Isabel X disse:
Como facilmente se depreende deste testemunho, o critério censório do Padre Albino excedia o da própria Censura! E isto não apenas porque o texto do João saiu, na íntegra, na primeira página da Gazeta, mas porque se exerceu cobardemente, de director para aluno, abusando de um poder que em muito ultrapassa o institucional, para raiar o puro sadismo. A incomensurável desproporção dos respectivos estatutos, acentuada pela diferença de idades, evidente no próprio modo como se desenrolaram os acontecimentos, explica que o aluno tenha começado por acatar a absurda imposição do director da escola por algo que fazia fora dela; quando confrontado com a imposição concreta, a revolta nasceu e ainda bem que assim foi.
A narrativa deste episódio seria profundamente triste, não fora ter conduzido a uma escolha. Um rumo nem sempre é fácil de encontrar porque carece de algo mais do que um mero "estado de alma" por muito "criador" que ele seja. É de poder e de controlo que aqui se trata, e de pura inveja, desculpem a crueza da expressão, mas não há outra a aplicar neste contexto. Calculo que o João não integraria o conjunto de alunos que regularmente frequentava os retiros de Penafirme e também não seria acólito (não sei mesmo), mas atrever-se a escrever nos jornais revelando já as qualidades que lhe são próprias e que todos lhe conhecemos, à revelia do sr. director, isso ultrapassava em muito o suportável!É de salientar a correcção da atitude do director do jornal - Carlos Saudade e Silva - que não hesitou em colocar-se do lado certo. Para o jovem em causa, o apoio explícito e o estímulo ao confronto devem ter pesado decisivamente na escolha que diz dever ao Padre Albino. Afinal, tudo está bem quando acaba em bem!
Há uma frase dita no filme "Os suspeitos do Costume" que agora me ocorreu: "The greatest trick the devil ever pulled was convincing the world he didn't exist!"
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João Jales disse:
Revejo-me neste relato, já que a impressão que em mim permanece ainda hoje é precisamente de autoritarismo e prepotência em vez de autoridade e justiça.
A questão com o director da Gazeta (ou melhor, a sua inexistência) mostram bem o que eu quero dizer e cimentam a minha opinião do Sr. Director. Se ele pensasse que tinha razão teria seguramente insistido na sua posição; mas não, estava só a ver até onde poderia ir.
A excelente caricatura da São evocou imediatamente o personagem e o "ambiente". Como é habitual no autor, o texto é magnífico.
JJ
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Depois deste email do JJ,que tomo a liberdade de transcrever:
"Olá Zé Luis
"Olá Zé Luis
O texto O Princípio da Revolta (J B Serra) enquadra-se numa perspectiva de evocação de uma época que sei que te interessa. Já leste?"
aqui vai o que senti ao ler na Segunda-Feira de Páscoa este magnífico texto, na linha de todos os outros, do João Serra.
Dá para perceber o tipo de ambiente que existia na época em todos os ramos de ensino público e privado no nosso país na altura. Hoje admiro a reacção do jovem jornalista à situação demonstrando uma forma de estar que eu hoje compreendo. Na altura a minha opinião seria bem diferente, entenda-se. Lembro-me bem como reagi no mês de Outubro de 1969 ao chegar à capital e ver a minha escola ser invadida pelos esbirros a mando de um certo Ministro da Educação, e da emoção e revolta total aquando do assassinato de Ribeiro dos Santos na escola do Quelhas.
Foi já adulto e sobretudo pela acção do meu mentor profissional que aprendi a reagir de forma mais razoável a estas situações. Por isso mesmo tenho de felicitar o miúdo que era na altura o nosso jornalista «en herbe» pela forma como soube gerir uma situação tão delicada ao fazer apelo ao poder judicial, enquanto outros, nos quais eu me incluia na altura, teriam feito apelo à força.
Apesar disto ter sido escrevinhado entre dois telefones, não podia no entanto deixar o desafio do JJ sem resposta. É que este blog toca-nos mesmo cá no fundo, e artigos do tipo deste do Serra só o valorizam ainda mais.
Abraço
Zé Luis
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Manuela Gama Vieira disse:
Ora aqui está a confirmação daquilo que alguns suspeitavam e bem sabiam...fruto da sua experiência de vida e vivência cívica, o caso do Dr. Saudade e Silva.
Afinal pensava o Director do colégio que era possível cortar a raiz ao pensamento, ponto!
O acto que tentou perpetrar, CENSURA- uma das mais abissais "descidas" da natureza humana, já que atentatória do inalienável direito de liberdade de expressão- não colheu os “frutos” que o Director desejava, bem ao contrário, ponto…
Felizmente que o João Serra não se amedrontou e não devolveu "o bilhete de entrada" para o seu percurso de cidadão atento, crítico e participativo, dando o seu contributo para o traçar do caminho incompatível com “pontos”, “cruzes” e “lápis azuis”!
À São Caixinha, felicito-a, mais uma vez. Nos “retratos” dos nossos Professores não há pormenor que lhe escape.
Quanto ao Jales, um melómano que muito admiro!Sempre adequadas as suas escolhas musicais para nos acompanharem, agradávelmente, na leitura dos textos.
Manuela Gama Vieira
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João Miguel Azevedo Santos disse:
Ia lendo o texto do João Bonifácio e ia formando no espírito a ideia: É desta vez que vou escrever sobre a mudança ocorrida no colégio com a substituição do Padre António Emílio! Quando cheguei ao fim o espírito estava tomado (e encantado) com o relato e, principalmente, com a sua conclusão.
Assim, por agora, fica a homenagem a, mais uma, grande intervenção do Bonifácio (espero que não leve a mal que o trate pelo nome com que o conheci, não só é mais cómodo, como é uma manifestação do privilégio de o conhecer há muito).
Um abraço. JMiguel
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Luis disse:
Duas crónicas seguidas do João Serra são um privilégio!Se a primeira era um apontamento de época muito bem observado,esta segunda é um retrato de grande amplitude.Nem quero falar do P Albino,fica para outra oportunidade,quero apenas dizer o quanto gostei de conhecer este incidente,especialmente descrito desta maneira.
Não posso deixar de referir mais uma caricatura muito expressiva da São.Parabéns. L
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o das caldas disse...
Curiosamente nessa época, na Bordalo Pinheiro, o Pe Paulo Trindade Ferreira, com a conivência do Director da Escola - Arquitecto Eduardo Loureiro - promovia, aos fins de semana, encontros de alunos no ginásio da escola onde nos ensinava a pensar e a questionar os fenómenos que nos envolviam - encontros esses muito participados mas poucos duradouros, porque o Pe Paulo foi rápidamente transferido para a Escola Marquês de Pombal, em Lisboa.
Curiosamente nessa época, na Bordalo Pinheiro, o Pe Paulo Trindade Ferreira, com a conivência do Director da Escola - Arquitecto Eduardo Loureiro - promovia, aos fins de semana, encontros de alunos no ginásio da escola onde nos ensinava a pensar e a questionar os fenómenos que nos envolviam - encontros esses muito participados mas poucos duradouros, porque o Pe Paulo foi rápidamente transferido para a Escola Marquês de Pombal, em Lisboa.
Higino Rebelo
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Isabel Esse disse...
Não me passava pela cabeça que a mania controladora do nosso director chegasse a actividades que nada tinham a ver com o Colégio.Mas faz sentido,está de acordo com a maneira de ser.Fomos mais felizes com o Padre Chico!!!
Isabel Esse disse...
Não me passava pela cabeça que a mania controladora do nosso director chegasse a actividades que nada tinham a ver com o Colégio.Mas faz sentido,está de acordo com a maneira de ser.Fomos mais felizes com o Padre Chico!!!
Não perecebo porque é que o autor desvaloriza,a propósito da colaboração na gazeta,a qualidade da sua escrita que eu acho formidável!Tanto aqui como no seu blogue que também visito regularmente.Isabel
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João Ramos Franco disse...
O João Serra retrata-nos o seu princípio da revolta, mostrando claramente que a tentativa de parar o caminho que ele tinha escolhido como expressão do pensamento, a palavra escrita, tinha liberdade com fronteiras…
O João Serra retrata-nos o seu princípio da revolta, mostrando claramente que a tentativa de parar o caminho que ele tinha escolhido como expressão do pensamento, a palavra escrita, tinha liberdade com fronteiras…
Nunca passaria por a minha cabeça que isto se tivesse passado dentro do ERO, talvez porque comigo, anos antes, o Padre António Emílio, como director, me apoiou e incentivou a ir para a frente com o Almanaque Caldense e até no meu conto, o qual era o único com que PIDE embirrava, ele gostava.
Do Dr. Carlos Saudade e Silva, não esperava outra atitude que aquela que aquela mostra ter para com o João, como director da Gazeta das Caldas, foi um homem que abriu sempre a porta aos jovens, ajudando-os a incentivando-os no começo, publicando na Gazeta, contos e mostrando-lhes o caminho do jornalismo.Talvez fiquem um pouco espantados com a minha atitude, mas é de gratidão, o João Serra dá me a conhecer o princípio, do homem que é hoje, o que li é mais uma imagem a acrescentar no respeito intelectual e amizade que tenho por ele.
João Ramos Franco
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Isabel Esse disse...
A caricatura!!!esqueci-me de falar da fantástica caricatura em que a imagem mostra bem o lobo mascarado de cordeiro que o P Albino era!Todos estes artigos beneficiaram muito das caricaturas da São Caixinha.
A caricatura!!!esqueci-me de falar da fantástica caricatura em que a imagem mostra bem o lobo mascarado de cordeiro que o P Albino era!Todos estes artigos beneficiaram muito das caricaturas da São Caixinha.
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Júlia Ribeiro disse:
Como o João Serra nos retrata a personalidade do Padre Albino, de uma maneira suave e delicada. Gostei realmente pois, embora ele tivesse os seus defeitos, a sua maneira de ser, pensar, educar, que nos marcou pela negativa, num período tão especial da nossa vida, a adolescência, há maneiras de o fazer sem agredir, e isso foi o que me pareceu que o João fez. A minha opinião sobre o P.Albino não poderia ser diferente da já descrita, ainda mais depois de estar habituada a um Director completamente diferente, apetece-me dizer "o oposto", que era o Padre António Emílio.
Apesar de tudo, não posso deixar de testemunhar uma sua faceta, que provavelmente, ninguém conhece, mas de que tive conhecimento muito mais tarde, por ter casado com um aluno do ERO que esteve no colégio no 6º e 7º anos, os 2 primeiros anos da direcção do P. Albino. Os pais do Oliveira, não tinham posses para que ele almoçasse na cantina do colégio, já faziam muito sacrifício para pagar as viagens diárias entre o Bombarral e Caldas e outras prioridades para que um dos seus 3 filhos pudesse tirar um curso superior. Perante esta situação o Quim levava a sua lancheira e, todos os dias à hora de almoço, ia até à mata. Um dia encontra o P. Albino que lhe pergunta o que fazia ali àquela hora e sozinho. Após a resposta, ele disse-lhe: a partir de hoje vais almoçar na cantina do colégio....gratuitamente. Assim, deixou a lancheira em casa e começou a desfrutar, se não de outra coisa, pelo menos da companhia e convivência com os colegas. Também, se foi à excursão de finalistas de 1965, ao P. Albino o deve...
O Padre Albino, à sua maneira, deixou mesmo marcas. Com o meu marido contribuiu, assim como outras pessoas que ele nunca esquecerá, para ser o que ele é hoje.
E a caricatura? Que hei-de dizer? Óptima, parabéns São.
Um Abraço
Júlia R
Apesar de tudo, não posso deixar de testemunhar uma sua faceta, que provavelmente, ninguém conhece, mas de que tive conhecimento muito mais tarde, por ter casado com um aluno do ERO que esteve no colégio no 6º e 7º anos, os 2 primeiros anos da direcção do P. Albino. Os pais do Oliveira, não tinham posses para que ele almoçasse na cantina do colégio, já faziam muito sacrifício para pagar as viagens diárias entre o Bombarral e Caldas e outras prioridades para que um dos seus 3 filhos pudesse tirar um curso superior. Perante esta situação o Quim levava a sua lancheira e, todos os dias à hora de almoço, ia até à mata. Um dia encontra o P. Albino que lhe pergunta o que fazia ali àquela hora e sozinho. Após a resposta, ele disse-lhe: a partir de hoje vais almoçar na cantina do colégio....gratuitamente. Assim, deixou a lancheira em casa e começou a desfrutar, se não de outra coisa, pelo menos da companhia e convivência com os colegas. Também, se foi à excursão de finalistas de 1965, ao P. Albino o deve...
O Padre Albino, à sua maneira, deixou mesmo marcas. Com o meu marido contribuiu, assim como outras pessoas que ele nunca esquecerá, para ser o que ele é hoje.
E a caricatura? Que hei-de dizer? Óptima, parabéns São.
Um Abraço
Júlia R
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Amélia Teotónio disse:
A descrição está perfeita. O João consegue transportar-nos, duma forma realista, àquele tempo cinzento em que se movia o P. Albino.
Para um jovem daquela idade terá sido uma ousadia tamanha o confronto com o DIRECTOR ,mas sendo a causa justa o querer brotou mais forte.
Um confronto desta natureza, de forças tão desiguais, mostra-nos a coragem e a determinação do jovem de então, que viria a transformar-se, anos mais tarde, no homem de convicções e princípios, que todos temos o prazer de conhecer.
Ainda menino, movido pela justeza do seu pensamento, foi alguém que terá começado por dar força e corpo à frase “ censura nunca mais”, que anos mais tarde haveria de ter ecos risonhos nos fulgores da primavera de 74.
Parabéns João Bonifácio, pelo belo texto que partilhaste connosco, escrito daquela forma brilhante a que tens vindo a habituar-nos.
Parabéns também à Mana Caixinha, pela bela caricatura, que tão bem transmite o cinzetismo do personagem em causa.
Para um jovem daquela idade terá sido uma ousadia tamanha o confronto com o DIRECTOR ,mas sendo a causa justa o querer brotou mais forte.
Um confronto desta natureza, de forças tão desiguais, mostra-nos a coragem e a determinação do jovem de então, que viria a transformar-se, anos mais tarde, no homem de convicções e princípios, que todos temos o prazer de conhecer.
Ainda menino, movido pela justeza do seu pensamento, foi alguém que terá começado por dar força e corpo à frase “ censura nunca mais”, que anos mais tarde haveria de ter ecos risonhos nos fulgores da primavera de 74.
Parabéns João Bonifácio, pelo belo texto que partilhaste connosco, escrito daquela forma brilhante a que tens vindo a habituar-nos.
Parabéns também à Mana Caixinha, pela bela caricatura, que tão bem transmite o cinzetismo do personagem em causa.
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São Caixinha disse:
Não foi exatamente uma surpresa a insólita situação que o JBS nos revela no seu magnifico texto, porém não deixou de me impressionar! Inconcebível procedimento da parte do Director de um reconhecido estabelecimento de ensino! Tanto erro de uma assentada! Felizmente o João, demonstrando grande maturidade, soube positivamente tirar partido da experiência! Notável!
Nem em sonhos alguma vez ousei pensar que os meus modestos desenhos acompanhariam textos de tão excepcional qualidade. Aconteceu outra vez. Que privilégio!
Até breve, bjs São
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farofia disse...
O João Serra está verdadeiramente em tempo de Abril com esta história, verídica e magnífica, de censura! O jovem escritor descobre que lhe falta a liberdade, no preciso instante em que um poder arbitrário lhe corta sem sentido e sem lógica a expressão de pensamento.
O João Serra está verdadeiramente em tempo de Abril com esta história, verídica e magnífica, de censura! O jovem escritor descobre que lhe falta a liberdade, no preciso instante em que um poder arbitrário lhe corta sem sentido e sem lógica a expressão de pensamento.
«Foi intransigente: eu tinha que lhe entregar os textos, ponto. Ele demoraria os dias que fossem precisos a ler e a emendar, ponto. A emendar? - perguntei incrédulo. Sim, isso mesmo, ponto.» Dir-se-ia que, às avessas, foi uma lição de mestre sobre o que é a liberdade!
Penso que o papel de ‘pequeno papão lusitano’ assentava que nem uma luva ao padre Albino (como assentava à grande maioria dos directores e reitores da época a quem se exigia ‘autoridade’ e se recomendava um q.b. de autoritarismo) e como qualquer ‘papão’ pregou valentes sustos. Por isso, não deixou saudades…
Inês
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Manuela Gama Vieira disse...
Porque de Liberdade se trata, não resisto a citar Miguel Torga:«Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um Dom»
Porque de Liberdade se trata, não resisto a citar Miguel Torga:«Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um Dom»
Manuela Gama Vieira
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José Carlos Faria disse:
À laia de aviso prévio (não, não é necessário pressionarem-me, que eu admito desde já):
É-me difícil falar do Padre Albino, de forma neutra, ou, vá lá, pelo menos, contida. Para dizer tudo e com todas as letras: Sempre o considerei uma figura execrável (a propósito, mais uma notável caricatura da São para o nosso «Álbum das Glórias»; o Bordalo teria gostado!). O tempo que foi passando não conseguiu atenuar essa minha animosidade arreigada, mesmo apesar de ter sabido, aqui e ali, de pequenos gestos de humanidade como aquele que a Júlia nos conta - fazem parte afinal desse contraditório que cada um carrega consigo e não apagam o extenso rol de todas as outras atitudes, que, essas sim, eram estruturais e configuravam um perfil psicológico e um padrão de comportamento reiterado.
Porém, não é por isto, lançado em jeito de confissão, que o excelente texto do João Bonifácio Serra me agradou tanto. Como se comprova (gabando eu a sua calma e ponderação, cuja presença, em mim, tantas vezes andam fugidas por paragens incertas), o relato duma situação, dir-se-ia inqualificável (mas que precisamente se caracteriza pela enorme prepotência, pelo abuso, violador de direitos, liberdades e consciências), alia à qualidade da escrita uma descrição serena, lúcida e sensível, a qual resulta na percepção aguda duma violência ilegítima, ainda mais brutal porque exercida impunemente no doce remanso das suaves sombras do gabinete.
«Há sempre alguém que resiste/ há sempre alguém que diz não», cantou o poeta. A insubmissão (leiam o poema do Ruy Belo, por favor - «As grandes insubmissões sempre foram para mim as pequenas») representava tudo aquilo que o Director mais abominava e tinha por intolerável nas suas manhãs submersas. Servil face ao Poder, nepótico com os desprotegidos, a sua marca deixou-a como cicatriz, desde a controversa passagem como capelão da Casa Pia (onde os mimos mais inocentes passavam por severos castigos aos rapazes, que em tempo de «rock 'n' roll» e Elvis Presley, estreitavam os canos das calças da farda fornecida pela Armada) até à hipocrisia da despedida com missa solene, para supostamente se ir sepultar em vida na ascese da clausura silenciosa da Cartuxa de Évora, «per omnia saecula, saeculorum». Foi de curtíssima duração o fervor místico inflamado. Que a terra lhe seja leve. R.I.P.
Z C Faria
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Isabel V P disse...
Achei muito interessante o tom nada azedo do Bonifácio perante o incidente que narra. Agradou-me sobremaneira o tom conciliador da Júlia.O Pe. Albino não se esforçava por ser simpático, mas, olhando para trás, não me deixou nehum trauma; pelo contrário. Eu explico: todos os dias eu era chamada ao gabinete do director para ser repreendida por andar arrastando os pés. Hoje estou-lhe agradecida pela sua perseverança, caso contrário actualmente não ganhava para o sapateiro!
Achei muito interessante o tom nada azedo do Bonifácio perante o incidente que narra. Agradou-me sobremaneira o tom conciliador da Júlia.O Pe. Albino não se esforçava por ser simpático, mas, olhando para trás, não me deixou nehum trauma; pelo contrário. Eu explico: todos os dias eu era chamada ao gabinete do director para ser repreendida por andar arrastando os pés. Hoje estou-lhe agradecida pela sua perseverança, caso contrário actualmente não ganhava para o sapateiro!
Isabel V.P.
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Anabela Miguel disse:
Não podia deixar passar sem dar os meus Parabéns ao João Serra pela coragem que teve ao fazer frente à pessoa que era o Padre Albino. Para mim naquela época era impensável tal atitude da parte de um aluno, mas enganei-me.
O seu texto veio confirmar a opinião que eu tinha do Director, de alguém austero, frio e prepotente. Se de humano alguma coisa tinha, das duas uma, ou não sabia exteriorizar ou então não queria mesmo fazê-lo......
Ana Miguel
6 comentários:
Olá Zé Luis
O texto O princípio da revolta (J B Serra) enquadra-se numa perspectiva de evocação de uma época que sei que te interessa. Já leste?
Depois deste email do JJ,que tomo a liberdade de transcrever, aqui vai o que senti ao ler na Segunda-Feira de Páscoa este magnífico texto, na linha de todos os outros, do João Serra.
Dá para perceber o tipo de ambiente que existia na época em todos os ramos de ensino público e privado no nosso país na altura. Hoje admiro a reacção do jovem jornalista à situação demonstrando uma forma de estar que eu hoje compreendo. Na altura a minha opinião seria bem diferente, entenda-se. Lembro-me bem como reagi no mês de Outubro de 1969 ao chegar à capital e ver a minha escola ser invadida pelos esbirros a mando de um certo Ministro da Educação, e da emoção e revolta total aquando do assassinato de Ribeiro dos Santos na escola do Quelhas.
Foi já adulto e sobretudo pela acção do meu mentor profissional que aprendi a reagir de forma mais razoável a estas situações. Por isso mesmo tenho de felicitar o miúdo que era na altura o nosso jornalista «en herbe» pela forma como soube gerir uma situação tão delicada ao fazer apelo ao poder judicial, enquanto outros, nos quais eu me incluia na altura, teriam feito apelo á força.
Apesar disto ter sido escrevinhado entre dois telefones, não podia no entanto deixar o desafio do JJ sem resposta. É que este blog toca-nos mesmo cá no fundo, e artigos do tipo deste do Serra só o valorizam ainda mais.
Abraço
Zé Luis
O João Serra retrata-nos o seu princípio da revolta, mostrando claramente que a tentativa de parar o caminho que ele tinha escolhido como expressão do pensamento, a palavra escrita, tinha liberdade com fronteiras…
Nunca passaria por a minha cabeça que isto se tivesse passado dentro do ERO, talvez porque comigo, anos antes, o Padre António Emílio, como director, me apoiou e incentivou a ir para a frente com o Almanaque Caldense e até no meu conto, o qual era o único com que PIDE embirrava, ele gostava.
Do Dr. Carlos Saudade e Silva, não esperava outra atitude que aquela que aquela mostra ter para com o João, como director da Gazeta das Caldas, foi um homem que abriu sempre a porta aos jovens, ajudando-os a incentivando-os no começo, publicando na Gazeta, contos e mostrando-lhes o caminho do jornalismo.
Talvez fiquem um pouco espantados com a minha atitude, mas é de gratidão, o João Serra dá me a conhecer o princípio, do homem que é hoje, o que li é mais uma imagem a acrescentar no respeito intelectual e amizade que tenho por ele.
João Ramos Franco
Não me passava pela cabeça que a mania controladora do nosso director chegasse a actividades que nada tinham a ver com o Colégio.Mas faz sentido,está de acordo com a maneira de ser.Fomos mais felizes com o Padre Chico!!!
Não perecebo porque é que o autor desvaloriza,a propósito da colaboração na gazeta,a qualidade da sua escrita que eu acho formidável!Tanto aqui como no seu blogue que também visito regularmente.Isabel
A caricatura!!!esqueci-me de falar da fantástica caricatura em que a imagem mostra bem o lobo mascarado de cordeiro que o P Albino era!Todos estes artigos beneficiaram muito das caricaturas da São caixinha.
Porque de Liberdade se trata, não resisto a citar Miguel Torga:
«Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um Dom»
Manuela Gama Vieira
Achei muito interessante o tom nada azedo do Bonifácio perante o incidente que narra. Agradou-me sobremaneira o tom conciliador da Júlia.
O Pe. Albino não se esforçava por ser simpático, mas, olhando para trás, não me deixou nehum trauma; pelo contrário. Eu explico: todos os dias eu era chamada ao gabinete do director para ser repreendida por andar arrastando os pés. Hoje estou-lhe agradecida pela sua perseverança, caso contrário actualmente não ganhava para o sapateiro!
Isabel V.P.
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