ABRIL DE 1966 - VIAGEM A CEUTA
CURIOSIDADES QUE HÁ 40 ANOS PERDURAM NA MEMÓRIA DE UMA EXCURSIONISTA
Meus queridos amigos, gloriosos excursionistas de Abril de 1966,
Para já deixem-me que vos diga que este pequeno apontamento é escrito ao correr da pena, sem qualquer intenção que não seja a de recordar e partilhar convosco os bons momentos que passámos. Espero que a Drª Maria Armanda, minha querida professora de português e madrinha nas Guias, não me apareça a corrigir o texto, senão estou feita…
Esta excursão foi de facto um espectáculo pois para muitos de nós, era a primeira vez que saíamos do país e foi vivida com muita intensidade, aproveitando todos os momentos e valorizando imenso aqueles em que o “programa das festas” nos deixava livres. ….
Lembro-me com muita ternura da alegria, camaradagem e de algumas vivências, cenas engraçadas que vou passar a contar:
1. As refeições
A comida em Espanha era horrível, então quando nos davam um sumo de tomate em vez da sopinha a que estávamos habituados aqui neste cantinho,…. era de vomitar …..o que se aproveitava era mesmo a sobremesa… um “helado” pequenito mas que se degustava com algum agrado..
2. Os lugares marcados no autocarro.
O JJ falou com muita graça sobre a “dança das cadeiras” , devidamente anotada no Guia da viagem pouco tempo antes do embarque …
Todas as suas suposições se confirmam… alguém pertencente à “organização” viu que ia uma rapariga e um rapaz sentados lado a lado, e isso era impensável num Colégio em que os recreios eram separados… a ser tolerado, só poderiam ser irmãos ou então casados …..assim a troca sobrou para os manos Vieira Lino.
Para mim sobrou a distribuição pelos quartos, como éramos dezassete raparigas e os quartos normalmente eram duplos tive que ficar várias vezes no quarto da Tia Anita. Claro que gosto imenso dela…mas, com 16 anos, queria era ficar com as pequenas da minha idade para poder brincar e rir daquelas parvoíces que faziam parte da nossa adolescência. …. Só estava dispensada desta situação quando existia um quarto triplo…
3. Horários e saídas à noite.
A excursão estava bem organizada, até existia uma escala de cronistas e os horários tinham que se cumprir … a palavra de ordem era : Todos presentes e à mesma hora !
Quanto a saídas à noite, as meninas só saíam acompanhadas pelos professores e os rapazes podiam ficar por sua conta mas tinham que entrar no hotel até à uma hora da noite.
Em Ceuta, ninguém teve autorização para sair, estávamos todos avisadíssimos que não poderíamos fazê-lo pois era muito perigoso. Não me lembro qual seria o perigo… mas talvez assalto … rapto…. sei lá…pode ser que algum dos excursionistas se lembre e me dê uma ajuda.…
4. O amor pairava no ar
Alguém mencionou recentemente que, nas crónicas da época, constava que o autocarro em que viajámos não tinha sido um autocarro vulgar mas sim um verdadeiro Barco do Amor.
Pensando sobre o assunto constatei que de facto havia algum fundamento, pois vários casais surgiram após esta excursão. O Bonifácio nessa altura acho que já andava a arrastar a asa à Lena Arroz (não creio que ela confesse… isto é um pessoal muito contido…). Além deles o Dr Serafim e a D. Esperança bem como a Emiliana e o Rego Filipe também viriam a casar. Lembrei-me agora de mais um amor que estava em vias de pairar no ar e também acabou em casamento (digo em vias pois ainda não se dava por nada, acho que já estavam na faculdade quando isso aconteceu), a Ilda Lourenço e o Zé Tó Ribeiro Lopes.Entre a Lena VP e o Pestana também havia algum encantamento, provavelmente nascido nos ensaios da peça de teatro que representaram no Ginásio do Colégio ...
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Fomos assistir a um espectáculo de flamengo nas Cuevas, sempre acompanhados pelos professores, como mandava o figurino…
As bailarinas não deviam nada à beleza, eram feias e gordas, sem graciosidade e ao movimentarem-se exalavam um odor pouco agradável …acre…. direi mesmo …a cebola….
Recordo que o espaço se assemelhava a um túnel, abobadado, com um pé direito baixo e algo apertado onde as bailarinas rodopiavam e nos tocavam com as saias, quase dançando ao nosso colo. …
Foi uma risota ver o ar apreensivo do Padre Albino enquanto que o nosso Padre Chico com aquele seu jeito que todos conhecemos, dizia muito sério :
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1- Em Sevilha o grupo teve uma saída nocturna para assistir a danças e cantares sevilhanos.
2- Nos intervalos havia possibilidade de se dançar.
3- Como é compreensível, e em defesa dos “Bons Costumes” não houve permissão para se dançar. As alegações para a situação tiveram como base o facto de “desconhecidos” poderem ter contactos mais “próximos” com as Alunas do ERO ( dançar sem misturas não estava garantido !! ).
4- À meia noite, e para que os “Bons Hábitos” não se perdessem, toca a recolher.
5- Chegados ao hotel foram dadas instruções ao porteiro para não permitir saídas.
6- Um conjunto de “revoltosos”, incluindo a minha pessoa, reuniu num quarto do R/c, que tinha grades, para delinear uma estratégia que permitisse furar o esquema.
7- Entretanto, apanhei o porteiro distraído e dei o salto.
8- No exterior esperei pelo resto dos “revoltosos” que, tanto quanto me lembro, não tiveram hipótese de sair.
9- Criada a situação resolvi regressar ao Club onde tínhamos estado anteriormente.
10- Às quatro da matina chego ao hotel, toco a campainha, sou reconhecido pelo porteiro ensonado, disse-lhe que tinha tido permissão para ficar até mais tarde e deitei-me com a esperança que nada chegasse aos ouvidos do nosso Padre Albino.
11- Passadas que foram as primeiras horas da manhã, concluí que me tinha safado!!
Nota : Já não me lembro bem dos” revoltosos” mas penso que seriam, entre outros, o Xico V. Lino, o Vítor Henriques e o saudoso João Lourenço. Não será difícil confirmar.
6. Visita às Grutas de Aracena
As grutas de Aracena, conhecidas como as grutas das Maravilhas são famosas pela variedade das suas salas mas existe uma , a “ de los desnudos”, em que as estalactites e estalagmites são muitas semelhantes à loiça malandra das Caldas… autênticos símbolos fálicos em tamanhos pouco usuais !!!
Agora imaginem o nosso Director, Padre Albino, ao passar nesta sala … foi de chorar a rir ….. só nos pressionava para vermos tudo a correr pensando que talvez assim os ditos cujos passassem despercebidos aos olhos do grupo…e não parava de dizer: meninos, meninos, mexam o pé detrás, mexam o pé detrás que estamos atrasados…
Acho que conseguiu o objectivo pois já falei neste episódio a alguns colegas e eles não se lembram de nada !!!!.
7. Reportagem fotográfica
Na altura não tínhamos dinheiro para máquinas fotográficas, estávamos dependentes das máquina dos pais que também não arriscavam colocá-las nas nossas mãos. O fotógrafo deve ter sido o Padre Chico. Penso que foi ele o autor da maior parte das fotos colocadas no artigo sobre esta excursão.
Constou-me que existe também um filme, quem será a/o sortuda/o a quem o pai emprestou a dita câmara? Decididamente desta é que eu não me lembro !
Será que o dito filme tem cenas eventualmente chocantes ??? …nessa altura ? com tanta fiscalização à volta ? não é nada provável ….. mas …talvez….talvez apareçam imagens de duas meninas a fazer ginástica sem qualquer sucesso … os braços estavam tão pesados que mal os conseguiam levantar. Diga-se que esta cena foi passada depois do jantar, por certo tendo como objectivo provar que não seria preciso recorrer às pastilhas rennie para auxiliar a digestão … (Penso que o jantar em causa foi oferecido pelo consulado em Ceuta, num sítio lindo, onde comemos optimamente e bebemos ainda melhor…). Bem e há outra … eu completamente grogue, não do vinho, mas de uns desgraçados duns comprimidos, de seu nome Vomidrine, que tomei antes de fazer a travessia de Algeciras para Ceuta. Era a primeira vez que andava de barco e o medo de enjoar era mais que muito….andei todo o dia cheia de sono e perdi a maior parte do programa cultural…. a visita à Igreja de N.Srª.: de Africa passou-me ao lado, só tenho uma vaga ideia de um estandarte (ou seria bandeira ?) bordado pela nossa Rainha D. Filipa…..…
O que será que o filme nos reserva? Estou curiosa, mas…… lá terei que aguardar as cenas dos próximos capítulos para deslindar este mistério ….
8. Conclusão
Depois deste esforço verdadeiramente hercúleo, atravessar 40 anos em busca de informação, só me resta apelar a todos vós meus amigos e excursionistas :
Peço-vos que não se acomodem… apliquem-se….. remexam nos baús e mergulhem nos registos de vossa memória… acrescentem as minhas notas.
Façamos como os Mosqueteiros …”Um por todos e todos por um” para que estas linhas se possam transformar na
Drª Deolinda (aplicadíssima lendo quiçá a historia da da chegada dos portugueses a Ceuta ….) Lopes, Bonifácio, Pestana ,Drª Cristina, Virgínia, Dr. Lopes,Dr. Azevedo, Tia Anita, Lena Arroz, Ana VL, Mª de s. José, Lena Magalhães, São Quintas, Nô Monteiro, Dr. Luís, Maduro, Dr.Serafim, Esperança, Eu, Lena VP
2ª fila
Ema Botelho e a mana Maria João, Manela VP, os tios da São Quintas, Padre Albino, Drª Cândida, Emiliana, Isabel Tomás e Lucília
3ªfila
Temos o friso dos rapazes interrompido apenas pela Ilda Lourenço, a saber:
Chico VL, Nascimento, Vítor Henriques (vulgo Vítor da pôpa) , Eduardo, Ilda, Jorge, Dario (trabalhava na secretaria) e o Chico Teodósio.
Esta foto não conhecia….
Em pé, ao fundo e de óculos escuros a Maria João Botelho
Sentados – Zé Tó Ribeiro Lopes, Lena Magalhães, S. José, Lena Arroz (aplicadíssima a filmar), Vítor Henriques, Emiliana e Lurdes Serrazina.
O senhor ao lado da Lurdes, de boné e camisa aos quadrados e com uma “peuguette” às riscas , seguramente não era mocinho do nosso grupo. Poderão comprovar em fotos anteriores (por ex. na porta da Igreja de N. Srª de Àfrica) que os nossos rapazes estavam todos impecavelmente vestidos e engravatados !!!
Isabel Tomás, Eu , Maria de S. José, Lurdes Serrazina, Manela V.P.,Nô Monteiro, Maria João Botelho, Virgínia, Lena V.P., Ema Botelho, Lena Magalhães, Emiliana, Lena Arroz, São Quintas e Lucília.
Começando pela primeira fila a contar de baixo temos: Manela Vieira Pereira, Maria João Botelho, Ana Nascimento, Emiliana Pinto Nunes (agora Rego Filipe), Maria Ema Botelho (irmã da Maria João), Ilda Lourenço, Maduro, Eduardo, Chico Teodósio e o Director Padre Albino
As fotos estão, COM MUITO MELHOR QUALIDADE, no Álbum de Recordações
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comentários
21 Janeiro,2008
Margarida Araújo disse.
Nunca fui a Ceuta.
Estes rapazes e raparigas não são da minha idade, mas conheço-os quase a todos. Fui-me encontrando com eles ao longo da minha vida. Fiz boas amizades com parte deles.
Deliciosa recordação cinematográfica (penso com realização da Helena Arroz, que reconheci com um lenço na cabeça e com aquele ar de menina que ainda hoje tem). Emocionei-me à séria. Um sentimento não lamecha, assim como um doce a rir.
Banda sonora bem escolhida, como seria de esperar.
Imaginei-me naquele barco, deitada nos bancos e a rir com todos vós.
Obrigada à Lena, ao João e ao João.
24 janeiro,2008
JJ disse:
Não vejo o João Lourenço nas fotos da Excursão, embora o Maduro o nomeie no episódio de Sevilha. Quem se lembra?
2008-02-03
Deolinda P. Barros disse:
Nasci aí, nas Caldas, passei por aí, pelo E.R.O., mas quando vocês partiam para a viagem de finalistas eu fazia as malas para ir para a guerra... Tem sido muito gratificante, mas de sentimentos indizíveis, o meu contacto com este magnífico trabalho do blog. Deolinda Pereira de Barros
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