ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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O PEUGEOT DO PAI

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O Peugeot 404 era um carro com status; juntamente com o Citroen ID, uma das jóias da indústria automóvel francesa dos anos 60. Um grande progresso em relação ao seu "avô", o velho 203 que nos tinha acompanhado em tantas aventuras antes de nos desiludir numa aziaga noite de Setembro, na Foz do Arelho, como já aqui contei (*).
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Este exemplar era branco, com um magnífico volante preto, uma buzina circular cromada, um tablier com um design claramente moderno e os estofos de cabedal (dizíamos nós, julgo hoje que seriam em napa). Era espaçoso, alojava com facilidade e conforto o seu proprietário e a família: à frente o Sr. Eng. Hipólito e a sua esposa, a Sra. D. Euritze, e os dois filhos do casal, os nossos conhecidos António José e Rui Hipólito no banco traseiro. Alojava com menos facilidade e conforto, mas sem muitos protestos, os oito ou nove adolescentes que, ocasional e clandestinamente, nele também viajavam.
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O Eng. Hipólito foi um profissional exemplar durante os muitos anos que dedicou à Câmara Municipal das Caldas na sua área de especialidade, a Engenharia Civil, e que só a ganância e a ignorância de alguns nesse campo ocasionalmente enfurecia. Fora isso, era um homem bom e paciente, um bom amigo e um pai carinhoso dos meus dois amigos (duas pestes difíceis de aturar, convenhamos). Uma certa fraqueza perante o marisco e a boa mesa não lhe favorecia a saúde, mas não era certamente um defeito. Claro que o facto da D. Euritze ser uma senhora liberal e compreensiva com o evoluir dos tempos e a forma de viver das gerações mais novas, ajudou certamente à amizade que lhes dediquei e à boa recordação que tenho do casal.
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Lembro-me com especial clareza de uma magnífica noite de Agosto de 1969 em que a cálida temperatura e o céu estrelado tornaram irresistível o apelo da Nazaré, onde "nórdicas e voluptuosas sereias aguardavam a nossa visita" (dizia o Flores, sempre mais eloquente ou menos resistente às imprudentes misturas alcoólicas que a idade nos levava a ingerir).
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O Peugeot estava estacionado um pouco depois da porta do prédio onde habitava o proprietário, ali na R. Duarte Pacheco. Se fosse hoje, estaria certamente bem mais longe e este episódio que vos conto teria porventura outro desfecho, mas as coisas são como são e conforme ditam as circunstâncias dos tempos em que se passaram.
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Aguardámos na rua, em silêncio (relativo, já que só o Miguel BM, impenitente abstémio, não tinha bebido nada...), enquanto o Tó Zé Hipólito subia as escadas do 3º andar, entrava em casa usando uma qualquer desculpa e se apoderava das chaves do veículo sem que o proprietário, que via calmamente o Zip Zip, se apercebesse do seu real intento. A escolha da hora do citado programa para umas patifarias não era inocente, já que o Raul Solnado, o Carlos Cruz e o Fialho Gouveia absorviam a atenção de quase todos os espectadores nas Segundas-Feiras à noite desse ano. Também a nossa, mas não no Verão...
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Motor a trabalhar, primeira engatada, segunda, terceira, quarta, e lá rolámos suavemente em direcção à saída Norte das Caldas. Escrevo suavemente de propósito, o Hipólito foi o melhor condutor não encartado com quem tive o prazer de viajar; isto apesar da recta de Tornada ser a sua recta de Hunaudières (a famosa recta de 5 Km em LeMans) e aí ele alcançava uns incríveis e arrepiantes 150 Km/hora. Se lhe perguntassem porque ia àquela velocidade ele respondia:
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-Porque não dá mais, já vou com o pedal encostado ao fundo....
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A questão do limite de velocidade era absolutamente irrelevante no seu caso, como ele aliás bem explicava:
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- Os limites de velocidade são um problema apenas para os encartados, eu ser apanhado a cinquenta ou a cento e cinquenta é igual, estou sempre lixado...
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Parámos no Pão-de-Ló de Alfeizerão, claro, era irresistível a atracção da Juke Box e do ambiente alegre e informal que ali existia, inesperado no meio de nenhures. Penso que tinha a ver com o cruzamento de residentes e veraneantes de Caldas, Alcobaça, S. Martinho, Nazaré, etc., bem como de alguns automobilistas que ali descansavam a meio da viagem porque a estrada nacional era mesmo à porta.
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Passámos rapidamente S. Martinho (rapidamente mesmo…) e chegámos à Nazaré. A marginal tinha naquela época dois sentidos de trânsito e, numa quente noite de Agosto, era atravessada por inúmeros peões que iam ou vinham da praia em busca da fresca brisa marítima. Era quase meia-noite e o final do Zip Zip tinha trazido para a rua os espectadores/veraneantes que abafavam nas acanhadas casas que os pescadores nazarenos abandonavam e lhes alugavam durante os meses de Verão.
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Ficámos engarrafados no meio deste caos, avançando, ocasional e lentamente, centímetro a centímetro, em direcção à praça onde se situavam as principais esplanadas e onde nos aguardavam as almejadas “nórdicas”.
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O Rádio estava sintonizado na Rádio Renascença e continuávamos a ouvir a 23ª Hora do João Martins no rádio. Começaram os “Cinco Minutos de Jazz” do José Duarte e as reacções foram unânimes:
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-Desliga.
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- Muda para o Rádio Clube Português.
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- Jazz?!….
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A aceitação do Jazz entre teenagers era difícil, só os que tinham em casa alguém que gostasse e lhes ensinasse a ouvir começavam a apreciar. Eu próprio só teria a minha epifania jazzística alguns anos depois… Ganhou o Rádio Clube, onde Jimi Hendrix interpretava "All Along the Watchtower"
(original de Bob Dylan) de uma forma incendiária e fascinante. Abrimos os vidros e esperámos que o efeito da música e da nossa grande fé no Destino atraísse os encontros que nos aguardavam… E não esperámos muito porque, vinda não se sabe de onde, surgiu a família Reis Pereira, vizinhos caldenses da família Hipólito e que passava férias na Nazaré!
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- Então Tó Zé, tu já tens carta? – perguntou o pai.
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-Ora se o meu filho tem um ano a menos que tu, tu tens… – fazia contas a perplexa mãe.
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- E já te deixam conduzir este carro? - invejava o Alberto, que bem sabia que não havia carta nem idade…
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- Façam de conta que não os conhecemos – foi a minha brilhante ideia e contribuição para a resolução do problema.
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Os vidros foram fechados num ápice (eram manuais mas pareciam eléctricos!) e os quatro ocupantes do veículo tentaram, sem grande êxito, fazer de conta que não eram os quatro adolescentes que a família bem conhecia.
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- Acelera, sai daqui – aconselhava o Miguel, sempre voluntarioso e sedento de acção.
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Mas sair para onde? Tínhamos automóveis e pessoas por todos os lados, não havia para onde ir. Os simpáticos vizinhos continuavam bem ao nosso lado, batendo no vidro e tentando falar connosco.
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Passados alguns angustiantes minutos o trânsito lá recomeçou a andar e nós conseguimos sair dali, atravessar o centro da Nazaré sem parar (pareceu-me ver montes de garotas giras nas esplanadas…) e rumar às Caldas.
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Cruzámo-nos com o táxi que transportava o Eng. Hipólito perto do Valado de Sta. Quitéria. Descobrimos isso porque ele parou e deu meia-volta mal se cruzou connosco. O facto de não nos conseguir apanhar até chegarmos às Caldas não contribuiu, curiosamente, para que apreciasse e confiasse mais na capacidade de condução do seu filho Tó Zé que, como já disse e repito, era apreciável… Mas até um homem calmo e sempre simpático como ele era tem o direito de perder um dia a cabeça.
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Escondidos para não nos envolvermos naquele sarilho, eu, o Miguel e o Flores, assistimos às negociações familiares, mediadas pela D. Euritze, com vista a um regresso tranquilo do filho pródigo a casa. Decorreram com o pai na varanda e o filho na rua, mas temo que não com completo sucesso para a sempre precária causa da Paz e da não-violência...
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Quando, tempos depois, voltei a andar naquele Peugeot, ele era conduzido pelo legítimo proprietário e senti-me muito pouco à vontade com a sua irónica pergunta nessa ocasião:
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- Não te sentes mais seguro aí, sendo eu a conduzir?
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João Jales

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C O M E N T Á R I O S
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Manuela Gama Vieira disse...
Jales, és um exímio contador de histórias! O mais incrível é que isto aconteceu mesmo…
Se hoje se diz que não há policiamento…por onde andava a PVT daquele tempo?
Conheci perfeitamente os Pais dos manos Hipólito, fomos vizinhos na R. Eng. Duarte Pacheco, antes de nos mudarmos para a “casa de função” de meu Pai. Lembro-me até que a minha Mãe falava com a Sr.ª D. Euritze.
A mudança de estação radiofónica para atrair as suecas, as norueguesas, as inglesas, as francesas, então e as portuguesas?....Garganta….
Ri-me a bom rir, mas olha que sofri com as vossas aflições, abre vidro, fecha vidro, vítimas de denúncia e perseguição…mas que aventura!
Penso que os Pais daquele tempo e os seus rigores de disciplina não diferiam muito uns dos outros...Ai se isto se passasse com o meu Pai…
Manuela Gama Vieira
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António J M disse...
É curioso mas não tenho notícia de nenhum acidente grave com estes gloriosos malucos das máquinas de quatro rodas apesar de TODOS conduzirem sem carta.Qual a resposta para este mistério?eu acho que era o maior cuidado com que guiavam já que os riscos em caso de acidente eram dobrados...Mas esta explicação não serve para o Hipólito que guiava sempre RAPIDAMENTE como muito bem descreve o JJ!!!
Este é um dos temas com mais histórias mais interessantes e esta foi especialmente bem contada.
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Como sempre é com muito prazer que leio estas recordações.
Trips to memory lane...
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Luis disse:
Mais um RALLY pelas memórias do Jales,com os atractivos do costume.Irresístivel!
Li mais que uma vez,por isso só hoje comento,para tentar perceber o que é que há de diferente nas histórias por ele contadas.Há aqui um ritmo de narrar,uma forma de ir espalhando o humor,a acção,os apartes e as coisas inesperadas que torna estes posts irresístiveis.
Como disse a Ana Braga:conta-nos mais!
Luis
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J.L. Reboleira Alexandre disse...
Este texto tem assinatura genética. Quero com isto dizer que o «JJ» no final era desnecessário.
Não me revejo na história do pópó do papá, pois carros lá na aldeia, se excluir a camioneta de caixa aberta do pai da Apolónia, só havia os das professoras, tia e sobrinha Ribeiro, e estas não eram do género a deixá-los acessiveis a jovens adolescentes.
Foram vivências que tive já nos tempos dos estudos na capital,mas aqui com os «nossos» carros.
Tal como estes «heróis» de uma noite também nunca entendi o porquê dos 5 minutos de Jazz na grelha, logo depois da 23ª hora. Felizmente que eram mesmo só 5 minutos!
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Miguel Bento Monteiro disse...
Este texto,juntamente com a história do carro da avó, veio rebuscar os confins da minha memória.
Posso agora acrescentar que as aventuras do TZHipólito com o carro do pai são abundantes.E atenção,passam-se todas até 1971, pois apenas completámos dezoito anos em 72,ou seja,o condutor só pôde tirar a carta depois de Março desse ano.
Mas o TZ sempre teve boas "manitas" para o volante.Ainda há muito pouco tempo,e perante a incredulidade do meu filho,lhe perguntava:
-O teu pai já te contou o que é eu fazia quando o vinha trazer a casa à noite de carro? Fazia sempre um pião na Diário de Notícias para dar a volta ao carro, e a rua nessa altura era muito mais estreita do que actualmente.
E como é que se repunha no depósito a gasolina consumida de tal modo que o pai Hipólito não notasse a sua falta? Quem já bebeu gasolina sabe ao que me refiro...
Para terminar,e continuando a falar de carros,lembro-me de uma ida à Foz,numa tarde gélida de Fevereiro de 71,após as aulas,com o intuito,que foi cumprido,de ir tomar banho no mar.Ninguém levou fato de banho mas as cuecas cumpriram a sua função.As toalhas foram improvisadas e por milagre nenhum de nós adoeceu, pois o vigor da juventude protegeu-nos da inconsciência da mesma.
MiguelBM
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diz o que te vai na alma disse...
Chamar pestinhas a este grupo de rapazes...é muito pouco! :-)
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Julinha disse...
O que me tenho divertido a ler estas histórias ! O que estes meninos faziam ! Cada uma mais elaborada que a anterior....o que ainda virá por aí ?
Parece que as viagens são cada vez mais distantes,já vão até á Nazaré....onde será a próxima?
Comecei a ir para a Nazaré com 4 anos e durante muitos anos passei lá férias. Lembro-me de brincar á noite no picadeiro (nome que se dava à praça) mas posteriormente,mais crescida,fazia parte dos veraneantes a que o Jales se refere. Ora,eu tinha uma vaga lembrança de uma certa noite ter visto um Peugeot com quatro "............" no seu interior um tanto ou quanto atrapalhados ! ! Agora,ao fim destes anos todos descobri finalmente o porquê....a família Reis Pereira !!
João,a tua descrição está espectacular,tal com as dos colegas anteriores. Obrigada por estes agradáveis momentos e fico já a aguardar a próxima....
Bjs
Julinha
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Alberto Reis Pereira disse...
Confesso que não me recordava desta cena; mas estarei em crer que "o encontro imediato do 3º grau" entre o famoso Peugeot e o taxi que transportava o Engº Hipólito se terá devido a um qualquer telefonema feito da Nazaré para as Caldas, entre os vizinhos de tantos anos (e que ainda hoje continuam a ser, embora agora só com a minha Mãe e a D.Euritze).
Efectivamente o Tozé era, e ainda é, um ás do volante; a habilidade dele para a condução era motivo de inveja do resto da malta; andar de carro com ele ao volante, mesmo depois da carta tirada, era uma experiência geradora de adrenalina em doses apreciáveis; aquele pé direito era mesmo pesado.
Alberto RP
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Ana Braga disse...
Diverti-me imenso a ler o texto de J.J. sobre a ida à Nazaré.A fluência, a vivacidade e riqueza de pormenores, a linguagem, diria, cinematográfica, com que escreve estes episódios, leva-me a sentir como se estivesse sentada numa sala de cinema, a observar o enredo deste filme – e não preciso de me esforçar para ouvir os próprios sons que acompanham toda a acção.Que bem observado!
A estratégia para sacar a chave do automóvel, enquanto os pais viam o Zip Zip, a excitação da partida, provavelmente antecipando a visão magnífica das nórdicas, o trajecto mágico em que a recta da Tornada se transfigura em pista de corrida, a chegada ao meio daquele mar de gente, o toque exibicionista do abrir da janela para deixar sair o som da voz do Hendrix - linguagem universal para a nossa geração, logo, estratégia adequada para atrair quem interessava - o recurso do “gato escondido com o rabo de fora”, de ignorar a família conhecida, como se um simples gesto de fechar a janela virasse magia e apagasse a transgressão, enfim… brilliant!
Não sei porquê, mas lembrei-me do Fellini e do fabuloso filme Amarcord - salvaguardando as distâncias, visto a acção daquela fita se reportar aos anos 30. Mas, afinal a juventude não mudou assim tanto ao longo do século XX, pois não? Os meios ao alcance de cada um é que eram diferentes. Estarei errada?
Parabéns, J.J. conta-nos mais coisas.
Ana Braga
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Maria do Rosário Pimentel disse...
Excelente e divertida narrativa que me fez rir até às lágrimas.Exímio narrador,o amigo J.Jales!
MRosário Pimentel
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Luisa disse:
Nem sei o que escrever,ler isto é como estar lá.Embora eu,nesta altura nem pudesse sair a noite!Até por isso lavo a alma com estas histórias do JJ.Obrigada.L
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João Ramos Franco disse...
Depois de já me ter rido bastante com as vossas aventuras e quão bem as relatas: “Lembro-me com especial clareza de uma magnífica noite de Agosto de 1969”… Diria eu, lembro-me de dez anos antes ter feito umas brincadeiras parecidas…com nórdicas e outras raças...
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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Guida Sousa disse...
Gostaria de ter escrito o comentário da Ana Braga porque diz exactamente o que eu senti!Mas também gostava de ter escrito esta história e não escrevi-,não só porque me falta"engenho e arte"mas porque também como outros só depois de sair das Caldas vivi aventuras destas.
E é só um blogue!Publica isto tudo num livro!!!GS
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jorge disse...
tudo isto se passou assim ou de forma semelhante num tempo em que a transgressão e o delito tinham significados e consequências diferentes de hoje em dia.de qualquer maneira gostaria de saber o que é que os filhos destes quatro aventureiros diriam se lessem esta história!excelente narrativa,verdadeiramente cinematográfica como bem escreveu a lluisa.j
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Orlando Neto da Silva disse:
O problema foi não terem ficado por S. Martinho. Lá também havia nórdicas ( lembram-se das Belgas, que depois foram para a o "lado de lá" da Foz do Arelho ? ) e as famílias de férias eram mais dos lados de Santarém .
Gostei. Abraços .
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Belão disse...
João, primeiro que tudo, uma sugestão - põe estas estórias em livro. A Guida já o sugeriu.
Este relato é magnífico. Mas que meninos malandros! Uns diabinhos!Confirmo que o Tó Zé Hipólito era muito dado ao acelerador e lembro-me de ele ter um Citroen ( acho eu, vermelho), já encartado. Penso que tenho foto que pode confirmar, se não me falha a memória, tirada em Óbidos.
Imagino a cena e o misto de emoções que viveram nessa noite. E não viram nórdicas!
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Higino Rebelo disse...
Este PEUGEOT com esta cor teve o condão de me relembrar de um episódio ocorrido numa madrugada de verão de 1966 ou 1967 quando regressados do Inferno da Azenha eu e, salvo erro, o Manuel Gerardo, o Henrique Sampaio e creio que ainda outro companheiro parámos no Bar Oasis onde, de madrugada, havia sempre pão quente que permitia a confecção de uns pregos fantásticos acompanhados por umas imperiais sempre vivas.Ora, estando nós no acto de comer apareceu o marido de uma colega de trabalho que era vendedor de automóveis e fazia-se transportar num PEUGEOT 403, também de cor creme. Já bem bebido meteu conversa comnosco e a certa altura convidou-nos para irmos até à Foz, ao que ninguem se opôs. Só que não acreditei que estivesse em condições de conduzir e não querendo abandonar os meus amigos à sua sorte disse-he que só ía se fosse eu a conduzir o PEUGEOT, ao que o senhor não se opôs e, assim, sentei-me no lugar do condutor e perguntei-lhe como é que se metiam as mudanças alegando que nunca tinha conduzido um carro com aquele sistema de mudanças. Feita a explicação lá fomos e viemos em segurança. Agora pasme-se: nunca tinha pegado no volante de um automóvel e a pouca experiência que tinha de condução era dos carrinhos de choque da feira de Agosto.
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18 comentários:

J.L. Reboleira Alexandre disse...

Este texto tem assinatura genética. Quero com isto dizer que o «JJ» no final era desnecessário.

Não me revejo na história do pópó do papá, pois carros lá na aldeia se excluir a camioneta de caixa aberta do pai da Apolónia só havia os das professoras, tia e sobrinha Ribeiro, e estas não eram do género a deixá-los acessiveis a jovens adolescentes. Foram vivências que tive já nos tempos dos estudos na capital,mas aqui com os «nossos» carros.

Tal como estes «heróis» de uma noite também nunca entendi o porquê dos 5 minutos de Jazz na grelha, logo depois da 23ª hora. Felizmente que eram mesmo só 5 minutos!

Anónimo disse...

Este texto,juntamente com a história do carro da avó, veio rebuscar os confins da minha memória.
Posso agora acrescentar que as aventuras do TZHipólito com o carro do pai são abundantes.E atenção,passam-se todas até 1971,pois apenas completámos dezoito anos em 72,ou seja,o condutor só pôde tirar a carta depois de Março desse ano.Mas o TZ sempre teve boas "manitas" para o volante.
Ainda há muito pouco tempo,e perante a incredulidade do meu filho,lhe perguntava:
-O teu pai já te contou o que é eu fazia quando o vinha trazer a casa à noite de carro?fazia sempre um pião na Diário de Notícias para dar a volta ao carro.
E a rua nessa altura era muito mais estreita do que actualmente.
E como é que se repunha no depósito a gasolina consumida de tal modo que o pai Hipólito não notasse a sua falta? Quem já bebeu gasolina sabe ao que me refiro...
Para terminar,e continuando a falar de carros,lembro-me de uma ida à Foz,numa tarde gélida de Fevereiro de 71,após as aulas,com o intuito,que foi cumprido,de ir tomar banho no mar.Ninguém levou fato de banho mas as cuecas cumpriram a sua função.As toalhas foram improvisadas e por milagre nenhum de nós adoeceu, pois o vigor da juventude protegeu-nos da inconsciência da mesma.

MiguelBM

diz o que te vai na alma disse...

Chamar pestinhas a este grupo de rapazes...é muito pouco! :-)

Anónimo disse...

O que me tenho divertido a ler estas histórias ! O que estes meninos faziam ! Cada uma mais elaborada que a anterior....o que ainda virá por aí ?
Parece que as viagens são cada vez mais distantes,já vão até á Nazaré....onde será a próxima?
Comecei a ir para a Nazaré com 4 anos e durante muitos anos passei lá férias. Lembro-me de brincar á noite no picadeiro (nome que se dava à praça) mas posteriormente,mais crescida,fazia parte dos veraneantes a que o Jales se refere.
Ora,eu tinha uma vaga lembrança de uma certa noite ter visto um Peugeot com quatro "............" no seu interior um tanto ou quanto atrapalhados ! ! Agora,ao fim destes anos todos descobri finalmente o porquê....a família Reis Pereira !!
João,a tua descrição está espectacular,tal com as dos colegas anteriores. Obrigada por estes agradáveis momentos e fico já a aguardar a próxima....
Bjs
Julinha

Anónimo disse...

Confesso que não me recordava desta cena; mas estarei em crer que "o encontro imediato do 3º grau" entre o famoso Peugeot e o taxi que transportava o Engº Hipólito se terá devido a um qualquer telefonema feito da Nazaré para as Caldas, entre os vizinhos de tantos anos (e que ainda hoje continuam a ser, embora agora só com a minha Mãe e a D.Euritze).
Efectivamente o Tozé era, e ainda é, um ás do volante; a habilidade dele para a condução era motivo de inveja do resto da malta; andar de carro com ele ao volante, mesmo depois da carta tirada, era uma experiência geradora de adrenalina em doses apreciáveis; aquele pé direito era mesmo pesado.
Alberto RP

Higino disse...

Este PEUGEOT com esta cor teve o condão de me relembrar de um episódio ocorrido numa madrugada de verão de 1966 ou 1967 quando regressados do Inferno da Azenha eu e, salvo erro, o Manuel Gerardo, o Henrique Sampaio e creio que ainda outro companheiro paramos no Bar Oasis onde, de madrugada, havia sempre pão quente que permitia a confecção de uns pregos fantásticos acompanhados por umas imperiais sempre vivas.Ora, estando nós no acto de comer apareceu o marido de uma colega de trabalho que era vendedor de automóveis e fazia-se transportar num PEUGEOT 403, também de cor creme. Já bem bebido meteu conversa comnosco e a certa altura convidou-nos para irmos até à Foz, ao que ninguem se opôs. Só que não acreditei que estivesse em condições de conduzir e não querendo abandonar os meus amigos à sua sorte disse-he que só ía se fosse eu a conduzir o PEUGEOT, ao que o senhor não se opôs e, assim, sentei-me no lugar do condutor e perguntei-lhe como é que se metiam as mudanças alegando que nunca tinha conduzido um carro com aquele sistema de mudanças. Feita a explicação lá fomos e viemos em segurança. Agora pasme-se: nunca tinha pegado no volante de um automóvel e a pouca experiencia que tinha de condução era dos carrinhos de choque da feira de Agosto.-

Casa da Caldeira disse...

Diverti-me imenso a ler o texto de J.J. sobre a ida à Nazaré.
A fluência, a vivacidade e riqueza de pormenores, a linguagem, diria, cinematográfica, com que escreve estes episódios, leva-me a sentir como se estivesse sentada numa sala de cinema, a observar o enredo deste filme – e não preciso de me esforçar para ouvir os próprios sons que acompanham toda a acção.
Que bem observado! A estratégia para sacar a chave do automóvel, enquanto os pais viam o Zip Zip, a excitação da partida, provavelmente antecipando a visão magnífica das nórdicas, o trajecto mágico em que a recta da Tornada se transfigura em pista de corrida, a chegada ao meio daquele mar de gente, o toque exibicionista do abrir da janela para deixar sair o som da voz do Hendrix - linguagem universal para a nossa geração, logo, estratégia adequada para atrair quem interessava -, o recurso do “gato escondido com o rabo de fora”, de ignorar a família conhecida, como se um simples gesto de fechar a janela virasse magia e apagasse a transgressão, enfim… brilliant!
Não sei porquê, mas lembrei-me do Fellini e do fabuloso filme Amarcord - salvaguardando as distâncias, visto a acção daquela fita se reportar aos anos 30. Mas, afinal a juventude não mudou assim tanto ao longo do século XX, pois não? Os meios ao alcance de cada um é que eram diferentes. Estarei errada?
Parabéns, J.J. conta-nos mais coisas.
Ana Braga

Anónimo disse...

Excelente e divertida narrativa que me fez rir até às lágrimas.
Exímio narrador,o amigo J.Jales!

MRosário Pimentel

João Ramos Franco disse...

Depois de já me ter rido bastante com as vossas aventuras e quanto bem as relatas. …“Lembro-me com especial clareza de uma magnífica noite de Agosto de 1969”… Diria eu, lembro-me de dez anos antes ter feito umas brincadeiras parecidas…com nórdicase outras raças...
Um abraço amigo
João Ramos Franco

Guida Sousa disse...

Gostaria de ter escrito o comentário da Ana Braga porque diz exactamente o que eu senti!Mas também gostava de ter escrito esta história e não escrevi-,não só porque me falta"engenho e arte"mas porque também como outros só depois de sair das Caldas vivi aventuras destas.
E é só um blogue!Publica isto tudo num livro!!!GS

jorge disse...

tudo isto se passou assim ou de forma semelhante num tempo em que a transgressão e o delito tinham significados e consequências diferentes de hoje em dia.de qualquer maneira gostaria de saber o que é que os filhos destes quatro aventureiros diriam se lesse esta história!
excelente narrativa,verdadeiramente cinematográfica como bem escreveu a lluisa.j

Belão disse...

João, primeiro que tudo, uma sugestão - põe estas estórias em livro. A Guida já o sugeriu.
Este relato é magnífico. Mas que meninos malandros! Uns diabinhos!
Confirmo que o Tó Zé Hipólito era muito dado ao acelerador e lembro-me de ele ter um Citroen ( acho eu, vermelho), já encartado. Penso que tenho foto que pode confirmar, se não me falha a memória, tirada em Óbidos.
Imagino a cena e o misto de emoções que viveram nessa noite. E não viram nórdicas!

Anónimo disse...

O problema foi não terem ficado por S. Martinho. Lá também havia nórdicas ( lembram-se das Belgas, que depois foram para a o "lado de lá" da Foz do Arelho ? ) e as famílias de férias eram mais dos lados de Santarém .

Gostei. Abraços .

Orlando Neto da Silva

Anónimo disse...

Nem sei o que escrever,ler isto é como estar lá.Embora eu,nesta altura nem pudesse sair a noite!Até por isso lavo a alma com estas histórias do JJ.Obrigada.Luisa

Anónimo disse...

Como sempre é com muito prazer que leio estas recordações.

Trips to memory lane...

Libânia Lewis

Anónimo disse...

Mais um RALLY pelas memórias do Jales,com os atractivos do costume.Irresístivel!
Li mais que uma vez,por issoi só hoje comento,para tentar perceber o que é que há de diferente nas histórias por ele contadas.Há aqui um ritmo de narrar,uma forma de ir espalhando o humor,a acção,os apartes e as coisas inesperadas que torna estes posts irresístiveis.Como disse a Ana Braga:conta-nos mais!Luis

Anónimo disse...

Jales, és um exímio contador de histórias!
O mais incrível é que isto aconteceu mesmo…
Se hoje se diz que não há policiamento…por onde andava a PVT daquele tempo?
Conheci perfeitamente os Pais dos manos Hipólito, fomos vizinhos na R. Eng. Duarte Pacheco, antes de nos mudarmos para a “casa de função” de meu Pai. Lembro-me até que a minha Mãe falava com a Sr.ª D. Euritze.
A mudança de estação radiofónica para atrair as suecas, as norueguesas, as inglesas, as francesas, então e as portuguesas?....Garganta….
Ri-me a bom rir, mas olha que sofri com as vossas aflições, abre vidro, fecha vidro, vítimas de denúncia e perseguição…mas que aventura!
Penso que os Pais daquele tempo e os seus rigores de disciplina não diferiam muito uns dos outros...
Ai se isto se passasse com o meu Pai…

Manuela Gama Vieira

António J M disse...

É curioso mas não tenho notícia de nenhum acidente grave com estes gloriosos malucos das máquinas de quatro rodas apesar de TODOS conduzirem sem carta.Qual a resposta para este mistério?eu acho que era o maior cuidado com que guiavam já que os riscos em caso de acidente eram dobrados...Mas esta explicação não serve para o Hipólito que guiava sempre RAPIDAMENTE como muito bem descreve o JJ!!!Este é um dos temas com mais histórias mais interessantes e esta foi especialmente bem contada.