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Ao nosso Professor de Filosofia (1948/1949)
Foi no dia 7 de Outubro de 1948 que os alunos de Filosofia do Externato Ramalho Ortigão, ficaram a conhecer o seu novo Professor, o Dr. Mário Braga. À sua primeira aula de apresentação, logo se sucederam aquelas em que nos ensinou a história da Filosofia, desde o tempo mais remoto, quando a palavra abrangia o conhecimento, no seu sentido mais lato. Na oitava lição, aprendíamos sobre a Psicologia, a” ciência do espírito”, com referência à Psicologia racional e à Psicologia experimental…
Prosseguimos assim a aprendizagem ao longo de um ano lectivo, no decorrer do qual reconhecemos sempre a competência do Professor para o ensino de uma disciplina cuja exigência se nos revelava em cada lição, criando-nos dificuldades apenas atenuadas pela sua capacidade pedagógica: à clareza de exposição, ao método e ao rigor que demonstrava nas suas aulas, acrescia o companheirismo, próprio do jovem Professor que era apenas um pouco mais velho do que os seus alunos. Não admira assim que nos tenha acompanhado em momentos de convívio, caso da excursão a Évora, promovida pelo Externato, em Maio de 1949.
As qualidades pessoais e pedagógicas do Dr. Mário Braga, deixaram marca perene na memória dos seus alunos. Guardei, com sincera estima, alguns dos apontamentos que tomei nas suas aulas, assim como os exercícios de Filosofia, devidamente corrigidos e rubricados, validando com justos suficiente, as respectivas classificações.
No decurso deste ano lectivo, não interiorizei o facto de o nosso estimado Professor de Filosofia, ser, desde 1944, o editor da prestigiada revista Vértice e o de ser reconhecido, aos vinte e oito anos de idade, como um talentoso escritor, que se afirmava como lídimo representante de uma corrente literária da qual viria a ser o grande expoente, conforme a sua vasta bibliografia documenta e as doutas apreciações críticas sobremaneira confirmam. O Dr. Mário Augusto de Almeida Braga está, por mérito próprio, no Quadro de Honra dos Escritores Portugueses.
Na circunstância, recuando no tempo, sentimos que 1948 constitui um ano memorável para um núcleo de alunos do Externato Ramalho Ortigão, que foram privilegiados por terem tido como seu Professor de Filosofia, o Dr. Mário Braga, que então iniciou nas Caldas da Rainha, uma das suas primeiras experiências de ensino, senão mesmo a primeira. No mesmo ano de 1948, depois de ter publicado em 1944 o seu primeiro livro de contos,Nevoeiro, publicou os segundo e terceiro livros, Caminhos sem Sol e Serranos, dando continuidade ao tão inspirado percurso de escritor, criativo, sempre coerente com os valores e os princípios que o nortearam.
Conjugam-se os dados que me permitem sentir que, decorridos sessenta e dois anos, persistem vivas as memórias que nos ligam a pessoas, às circunstâncias e aos lugares, razão de conforto e dos afectos que, solidariamente, nos apraz cultivar.
Na comemoração do seu 90º aniversário, também eu, já octogenário, quero manifestar ao nosso Professor de Filosofia e ao Escritor emérito, o meu sincero respeito e a maior admiração, dedicados à exemplaridade de uma Vida e de uma Obra que tanto enobrece a literatura portuguesa.
Honra ao Dr. Mário Braga !
Com o abraço amigo de parabéns, do seu ex-aluno
Mário Gualdino Gonçalves
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