ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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EXCURSÕES DE FINALISTAS 1 - CEUTA,1966

(As legendas de todas estas fotos estão num artigo da Ana Nascimento, juntamente com
algumas impressões pessoais como excursionista em: O BARCO DO AMOR )
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Não sei bem desde quando, mas provavelmente desde a fundação, como em todas as escolas do Mundo, realizava-se anualmente a Excursão de Finalistas do ERO. Momento de libertação, ritual iniciático de passagem à idade adulta, admissão tácita pela estrutura hierárquica de um novo estatuto dos Finalistas ou simples despedida de um grau de ensino rumo à Universidade, este foi seguramente um momento importante na vida de todos os estudantes do Colégio. Até porque nesses anos as questões económicas, uma cultura política de isolamento de um regime “orgulhosamente só” e a nossa situação geográfica faziam com que só os muito pobres, por necessidade, e os muito ricos, por gosto, viajassem para o estrangeiro. As saídas dos adolescentes machos eram até suspeitas e sujeitas a autorizações especiais, já que poderiam configurar uma fuga à guerra colonial. Só a evolução natural das condições sociais, económicas e culturais pós 25 de Abril veio facilitar e democratizar as viagens. Não posso garantir, mas desconfio que, mesmo num mundo de privilegiados como era o ERO, metade ou mais destes finalistas de 1966 estaria a sair do país pela primeira vez. Digo isto porque, cinco anos depois, em 1971 isso ainda seria assim.



Todo o material que aqui é apresentado, e já acrescentado ao Álbum de Recordações, é constituído por verdadeiras relíquias preservadas pela Ana Nascimento e que eu vou tentar acompanhar com algumas palavras que, se mais não fizerem, separam e realçam melhor as imagens. Tarefa que deveria ser outro a executar já que, enquanto a Ana e os colegas se divertiam nesta expedição africana, eu aproveitava as férias da Páscoa de 1966 para estudar para o temível exame do segundo ano de liceu, provavelmente ainda de calções.

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Começo pelo livro (ia chamar-lhe folheto, mas não, é um verdadeiro Livro) distribuído a cada um dos alunos participantes, intitulado GUIA. Incluía conselhos, recomendações e ordens, mapa com o trajecto previsto, quilómetros a percorrer, planta dos lugares predestinados na viatura para os 40 participantes, ampla informação sobre os locais a visitar, metódica e exaustiva previsão da actividade diária, incluindo duas escalas: uma de cronistas, encarregues do registo para a posteridade do dia a dia da viagem (onde estará esse documento?), e outra do que hoje seriam Auxiliares Técnicos Superiores de Transporte e Armazenagem de Volumes em Trânsito (graças às Novas Oportunidades!) mas que, à data, eram apenas carregadores de malas. Não eram muito dotados, ou a tarefa era mais espinhosa do que eu estou a imaginar, já que eram necessários três alunos, um motorista e um professor para a prossecução do objectivo em vista (isso mesmo, arrumar as malas no autocarro!). Só aos homens eram reconhecidas competências nesta espinhosa tarefa, já que nem alunas nem professoras foram “escaladas”.




Vamos, por partes, à análise do Guia. Após a promessa, não cumprida, de “não fazer uma longa digressão especulativa acerca de passeios, visitas, excursões, tipos de excursão, classificando-os quanto ao modo, locais a visitar, pessoas agrupadas, etc…” ocupar três páginas, encontramos “algumas normas” (com aspas no original) que se resumiriam hoje a uma frase: todos juntos, na linha e a horas! Acrescenta-se depois que as alunas não podiam sair depois de jantar excepto se acompanhadas por professores, enquanto os seus colegas o poderiam fazer sozinhos até à uma hora da manhã. Bem podiam a Jane Fonda e amigas queimar o vestuário intimo que quisessem nos E.U.A. nessa altura, porque o feminismo e a igualdade ainda não tinham aqui lugar.



Com partida no Domingo de Páscoa, 10 de Abril, o “Programa da Excursão” (na página sete) propõe a visita a Sevilha, Granada, Córdova, Aracena e Ceuta, com regresso a Caldas no dia 17 de Abril, incluindo missa nos dois Domingos abrangidos, como é devidamente realçado no texto. Esta secção inclui então a previsão diária detalhada das actividades, visitas, almoços, jantares, visionamentos da paisagem, dormidas, tudo marcado com horas e meias horas! Bem como as tais escalas dos dois Cronistas e dos cinco (!) Bagageiros (o visionamento da paisagem com hora marcada era eu a brincar, mas o resto é tal e qual).



Entre a página treze e quarenta e três do “livro” estão profusas informações sobre os locais a visitar, incluindo detalhes históricos, números de habitantes, temperaturas e pluviosidade, hábitos, trajes, sangrentas batalhas e sanguinários mouros de tempos idos… Realmente fascinante, mas confesso que adormeci, só entreabrindo os olhos entre o Canto Jondo, o Bolero e o Flamenco, mas era só meia página, pelo que não posso adiantar mais nada. A Ana fornecerá cópias a quem desejar possuir uma inaudita densidade de informação inútil por centímetro quadrado de papel a respeito do Sul de Espanha.


Quando julguei que tinha acabado, descobri que o melhor estava no fim. Assinaturas de todos os participantes, incluindo alunos, professores e os Padres Albino e Xico (assim mesmo, com X), anteriormente apresentados como Director e Assistente Espiritual. Com 16,3cm de comprimento e 4,4cm de altura a assinatura do João Bonifácio Serra bate toda a concorrência, embora os 13,9cm por 2,1 cm da Ana Nascimento também sejam dignos de registo.










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Mas o sumo estava na página quarenta e quatro ( já repararam que só usei algarismos para as datas e medidas? Tudo o resto por extenso, como ensinava o Padre Renato). Aí vi a planta do autocarro. Notável o cuidado de marcar previamente todos os lugares, promovendo assim certamente “o respeito pelos princípios da Moral cristã”. E pese embora que “seria ter pouco ideal pretender-se reduzir o bem à proibição ou fuga do mal”, é sempre melhor prevenir (as citações são da página quatro do Guia). Sem espanto nem surpresa verifiquei que os professores e responsáveis estavam colocados à frente, as raparigas a seguir e os rapazes na parte traseira da viatura. Os Drs. Luís e Cândida, com um casamento abençoado pela Igreja (o que não impediria o seu breve fim), viajavam lado a lado. A minha curiosidade foi desperta pelos nomes riscados, como é que era possível algo tão laboriosamente planeado e elaborado ter sido emendado à mão e claramente à pressa? Ainda perguntei à Ana se alguém tinha faltado ou trocado à última da hora, mas não, era fácil verificar que os nomes eram os mesmos antes e depois, só os lugares mudavam. Então porquê a “dança das cadeiras”? Armado em Sherlock Holmes descobri uma solução lógica: como eram treze rapazes e dezassete raparigas era necessário que houvesse um banco duplo partilhado por um aluno e uma aluna na zona de transição dos sexos. A solução foi pôr lado a lado os dois irmãos Vieira Lino, anulando o arranjo inicial onde a Lena Arroz viajava ao lado do Joaquim G Lopes. Terá sido realmente assim?
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A Ana Nascimento acrescentou depois os bilhetes do espectáculo de Flamenco e o Bilhete das Grutas de Aracena, mas o anexo mais interessante é sem dúvida o delicioso recorte de um jornal de Ceuta onde se noticia a chegada do ilustre grupo excursionista. O señor Santos Lima aí referido, cônsul de Portugal em Ceuta, era irmão do conhecido empresário caldense Thomas dos Santos e portanto tio-avô da São Quintas, e estava radicado em Espanha depois de ter servido na Legião Espanhola, onde ficou conhecido por “Lusitano”. A sua residência em Ceuta foi determinante não só para a visita em si mas também para a forma como os caldenses foram recebidos e a sua presença noticiada.



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Se eu tivesse participado poderia certamente escrever algo de mais suculento sobre a viagem, género “tudo o que vocês sempre quiseram saber sobre a excursão de finalistas a Ceuta mas não sabiam a quem perguntar”. Pelo menos dois casais de
excursionistas acabaram casados entre si, apesar das precauções do Padre Albino, e um aluno tinha uma longa e sofrida paixão não correspondida por uma colega… mas não, lembrem-se que eu fiquei nas Caldas a estudar, não me façam perguntas que eu nada sei sobre isso. Talvez algum dos intervenientes nos diga mais alguma coisa nos comentários.




















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NOTA: Todas as imagens desta excursão, e não só as que aqui estão, podem ser vistas e descarregadas, COM MELHOR QUALIDADE, no Álbum de Recordações.

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comentários:
4 Janeiro, 2008
Manuela V P disse:
Só hoje é que vi a reportagem da viagem, mas terei que olhar com mais atenção - prometo que dou notícias. A verdade é que me lembro da excursão ter sido o máximo e sobretudo- lá está - era a primeira vez que saía do país!

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