ALMOÇO / CONVÍVIO

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Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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TINTIN













TINTIN, por João Jales
















As “histórias aos quadradinhos”, já aqui referidas no colorido texto do João Serra “Memória dos Livros”, constituíram para mim apenas uma etapa de passagem para a literatura e o gosto pela leitura.

Os livros do Tintin terão sido a excepção, incentivada pela minha família ao comprar-me os álbuns de Hergé na sua língua original (ainda hoje os tenho), tentando assim estimular que eu lesse em francês. Fizeram o mesmo mais tarde com o Astérix, em relação à minha irmã. Dez anos depois o Inglês começaria a tornar-se a língua universal, a língua francesa perderia a sua importância, a capital cultural do mundo deixaria de ser Paris e estes esforços perderiam o seu sentido…



Tintin nasceu em 1929 (faz este ano oitenta anos, embora não pareça) celebrizando-se numa visita à URSS nesse ano, relatada em “Les Aventures de Tintin, reporter du “ Petit Vingtième", au pays des Soviets”. O grafismo tosco, com o desenho a preto e branco, é bem diferente do usado pelo autor nas aventuras posteriores que todos recordamos. A polémica sobre o tom panfletário e anti-soviético deste livro fez com que ficasse anos por reeditar e eu só o lesse depois de todos os outros.

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“Tintin au Congo” foi publicado em Portugal pelo “Papagaio” (revista dirigida por Adolfo Simões Muller), sob o título “Tintin em Angola” com o texto adaptado e os desenhos coloridos por artistas nacionais. Foi a primeira tradução de um livro de Hergé e também a primeira vez que o autor viu os seus desenhos a cores; gostou tanto que passaram a ser todos assim. Consta que ver Milou transformado numa cadela cor-de-rosa chamada Rom-Rom não lhe agradou tanto… Ambas as versões motivaram polémica, devido a acusações de racismo e colonialismo, com o autor a defender-se alegando ter retratado apenas uma realidade existente.

“Tintin en Amérique”, de 1932, só seria autorizado nos EUA em 1973, depois de algumas adaptações e cedências a uma política editorial racista que exigiu a substituição de alguns personagens negros por brancos.

Fomos com Tintin à Lua, muitos anos antes da aposta americana na concretização desse sonho, e ao fundo do mar em busca do tesouro de Rakham, o Vermelho (que, em Portugal, foi rebaptizado Rakham, o Terrível...). À América do Sul, onde conhecemos estéreis questiúnculas e cruéis ditadores, em retratos injustamente acusados de reaccionários, quando se limitavam a ser impiedosamente cínicos e realistas… Ao Médio Oriente, adivinhando já os problemas da dependência ocidental do petróleo, à Sildávia e Bordúria, inventados por Hergé para mostrar os conflitos latentes na Europa Central e nos Balcãs, à Índia e à China, onde conhecemos o tráfico de drogas. Tentei situar geograficamente as vinte e quatro aventuras na lista que acompanha este post, espero que os “especialistas” a corrijam e aumentem.

Tintin nunca visitou Portugal, mas o vendedor ambulante português Oliveira da Figueira aparece em vários livros (não recordo exactamente quais), impingindo ao nosso herói montes de inutilidades, enquanto ele se gabava a Milou de não se deixar levar pela conversa do vendedor!
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Lembro-me de me deixar seduzir pelo muito jovem “jornalista”, de idade indefinida, porque me dava a certeza que as aventuras me esperavam também a mim, amanhã, ao virar da esquina… Por outro lado era enorme o apelo e o fascínio por lugares exóticos, e a facilidade com que Tintin os calcorreava, numa altura da minha vida em que uma viagem anual a Trás-os-Montes ou ao Algarve era uma odisseia!

Por ainda hoje me lembrar de tudo isto quis trazer aqui Tintin, Milou, Haddoc, Tournesol, Castafiore, Dupont e Dupond (que não são gémeos, como os nomes bem mostram) e tutti quanti nos álbuns de George Remi (R.G.) encheram de humor e aventuras a minha juventude.


Está aqui a lista dos álbuns originais de Tintin, por Hergé. A azul, sob o título,
os países (reais e imaginários) e zonas onde decorre a acção.




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Tintin Au Pays des Soviets (Tintim no País dos Sovietes) 1930
Bélgica,Alemanha,União Soviética
Tintin au Congo (Tintim na África ou Tintim no Congo) 1931
Congo Belga
Tintin en Amérique (Tintim na América) 1932
EUA (Chicago)
Les cigares du pharaon (Os Charutos do Faraó) 1934
Egipto,Médio Oriente,Índia
Le lotus bleu (O Lótus Azul) 1936
Índia,China
L'oreille cassée (O Ídolo Roubado ou A Orelha Quebrada) 1937
Bélgica,San Theodoros,Nuevo Rico
L'île noire (A Ilha Negra) 1938
Inglaterra, Escócia
Le sceptre d'Ottokar (O Ceptro de Ottokar ou O Cetro de Ottokar) 1939
Bélgica,Sildávia
Le crabe aux pinces d'or (O Caranguejo das Tenazes de Ouro ou O Caranguejo das Pinças de Ouro) 1941
Bélgica,Marrocos
L'étoile mysterieuse (A Estrela Misteriosa) 1942
Bélgica,Islândia,Árctico
Le secret de la Licorne (O Segredo do Licorne ou O Segredo do Unicórnio) 1943
Bélgica
Le trésor de Rackham le Rouge (O Tesouro de Rackham o Terrível ou O Tesouro de Rackham o Vermelho) 1944
Bélgica,Oceano Atlântico,Caraíbas
Les sept boules de cristal (As Sete Bolas de Cristal) 1948
Bélgica,França
Le temple du Soleil (O Templo do Sol) 1949
Peru
Tintin au pays de l'or noir (Tintim no País do Ouro Negro) 1950
Bélgica,Khemed
Objectif Lune (Rumo à Lua ou Objectivo Lua) 1953
Lua,Sildávia
On a marché sur la Lune (Explorando a Lua ou Pisando a Lua) 1954
Lua,Sildávia
L'affaire Tournesol (O Caso Girassol) 1956
Bélgica,Suiça,Bordúria
Coke en Stock (Perdidos no Mar ou Carvão no Porão) 1958
Bélgica,Médio Oriente,Mar Vermelho
Tintin au Tibet (Tintim no Tibete) 1960
França,India,Nepal,Tibete
Les Bijoux de la Castafiore (As Jóias de Castafiore) 1963
Castelo de Moulinsart (França)
Vol 714 pour Sydney (Vôo 714 para Sydney) 1968
Indonésia
Tintin et les Picaros (Tintim e os Tímpanos ou Tintim e os Pícaros) 1976
San Teodoro
Tintin et l'Alph-Art (Tintim e a Alph-Art) 1986 (incompleto)
Bélgica, Itália
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COMENTÁRIOS
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São Caixinha disse:
Olá João!
Li em adolescente a maior parte dos livros do TinTin, por excepcional obséquio do meu primo Mário, que lhes era muito devotadamente zeloso. Apesar de mais novo que eu, impunha-me então, uma série de regras inerentes á leitura! Tinha, por exemplo, que ler sempre na sua presença e naturalmente tendo o cuidado necessário para evitar causar algum dano. Desde que observasse as regras, porém, era convenientemente deixada em confortável sossego!!! Parece-me que nem respirava, mas tudo valia a pena, para ter acesso aqueles livros que tanto adorava, não só pelas aventuras, mas sobretudo pelos desenhos! Ainda hoje considero que conservam a magia de outrora.
Adquiri os meus próprios livros muito mais tarde, e então, por força das circunstâncias, em Inglês e Holandês! Que curioso ter sido em Portugal que foi feita a coloração e simultâneamente a primeira tradução!
Obrigada João pelo magnifico texto repleto de interessantes pormenores sobre este tema que me é tão grato!
E obrigada também ao Mário pelo ensejo, que eu adorei, apesar do rigor que acompanhava as leituras, justificado ademais, já que eu entretanto também manejo os meus livros com similares precauções!
Bjs, São
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Luis disse:
Gosto e valorizo muito toda a BD,não partilho da visão do JJ que parece não apreciar muito mais que o Tintim...
Aparte isso achei preciosa a lista das aventuras com as datas e os locais onde decorrem bem como os pormenores das polémicas que só conhecia em parte.Na minha opinião um dos melhores e mais bem ilustrados artigosdo blogue,mérito do JJ mas também do Hergé!!Abraço.L
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João Ramos Franco disse...
"Diabrete", “Mundo de Aventuras”, "Cavaleiro Andante", "Foguetão", "Zorro" e as Revistas Marvel (edição Brasileira), com contos aos quadradinhos. Não só o TinTin, mas todas as outras figuras da BD estão guardas num compartimento das minhas memórias de jovem, juntas com os heróis que nós tentávamos imitar nas nossas brincadeiras no Parque.Na minha geração o TinTin, apesar de ser publicado no Cavaleiro Andante não tem em mim impacto especial.Recordo-me de passarmos a tarde a ler as Revistas da Marvel, em casa do José Carlos Nogueira, tinhas encadernadas e o seu Pai e Mãe (donos da Tália) muito gostavam de ver a nossa tertúlia de miúdos, reunidos a ler as revistas.João Ramos Franco
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Isabel Esse disse...
Não li muitas histórias aos quadradinhos,a minha família não me dava dinheiro para isso,mas uma tia minha ofereceu-me no natal e nos anos alguns livros do Tim Tim.Lembro-me sobretudo do tamanho porque eram enormes e do cheiro quando se abriam,que não sei se seria do papel ou das tintas.As aventuras eram fantásticas e muito mais realistas do que as do Astérix.
O artigo é muito agradável de ler e cheio de curiosidades interessantes.
Parabens.IS
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Isabel X disse...
Este texto inaugura um novo estilo (daquilo que conheço), a somar aos restantes, na produção sempre criativa e muito sugestiva, do JJ. A informação exaustiva e rigorosa, com dados tão interessantes sobre o Tintin, fazem deste texto um momento diferente, com um tratamento histórico do tema.Aprendi muito.
Sempre, e cada vez mais, parabéns ao João Jales! Pelos seus textos e pelo "nosso" blogue!
- Isabel Xavier -
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farofia disse...
Adorei este "TINTIN"!É um trabalho profundo, perfeito e precioso. Quantas coisas aqui aprendi!!
E acompanho o João Jales no quase lamento do desaparecimento do 'francês' como veículo de cultura.
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4 comentários:

João Ramos Franco disse...

"Diabrete", “Mundo de Aventuras”, "Cavaleiro Andante", "Foguetão", "Zorro" e as Revistas Marvel (edição Brasileira), com contos aos quadradinhos. Não só o TinTin, mas todas as outras figuras da BD estão guardas num compartimento das minhas memórias de jovem, juntas com os heróis que nós tentávamos imitar nas nossas brincadeiras no Parque.
Na minha geração o TinTin, apesar de ser publicado no Cavaleiro Andante não tem em mim impacto especial.
Recordo-me de passarmos a tarde a ler as Revistas da Marvel, em casa do José Carlos Nogueira, tinhas encadernadas e o seu Pai e Mãe (donos da Tália) muito gostavam de ver a nossa tertúlia de miúdos, reunidos a ler as revistas.
João Ramos Franco

Isabel Esse disse...

Não li muitas histórias aos quadradinhos,a minha família não me dava dinheiro para isso,mas uma tia minha ofereceu-me no natal e nos anos alguns livros do Tim Tim.Lembro-me sobretudo do tamanho porque eram enormes e do cheiro quando se abriam,que não sei se seria do papel ou das tintas.

As aventuras eram fantásticas e muito mais realistas do que as do Astérix.

O artigo é muito agradável de ler e cheio de curiosidades interessantes.Parabens.IS

Isabel X disse...

Este texto inaugura um novo estilo (daquilo que conheço), a somar aos restantes, na produção sempre criativa e muito sugestiva, do JJ. A informação exaustiva e rigorosa, com dados tão interessantes sobre o Tintin, fazem deste texto um momento diferente, com um tratamento histórico do tema.
Aprendi muito. Sempre, e cada vez mais, parabéns ao João Jales! Pelos seus textos e pelo "nosso" blogue!
- Isabel Xavier -

Anónimo disse...

Adorei este "TINTIN"!

É um trabalho profundo, perfeito e precioso. Quantas coisas aqui aprendi!!

E acompanho o João Jales no quase lamento do desaparecimento do 'francês' como veículo de cultura.