por Z C Faria
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Pela leitura arruinei a vista!
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Bem me avisavam que o nariz sempre a menos de um palmo das páginas sofregamente folheadas só podia dar mau resultado, mas eu persistia no vício daquela leitura, naquela postura, e daí ter ficado precocemente míope, a seguir estigmático, pitosga de 4 olhos desde logo - caixa d'óculos, em suma...
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É que eu lia, lia muito, lia tudo, era mesmo leitor compulsivo, do melhor ao pior, desde a «Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson» de Selma Lagerlöf até à pieguice insuportável do «Coração» de Edmundo de Amicis (nunca percebi como é que um conjunto de histórias deprimentes, a puxar à lágrima, inculcando falsos valores de «heroísmo», sacrifício e resignação na miséria, pode alguma vez ter passado por obra recomendável para um público infantil, mas enfim...). Um dia por semana, à saída da Escola e com o modesto lastro dos conhecimentos recentes, oriundos da decifração garrafal das primeiras letras, em manuais descaradamente propagandísticos das «virtudes» do regime (Lusitos! Lusitas! Viva Salazar! Viva Portugal!), corria-se para aquela carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta, estacionada no largo do chafariz das mulas, que transportava uma das muitas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian (porventura o melhor, mais vasto e mais bem sucedido projecto de animação cultural jamais desenvolvido num país ainda hoje com uma taxa excessiva de analfabetismo integral, para já não falar do regressivo ou funcional). E assim fui sucessivamente ansiando por ser grumete na «Ilha do Tesouro», pioneiro e caçador por rios e montanhas com Daniel Boone, membro da expedição ao centro da terra, escudeiro medieval junto de «Ivanhoe», protagonista ficcionado (e fictício) em fabulosas aventuras...
Bem me avisavam que o nariz sempre a menos de um palmo das páginas sofregamente folheadas só podia dar mau resultado, mas eu persistia no vício daquela leitura, naquela postura, e daí ter ficado precocemente míope, a seguir estigmático, pitosga de 4 olhos desde logo - caixa d'óculos, em suma...
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É que eu lia, lia muito, lia tudo, era mesmo leitor compulsivo, do melhor ao pior, desde a «Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson» de Selma Lagerlöf até à pieguice insuportável do «Coração» de Edmundo de Amicis (nunca percebi como é que um conjunto de histórias deprimentes, a puxar à lágrima, inculcando falsos valores de «heroísmo», sacrifício e resignação na miséria, pode alguma vez ter passado por obra recomendável para um público infantil, mas enfim...). Um dia por semana, à saída da Escola e com o modesto lastro dos conhecimentos recentes, oriundos da decifração garrafal das primeiras letras, em manuais descaradamente propagandísticos das «virtudes» do regime (Lusitos! Lusitas! Viva Salazar! Viva Portugal!), corria-se para aquela carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta, estacionada no largo do chafariz das mulas, que transportava uma das muitas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian (porventura o melhor, mais vasto e mais bem sucedido projecto de animação cultural jamais desenvolvido num país ainda hoje com uma taxa excessiva de analfabetismo integral, para já não falar do regressivo ou funcional). E assim fui sucessivamente ansiando por ser grumete na «Ilha do Tesouro», pioneiro e caçador por rios e montanhas com Daniel Boone, membro da expedição ao centro da terra, escudeiro medieval junto de «Ivanhoe», protagonista ficcionado (e fictício) em fabulosas aventuras...
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Porém, se as escolhas dos livros são, com frequência geracionais, nomeio «O Velho e o Mar» de Hemingway (cuja edição portuguesa continha um prefácio de Jorge de Sena, de que só mais tarde me aperceberia da sua importância) e a forte impressão que nos meus (para aí) 14 anos produziu a luta do velho Santiago pela sua dignidade e por recuperar o respeito da comunidade piscatória, a batalha desenfreada e astuciosa de dois dias e duas noites com um delfim de 6 metros de cabo a rabo, finalmente capturado, troféu a desvanecer-se aos poucos, engolido, até à revelação da espinha nua, pelas mordeduras vorazes dos tubarões e a incompreensão total dos turistas...
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«Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
Porém, se as escolhas dos livros são, com frequência geracionais, nomeio «O Velho e o Mar» de Hemingway (cuja edição portuguesa continha um prefácio de Jorge de Sena, de que só mais tarde me aperceberia da sua importância) e a forte impressão que nos meus (para aí) 14 anos produziu a luta do velho Santiago pela sua dignidade e por recuperar o respeito da comunidade piscatória, a batalha desenfreada e astuciosa de dois dias e duas noites com um delfim de 6 metros de cabo a rabo, finalmente capturado, troféu a desvanecer-se aos poucos, engolido, até à revelação da espinha nua, pelas mordeduras vorazes dos tubarões e a incompreensão total dos turistas...
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«Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
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Os livros foram pois os primeiros a vir até mim, depois a música e por último, os filmes. Claro que me acompanha a recordação boa das gargalhadas puras da criança que eu era, suscitadas palas curtas-metragens de Chaplin, nas extraordinárias séries da Keystone, Mutual e da Essanay; No entanto, é-nos pedido aqui a indicação de um momento marcante e, neste particular, comigo ele aconteceu no Cine-Teatro Pinheiro Chagas (como é possível terem-no demolido? Como?), durante a projecção de «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, com uma notável interpretação de Jane Fonda.
Os livros foram pois os primeiros a vir até mim, depois a música e por último, os filmes. Claro que me acompanha a recordação boa das gargalhadas puras da criança que eu era, suscitadas palas curtas-metragens de Chaplin, nas extraordinárias séries da Keystone, Mutual e da Essanay; No entanto, é-nos pedido aqui a indicação de um momento marcante e, neste particular, comigo ele aconteceu no Cine-Teatro Pinheiro Chagas (como é possível terem-no demolido? Como?), durante a projecção de «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, com uma notável interpretação de Jane Fonda.
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Talvez não por acaso, apesar das oito nomeações em 1969, só viria a ganhar o Óscar para o chamado «Melhor Actor Secundário» (péssima tradução de Best Supporting Actor. É que não há actores secundários! Há-os apenas, melhores ou piores, todavia únicos e essenciais, em papéis maiores ou mais pequenos...). Adaptação do romance de Horace McCoy «They shoot horses, don't they?», a acção do filme desenrola-se no micro-cosmos fechado de um salão de uma Maratona de Dança, parábola da sociedade Americana da Grande Depressão, onde a cupidez de negócio do «show-biz» engendra a exploração aviltante e, em pleno desespero, a morte acaba por ser um acto de amor, escapatória (im)possível para uma liberdade humilhantemente negada. Naquela ocasião, nem os deliciosos rebuçados de fruta, comprados ao intervalo, embrulhados em lustroso papel de seda multicolor, a atafulhar bolsos, conseguíram atenuar a comoção angustiada, misto de um estranho amargo na boca e rude soco no estômago com que todos saímos do camarote (bilhetes de lote para um grupo acabavam por se tornar um pouco mais baratos).
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Quanto à música, chegou pela rádio.
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O irmão da minha professora da 1a classe era militar em Goa e a inquietação pelo seu destino após a entrada do exército da União Indiana, levava-a a uma audição intensiva (embora em volume sonoro reduzido) das notícias na fanhosa Emissora oficial, pontuadas pela difusão obsessiva, quase maníaca, do «Fado das Trincheiras», o qual, pela voz de Fernando Farinha, rejurava que se «morrer na batalha/ quero ter por mortalha/ a bandeira nacional». Tal patriotismo exacerbado deixava-me confuso, já que a imagem parecia um pouco chocante e de gosto duvidoso... Adiante...
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Quanto à música, chegou pela rádio.
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O irmão da minha professora da 1a classe era militar em Goa e a inquietação pelo seu destino após a entrada do exército da União Indiana, levava-a a uma audição intensiva (embora em volume sonoro reduzido) das notícias na fanhosa Emissora oficial, pontuadas pela difusão obsessiva, quase maníaca, do «Fado das Trincheiras», o qual, pela voz de Fernando Farinha, rejurava que se «morrer na batalha/ quero ter por mortalha/ a bandeira nacional». Tal patriotismo exacerbado deixava-me confuso, já que a imagem parecia um pouco chocante e de gosto duvidoso... Adiante...
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As referências evoluiriam depois. A esplanada do Parque dispunha de uma magnífica «juke-box» Wurlitzer (marca que na época, tal como a Fender-Rhodes, tinha acabado de criar um mini-piano eléctrico de 3 oitavas, de imediato utilizado por Ray Charles). A selecção então existente dos sucessos do momento (e até de um pouco antes), seria hoje um rol de clássicos absolutos: para além de diversos temas dos Beatles, Rolling Stones, Kinks, (e também Sheiks, de produção lusa), havia à escolha, entre outros, Mamas & Papas com «Monday, Monday» e «California Dreamin'», Four Tops e «Reach Out, I'll Be There», «San Francisco» de Scott McKenzie (um hino do Flower Power), «When a Man Loves a Woman» por Percy Sledge e os um pouco mais antigos «Barbara Ann» dos Beach Boys, «Tutti Frutti» do Little Richard, «Love Me Tender» de Elvis Presley e por aí fora... um regalo, era o que era! Por uma simples moeda, o fascínio acontecia: marcado o código da canção pretendida, um braço mecânico, numa diligência exacta, retirava o disco da pilha, depositando-o no prato a girar, a agulha descia, precisa, nas espiras e, de súbito, (é um exemplo), enquanto a malta se refrescava com um gelado cassata e um pirolito Ginger Ale da Canada Dry ou da Schweppes, uma cadência de acordes arpejados soava e a voz de Eric Burdon, acompanhado pelos Animals, surgia nas colunas espalhadas pelas áleas: «There is a house in New Orleans, they call the Rising Sun...»
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As referências evoluiriam depois. A esplanada do Parque dispunha de uma magnífica «juke-box» Wurlitzer (marca que na época, tal como a Fender-Rhodes, tinha acabado de criar um mini-piano eléctrico de 3 oitavas, de imediato utilizado por Ray Charles). A selecção então existente dos sucessos do momento (e até de um pouco antes), seria hoje um rol de clássicos absolutos: para além de diversos temas dos Beatles, Rolling Stones, Kinks, (e também Sheiks, de produção lusa), havia à escolha, entre outros, Mamas & Papas com «Monday, Monday» e «California Dreamin'», Four Tops e «Reach Out, I'll Be There», «San Francisco» de Scott McKenzie (um hino do Flower Power), «When a Man Loves a Woman» por Percy Sledge e os um pouco mais antigos «Barbara Ann» dos Beach Boys, «Tutti Frutti» do Little Richard, «Love Me Tender» de Elvis Presley e por aí fora... um regalo, era o que era! Por uma simples moeda, o fascínio acontecia: marcado o código da canção pretendida, um braço mecânico, numa diligência exacta, retirava o disco da pilha, depositando-o no prato a girar, a agulha descia, precisa, nas espiras e, de súbito, (é um exemplo), enquanto a malta se refrescava com um gelado cassata e um pirolito Ginger Ale da Canada Dry ou da Schweppes, uma cadência de acordes arpejados soava e a voz de Eric Burdon, acompanhado pelos Animals, surgia nas colunas espalhadas pelas áleas: «There is a house in New Orleans, they call the Rising Sun...»
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Feito o exame do 2º ano, recebi como prenda de aniversário um gira-discos Dual, mono, cuja tampa incorporava o altifalante. Já havia estereofonia mas aquele objecto era, de facto, um «mono» obsoleto, sobrante numa qualquer obscura prateleira empoeirada, cacaréu ainda com registo para as 78 voltinhas por minuto das grafonolas, imagine-se; sem dúvida melhor negócio para quem manhosamente o vendeu (vendo-se livre do traste) do que para a ingenuidade bem intencionada de quem o comprara e a quem eu, de todo o coração, só podia estar grato. Como as dimensões estavam formatadas para «singles» e EP's, o meu primeiro Long-Playing de 33 rotações (e um terço) demoraria - «Abbey Road» dos Beatles (fiquem sabendo que também já lá estive, na famosa passadeira da capa, o que é que vocelências julgam?). No duche matinal («She came in through the bathroom window»), ouvia o transistor a pilhas que o meu Pai entretanto ligava, sintonizado já nem sei em que estação, e que, com regularidade, debitava «Come Together», a primeira faixa do lado A. Aquela cadência de viola eléctrica com um ligeiro efeito de distorção durante o refrão, cá para mim era o máximo («Because»... Porque sim, pronto), e fez-me querer (muito!) ter o disco. Todo. («I want you», mas era «so heavy»...) Houve que poupar cada tostãozinho («You never give me your money»), sofrer com paciência («Carry that weight») até que, com um empurrão solidário da Avó («Oh Darling»!), a coisa (em forma de «Something») lá se deu. O LP era como uma luz viva («Here comes the sun») e a felicidade preenchia-me em suave embalo («Golden Slumbers»). «The End». Mas isto não ficou por aqui. A seguir viria a descoberta aprofundada do Zeca, do Brel e, para lá da «Banda» a passar, do Chico Buarque de «Construção», a paixão pelo Jazz e pelos Blues, o gosto certo pela Música Antiga e a certeza que se a Música um dia se acabar poderemos contar com um tempo bem mais escuro e para durar.
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Ainda não sabia que livros, discos, filmes e quadros viriam a ser ferramentas do meu trabalho futuro, mas, passo a passo, ia intuindo e aprendendo que as Artes são algo de imprescindível, que nos torna melhores e melhor nos permite compreender a surpreendente dialéctica estabelecida entre a harmonia e as contradições do Mundo, da Vida, das coisas e das gentes (nós próprios, os Próximos e os Outros)...
Ainda não sabia que livros, discos, filmes e quadros viriam a ser ferramentas do meu trabalho futuro, mas, passo a passo, ia intuindo e aprendendo que as Artes são algo de imprescindível, que nos torna melhores e melhor nos permite compreender a surpreendente dialéctica estabelecida entre a harmonia e as contradições do Mundo, da Vida, das coisas e das gentes (nós próprios, os Próximos e os Outros)...
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José Carlos Faria
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C O M E N T Á R I O S
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Ser-se filho único é muito vantajoso nessa área. Muitas horas sózinho no sossego de um espaço que não se tem de partilhar com mais ninguém, a ausência do barulho e das solicitações dos irmãos, uma verdadeira maravilha.
Claro que também tem os seus contras. As brincadeiras têm de ser a solo ou com um amigo imaginário, por vezes uma certa solidão. Mas tudo acaba por ser compensado com a liberdade da leitura, horas a fio, noite dentro, até à última página de cada livro.
Claro, ficam as sequelas nos olhos cansados, gastos de tantas páginas de letra miudinha avidamente devoradas, por vezes à luz de uma pequena lanterna de pilhas, debaixo dos lençóis, para que a claridade não fosse detectada do lado de fora do quarto, evitando assim o ralhete merecido.
Mas não me arrependo. Fazia tudo outra vez.
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Margarida Araújo disse.
O Zé Carlos Faria no seu melhor, poço de informações tão diversas como a música, a literatura, as artes plásticas, teatro, cinema e também um doutoramento em benfiquite aguda.
O Zé Carlos é míope? Os oftalmogistas e nós sabemos que sim. Mas em nada a sua míopia o toldou de ver, de ler, de escrever, de desenhar.
Obrigada.
Maria Guidó (como o próprio me chama)
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Inês disse...
Zé Carlos, menino de olhar de Zeca, a descobrir mundos em tudo o que tinha folhas, nos bravos ‘Lusitos’ ou no deprimente ‘Coração’ («um livro que faz chorar sem entristecer» diz uma velha edição «particularmente dedicada a rapazes entre nove a treze anos»), ou ainda no banquete de cultura servido pela tal carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta…
Zé Carlos, menino de olhar de Zeca, a descobrir mundos em tudo o que tinha folhas, nos bravos ‘Lusitos’ ou no deprimente ‘Coração’ («um livro que faz chorar sem entristecer» diz uma velha edição «particularmente dedicada a rapazes entre nove a treze anos»), ou ainda no banquete de cultura servido pela tal carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta…
Desta escrita-viagem maravilhosa apetece-me guardar tudo. Voltar a ler muitas vezes. Assentar num post-it «Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
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São Caixinha disse:
Adorei esta "Maravilhosa Viagem" do José Carlos! Excelente exposição de deliciosos e menos deliciosos fragmentos do nosso passado comum; tanta história em tão pouco espaço, tão enternecedoramente pessoal, tão adulto e tão menino, tão sério e tão divertido, tão simplesmente Genial... como sempre!! Vou ler outra vez!
Adorei esta "Maravilhosa Viagem" do José Carlos! Excelente exposição de deliciosos e menos deliciosos fragmentos do nosso passado comum; tanta história em tão pouco espaço, tão enternecedoramente pessoal, tão adulto e tão menino, tão sério e tão divertido, tão simplesmente Genial... como sempre!! Vou ler outra vez!
Bjs
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João Ramos Franco disse:
Este texto do JOSÉ CARLOS FARIA, é na realidade Uma Maravilhosa Viagem…
Este texto do JOSÉ CARLOS FARIA, é na realidade Uma Maravilhosa Viagem…
Ele transporta-nos desde leitor compulsivo, ao momento em começamos a condicionar o que lemos. Do Ernest Hemingway o Velho e o Mar, que está em cima da secretária neste momento e começa assim, “O velho chamava-se Santiago. Dia após dia, tripulando uma canoa, ia pescar no Gulf Stream.” posso dizer que, entre muito que li também me marcou…
No cinema, «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, também vi e gostei, mas talvez por uma questão de geração, o cinema europeu, para mim, ainda mantinha a influência de ser o melhor que tinha visto…
Na música, apesar de conhecer quase tudo o que cita, ainda não havia «juke-box» na Esplanada do Parque, e estávamos limitados a uma que existia no Pão Ló em Alfeizerão, que não estava assim tão perto e a época também nos afasta nos seu gosto inicial, mas é compensada na “descoberta aprofundada" do Zeca, do Brel e, para lá da «Banda» a passar, do Chico Buarque de «Construção», a paixão pelo Jazz e pelos Blues, o gosto certo pela Música Antiga”.
Obrigado José, Uma Maravilhosa Viagem…
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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António disse:
Excelente texto em que se evocam tantas das minhas memórias,incluindo o malfadado Coração!E os filmes e as músicas e os Beatles...
Toda a gente referiu o título,bem escolhido,mas nem todos a cuidadosa escolha das ilustrações e a sua distribuição no texto.Também aqui se vê a mão do artista que a Margarida refere.
Obrigado!Abraço.A
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João Jales disse:
A imagem do Zé Carlos com um livro a um palmo dos olhos sobrepôe-se a todas as outras recordações que tenho dele...Mais uma deliciosa contribuição sua para o Blog, desta vez sobre a nossa viagem até à idade adulta. Também li o deprimente Coração, as maravilhosas estórias da Selma Lagerlof, frequentei o Pinheiro Chagas onde me apaixonei pelo Cinema (assisti depois ao crime da sua demolição) e tentei conhecer todos os singles da musicalmente prodigiosa década de sessenta.
Ouvimos os Beatles desde então até hoje, assistindo e participando nas novas formas de encarar a sua música ao longo de quarenta anos, descobrimos a música brasileira, a portuguesa (mais ele que eu), lemos e vimos mais cinema e teatro, continuámos vivos e atentos ao que se passa à nossa volta graças à permanente inquietação que nos deixou uma sôfrega adolescência. Felizmente.
JJ
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Isabel Esse disse...
Li encantada a prosa do José Carlos Faria.Já não me lembrava das lendas nórdicas da Selma Lagerlof,tenho que ir ver se ainda tenho o livro,com uma capa igualzinha à que aqui está!As músicas e os filmes serão diferentes para cada um de nós,o Faria e o JJ lembra-se das canções todas!eu só me lembro quando as oiço.
Li encantada a prosa do José Carlos Faria.Já não me lembrava das lendas nórdicas da Selma Lagerlof,tenho que ir ver se ainda tenho o livro,com uma capa igualzinha à que aqui está!As músicas e os filmes serão diferentes para cada um de nós,o Faria e o JJ lembra-se das canções todas!eu só me lembro quando as oiço.
Parabéns por esta maravilhosa viagem e por este maravilhoso blogue.IsabelS
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1) A referência ao Velho e o Mar e a como nessa obra magistral de Hemingway nos é dado a conhecer o valor da perseverança na luta, de um modo inigualável.
2) A descoberta que proporciona de não haver actores secundários ao analisar o filme "Os Cavalos também se abatem". Até no niilismo há esperança!
3) O intercalar dos nomes dos temas musicais ao longo da descrição das situações por que o autor do texto passou para os poder conhecer ou possuir.
Este último aspecto(3), então, é de génio! Porquê? Por se eximir ao tom moralista em que às vezes se cai ao avaliar o passado, mas de um modo cheio de ternura, que é em tudo diferente de lamechas.
Grande Zé, é assim mesmo!
Artur R. Gonçalves disse...
A maravilhosa viagem do José Carlos Faria pelos livros, discos e filmes fez-me lembrar a minha própria travessia por essas décadas de cinquenta e sessenta passadas, com alguma permanência, nas CdR. É verdade que não li os mesmos textos, ouvi as mesmas músicas ou vi as mesmas películas, mas os dois processo de descoberta desse mundo fascinante da cultura mantêm entre si muitos pontos de contacto.
A maravilhosa viagem do José Carlos Faria pelos livros, discos e filmes fez-me lembrar a minha própria travessia por essas décadas de cinquenta e sessenta passadas, com alguma permanência, nas CdR. É verdade que não li os mesmos textos, ouvi as mesmas músicas ou vi as mesmas películas, mas os dois processo de descoberta desse mundo fascinante da cultura mantêm entre si muitos pontos de contacto.
Seria incapaz de nomear muitas das obras que requisitei na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian ou de acreditar a 100% na minha memória quando esta teima em me afirmar que a carrinha da Fundação estacionava na Praça da Fruta. Garanto, todavia, que a minha paixão pelos livros impressos a cheirar a tinta me vem dessa altura.
Terei utilizado uma ou outra vez a tal «juke box» da Esplanada do Parque e de muitos outras espalhados um pouco por todo o lado, pelo que terei ouvido alguns dos singles elencados. Nem podia ser de outro modo. Quando a posse de um simples gira-discos era considerado na época como algo ainda de extraordinário, o recurso às máquinas de discos tornava-se imperioso. Assim houvesse a tal moedinha necessária à função ou usufruir da economia e dos gostos alheios.
Vi «Os cavalos também se abatem» em Lisboa, no Império. Ainda hoje recordo a sensação de desconforto que na altura aquela maratona de dança me causou. Mais tarde li o livro, publicado entre nós pelas Publicações Europa-América em tamanho de bolso, mas o impacte não foi nem de longe o mesmo. Lamentavelmente, o grande cinema da Alameda D. Afonso Henriques também sofreu a sua «demolição» simbólica, nem por isso mais feliz do que o velho Cine-Teatro Pinheiro Chagas da Praça do Peixe. Para mal dos nossos pecados, a realidade dura e crua é que com grandes ou pequenas depressões, os cinemas também se abatem. Pelo menos entre nós.
Belão disse...
O Zé Carlos é uma pessoa maravilhosa e escreve duma maneira tal, que ninguém tem dúvidas que de facto leu muito. Muito mesmo.
O Zé Carlos é uma pessoa maravilhosa e escreve duma maneira tal, que ninguém tem dúvidas que de facto leu muito. Muito mesmo.
Esta viagem à volta dos seus livros, filmes e músicas encantou-me, como sempre que leio algo do Zé Carlos Faria. Tenho pena que apareça tão pouco no blog. Mas também sei que quando o faz é para nota máxima.
Um beijinho, Zé Carlos. Não nos deixes tanto tempo à tua espera!
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Isabel Cx disse.
Li várias vezes o texto do Zé Carlos e de todas elas fiquei com pena que cheguei ao fim!Que memória... tão extraordináriamente proporcional ao talento do autor.
Também " O Velho e o Mar" e outros livros do escritor tiveram um lugar de destaque nas minhas leituras, e que melhor forma de o recordar que pela mão do José Carlos.
Também a atraente "Juke box" do Parque era a delicia de nós todos com as canções que felizmente nos marcaram até hoje.
Podia passar a noite a ler títulos de músicas inseridos no texto ..uma maravilha!!!...e é aqui que volto ao principio e recomeço a leitura!
Beijinho
Beijinho
Isabel Caixinha
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Ana Carvalho disse:
O que o José Carlos Faria escreve merece sempre um comentário. Gostei imenso e deliciei-me a ler o texto,como já nos habituou é um excelente contador de histórias. Bjs
PP
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José Carlos Faria respondeu:
Ainda me estragam com mimos... (depois queixem-se!). Tenho que agradecer, claro está, tanta boa vontade face ao meu mal amanhado escrito.
Permitam todavia que deixe aqui expresso um reconhecimento especial a duas pessoas:
À minha querida professora Drª Inês (Que bom lê-la! O Inglês que sei e que tão importante e útil me tem sido, a si lho devo. Isso e também a alegria indizível da primeira vez em que fui capaz de compreender uma frase na letra de uma cantiga) e (obviamente) ao João Jales, que, a meu pedido, inventou tão bem o título da croniqueta (só escusava de lá ter o meu nome, mas enfim...) e que depois, com o mérito do seu irrepreensível bom gosto, seleccionou a iconografia e respectiva articulação com o texto.
Apenas um esclarecimento:
O largo do chafariz das mulas a que me refiro quando da vinda da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, corresponde à Porta da Vila, em Óbidos.
Ósculos & amplexos!
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Excelentes as tuas sugestões.Deixo aqui, para quem quiser ver O VELHO E O MAR em animação, os respectivos links:
Divirtam-se e boas mto boas férias
VB
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VT disse...
Uma palavra só e sentida: EXCELENTE.
Uma palavra só e sentida: EXCELENTE.
Um grande abraço amistoso e de admiração ao José Carlos Faria que "cozinhou com todos os ingredientes".VT
9 comentários:
De facto cada livro é uma verdadeira viagem, bem cedo aprendi isso. Ser-se filho único é muito vantajoso nessa área. Muitas horas sózinho no sossego de um espaço que não se tem de partilhar com mais ninguém, a ausência do barulho e das solicitações dos irmãos, uma verdadeira maravilha. Claro que também tem os seus contras. As brincadeiras têm de ser a solo ou com um amigo imaginário, por vezes uma certa solidão. Mas tudo acaba por ser compensado com a liberdade da leitura, horas a fio, noite dentro, até à última página de cada livro. Claro, ficam as sequelas nos olhos cansados, gastos de tantas páginas de letra miudinha avidamente devoradas, por vezes à luz de uma pequena lanterna de pilhas, debaixo dos lençóis, para que a claridade não fosse detectada do lado de fora do quarto, evitando assim o ralhete merecido.
Mas não me arrependo. Fazia tudo outra vez.
Zé Carlos, menino de olhar de Zeca, a descobrir mundos em tudo o que tinha folhas, nos bravos ‘Lusitos’ ou no deprimente ‘Coração’ («um livro que faz chorar sem entristecer» diz uma velha edição «particularmente dedicada a rapazes entre nove a treze anos»), ou ainda no banquete de cultura servido pela tal carrinha Citröen de chapa ondulada cinzenta…
Desta escrita-viagem maravilhosa apetece-me guardar tudo. Voltar a ler muitas vezes. Assentar num post-it «Pode-se destruir um homem, mas não se pode vencê-lo»!
Este texto do JOSÉ CARLOS FARIA, é na realidade Uma Maravilhosa Viagem…
Ele transporta-nos desde leitor compulsivo, ao momento em começamos a condicionar o que lemos.
Do Ernest Hemingway o Velho e o Mar, que está em cima da secretária neste momento e começa assim, “O velho chamava-se Santiago. Dia após dia, tripulando uma canoa, ia pescar no Gulf Stream.” posso dizer que, entre muito que li também me marcou…
No cinema, «Os cavalos também se abatem» de Sidney Pollack, também vi e gostei, mas talvez por uma questão de geração, o cinema europeu, para mim, ainda matinha a influência de ser o melhor que tinha visto…
Na música, apesar de conhecer quase tudo o que cita, mas ainda não havia «juke-box» na Esplanada do Parque, e estávamos limitados a uma que existia no Pão Ló em Alfeizerão, que não estava assim tão perto e a época também nos afasta nos seu gosto inicial, mas é compensada na “descoberta aprofundada do Zeca, do Brel e, para lá da «Banda» a passar, do Chico Buarque de «Construção», a paixão pelo Jazz e pelos Blues, o gosto certo pela Música Antiga”.
Obrigado José, Uma Maravilhosa Viagem…
Um abraço amigo
João Ramos Franco
Li encantada a prosa do José Carlos Faria.Já não me lembrava das lendas nórdicas da Selma Lagerlof,tenho que ir ver se ainda tenho o livro,com uma capa igualzinha à que aqui está!
As músicas e os filmes serão diferentes para cada um de nós,o Faria e o JJ lembra-se das canções todas!eu só me lembro quando as oiço.Parabéns por esta maravilhosa viagem e por este maravilhoso blogue.IsabelS
Três aspectos tornam este texto brilhante:
1) A referência ao Velho e o Mar e a como nessa obra magistral de Hemingway nos é dado a conhecer o valor da perseverança na luta, de um modo inigualável.
2) A descoberta que proporciona de não haver actores secundários ao analisar o filme "Os Cavalos também se abatem". Até no niilismo há esperança!
3) O intercalar dos nomes dos temas musicais ao longo da descrição das situações por que o autor do texto passou para os poder conhecer ou possuir.
Este último aspecto(3), então, é de génio! Porquê? Por se eximir ao tom moralista em que às vezes se cai ao avaliar o passado, mas de um modo cheio de ternura, que é em tudo diferente de lamechas.
Grande Zé, é assim mesmo!
- Isabel Xavier -
A maravilhosa viagem do José Carlos Faria pelos livros, discos e filmes fez-me lembrar a minha própria travessia por essas décadas de cinquenta e sessenta passadas, com alguma permanência, nas CdR. É verdade que não li os mesmos textos, ouvi as mesmas músicas ou vi as mesmas películas, mas os dois processo de descoberta desse mundo fascinante da cultura mantêm entre si muitos pontos de contacto.
Seria incapaz de nomear muitas das obras que requisitei na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian ou de acreditar a 100% na minha memória quando esta teima em me afirmar que a carrinha da Fundação estacionava na Praça da Fruta. Garanto, todavia, que a minha paixão pelos livros impressos a cheirar a tinta me vem dessa altura.
Terei utilizado uma ou outra vez a tal «juke box» da Esplanada do Parque e de muitos outras espalhados um pouco por todo o lado, pelo que terei ouvido alguns dos singles elencados. Nem podia ser de outro modo. Quando a posse de um simples gira-discos era considerado na época como algo ainda de extraordinário, o recurso às máquinas de discos tornava-se imperioso. Assim houvesse a tal moedinha necessária à função ou usufruir da economia e dos gostos alheios.
Vi «Os cavalos também se abatem» em Lisboa, no Império. Ainda hoje recordo a sensação de desconforto que na altura aquela maratona de dança me causou. Mais tarde li o livro, publicado entre nós pelas Publicações Europa-América em tamanho de bolso, mas o impacte não foi nem de longe o mesmo. Lamentavelmente, o grande cinema da Alameda D. Afonso Henriques também sofreu a sua «demolição» simbólica, nem por isso mais feliz do que o velho Cine-Teatro Pinheiro Chagas da Praça do Peixe. Para mal dos nossos pecados, a realidade dura e crua é que com grandes ou pequenas depressões, os cinemas também se abatem. Pelo menos entre nós.
O Zé Carlos é uma pessoa maravilhosa e escreve duma maneira tal, que ninguém tem dúvidas que de facto leu muito. Muito mesmo.
Esta viagem à volta dos seus livros, filmes e músicas encantou-me, como sempre que leio algo do Zé Carlos Faria. Tenho pena que apareça tão pouco no blog. Mas também sei que quando o faz é para nota máxima.
Um beijinho, Zé Carlos. Não nos deixes tanto tempo à tua espera!
Grande Zé:
Excelentes as tuas sugestões.
Deixo aqui, para quem quiser ver O VELHO E O MAR em animação, os respectivos links:
http://www.youtube.com/watch?v=v1EbNvHDxbA
e
http://www.youtube.com/watch?v=66rB6k5Vab0&feature=related
Divirtam-se e boas mto boas férias
VB
Uma palavra só e sentida: EXCELENTE.
Um grande abraço amistoso e de admiração ao José Carlos Faria que "cozinhou com todos os ingredientes".
VT
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