Todo o material que aqui é apresentado, e já acrescentado ao Álbum de Recordações, é constituído por verdadeiras relíquias preservadas pela Ana Nascimento e que eu vou tentar acompanhar com algumas palavras que, se mais não fizerem, separam e realçam melhor as imagens. Tarefa que deveria ser outro a executar já que, enquanto a Ana e os colegas se divertiam nesta expedição africana, eu aproveitava as férias da Páscoa de 1966 para estudar para o temível exame do segundo ano de liceu, provavelmente ainda de calções.
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Vamos, por partes, à análise do Guia. Após a promessa, não cumprida, de “não fazer uma longa digressão especulativa acerca de passeios, visitas, excursões, tipos de excursão, classificando-os quanto ao modo, locais a visitar, pessoas agrupadas, etc…” ocupar três páginas, encontramos “algumas normas” (com aspas no original) que se resumiriam hoje a uma frase: todos juntos, na linha e a horas! Acrescenta-se depois que as alunas não podiam sair depois de jantar excepto se acompanhadas por professores, enquanto os seus colegas o poderiam fazer sozinhos até à uma hora da manhã. Bem podiam a Jane Fonda e amigas queimar o vestuário intimo que quisessem nos E.U.A. nessa altura, porque o feminismo e a igualdade ainda não tinham aqui lugar.
Com partida no Domingo de Páscoa, 10 de Abril, o “Programa da Excursão” (na página sete) propõe a visita a Sevilha, Granada, Córdova, Aracena e Ceuta, com regresso a Caldas no dia 17 de Abril, incluindo missa nos dois Domingos abrangidos, como é devidamente realçado no texto. Esta secção inclui então a previsão diária detalhada das actividades, visitas, almoços, jantares, visionamentos da paisagem, dormidas, tudo marcado com horas e meias horas! Bem como as tais escalas dos dois Cronistas e dos cinco (!) Bagageiros (o visionamento da paisagem com hora marcada era eu a brincar, mas o resto é tal e qual).
Entre a página treze e quarenta e três do “livro” estão profusas informações sobre os locais a visitar, incluindo detalhes históricos, números de habitantes, temperaturas e pluviosidade, hábitos, trajes, sangrentas batalhas e sanguinários mouros de tempos idos… Realmente fascinante, mas confesso que adormeci, só entreabrindo os olhos entre o Canto Jondo, o Bolero e o Flamenco, mas era só meia página, pelo que não posso adiantar mais nada. A Ana fornecerá cópias a quem desejar possuir uma inaudita densidade de informação inútil por centímetro quadrado de papel a respeito do Sul de Espanha.
Quando julguei que tinha acabado, descobri que o melhor estava no fim. Assinaturas de todos os participantes, incluindo alunos, professores e os Padres Albino e Xico (assim mesmo, com X), anteriormente apresentados como Director e Assistente Espiritual. Com 16,3cm de comprimento e 4,4cm de altura a assinatura do João Bonifácio Serra bate toda a concorrência, embora os 13,9cm por 2,1 cm da Ana Nascimento também sejam dignos de registo.
Mas o sumo estava na página quarenta e quatro ( já repararam que só usei algarismos para as datas e medidas? Tudo o resto por extenso, como ensinava o Padre Renato). Aí vi a planta do autocarro. Notável o cuidado de marcar previamente todos os lugares, promovendo assim certamente “o respeito pelos princípios da Moral cristã”. E pese embora que “seria ter pouco ideal pretender-se reduzir o bem à proibição ou fuga do mal”, é sempre melhor prevenir (as citações são da página quatro do Guia). Sem espanto nem surpresa verifiquei que os professores e responsáveis estavam colocados à frente, as raparigas a seguir e os rapazes na parte traseira da viatura. Os Drs. Luís e Cândida, com um casamento abençoado pela Igreja (o que não impediria o seu breve fim), viajavam lado a lado. A minha curiosidade foi desperta pelos nomes riscados, como é que era possível algo tão laboriosamente planeado e elaborado ter sido emendado à mão e claramente à pressa? Ainda perguntei à Ana se alguém tinha faltado ou trocado à última da hora, mas não, era fácil verificar que os nomes eram os mesmos antes e depois, só os lugares mudavam. Então porquê a “dança das cadeiras”? Armado em Sherlock Holmes descobri uma solução lógica: como eram treze rapazes e dezassete raparigas era necessário que houvesse um banco duplo partilhado por um aluno e uma aluna na zona de transição dos sexos. A solução foi pôr lado a lado os dois irmãos Vieira Lino, anulando o arranjo inicial onde a Lena Arroz viajava ao lado do Joaquim G Lopes. Terá sido realmente assim?
Só hoje é que vi a reportagem da viagem, mas terei que olhar com mais atenção - prometo que dou notícias. A verdade é que me lembro da excursão ter sido o máximo e sobretudo- lá está - era a primeira vez que saía do país!
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