Caro Ex-Aluno do Externato Ramalho Ortigão
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. Ao navegar na rede (net) neste fim de tarde chuvoso, sem história, deparei com o portal dos ex-alunos do Externato Ramalho Ortigão. Não pude ficar indiferente ao mesmo e, com alguma emoção, porquanto eu próprio frequentei in illo tempore esse estabelecimento de ensino, tentei reavivar memórias há muito esbatidas. Recuperar ou resgatar recordações de infância e de adolescência, de um tempo em que apartados das mais elementares responsabilidades sociais deixamos o sonho comandar os nossos destinos, afigura-se uma tarefa meritória a merecer louvor público. Em suma, trata-se de uma iniciativa a ser não apenas acarinhada mas também estimulada.
Se os anos da idade adulta convidam à lisonja e à vanidade, muitas vezes a coberto de pressupostos altruístas, os verdes anos de adolescência mais não constituem do que uma bênção e uma profissão de fé. Corporizar as fragrâncias, os sabores e as colorações de antanho, de um tempo que inexoravelmente desapareceu, é algo que todos desejamos. Seja por simples melancolia ou pelo desejo de homenagear a memória de quantos já partiram, familiares ou amigos, a verdade é que desejamos reavivar, com cores mais carregadas, esses anos em que fomos flibusteiros, mareantes, escambadores, missionários, capitães, rameiras, freiras de clausura, truões, astronautas, arqueólogos, ou, até, senhores de desvairados domínios.
O tempo rolou e, hoje, perto de quatro décadas volvidas sobre o encerramento do Externato Ramalho Ortigão, estertor de um período que a todos marcou, resta-nos este elo para resgatar compassos de tempo tão intermitentes quanto omnipresentes. Tempos em que o estabelecimento dependia inteiramente do patriarcado de Lisboa e da figura ímpar de D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
Corria o ano lectivo de 1968-1969 quando, vindo de São Paulo de Luanda, Angola, me matriculei na segunda classe do Externato Ramalho Ortigão. Com a professora Esperança permaneci até ao termo do ano lectivo de 1970-1971, momento em que concluí a quarta classe. Já não frequentei o primeiro ano dos liceus nas Caldas da Rainha porquanto rumei a Lisboa para, no Colégio Militar, prosseguir os estudos. Os quais, de obstáculo em obstáculo, me levaram a fazer do mundo a minha casa e a recordar, com preito de gratidão, esses anos em que (depois de uma primeira classe em terras africanas) aprendi os rudimentos da língua pátria e da matemática.
Jamais pude olvidar esse triénio em que frequentei o Externato Ramalho Ortigão. Desse compasso de tempo em que guardo memória apenas de um colega e do nome de mais duas ou três outras colegas, ficou o desejo de restabelecer pontes e, assim, encurtar distâncias. É possível que este portal e o livro de memórias em curso, contendo os nomes de todos os ex-alunos, publicação símile a muitas outras que seguem idênticos propósitos, tenham o condão de unir o que o tempo apartou.
Grato por esta viagem a um passado que guardo com carinho,
Atenciosamente,
António C. Tavares
Recebi por email a mensagem acima, que fala por si e dispensa os meus comentários. Num posterior contacto o António escreveu:
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"Posso recordar-lhe, a talhe de foice, que fazia parte da turma do Miguel Ballu Loureiro, da Luísa Gama, da filha do professor Narana Coissoró e da Samy. Em suma, uma turma infantil que o tempo apartou e levou a diferentes latitudes."
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"Não creio que o público leitor tenha o menor interesse em saber onde presentemente me encontro. Serei mais um, entre tantos, a dar voz a Afonso Lopes Vieira: os portugueses têm uma franja de terra entre a Espanha e o mar para nascer e o mundo inteiro para morrer ..."
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comentários
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2008-01-24
Ana N disse:
Olá António
Já percebi que também foste colega da minha irmã Margarida. Não me lembro bem de ti e não te encontro nas nossas fotos dessa altura.
Obrigada, foste o primeiro desse grupo a colaborar no blog !
Aqui vai o meu abraço com votos das maiores felicidades.
Ana Nascimento
Ana N disse:
Olá António
Já percebi que também foste colega da minha irmã Margarida. Não me lembro bem de ti e não te encontro nas nossas fotos dessa altura.
Obrigada, foste o primeiro desse grupo a colaborar no blog !
Aqui vai o meu abraço com votos das maiores felicidades.
Ana Nascimento
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2008-01-25
São Caixinha disse:
Olá António! Li com interesse e admiração a tua carta! Nào me lembro de ti, pois por essa altura já andava eu no ciclo, apesar de possivelmente te ter vendido gluseimas na cantina! Entretanto temos todos curiosamente a mesma idade. A mim, que também "ando pelo mundo", interessa-me saber onde te encontras! O mundo que desde então se tornou mais pequeno, e também curiosamente,cada vez mais, a pátria de todos nós! São Caixinha
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