da laranja, a que achei muita piada e lhe disse que enviasse. Ainda bem que o fez! Júlia
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Luisa disse:
O olhar do Padre Albino,só de me lembrar até tenho calafrios.Reprovava as roupas,os sapatos,a forma de estar,sentar,andar,falar,comer,correr,sei lá,não fazíamos nada bem na opinião dele!Espero que a laranja lhe tenha caído no colo!!!L
1 comentário:
O olhar do Padre Albino,só de me lembrar até tenho calafrios.Reprovava as roupas,os sapatos,a forma de estar,sentar,andar,falar,comer,correr,sei lá,não fazíamos nada bem na opinião dele!Espero que a laranja lhe tenha caído no colo!!!Luisa
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