ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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TÓ FREITAS

Na minha recente conversa com o Tó Freitas para a "Breve história do E.R.O." tive, mais uma vez, a oportunidade de reencontrar uma espantosa memória caldense, capaz de recitar nomes completos de turmas inteiras de alunos do colégio que ele frequentou, de forma intermitente e diletante, entre 1952 e 1962.
A caricatura é do meu amigo Vasco Trancoso e o texto do Hermínio de Oliveira. Foram originalmente publicados no "Álbum de Figuras Caldenses 1990/1991" e são aqui reproduzidos com um abraço de agradecimento pela colaboração do Tó na referida "Breve história...". JJ


O Tó Freitas

Doutorado em politica, catedrático de estratégias, mestre de xadrez, arauto de novidades.
Conhece 18.689 nomes de pessoas e os respectivos possuidores.
Amador da Canção Nacional, tem de cor a letra e o tom de 971 fados e conhece-lhes os autores. Sabe distinguir uma guitarra duma viola, pelo toque, coisa que eu não sei.
É detentor do record de fala contínua, durante 574 horas.
Consegue em 80 ganhar 3 partidas de xadrez, o que convenhamos não é nada mau, mas que ele espera melhorar sacrificando o seu sagrado repouso para estudar e aprofundar a sublime arte de Alekine.
Requintado sibarita conhece, pelo rótulo, 1040 vinhos, e pelo paladar mais de 500. Sabe qual é o melhor para acompanhar o linguado, - Seco de Bucelas, meio-seco de Colares, - Não desdenhando um branco de Figueira de Castelo Rodrigo, embora mais doce.
Mas também não desdenha um tinto cartaxeiro para fazer escorregar umas petinguinhas fritas com açorda, porque se pela.
Tem pois um paladar democrático, ao nível do “Jaquinzinho” e arroz de pimentos, com umas febres intermitentes de restaurantes de luxo, donde sai alagado em suor, pela escaldadela.
Antigo aluno do Colégio Moderno foi nesse alfobre de personalidades graúdas que forrageou para o seu celeiro celebridades a quem trata por tu.
Lá jogou futebol e deu algumas caneladas em aristocráticas gâmbias que fortaleceram velhas amizades, ainda bem vivas quer recordando o toque quer a nódoa negra.
Há para ai quem diga que a população portuguesa está a envelhecer e a nascer menos o que eu acho um acto de sovinice. Deixar de nascer é o acto mais miserável que o homem pratica, para além de fazer baixar a estatística o que é sempre mau… por ser uma baixa. Nisso o Tó e exemplar nem evitou de nascer nem evitou que lhe nascessem três filhas. Equilibrou a estatística.
Pela mais velha foi o Tó de avião aos Açores… sem aconselhar o condutor a ter cuidado nas curvas.
Irreverente, independente, senhor de si, nunca vestiu a batina que o Trancoso lhe enfiou, sendo aqui um símbolo da sua catedrática sabença… em política central partidário – coscuvilheira.
Fundador do PS e o seu mais antigo membro nas Caldas, nunca ocupou qualquer lugar, na Câmara, Assembleia Municipal ou mesmo em qualquer modesta e plebeia Junta de Freguesia. Foi no entanto deputado, e, embora lá estivesse pouco tempo, ainda fez um contracto especial de prestação de serviços parlamentares, extra eleitoral, na Comissão de Saúde, onde falou de remédios, seus velhos conhecidos de infância. Mantém o escritório do pai – meu querido e chorado amigo António Maldonado Freitas – tal como ele lho deixou, com os livros no mesmo lugar e os jornais no mesmo monte... Não precisa, nem quer, alterar nada, fixando-se na memória dos seus antepassados com uma devoção religiosa pelos livros lidos pelo seu pai, as cerâmicas, gravuras e quadros, que lhe foram fonte de beleza, transformando esse velho escritório num santuário onde murmura as suas orações de saudade.
O Café Central, de que é co-proprietário não lhe é só escritório; é também e sobretudo um local onde se vive, onde se conversa, onde se sabe. Património caldense, traz até nós um tempo em que o tempo não contava, em que os minutos não valiam a tanto por escudo, em que se estava, e está, sentado a mirar essa obra deliciosamente romântica de Júlio Pomar, rasgada a ouro no azul celeste da parede.
Tudo isto é o Tó, em “quem luz algum talento” como dizia o Bocage, mas que vale sobretudo… por saber ser um amigo.

Hermínio de Oliveira

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