Os Locais do João Ramos Franco

Caldas da Rainha, 1961

A Tasca/Mercearia do “Manuel”

Ao virar da esquina, vindo da rua do Café dos Capristanos, andando uns metros na Rua Capitão Filipe de Sousa, aí estava a Tasca do “Manuel”, ponto de referência para os rapazes que iam enfrentar o ERO no seu 1º ano de época de vida de estudante.

Nos 1º e 2º anos era espreitar e andar, se estivessem lá os mais velhos, que não nos deixavam entrar. Mas quando eles não estavam, entrávamos para comprar os rebuçados com os jogadores de bola. Eu tinha sorte, já me tinha saído uma bola quando andava na Escola da Praça do Peixe.

Nos primeiros anos éramos praxados pelos mais velhos. Eu gozava de uma certa protecção dos meus primos Calisto, Asdrúbal, Diamantino e Jorge, e do meu irmão Rui, a qual foi bastante útil para me salvar algumas praxes. Também tive ajuda dos Professores nesta primeira etapa.

Recordar todos os que entraram comigo é difícil mas aqui ficam alguns: João Calheiros, Samagaio, Adalberto, Edgar, João Gama, José Maria Sales, Pedro Albuquerque, José Saudade e Silva, os que faltam que me desculpem.

Já estava no 2º ano e, no Carnaval, nas escadas estreitas que ligavam o Pátio do Colégio à rua, era banho certo com a mangueira de água da Garagem Caldas. Ninguém escapava, pensámos nós, até vermos o Jorge Sales passar por cima da malta e aterrar com os pés no vidro da frente de um carro que vinha a passar. Ainda bem que este acidente não deu para o azar.

Muitas brincadeiras vi que me ficaram na memória. Talvez o saltar de guarda-chuva aberto (como se fosse pára-quedas) para o Pátio de cimento do recreio (2,5 /3m), e o frasco do ácido sulfídrico destapado (cheira a ovos podres) sejam as lembranças mais fortes. O cheiro do ácido era tão intenso que tiveram de mandar a malta toda para o recreio até o cheiro passar.

Passei no exame do 2º (em Leiria). Em Outubro e aí estava eu em mais uma etapa, o 3º Ano. Os mais velhos comemoravam a nossa entrada neste ciclo, dando-nos a regalia de poder acompanhar com eles. Significava vida mais aberta.

Para nós a Tasca do Manuel começava aqui, uma ginjinha ou um eduardinho e um cigarro era o baptismo de entrada no grupo dos mais velhos.

A partir de então era para lá que íamos quando tínhamos um intervalo mais prolongado, era o sítio onde combinávamos o que fazer depois das aulas.

Normalmente depois de beber e fumar o cigarrito, dizíamos para Manuel: “assenta aí, que depois pago”. E ele apontava na parede por debaixo do nome.

Um dia, antes de ir para férias, ouço um dos mais velhos pedir uma rodada para malta e depois dizer: “Manuel agora que vais estar sem nós, tens mais tempo, não te esqueças de caiar a parede”.

João Ramos Franco
(João Traga Balas)

..............................................................................................................................

COMENTÁRIOS

16-04-2008

JJ disse:

Começo a pensar que os autores não escrevem datas só para ver o grau de precisão do aparelho de datação...

Estamos perante um texto de alguém que se inicia no Colégio no edifício do Crespo, fazendo lá do 1º ao 7º Ano. Esta geração não chega a frequentar o 1º e 2º Ano no edifício de esquina da Alexandre Herculano com a Heróis da Grande Guerra, como acontecerá no final da década de 50.

Devemos estar pois neste depoimento entre 1952 e 1960, mais ano menos ano. Esta "folga" de um ano é perfeitamente aceitável num "datómetro" já relativamente antigo e que tem sido utilizado todos os dias neste Blog!

Conheço muitos dos citados no texto, gostaria de saber se algum deles nos lê e visita. Está aqui este espaço de comentários para descobrirmos isso.

.

16-04-2008

Júlia Ribeiro disse:
Um breve comentário aos dois últimos depoimentos:
Cheguei a uma conclusão.....escrever algo sobre o local de encontros em 2008 porque a palavra"pasmaceira” fez-me "cócegas na palma das mãos" e não pude deixar de concluir que afinal há em 2008 um local de encontros que" nasceu"a 17 /11/2007...........
Ora,antes era a Maratona junto à Igreja do Santo Sacrifício da Missa......Agora,bem pertinho,há um local que ,não sei se sabem, tem o nome de AUDIOMANIAS!!!!!!! Porque não, A TASCA do JOÃO???????.....Uma mesinha; umas cadeirinhas (verdade seja dita, quando lá vou não fico de pé!) e um cafézinho.....saímos e.......assenta aí que depois pago....e assim ia crescendo o local de encontros em 2008.
A ideia de fazer esta brincadeira é porque cada vez que lá vou encontro sempre algum colega ou Professor,como por exemplo o Dr.Lopes ou alguém que fez parte da nossa vivência no Colégio.Um Abraço. Júlia Ribeiro

.

16-04-2008

JJ disse:

Já encomendei a máquina do café e dois ou três guarda-sóis para a esplanada. Frigorífico já há, pensas que dois aventais e dois tabuleiros chegam? E achas mesmo que "A TASCA DO JOÃO" é o nome ideal? Lá vou eu ter que fazer uma tabuleta nova.

Para os "assentos" tenho lá uma lousa velha e uns restos de giz, embora receie que esse método de facturação não seja, hoje em dia, o mais indicado...

.

17-04-2008

Isabel Knaff disse:

Vi que a Júlia apareceu com uma ideia muito gira!Cá para mim era bestial...quando fosse ás Caldas já sabia onde podia encontrar a malta, ia logo lá directa!
O nome não sei...Tasca do João...hummm... acho que até podias abrir um parágrafo para sugestões.A minha seria - D'JJ's - considerando o teu grande amor e aptidão músical.Que te parece?

.

18-04-2008

Guidó disse:

TASCOMANIAS,

o nome é

TASCOMANIAS!

Guidó