All the world is a stage and all the men and women are merely players (W Shakespeare)
No teatro da vida há papéis que não se ensaiam, como há peças em que nem sabemos como fomos parar ao palco.
Fiz-me professora num dia de Agosto de 1967. Na véspera um telefonema mandava-me comparecer no Externato Ramalho Ortigão de Caldas da Rainha, para fazer parte do júri de exames de admissão. Entre comboios, foi na estação do Rossio que comprei um Guia de Conversação Inglesa perfeitamente inútil e, enquanto a paisagem do Oeste corria pela janela, esforcei-me por recordar como era ser aluno de inglês a fazer uma prova oral, para poder imaginar como seria representar o papel ‘do lado de lá’ da secretária. Foi horrível! Inglês?! e Português e Francês e História!!! eu não sabia NADA de História! Mas ali estava no meio do palco a contracenar com o dr Serafim. O improviso correu-me bem, excepto… quando no silêncio grave e solene da cerimónia o meu estômago reclamou sonoro da fome (estupor! eu lá ia lembrar-me de comer num dia de estreia ). Grande actor, o dr. Serafim continuou imperturbável o seu papel, e a partir daí eu sabia que podia contar com a sua discrição.
Por um acaso, logo, logo eu quis sair do elenco e foi então que o contra-regra, Pe Albino, ameaçou que me punha um processo em cima por incumprimento de contrato. Aí contei com muito mais, com o apoio do dr Serafim e da namoradinha, Esperança. “Vai ver que vai gostar do Colégio” sorriam eles. Acertaram! Não há ó gente, ó não, externato como o Ortigão!
II ACTO - A receita secreta
… aí pelo natal de 67, terminadas as reuniões de avaliação houve uma festinha e para meu espanto a ‘seriedade’ foi substituída pela alegria. Quando o elenco em coro entoou o hino de Santa Catarina, prlim, prlim pé pé, aqui a ‘ingénua dramática’ percebeu que havia alma naquela casa austera.
As férias deram tréguas ao trabalho violento do 1º período: não era ‘pêra doce’ ter 7 variedades de serviço, 33 horas de aula por semana, substituir um dr Luís excelente professor… e continuar viva!
Como as filhoses o colégio tinha uma receita secreta: havia um cérebro, o Pe Albino, uma coluna vertebral, a Secretaria, dois braços e pernas executivos, o Serafim e o Lopes, um coração, Pe Renato & Pe Chico, os órgãos internos cada qual com sua função, ‘ los maestros’ e as células, os alunos. Eles, elas, as células, eram a razão de ser daquele corpo social, a escola. Uma escola como outra qualquer no Portugal de 60-70, mas com uma particularidade: era a nossa escola! Surpresa das surpresas, o EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO continua nosso, como se vê, vivo e fresquíssimo neste blog.
III ACTO - O Padre Renato
Por causa de uma figueira que vejo da minha janela, todos os anos me ocorre o pesadelo do Padre Renato: ‘quando às figueiras começam a nascer as folhas é sinal de que os exames estão perto!’ dizia nervoso. Era um sensível, um artista! Um barco só no areal da praia, virado ao mar, pronto a partir, é assim que o vejo na aguarela que me ofereceu.
“O vagabundo das mão de ouro”, de Romeu Correia, que o CCC representava por essa altura, começava assim a cena I do primeiro acto “Mestre Albino! Mestre Albiiii…no!…” Inesquecíveis, os dois! Com um pequenino esforço até dá para os confundir, salvo o imenso respeito e admiração que sinto pelo Padre Albino. Ele entende.
INÊS
__________________________________________________
COMENTÁRIOS
Manuela Gama Vieira disse:
Li com imenso gosto este “olhar” sobre o ERO da Dr.ª Inês, a minha saudosa Professora de Inglês e Alemão nos 6º e 7º anos.
Ainda bem que não se foi embora e que o simpático e solidário casal Serafim a apoiou, a perda seria nossa! Além do mais, a sua ida para o Colégio contribuiu para alguma mudança, que também se vai promovendo com a “presença” de pessoas diferentes, com uma "atitude" diferente, foi o caso.
Uma Professora competente, dedicada, jovem, gira, “pequenina” mas… “as mulheres não se medem aos palmos”! Uma Mulher inteligente, como de resto se infere das intervenções que tem feito aqui no blog, e das “escolhas” que faz ao acaso, como diz, mas não por acaso, digo eu, nos posts do seu blog “para dar as Boas Vindas a quem chega do Externato Ramalho Ortigão:)”. Que simpatia, Dr.ª Inês.
Uma agradável presença, a sua, no ERO! O seu “look” tinha a ver com a minha geração! O seu penteado à Rita Pavone, a saia travada, acima do joelho, o traço de eyeliner na pálpebra superior dos seus bonitos olhos, a sua jovialidade, absolutamente inolvidável!
E como poderia eu ficar indiferente à referência que faz ao P.e Renato (outro Professor que não esqueço) e à sua sensibilidade, própria de um espírito genial como era o dele!
A Drª Inês consta da lista de Professores de quem guardo gratas recordações...de outros, guardo lembranças.
Manuela Gama Vieira
A entrada da Drª Inês no ERO em 1967 (dois meses depois da edição de "Sgt Pepper's...") representou, como já aqui foi referido, a chegada do espírito dos anos 60 ao Colégio. Tal como a entrada do novo director, em 1963, tinha representado a chegada da era vitoriana.
Foi com a Dra. Inês que me iniciei na aprendizagem da língua inglesa. Formavam, para mim, um óptimo conjunto: professora e disciplina. Gostava muito de ambas. É extremamente gratificante voltar a encontrá-la aqui, Dra. Inês, transformada em "Farófia", sempre doce, e usufruir do seu convívio agora na forma de comentários subtis e inteligentes.
Leio sempre tudo o que vem no nosso Blog e é como se, a partir de então, pudesse assistir às etapas que queimei quando, por opção minha, deixei o ERO.
Consigo e com o Sr. Padre Renato a vida teve e tem, mais encanto, como a bela aguarela tão bem ilustra.
Até breve
M. Fátima Mendes Gama Vieira
Bem posso matutar como vou sair desta overdose de mimo… ó gente, vamos com calma… estou no blogue dos alunos do ERO, descoberto por milagre no dia 3 de Fevereiro, que me encantou pela beleza e vivacidade dos textos e me conquistou pelas fotos a preto e branco. Aluna não fui, mas aquela barra lateral esquerda tinha um convite irresistível… este era o blog com que eu nem nunca tinha sonhado, o blog do regresso a casa. "My homepage"!
Olá Drª Inês. Foi minha professora de literatura inglesa e alemão. Foi realmenta uma lufada de ar fresco, como alguém disse, que entrou no nosso colégio. As idades aproximavam-se e, por isso, lembro-me das conversas e desabafos que tinhamos na nossa turma do 6º e 7º ano (apenas 7 alunos).Que saudades!Um grande beijinho. Isabel Corredoura.
9 comentários:
A chegada da Drª Inês representou, como já aqui foi referido, a chegada do espírito dos anos 60 ao Colégio. Tal como a chegada do director, em 1963, tinha representado a chegada da era vitoriana.
Não a perdemos entretanto, porque a Drª Inês transformou-se na "farofia" que comenta, com sensibilidade e entusiasmo, no nosso Blog e com quem eu troco umas humoradas e joviais mensagens àquelas horas em que as pessoas com juízo normalmente estão a dormir.
Obrigado Inês por esta partilha de reclamações estomacais,da estrutura biológica do Colégio e do barco do Padre Renato.
Vá aparecendo, contamos consigo para animar este espaço de convívio!
Começo pela aguarela do Padre Renato que me despertou recordações de grande ternura. Agradeço ter partilhado esta imagem connosco.
A Drª. Inês foi efectivamente uma lufada de ar fresco no E.R.O. naqueles tempos,guardo uma memória dela de alegria,simpatia e dedicação aos alunos.Gostei muito de saber os pormenores da sua chegada ao Colégio,gostaria de saber o que é feito de si,já que o seu blogue não diz!!! Beijinhos,Luisa
depois disto digam-me que haverá mais para dizer? belo, bellissimo!
Foi com a Dra. Inês que me iniciei na aprendizagem da língua inglesa. Formavam, para mim, um óptimo conjunto: professora e disciplina. Gostava muito de ambas. É extremamente gratificante voltar a encontrá-la aqui, Dra. Inês, transformada em "Farófia", sempre doce, e usufruir do seu convívio agora na forma de comentários subtis e inteligentes.
A imagem que nos dá da sua chegada ao colégio, com recurso a várias artes, encanta-me pela rara sensibilidade que dela emana. É sempre útil confrontarmo-nos com o "outro lado", neste caso, o lado da professora que chega e acaba por ficar no colégio, vinda do Algarve. Tão longe, naquele tempo! Afinal, todos temos tanto que contar e que aprender ainda! Beijinhos.
- Isabel Xavier -
Foi com a Dra. Inês que me iniciei na aprendizagem da língua inglesa. Formavam, para mim, um óptimo conjunto: professora e disciplina. Gostava muito de ambas. É extremamente gratificante voltar a encontrá-la aqui, Dra. Inês, transformada em "Farófia", sempre doce, e usufruir do seu convívio agora na forma de comentários subtis e inteligentes.
A imagem que nos dá da sua chegada ao colégio, com recurso a várias artes, encanta-me pela rara sensibilidade que dela emana. É sempre útil confrontarmo-nos com o "outro lado", neste caso, o lado da professora que chega e acaba por ficar no colégio, vinda do Algarve. Tão longe, naquele tempo! Afinal, todos temos tanto que contar e que aprender ainda! Beijinhos.
- Isabel Xavier -
O Inglês ensinado pela primeira vez pela Drª Inês(não me esqueci dessa!)permitiu-nos naquela altura começar a compreender um mundo onde essa língua começava a ser universal.E claro que a professora ajudou,com a sua simpatia,figura e boa vontade a que aprendessemos mais e melhor!
Gostei de ler uma descrição do E.R.O. vista de um lado diferente,já com o Dr, serafim tinha havido um pouco disso.Espero que a escritora não se fique por aqui e atenda o pedido do JJ para continuar a animar o nosso blogue.L
Leio sempre tudo o que vem no nosso Blog e é como se, a partir de então, pudesse assistir às etapas que queimem, quando por opção minha, deixei o ERO.
Obrigada a todos os que dinamizam e se mostram no Blog. Estes rápidos flashes de histórias de vida permitem-me ser melhor pessoa e transmitir mensagens úteis a todos aqueles jovens e adultos com quem trabalho.
Deolinda Pereira de Barros
Bem posso matutar como vou sair desta overdose de mimo… ó gente, vamos com calma…
estou no blogue dos alunos do ERO descoberto por milagre no dia 3 de Fevereiro, que me encantou pela beleza e vivacidade dos textos e me conquistou pelas fotos a preto e branco.
Aluna não fui, mas aquela barra lateral esquerda tinha um convite irresistível… este era o blog com que eu nem nunca tinha sonhado, o blog do regresso a casa. My homepage! E agora, agora não sei mais! sei que tenho o coração a doer de cheio de gratidão. E que desta vez não consigo responder como devia...
( só à Julinha, porque é uma resposta técnica: ‘farófia’ é o nome de utilizador com que entro no ‘wordpress’ – eu devia assinar Inês, mas às vezes até me esqueço )
Olá Drª Inês. Foi minha professora de literatura inglesa e alemão. Foi realmenta uma lufada de ar fresco, como alguém disse, que entrou no nosso colégio. As idades aproximavam-se e, por isso, lembro-me das conversas e desabafos que tinhamos na nossa turma do 6º e 7º ano (apenas 7 alunos).Que saudades!
Um grande beijinho. Isabel Corredoura.
Enviar um comentário