por António José Neto.
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Nesta quadra gostaria de partilhar convosco mais uma "estória" engraçada dos nossos tempos de meninice.
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No longínquo ano de 1968, provavelmente por insistência do Padre Albino, eu tinha passado de mero assistente das missas dominicais a acólito da celebração católica.
.Na Sexta Feira Santa à tarde, os acólitos (grupo que incluía como mais destacados o Aires, que mais tarde trabalhou nos Correios e o Brás, ligado ao desporto, mas também alguns colegas do colégio que me abstenho de enumerar directamente) fizeram o ensaio geral da importante cerimónia a ter lugar à noite com os fiéis Caldenses.
.Recorde-se que a Igreja celebra e contempla a paixão e morte de Cristo, pelo que é um dos raros dias em que não se celebra a Eucarístia. No entanto, mesmo sem a celebração da missa, tem lugar uma celebração litúrgica própria deste dia. O ritual que encenámos começava com a entrada em procissão dos celebrantes e acólitos pelas alas da Igreja, passava à leitura e aclamação do Evangelho da Paixão segundo João e adoração da Cruz, com homília e reflexão.
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Depois de um par de horas a ensaiar, alguns de nós fomos convidados pelo padre Albino a ir jantar nessa Sexta Feira Santa no andar da esquina para a praceta, do lado do tribunal, onde residiam os padres. Julgo que haveria uns três padres e cinco acólitos. Sentados à mesa, logo a empregada pôs água na mesa, serviu sopa e de seguida apresentou carne como prato principal.O Padre Albino ficou consternado. Em casa de ferreiro, espeto de pau? O pessoal negligenciava o jejum pascal e servia o pecado à mesa dos padres e convidados?Será que não havia um peixinho para substituir aqueles nacos de Chambão de Vitela?
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Da resposta das cozinheiras, concluíu-se que a verdade é que na prática se ignorava em casa dos padres a beata recomendação de não comer carne às sextas feiras. Cozinhavam o que muito bem entendiam. Sem censuras até à data, as pouco católicas cozinheiras tinham pensado em servir uma suculenta carne no dia da Paixão de Cristo, já que noitada de esforço para os ministros de culto naturalmente aconselhava um jantar revigorante. Nem se colocou a hipótese de que faziam jus ao ditado "Ninguém é perfeito para o seu empregado de quarto" e estavam a testar e até gozar os clérigos."Absolutamente mais nenhuma possibilidade", dizia a criada. Ou os Senhores Padres comiam carne ou teriam de fazer verdadeiro jejum, passando directamente a umas escassas peças de fruta.
.Da resposta das cozinheiras, concluíu-se que a verdade é que na prática se ignorava em casa dos padres a beata recomendação de não comer carne às sextas feiras. Cozinhavam o que muito bem entendiam. Sem censuras até à data, as pouco católicas cozinheiras tinham pensado em servir uma suculenta carne no dia da Paixão de Cristo, já que noitada de esforço para os ministros de culto naturalmente aconselhava um jantar revigorante. Nem se colocou a hipótese de que faziam jus ao ditado "Ninguém é perfeito para o seu empregado de quarto" e estavam a testar e até gozar os clérigos."Absolutamente mais nenhuma possibilidade", dizia a criada. Ou os Senhores Padres comiam carne ou teriam de fazer verdadeiro jejum, passando directamente a umas escassas peças de fruta.
Sem pestanejar ou precisar de olhar uns para os outros, os religiosos não hesitaram e começaram a servir-se, enquanto a amena conversa os distraía da infracção.“Ai, se os paroquianos soubessem desta”, ainda terá murmurado o Padre Albino.Nunca souberam.
.Trata-se de uma história que não mais esqueci, mas que por uma qualquer razão nunca partilhei. Faço-o agora convosco, recordando esse personagem complexo que era o Director do colégio durante uma boa parte da nossa permanência lá.
.Notei que os ex-colegas se abstém de o louvar ou criticar, num quase pudor que é provavelmente a atitude mais apropriada.
.Mais tarde recebi uma das muitas e muitas cartas iguais que escreveu pelo seu punho, despedindo-se até à eternidade, quando ia ingressar na clausura do Convento da Cartuxa. Voltei a encontrá-lo brevemente em Campo de Ourique quando estava na faculdade e depois não tive mais notícias.
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António José Neto
Páscoa de 2009
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COMENTÁRIOS
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vasco disse...
Olá António, bem vindo ao clube e logo com um apontamento assim oportuno ;-). Como se dizia de frei Tomás faz o que ele diz e não o que ele faz.
Olá António, bem vindo ao clube e logo com um apontamento assim oportuno ;-). Como se dizia de frei Tomás faz o que ele diz e não o que ele faz.
Abraço. VB
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JJ disse:
Mais uma estreia, mais um colega da minha turma, mais um bom texto e uma boa estória. Só posso expressar a minha satisfação por tudo isto!
Um abraço. JJ
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Quanto ao "resguardo" de comer carne à sexta feira, ao longo da Quaresma, ficava dele isentado quem adquirisse a "bula", mediante o pagamento de determinada quantia à Igreja.Talvez a governanta do Sr. Pe Albino tivesse providenciado nesse sentido e, afinal, ninguém "pecou"...
Votos de uma Páscoa Feliz para todos!
Manuela Gama Vieira
2 comentários:
Olá António, bem vindo ao clube e logo com um apontamento assim oportuno ;-). Como se dizia de frei Tomás faz o que ele diz e não o que faz.
Abraço
VB
Provavelmente, assisti a muitas Missas acolitadas pelo António.
Quanto ao "resguardo" de comer carne à sexta feira, ao longo da Quaresma, ficava dele isentado quem adquirisse a "bula", mediante o pagamento de determinada quantia à Igreja.
Talvez a governanta do Sr. Pe Albino tivesse providenciado nesse sentido e, afinal, ninguém "pecou"...
Votos de uma Páscoa Feliz para todos!
Manuela Gama Vieira
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