ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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João B Serra disse:

As janelas povoaram a nossa infância na sua dupla função: proteger e franquear, esconder e desvelar, observar e expor-se. Se a infância é um tempo para descobrir e ser descoberto, a janela é também uma síntese desse tempo em que rasgamos cortinas em busca do mundo e nos surpreendemos com os lances de um mundo à nossa procura.
A metáfora da janela povoa por isso a imaginação plástica, como a aventura dos passos em volta: nenhum pintor, nenhum fotógrafo, escapou à magia sedutora de uma janela. A janela é uma fonte de luz ou um horizonte, um enquadramento ou um jogo de ângulos, um rasgão na noite ou um grito na solidão, uma transparência que oferece profundidade, uma superfície que reflecte e deforma, ou uma mancha opaca que nos interroga.
Para Vasco Trancoso a janela é uma memória de infância, onde se replicam outras janelas ­ dos sons, das cenas, das pessoas, dos objectos que o fascinaram. Para Vasco Trancoso, a infância foi a janela por onde espreitou o espírito curioso e emocionado de um ser insatisfeito e por onde entrou a cidade com os seus desafios cruéis e os seus encantos gloriosos.
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M do Rosário disse...
e esta é a Isabel e este o João.- dizia eu,enquanto acabava de preencher o parapeito da janela com as minhas bonecas.De imediato,tive que satisfazer a sua curiosidade.Expliquei que a mazela numa das bochechas desse bebé chorão se devia a um acidente com a chaminé de uma locomotiva,quando ao meu colo,tropecei no combóio do meu irmão.
Sendo filha única,ficou encantada por eu ter um irmão. Assim se iniciou a descoberta da vida de cada uma de nós,ambas de cinco anos,através dos respectivos brinquedos,expostos diariamente nas nossas janelas,sob o olhar divertido dos transeuntes. A menina desconhecida que viera de Lisboa,com seus pais,instalar-se na casa oposta à da minha família,viria,desde então,a percorrer, comigo ,sucessivos caminhos da vida,inclusive o do E.R.O... (Actualmente ,o João e a Isabel integram o acervo do Museu do Brinquedo ,em Sintra.Ambos exibem as vestes originais).
A"doce recordação" do despertar da Amizade,que aqui deixo,devo ao belo post de Vasco Trancoso.O meu reconhecimento e admiração.
Maria do Rosário Pimentel
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Ana Braga disse:

Gostei muito deste seu belo texto intimista, um regresso tão terno à infância, criado a partir da sua janela.
Obrigada pela fotografia, pelo que ela deixa ver e entrever. Obrigada pelas músicas e pela recordação de um filme que é para mim uma grata referência ao passado, trazendo consigo a visão inesquecível da fabulosa Giulietta Masina.
Penso (ou gosto de pensar), que todos os meninos tinham as suas janelas de onde olhavam/recriavam o mundo à sua volta.
A minha janela (nem sempre era a mesma) não era urbana, abria-se sobre um vasto cenário: a nascente limitado pelo lombo azulado de uma distante e imponente serra agreste e a poente por colinas e campos verdes, lugares onde me exercitava, quer a colocar as personagens dos meus contos preferidos quer a colocar-me a mim, na maioria das vezes, para além dos limites.
Será que os meninos de hoje ainda gostam de janelas?
Pode estar certo que o seu texto me abriu uma nova janela e me despertou para abri-la muitas vezes sobre o Heavenly.
Ana Braga
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Maria Manuela Gama Vieira disse:
Apesar do que as cortinas de renda resguardam dos olhos, a memória revisita e devolve, como que por encantamento, as mais admiráveis recordações que julgava esquecidas.
Ai que prazer! De repente, num exercício de regressão, a minha janela também se abriu, revi a magia dos baús empoeirados dos saltimbancos e escutei a flauta, prenunciadora de chuva, do amolador de tesouras.
Singular, a projecção de janelas, tão autêntica quanto as memórias reflectidas no espelho da imaginação, porque “uma vida não basta apenas ser vivida, também precisa de ser sonhada”…
Obrigada pela sua lindíssima janela vermelha que, por momentos, também foi minha.
Já lá vai tanto tempo e parece-me tão pouco!
Manuela Gama Vieira
Palavras de Vasco Trancoso no FB:
"João Ramos Franco esta história é à tua medida..."
- Como entendo as tuas palavras, meu amigo…Tens toda a razão quando nos dizes que “espreitávamos sinais do exterior à descoberta de um mundo novo.” No meu caso, na casa onde nasci, via o Chafariz em frente (inicio da estrada para a Foz do Arelho, no nº 7); nas traseiras do prédio, para lá do quintal, tinha a Misericórdia, o Hotel Lisbonense e uma pequena propriedade, que tinha uma Azenha que funcionava com as águas que vinham das Termas.
A Janela da minha infância era a cerca de 50 metros de Casa, tudo passava por uma visão, quase constante, da imensidão e da gente que passeava no Parque D. Carlos I. Foi por aqui que comecei a fixar as primeiras imagens de um universo que hoje povoa a minha mente e sinto que as da infância foram as mais belas e puras.
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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Guida disse...
Uma cena extraordinariamente nítida a deste texto acompanhado pelo belo tema de Fellini. Faz-nos recuar no tempo. Muito belo, Vasco.Obrigada.
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Blow Up disse...
Há mais a ternura de Amarcord do que o surrealismo amargo de 8 e Meio neste exercício "cinematográfico".
Excelente evocação,com doses certas de realismo e emoção.Visitarei certamente o hevenly.Parabéns.
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Meus Sonhos disse...
Belissima fotografia,com reflexos que se vêem e outros que se adivinham,tal como no texto.O rendilhado das recordações confunde-se com o rendilhado das cortinas.
Quanto do que somos hoje é resultado dessas experiências e emoções de infância que mal recordamos ou pensamos mesmo não recordar?
Gostei muito.CC
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Laura Morgado
Uma descrição bonita e com muita clareza! As músicas muito bem escolhidas!
Laurinha
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Belão disse...
É impossível, ao ler este texto do Vasco, tão pleno de realismo, não darmos por nós a recordar o que víamos da nossa janela e como a nossa imaginação nos permitia embarcar em viagens únicas e tão características da infância.
Belo texto. Obrigada Vasco.
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Guida CS disse...
Esta janela do Vasco levou-me também a mim à minha infância e à minha janela, onde eu ficava parada até que a chuva passasse, à espera de poder voltar a ir brincar «lá fora» onde me esperavam os campos de malmequeres, os cucos, os pardais dos telhados e os charcos onde as rãs saltavam. Cada um de nós tem a sua janela. Parabéns ao Vasco por ter partilhado a sua com tanta clareza.
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Julinha disse:

Que paisagem bonita que o Vasco descreve na sua janela !Todos temos uma janela na nossa infância....eu também tive a minha e quantas horas passava sentada a olhar o céu, a ver a estrada, a ver as flores, esperando que a chuva passasse, esperando uma amiga para conversar, brincar....brincar ás mães e filhas, professora e alunos..... sim,aquelas brincadeiras de infância que me preparariam para mais tarde ser a mulher que sou!
Obrigada Vasco, por, de uma maneira tão singela, me teres levado á década de 50.
Júlia R
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J J disse...
Mais um post com uma publicação conjunta do Heavenly e do Blog dos Antigos Alunos ERO.
Recordações mágicas da infância de todos nós num post que casa uma fotografia bela, mas complexa, com um texto que é também ambas as coisas, onde está mais do que o somatório das palavras que o compôem, como é habitual com o nosso amigo VT.
Esperamos que esta colaboração, que tão bons resultados tem tido, possa continuar.
Abraço. JJ
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Luisa disse:

Muito bonita e muito terna toda esta evocação das memórias visuais da infância,todos tivemos a nossa janela para o Mundo.
Gostei muito da fotografia,como é habitual em todos os leitores do heavenly.
Esta colaboração parece-me muito positiva para os dois blogues e foi sem dúvida uma boa ideia.
Bjis. Luisa
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F. Clérigo disse...
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A Arte de Ser Feliz
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Houve um tempo em que a minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e o meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como reflectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E
sinto-me completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

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Cecília Meireles
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Uma Sugestiva Janela, uma narrativa expressiva, onde a Imaginação e o Sonho “brincam” e “pulam” de mãos dadas, aos Olhos de uma criança... transpostos agora para um Olhar perscrutante, uma escrita cuidada, embalada ainda pela Música que outrora encenava o bailado de borboletas, em redor de um Coração...
Bonita conjugação para a “Arte de Ser Feliz”...
Parabéns ao Autor pelo Belo Post !

Bjs

Fátima
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Gostei imenso de "A janela da minha infância",veio mostrar a antiga escola onde andei da primeira à terceira classe .
Morei na pensao Mimosa e na altura o professor era o Sr. Pimentel; se alguém se lembra desse maravilhoso periodo e se lembrarem de mim colegas do nosso tempo contactem-me.
Obrigado, bem hajam.
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Frederico Maria Oom Moniz Galvão disse:
Por razões várias há bastante tempo que não vinha ao vosso blog (que será mesmo, eventualmente, o que mais me diverte e preenche de há algum tempo, apesar de não ter frequentado o ERO.)
No entanto os que conseguirem localizar-me na vossa memória, lembrar-se-ão que todos os anos da minha, nossa, juventude 4 ou 5 meses eram passados no calor da vossa companhia. Até há fotografias minhas com 5 anos para aì com algumas das minhas irmãs num piq-nic com o Padre António Emilio, no vosso blog!
Mas tudo isto serve para tentar, sem sucesso, disfarçar o choque da noticia da morte da Náni de quem já tinha tantas saudades, terrivel!! o que me faz sentir muito mal é o aperto da distância e da ausência se terem eternizado!
Um abraço para os que se lembrarem de mim e um enoooooooooorme beijo para a Náni onde quer que ela esteja. Sempre que estiver na Foz do Arelho estarei com ela : Que boa ideia, talves um dia peça para fazerem o mesmo comigo.
Frederico Maria Oom Moniz Galvão.
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Joaquim disse...
Ao Frederico Maria, posso dizer que o talho era o "Talho do Monteiro" e, a seguir, no sentido do Bairro da Ponte, era a "Loja do João Vintém", avô dos Madeira Lau: o João (já falecido),o António (meu colega de escola, que se formou em engenharia e se ficou por Lisboa), e o Chico (que continuou com a tradição de estabelecimento de "venda a retalho"). No sentido contrário era uma mercearia, a drogaria do Lopes, e o Teodoro das Caraças, famoso na época pois vendia tudo necessário para fins carnavalescos.
Olhando as saudosas fotos da Praça do Peixe (agradeço ao J.J.) e não só ... é de lamentar aqueles caixotes de linhas rectas que se ergueram por toda a cidade sem um pouco de harmonia.
Joaquim
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JJ disse:
Lembro-me bem do Frederico, sempre impecavelmente "fardado" para as suas tardes de ténis. Eu era bem mais novo, jogava no primeiro "court", enquanto ele já tinha direito ao "court" dos seniores onde jogavam os veteranos Henrique Mineiro e Calheiros Viegas mas também alguns "eleitos" como ele, o João Calheiros, o Néné...
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Só posso acompanhar o Joaquim no seu lamento pelos horríveis caixotes que a ignorância e o desleixo autárquicos deixaram que destruissem as nossas duas Praças.
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A ambos peço que me enviem os seus emails, gostaria de os contactar pessoalmente.

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