por Zé Tó Ribeiro Lopes
João, ok, se é para isso (falar sobre o Padre Renato), tenho que responder, tenho gosto em falar do padre distraído, do que o incomodava – as paroquianas ociosas, os superiores enfatuados e os alunos tolos – e da sua atenção à música e às cores.
Sim, o Padre Renato dispôs-se a ser e foi minha testemunha. Fico contente por poder manifestar o meu reconhecimento e admiração pela atitude que tomou, cabendo compará-la com a de quem, em Caldas, nem um abaixo-assinado contra a minha prisão quis subscrever (e tratava-se de um fulano que estava preso não necessariamente por ser militante do PCP, antes um estudante integrado nas movimentações associativas).
O julgamento, no Plenário da Boa-Hora, durou umas breves horas. O ambiente, cinzento e pesado. A presença dominante e intimidante de polícias torcionários e de magistrados vendidos ensombrava tudo. Julgamento é uma forma de dizer. O que ali se passava era uma encenação de uma condenação previamente decidida. Mas também marcava presença no meio daquilo tudo a dignidade das testemunhas de defesa. O Padre Renato era particularmente dissonante: só o facto de se encontrar naquele sítio e naquelas circunstâncias, incomodava. Estavam ali aqueles servidores do regime a esforçar-se por justificá-lo, fazendo a tal justiça, e do lado contrário, do lado errado, estava um membro da Igreja, da mesma igreja que tanto apoiava o seu regime. Pior: o Padre Renato não se limitou a dizer que o rapaz não era mau rapaz. Não havia meio de se calar.
Comunista este? Um franciscano, isso sim, o rapaz tem é alma de franciscano. Palavra por palavra, tanto quanto me recordo. E ele tinha toda a autoridade do mundo para falar de franciscanos ( também é de franciscano aquele piedoso exagero).
Se, como dizes, alguém diagnosticou eu estar «um pouco embotado pelas "agruras" da vida», podes responder que fiquei surpreendido. Embotado é provável, mas «agruras»? Saber que era sobre o Padre Renato era suficiente para eu juntar esta meia dúzia de palavras. Olha que eu chego a lamentar não colaborar aí para o blog-ERO, mas falta-me o jeito. Um abraço,
José Ribeiro Lopes
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COMENTÁRIOS
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JJ disse:
Como o texto indica esta é a resposta a um pedido que fiz ao Zé Tó para colaborar no Blog, nesta série de depoimentos sobre o Padre Renato. O João Serra tinha curiosamente referido este episódio no artigo anterior.
Acho que não necessito de acrescentar nada ao que ele escreveu, o Zé Tó é eloquente, não vejo onde está a "falta de jeito" que ele refere no texto.
Obrigado, vai aparecendo.
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jorge disse...
Lembro-me da prisão do José António Ribeiro Lopes.Já não estava nas Caldas nem era um estudante activista mas a sua detenção provocou comoção nas Caldas e na Universidade.A morte de amigos e familiares nas colónias.O assassinato de Ribeiro dos Santos pela PIDE.Estas prisões.Tudo nos obrigava a não ignorar o pesadelo em que vivíamos.Para não esquecer.
Lembro-me da prisão do José António Ribeiro Lopes.Já não estava nas Caldas nem era um estudante activista mas a sua detenção provocou comoção nas Caldas e na Universidade.A morte de amigos e familiares nas colónias.O assassinato de Ribeiro dos Santos pela PIDE.Estas prisões.Tudo nos obrigava a não ignorar o pesadelo em que vivíamos.Para não esquecer.
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Isabel Esse disse...
Sou de uma geração diferente do autor mas julgo que o mais importante aqui é que um homem bom e sério mantém essas qualidades em qualquer circunstância.Não sei se foi isso que ele quis dizer mas foi assim que eu li!
Sou de uma geração diferente do autor mas julgo que o mais importante aqui é que um homem bom e sério mantém essas qualidades em qualquer circunstância.Não sei se foi isso que ele quis dizer mas foi assim que eu li!
É bom ver apoarecer no blogue novos autores,especialmente quando conseguem ser tão comunicativos como o José Ribeiro Lopes.
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Manuela Gama Vieira disse:
"O Padre que amava a LIBERDADE"
Sobre o SENHOR P.e Renato, nada mais digo. Nunca ficará completo o seu "retrato", tal a magnanimidade do HOMEM.
José António:
- Aos que o julgaram (?) não eram JUÍZES!
- Aos cobardes que se esgueiraram, nem uma palavra!
- A SI, COM TODA A MINHA ALMA, MUITO OBRIGADA!!!!
Manuela Gama Vieira
4 comentários:
Lembro-me da prisão do José António Ribeiro Lopes.Já não estava nas Caldas nem era um estudante activista mas a sua detenção provocou comoção nas Caldas e na Universidade.A morte de amigos e familiares nas colónias.O assassinato de Ribeiro dos Santos pela PIDE.Estas prisões.Tudo nos obrigava a não ignorar o pesadelo em que vivíamos.Para não esquecer.
Sou de uma geração diferente do autor mas julgo que o mais importante aqui é que um homem bom e sério mantém essas qualidades em qualquer circunstância.Não sei se foi isso que ele quis dizer mas foi assim que eu li!
É bom ver apoarecer no blogue novos autores,especialmente quando conseguem ser tão comunicativos como o José Ribeiro Lopes.
Adorei ter encontrado este post e esta fotografia. Conheci o Zé António muitos, muitos anos mais tarde do que esta situação e por um bom punhado de ainda outros motivos, acabou por se tornar uma das pessoas mais importantes da minha vida. Bem hajam
Que bom reencontrar - mais uma vez - o José António Ribeiro Lopes, na sequência de um longo percurso de desencontros!
Recordo a força extraordinária da emoção colectiva, aquando da sua saída da prisão, e a perturbante suavidade com que expressava as mais determinadas convicções.
"Um homem bom" é a imagem com que permaneceu na minha memória ao longo 40 anos.
Gostaria que essa suavidade do José António voltasse a estar presente no Blog, através das suas futuras colaborações.
Um abraço Zé Tó!
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