ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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Comentário a S. Martinho (Eduardo Prado Coelho), por João B Serra

S. Martinho segundo um mapa de 1634



Voltamos então a S. Martinho? Isso quer dizer, caro JJ, que o ajuste de contas não ficou resolvido depois daquela narrativa implacável de uma noite perdida num cinema perdido?

E voltamos de que maneira! Guiados nada menos que pelo saudoso Eduardo Prado Coelho, um dos mais brilhantes espíritos do nosso tempo. Bem, EPC sabia do que falava, o pai, Jacinto do Prado Coelho, alugava casa em S. Martinho (lembro-me bem dela). Nos anos 40 e 50, S. Martinho deve ter sido uma espécie de S. Pedro de Moel, procurada por artistas e intelectuais, defendendo a qualidade e equilíbrio da ocupação urbana, tirando partido de uma excepcional vantagem paisagística.

Todas a costa Oeste sofreu desde os finais da Idade Média um processo inexorável de assoreamento e a baía de S. Martinho não fugiu à regra. O mar foi recuando desde Alfeizerão (porto ligado à construção naval ainda no século XV e XVI) até à pequena concha que hoje conhecemos. A actividade piscatória foi enfraquecendo e a projecção económica dos três portos (além dos dois já mencionados, Salir) diminuindo. De qualquer modo, lembro-me de ver a baía com barcos de pesca ancorados e assistir à descarga de peixe no cais de S. Martinho. Quando o mau tempo assolava a Nazaré, os barcos aqui registados procuravam refúgio em S. Martinho.

A perda de importância portuária da zona encontrou alternativa no turismo. Para isso muito contribuíu a linha de caminho de ferro do Oeste, inaugurada em 1887. A linha do Oeste, prolongando a linha de Lisboa a Torres Vedras até Alfarelos (onde encontrava a linha do Norte), servia as termas das Caldas e a praia de S. Martinho. Nas duas décadas finais do século XIX e primeira metade do século XX, S. Martinho integrou a oferta turística caldense, que dispunha no mesmo “pacote” de termas e praia amena, distantes entre si uma dezena de minutos de combóio. Os médicos das termas receitavam banhos no Hospital aos avós queixosos de reumático e aconselhavam banhos de mar aos netos esquálidos. Quando se criaram, na década de 20, os primeiros estabelecimentos de saúde pública na região, as consultas de saúde infantil orientavam as crianças para S. Martinho. A “descoberta” da Foz por parte dos caldenses e das classes médias caldenses foi mais tardia. Desse ponto de vista, a descrição que aqui foi feita de um acampamento junto à Lagoa, é elucidativa. Em meados dos anos 60, as classes médias caldenses, se queriam ir para a Foz, tinham de se instalar num improvisado Parque de Campismo, desprovido de equipamentos.

De facto, penso que foi só a partir dessa altura que a Foz do Arelho adquiriu um favor crescente entre os caldenses, destronando a preferência anterior por S. Martinho. Foi desde essa altura que deixou de se ouvir falar com tanta insistência na pretensão de anexar as freguesias de Alfeizerão a S. Martinho ao concelho das Caldas, um projecto acalentado de ambos os lados, desde pelo menos 1895.

A transição de S. Martinho para a Foz (no meu caso, fui para S. Martinho durante a instrução primária, aliás a conselho médico, e para a Foz quando entrei no ERO) não foi, no entanto nem linear, nem absoluta. Mesmo os mais apaixonados pelo ambiente, diríamos hoje “radical”, da Foz, não deixavam de manter alguma atenção sobre o que se passava em S. Martinho. Geração da modernidade como queríamos, partilhando com os jovens de outros mundos gostos e costumes, sabíamos que os ares cosmopolitas corriam mais ágeis e frescos em S. Martinho. Pois! Quem não se recorda da força atractiva que nos puxava para S. Martinho? Davam pela designação genérica (e mítica) de “belgas”…
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João B Serra
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OUTROS COMENTÁRIOS:
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João Ramos Franco disse:
Comigo também aconteceu que, até 1951, fui passar férias para S. Martinho pelas mesmas razões. O meu pai, Médico Veterinário Municipal, e o Dr. Mário de Castro, Sub-Delegado de Saúde, ambos pertencentes à Junta de Turismo, há muito conversavam sobre a insalubridade das águas da Lagoa de Óbidos.
Recordo-me de tudo, não só por assistir a conversas entre ambos no Café Lusitano, mas também por ver o meu pai a desenhar croquis para se fazer a ligação entre a Lagoa e Mar, o que veio a acontecer em 1952/3. A partir daí, a “aberta” passou ser efectuada todos anos na Primavera, e a Lagoa passou a ser mais frequentada.
João Ramos Franco
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João Jales disse:
Ao contrário do que é aqui sugerido não tenho qualquer "ajuste de contas" a fazer com S. Martinho, tive até lá um breve, mas feliz, encontro com uma "marquesinha" que... Mas não tenho agora tempo, isso fica para outra vez, hoje só quero dizer que eu também fui para a Foz a conselho do Dr. Mário de Castro, que foi sempre o médico "lá de casa", e que era adepto da Foz, onde aliás convivi com toda a sua família.
Roubando a idéia do João Serra do "masculin/feminin", que ele usou para caracterizar a Zaira e o Central, eu diria que a Foz era uma praia masculina e S. Martinho uma praia feminina. Estou à vontade neste "plágio", já que o autor nunca tem tempo para vir aqui vasculhar os artigos e comentários uma segunda vez.
Quanto às Belgas elas não eram míticas e sim bem reais. Houve uma colónia estudantil organizada que veio vários anos na década de 60 e eu conheci-a no Casino. Depois continuaram a aparecer, em grupos mais ou menos numerosos, durante a década de 70. Chamo aqui como testemunha deste facto o meu amigo Reboleira Alexandre, que relatou já aqui isto mesmo e até como este facto alterou a sua vida.
Termino dizendo que as classes médias caldenses não eram obrigadas a usar o Parque de Campismo "desprovido de equipamentos". Eu fiz sempre 3 meses de praia na Foz, desde 1958 até 1982, e nunca lá acampei. Havia automóveis e até camionetas nesse tempo e eu sempre fui e voltei. Acampar era uma opção. Havia muito menos gente a pernoitar na Foz do que em S. Martinho, isso era evidente.
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Fernando Santos disse:
Também não sou anti-martinhista, mas nas minhas memórias, reportando-me aos anos 57/58, escrevi o seguinte:
«Aos fins-de-semana eram os acampamentos na Foz do Arelho, Salir do Porto ou ainda S. Martinho, onde nunca gostei de acampar por causa da peneirice dos veraneantes. Olhavam-nos de lado, e parece que ficavam muito chocados ao verem-nos a passear de calções no meio deles. Por outro lado S. Martinho era muito húmido e provocava-me crises de asma. Foi lá que acampei duas ou três vezes com o Manuel Eduardo, o Perez, o Marcelino dos CTT, o Ramiro de Sousa mulher e filhos, e outros, cujos nomes já não me recordo.»

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