Depois de ter visto as fotos do JJ dum «Allgarve» actual, porque não outras dum Algarve em que a noite era passada embrulhado numa manta na borda da praia, com o ruído das ondas como som de fundo e sem risco de se fazer assaltar por desconhecidos nem sempre bem intencionados. Também não haveria grande coisa para levar, além de uma parte dos 500 Escudos com os quais passei na altura as férias que me deixaram até hoje, melhores recordações, apesar de trabalhar em turismo, com as múltiplas viagens que isso implica em 29 anos de vida activa.
A foto foi o culminar de uma viagem de moto (não numa Harley mas numa Casal de 50 cc e o meu colega na famosa V5 da época), que se iniciou no Chão da Parada, seguimos para passar a primeira noite no aquartelamento de Santa Margarida, graças à cunha de um amigo militar. Ainda no passado mês de Maio falámos disto em amena cavaqueira na praia do Salgado. Aqui comemos a única refeição digna desse nome durante a viagem. Seguimos pelo interior sempre dormindo ao relento, até ao Sul, e voltámos pelo litoral com a visita e pernoita nas diversas praias da costa alentejana.
Como tudo era belo e selvagem naquele tempo , mas Omnia mutantur , nos et mutamur in illis (Todas as coisas mudam e nós mudamos com elas).
Quanto aos presentes na foto, na esquerda, de pé, estou eu. Na extrema direita, 3 súbditos de sua majestade britânica (já por lá andavam), depois com a guitarra, que penso nem trabalhava, o meu amigo da minha aldeia, de quem perdi o contacto. Penso que vive em São Martinho. Ao lado de pé, um viajante solitário de Santarém. Os 2 à frente de joelhos eram do Porto e o que tem a guitarra, deliciava-nos com melodias maravilhosas. Uma dizia assim: « Era sempre, a mesma melodia, Salazar e a sua democracia; com Caetano é a mesma porcaria, tudo muda só a m....não varia». O autor do original tornou-se num dos meus favoritos da época e dá por nome de Luis Cilia. Andava na altura pela cidade Luz.
Recordações maravilhosas, de um periodo maravilhoso da vida. O terminar de uma época de irresponsabilidade, e de pequenos erros sem consequências de maior, e o entrar num outro em que tudo tem de ser pensado e repensado. O findar da adolescência e o inicio da vida de adulto.
José Luis Reboleira Alexandre
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COMENTÁRIOS
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JBSerra disse:
Que mundo de evocações nos traz José Luís Alexandre, desde o Chão da Parada até ao Algarve: as motos Casal e V5, o quartel de Santa Margarida, noites dormidas (?) nas praias, a presença da guitarra, o Luís Cília das canções de protesto. Também eu rumei ao Algarve nesses anos. Em 1972, fiz 5000 quilómetros (de Honda 360), entre Vila Real e Sagres, ainda no princípio da invenção inglesa do actual Allgarve.
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João Jales disse:
Escrevi na mensagem que enviei ao Zé Luis: "As tuas colaborações são sempre bem vindas porque sempre muito a propósito, dentro do espirito das séries"! Mais uma vez temos uma fotografia , um texto e uma memória nessas circunstâncias.
Conheci o Algarve, mas não de moto, no virar da década ( 60/70) onde conheci uma Praia da Rocha que era uma língua de areia que "desaparecia" na maré alta.Onde as estradas para as praias à volta de Portimão e Lagos eram de terra batida. Onde encontrávamos meia dúia de estrangeiros onde hoje não há onde estender uma toalha. Onde não encontrávamos um bar onde hoje estão colmeias de apartamentos. Onde ainda não existia Allgarve, enfim...
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João Ramos Franco disse:
Recordações maravilhosas, de um período maravilhoso da vida. Que bom poder ler as tuas palavras alegres desse teu tempo. Dez anos antes (1963-serviço militar) tiram-me essa alegria de viver, no Algarve.João Ramos Franco
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Luisa disse:
Gostei de ler este ""Easy Ryder"" à portuguesa (como disse o Jales no artgo da São)!!!Só conheci o Algarve muito depois, já com construção desordenada. Mas a costa alentejana ainda tem locais bem preservados.Não me lembro do Zé Luis mas daqui lhe mando um abraço e o desejo de Boas Férias! L
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Ana Carvalho disse:
Belos tempos, ainda se podia dormir na praia e andar à vontade sem olhar por cima do ombro com desconfiança, hoje nem dormir de dia na praia se pode.
A viagem era também uma aventura, uma emoção, saíamos de madrugada e chegávamos muitas horas depois estafados, a morrer de calor. É certo que de mota era mais arejado mas devia demorar ainda mais tempo...
Não me lembro do José Luis mas espero vir a comhecer numa próxima reunião dos ex alunos. Bjs PP
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