ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
.
.

S. MARTINHO DO PORTO , por Isabel Xavier

.
.
Recebi este bilhete postal da Isabel Xavier
Caro João Jales,

O teu texto sobre o cinema em S. Martinho teve o condão de despertar em mim as saudades dos tempos que lá vivi. Claro que o texto tem muita graça e obteve muito êxito: é o que acontece com qualquer caricatura bem feita! Mas, tal como qualquer caricatura mesmo quando bem feita, dá uma imagem deformada da realidade.

O cinema era na "rua do cinema", (havia a rua do cinema, tal como havia a rua dos cafés) e eu tive grande pena quando o demoliram. Mais ou menos como nas Caldas, com o Ibéria, que também não tinha grandes condições... Também eu, os meus irmãos e amigos íamos sempre para a geral. Só iam para a plateia os velhos e ir para lá seria um desprestígio para qualquer um de nós.

Em Setembro, então, S. Martinho era algo de inesquecível e o cinema ganhava particular relevância: apanhávamos limo, o que nos dava imenso trabalho, que púnhamos a secar na casa da Salette e íamos vendê-lo às cavalariças, só para ter dinheiro para ir ao cinema! Era muito mais como o "Cinema Paraíso" do que se pode pensar e, desculpem-me a ousadia, mas aquele pormenor que o Jales conta de passarem a segunda parte antes da primeira parece-me ser prova disso mesmo.

Nunca gostei de frequentar a praia da Foz - gosto de lá ir de Inverno - porque me parece que vou a andar pela rua das montras, mas em fato de banho, o que não me parece grande vantagem. Por isso mesmo, penso que as pessoas que iam a essa praia também olhavam umas para as outras, e talvez ainda com mais insistência, por se conhecerem de todo o ano.

Hoje não vou a nenhuma destas praias, mas por razões diferentes: à Foz pelas de sempre e ainda porque o banho lá é tramado, a S. Martinho pela nostalgia que me causa o facto de os meus pais já lá não poderem estar, como sempre estiveram, durante toda a vida, nos meses de Verão.

Já agora, a vida nocturna na Foz seria mais recomendável do que a de S. Martinho, naquele tempo?

Aqui nas Caldas sempre tiveram uma "dorzinha de cotovelo" pela frequência de elite que S. Martinho apresentava naquele tempo.

Aquela paisagem era (e é) linda, os passeios à capela de Santo António, memoráveis, os horários rígidos do banho, a compra dos bolos à Rosa, à Natália, à Iracema, a manutenção dos vizinhos de barraca durante uma vida inteira, a ida nocturna à rua dos cafés, com a indumentária apropriada a cada ocasião (de manhã roupão de praia, à tarde saia de praia, à noite toilettes mais sofisticadas), faziam de cada dia um ritual e isso é muito mais importante do que pode parecer à primeira vista.

Tudo isso se perdeu... S. Martinho era das poucas praias que, na nossa zona, tinha uma atmosfera própria, inconfundível e que quem lá ia não dispensava ano após ano.

Isabel Xavier
....................................................................................................................
COMENTÁRIOS
.
João Jales disse:
Olá Isabel
Estive quase para não responder, tal a nossa concordância em todas as matérias referidas! Mas tu perguntaste-me “Já agora, a vida nocturna na Foz seria mais recomendável do que a de S. Martinho, naquele tempo?” e eu sinto-me obrigado a responder, usando (por preguiça) o meu texto: ”Felizmente a minha família nunca alugou casa em S. Martinho ou na Foz, nessa altura a vida nocturna de qualquer das localidades era para nós pouco apelativa.” O meu texto refere-se a 71 ou 72, conforme lá está, e, nessa altura, tínhamos a Azenha, o Ferro-Velho, o Casino, a Mansão da Torre, muitas cervejarias e cafés, todos os locais de Óbidos a 5 minutos… Eu não trocava, excepto pontualmente, nada disto pelas noites de Verão na Foz ou em S. Martinho.
Estamos, em tudo o resto, também de acordo.
Víamos o mesmo, mas encarávamos de forma diversa as passagens de modelos e as toilettes, provavelmente porque os meninos e as meninas sempre foram (e espero que continuem a ser) diferentes.
Olhando para as mesmas pessoas, tu vias elites onde eu via betinhos… Não seriam todos uma coisa nem todos outra, por isso é bom sermos vários a escrever, um retrato é sempre mais fidedigno quando se fotografa de vários ângulos.
Fico cheio de vontade de ler as tuas próximas colaborações porque achei o teu texto magnífico e me deu muito prazer lê-lo (embora eu seja certamente fraco juiz numa matéria em que tu és especialista). Não quero acreditar que esta seja uma “visita” ocasional. Bem-vinda ao Blog!
Aceita um beijo amigo do
João Jales
.
Isabel Knaff disse:
Li o artigo da Isabel Xavier que achei curioso . É este o ponto de vista de um "insider"...interessante. Ela foi minha colega de classe e também achei giro encontrá-la aqui.

Sem comentários: