ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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O PADRE QUE TESTEMUNHOU NA BOA-HORA



por Zé Tó Ribeiro Lopes








João, ok, se é para isso (falar sobre o Padre Renato), tenho que responder, tenho gosto em falar do padre distraído, do que o incomodava – as paroquianas ociosas, os superiores enfatuados e os alunos tolos – e da sua atenção à música e às cores.

Sim, o Padre Renato dispôs-se a ser e foi minha testemunha. Fico contente por poder manifestar o meu reconhecimento e admiração pela atitude que tomou, cabendo compará-la com a de quem, em Caldas, nem um abaixo-assinado contra a minha prisão quis subscrever (e tratava-se de um fulano que estava preso não necessariamente por ser militante do PCP, antes um estudante integrado nas movimentações associativas).

O julgamento, no Plenário da Boa-Hora, durou umas breves horas. O ambiente, cinzento e pesado. A presença dominante e intimidante de polícias torcionários e de magistrados vendidos ensombrava tudo. Julgamento é uma forma de dizer. O que ali se passava era uma encenação de uma condenação previamente decidida. Mas também marcava presença no meio daquilo tudo a dignidade das testemunhas de defesa. O Padre Renato era particularmente dissonante: só o facto de se encontrar naquele sítio e naquelas circunstâncias, incomodava. Estavam ali aqueles servidores do regime a esforçar-se por justificá-lo, fazendo a tal justiça, e do lado contrário, do lado errado, estava um membro da Igreja, da mesma igreja que tanto apoiava o seu regime. Pior: o Padre Renato não se limitou a dizer que o rapaz não era mau rapaz. Não havia meio de se calar.

Comunista este? Um franciscano, isso sim, o rapaz tem é alma de franciscano. Palavra por palavra, tanto quanto me recordo. E ele tinha toda a autoridade do mundo para falar de franciscanos ( também é de franciscano aquele piedoso exagero).

Se, como dizes, alguém diagnosticou eu estar «um pouco embotado pelas "agruras" da vida», podes responder que fiquei surpreendido. Embotado é provável, mas «agruras»? Saber que era sobre o Padre Renato era suficiente para eu juntar esta meia dúzia de palavras. Olha que eu chego a lamentar não colaborar aí para o blog-ERO, mas falta-me o jeito. Um abraço,

José Ribeiro Lopes
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COMENTÁRIOS
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JJ disse:
Como o texto indica esta é a resposta a um pedido que fiz ao Zé Tó para colaborar no Blog, nesta série de depoimentos sobre o Padre Renato. O João Serra tinha curiosamente referido este episódio no artigo anterior.
Acho que não necessito de acrescentar nada ao que ele escreveu, o Zé Tó é eloquente, não vejo onde está a "falta de jeito" que ele refere no texto.
Obrigado, vai aparecendo.
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jorge disse...
Lembro-me da prisão do José António Ribeiro Lopes.Já não estava nas Caldas nem era um estudante activista mas a sua detenção provocou comoção nas Caldas e na Universidade.A morte de amigos e familiares nas colónias.O assassinato de Ribeiro dos Santos pela PIDE.Estas prisões.Tudo nos obrigava a não ignorar o pesadelo em que vivíamos.Para não esquecer.
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Isabel Esse disse...
Sou de uma geração diferente do autor mas julgo que o mais importante aqui é que um homem bom e sério mantém essas qualidades em qualquer circunstância.Não sei se foi isso que ele quis dizer mas foi assim que eu li!
É bom ver apoarecer no blogue novos autores,especialmente quando conseguem ser tão comunicativos como o José Ribeiro Lopes.
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Manuela Gama Vieira disse:
"O Padre que amava a LIBERDADE"
Sobre o SENHOR P.e Renato, nada mais digo. Nunca ficará completo o seu "retrato", tal a magnanimidade do HOMEM.
José António:
- Aos que o julgaram (?) não eram JUÍZES!
- Aos cobardes que se esgueiraram, nem uma palavra!
- A SI, COM TODA A MINHA ALMA, MUITO OBRIGADA!!!!
Manuela Gama Vieira

4 comentários:

jorge disse...

Lembro-me da prisão do José António Ribeiro Lopes.Já não estava nas Caldas nem era um estudante activista mas a sua detenção provocou comoção nas Caldas e na Universidade.A morte de amigos e familiares nas colónias.O assassinato de Ribeiro dos Santos pela PIDE.Estas prisões.Tudo nos obrigava a não ignorar o pesadelo em que vivíamos.Para não esquecer.

Isabel Esse disse...

Sou de uma geração diferente do autor mas julgo que o mais importante aqui é que um homem bom e sério mantém essas qualidades em qualquer circunstância.Não sei se foi isso que ele quis dizer mas foi assim que eu li!
É bom ver apoarecer no blogue novos autores,especialmente quando conseguem ser tão comunicativos como o José Ribeiro Lopes.

Anónimo disse...

Adorei ter encontrado este post e esta fotografia. Conheci o Zé António muitos, muitos anos mais tarde do que esta situação e por um bom punhado de ainda outros motivos, acabou por se tornar uma das pessoas mais importantes da minha vida. Bem hajam

laurinda disse...

Que bom reencontrar - mais uma vez - o José António Ribeiro Lopes, na sequência de um longo percurso de desencontros!
Recordo a força extraordinária da emoção colectiva, aquando da sua saída da prisão, e a perturbante suavidade com que expressava as mais determinadas convicções.
"Um homem bom" é a imagem com que permaneceu na minha memória ao longo 40 anos.
Gostaria que essa suavidade do José António voltasse a estar presente no Blog, através das suas futuras colaborações.
Um abraço Zé Tó!