ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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AS MEIAS VERMELHAS

Aqui estão 3 “ajudas” para identificar o dançarino de Hula Hoop:
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1 – Nova fotografia da mesma época com o autor sentado ao lado do Professor de Filosofia.
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2 – Texto sobre a mesma época. Ou como uma paixoneta por uma rapariga com meias vermelhas dá origem a uma aprendizagem intensiva de Hula Hoop.
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3 – Canção “chave” que desde essa mesma época (década de 1950) o autor elegeu como das suas preferidas. Trata-se do célebre tema Misty de Errol Garner, mas cantado pelo Johnny Mathis.
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“No ano lectivo de 1957-58 frequentava o liceu Pedro Nunes e, desde há cerca de 2 anos, vivia a descoberta de uma música estranha que ia crescendo e envolvendo a Juventude: o Rock´n Roll...

Sempre que passávamos por cafés perto do liceu, aproveitávamos para meter moedas nas "juke-box" para ouvirmos, deleitados, os discos de 45 rotações com as canções dos Everly Brothers, do Elvis ou do Paul Anka.

Ao fim de semana acorria aos bailes no Centro Recreativo perto de casa, onde assistia quer a exibições dos Conchas a cantarem adaptações (“Sonhos”, p.ex.) dos Everly Brothers, quer à Zezinha Meireles (nitidamente preferida pela organização) a interpretar a Malaguenha ou a Granada.

Depois havia o essencial: O Baile.

E aqui assistia-se também a uma competição entre a música “velha” e a música “nova”… Claro que sempre tentávamos influenciar quem controlava o gira discos para se ouvirem, em vez de Tangos e Passo dobles, as canções dos Platters ou da Connie Francis... Aos primeiros acordes musicais os rapazes lançavam-se em direcção às cadeiras onde as raparigas se reuniam conversando em pequenos grupos e… no caso de não se conseguir obter o par desejado, podia “marcar-se” uma dança com antecedência.

Ou seja havia uma verdadeira “lista de espera” para as jovens mais requisitadas, que usavam (grande moda) meias “collants” de cores fosforescentes (talvez para nos encandear…)… Azuis… Verdes… Amarelas, etc. Os rapazes ripostavam com camisolões vermelho vivo.

Num desses bailes, já perto do Natal de 1957, surgiu porém uma rapariga lindíssima e loiríssima com meias vermelhas (super fosforescentes claro) que “arrasou”… Ou seja a rapaziada fascinada queria dançar só com ela… E eram correrias e empurrões a ver quem chegava primeiro. Claro que eu nem me atrevia. Não só por timidez mas também porque não sabia ainda dançar. A timidez aliás fazia com que apreciasse em particular a canção "Misty" cantada pelo Johnny Mathis e com a qual me identificava – sobretudo nas horas mais melancólicas. Por exemplo quando durante a semana sonhava com a rapariga das meias encarnadas. Acho que cheguei mesmo a ter alguma febre, para a qual, o médico lá da rua, o Dr. Castilho, não conseguiu explicação. Claro que só eu sabia que a origem da temperatura excessiva era… vermelha…

Até que houve uma tarde de baile no Centro em que aconteceu algo totalmente inesperado. “Contra a corrente” e o hábito a rapariga das meias encarnadas – provavelmente intrigada porque só eu não a procurava para dançar – afastou meia dúzia de pretendentes e avançou até mim… Deu-me a mão e levou-me para o meio do salão… Atónito, senti o meu coração fazer BUMMMM, ao mesmo tempo que deixava de sentir as pernas e um calafrio me percorria o corpo… E agora??? Como fazer se não sabia dançar…. Resolvi andar ao ritmo da canção a ver se acertava… E de facto acertei... Mas foi com um sapato numa das meias vermelhas que se rompeu…

Tristíssimo com aquela tragédia e cada vez com mais “febre” resolvi aprender intensivamente a dançar, para mais tarde tentar resgatar-me perante a dona das meias vermelhas. Na altura (e como não tinha um tio como o João) a melhor professora de dança, recomendada por toda a rapaziada, era a empregada doméstica do tal médico lá da rua. Então durante semanas com o nariz encostado às nódoas do avental da Eduarda (assim se chamava a empregada do Dr. Castilho) lá ensaiei: um dois…. um dois… um dois três… Depois ainda de “treinar” também em frente ao espelho, e já me sentindo “apto”… lá fui ao baile – à reconquista da atenção perdida… já nos primeiros meses de 1958…. Esperava-me uma desilusão… A rapariga das meias cor de sangue já tinha, entretanto, encontrado um namorado com o qual dançava “em exclusividade”…

Como tinha acabado de sair o Hula Hoop cantado pela Teresa Brewer, resolvi aprender todos os truques com o arco e tornar-me campeão para ver se chamava de novo a atenção da rapariga dos meus sonhos… De facto conseguia ganhar, pouco depois, os frequentes concursos de Hula Hoop (e mais tarde de Twist) que se realizavam com frequência. Mas a dona das meias só a consegui reencontrar cerca de 5 anos depois.

Entretanto chegaram as férias grandes, que duravam uma eternidade, numa praia que não se chamava S. Martinho. Foi tempo de regressar a calma e a poesia do “Misty”…

Durante o Verão seguinte esqueci a “febre vermelha” enquanto tudo em volta parecia estar em harmonia. Muito sol, muito azul e o aroma morno dos pinheiros nos fins de tarde, a servirem de fundo a novo romance de Verão, acompanhado de mil borboletas a agitarem as asas dentro do meu peito... Na praia acompanhado com namorada nova comia umas deliciosas "Bolas de Berlim", vendidas por mulheres negras enormes e gordas. Em alternativa havia o homem branco dos barquilhos… O Estado Salazarista parecia apostado em que nos sentíssemos como num Paraíso artificial… Em que tudo estava aparentemente bem…

Tempo de longos passeios ao longo da praia, com o eco encantado do mar ao meu lado e de descobrir os reflexos especiais das gotas de água salgada no cetim da pele de Verão...

Acima de tudo era tempo em que era capaz de sentir com facilidade as coisas mágicas em volta...

As palavras mais importantes, e as letras das canções, eram simples, tinham ligação directa ao coração e genuinas... e diziam com uma força e certeza interior inexplicáveis: "forever", "only you", "I love you sincerely"... Porque "a força estava connosco"...

Apaixonava-me com a voz especial do Nat King Cole ao ouvido ("when I fall in love") e após contemplar "nel blu di pinto di blu" , lia Rimbaud, Baudelaire e outros poetas malditos, à tarde na praia, por entre troncos ressequidos que a maré deixava.

Não sabía então que um dia, mais tarde, como já referi, cerca de 5 anos depois a voltaria a encontrar. Numa viagem de autocarro da carreira para Sapadores (era então finalista do liceu Gil Vicente – para onde tinha sido transferido), reparei numa mulherzinha baixinha e gorda com uma criança ao colo. Com cabelo castanho escuro e vestindo modestamente revelava traços de cansaço no rosto. A vida que atravessara tinha sido, certamente, dura. Durante a viagem não pude de deixar de ficar intrigado de onde conheceria tal pessoa já que nada me identificava, aparentemente, com a personagem… Só após abandonar o autocarro consegui relacionar as fisionomias e perceber que tinha estado em presença da rapariga das meias encarnadas…

A par do Hula Hoop, do Twist ou do Madison, aqueles tempos eram sobretudo feitos de desencontros…

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