ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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João Vieira Pereira, médico e jornalista

por João Bonifácio Serra

(Caricatura da autoria de Vasco Trancoso)


No dia 2 de Setembro cumprem-se 100 anos sobre o nascimento do Dr. João Vieira Pereira. Natural de Amieira do Tejo (concelho de Nisa), foi nas Caldas, onde residiu, que exerceu a actividade de médico, até ao fim da sua vida. Casou, em 1935, com Maria Ofélia Aguiar de Araújo, oriunda de uma família de Alvorninha. O casal teve 6 filhos (António, Maria Luisa, Maria Teresa, Maria Isabel, Maria Helena e Maria Manuela), todos bem conhecidos de várias gerações de antigos alunos do Externato Ramalho Ortigão.


A figura de João Vieira Pereira vai ser homenageada na Câmara Municipal e no Montepio, com a presença do cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, também ele nascido em Alvorninha. Certamente nessas cerimónias de evocação destaque especial será dado à acção exercida durante mais de meio século pelo médico. Menção será justamente feita ao papel pioneiro que desempenhou na introdução de meios complementares de diagnóstico, nomeadamente a radiologia, no Montepio caldense, em 1942.

Gostaria de aproveitar esta ocasião para referir uma faceta quase desconhecida do Dr. João Vieira Pereira, a de jornalista. Foi director do jornal O Progresso, um semanário que se publicou aos Domingos, entre 18 de Agosto de 1946 e 3 de Agosto de 1947. Como se pode ver na imagem da primeira página do primeiro número, a equipa de colaboradores do jornal incluía ainda Acácio de Sotto-Mayor, Felix da Cruz, Maia de Faria, António Moreira da Câmara, Dario Preto Ramos, Eurico Bonifácio da Silva (o meu pai), Marques da Silva, J. Vieira Lino, Justino Moreira, Leonel Sotto-Mayor e Victor Coelho.




No seu primeiro editorial, João Vieira Pereira indica os propósitos do periódico: reagir contra a decadência que se encontra a posição das Caldas e região e contribuir para a elevação do nível cultural da população. “Não se vá pensar” – escrevia – “que o nosso papel crítico vai incidir num derrotismo por sistema, e sabemos bem que compete também à crítica louvar e aplaudir. O que pretendemos e o que ambicionamos. o título do nosso jornal o diz na simplicidade de uma só palavra” [Progresso].




O Progresso pretendia preencher uma lacuna, pois nas Caldas sempre existira, desde 1884, um jornal que dava corpo às aspirações locais. Nas suas edições, o novo semanário apresente um formato padrão: 8 páginas, 3 das quais preenchidas com notícias de Óbidos, Bombarral e Peniche, 1 ou 2 de publicidade e as restantes de noticiário caldense e textos de opinião assinados. Alguns desses textos são assinados exactamente pelo director.


Vejamos algumas das preocupações enunciadas pelo Dr. Vieira Pereira nos seus editoriais. Uma delas prende-se com a pobreza de inúmeras famílias que vivem na área urbana e que não terão possibilidades de conservar os seus casebres quando for aprovado – o que se espera para breve – o plano de urbanização encomendado pela Câmara. Para fazer face a essa situação, o director de O Progresso propõe a construção de um bairro social (o que, como se sabe, veio a acontecer).


Nos seus escritos, defende também o lançamento de campanhas contra certos males sociais, como o alcoolismo, ou pela divulgação de conhecimentos de puericultura junto das mães, ou a favor do uso generalizado do calçado e advoga o combate sem tréguas à ilegitimidade de filhos. Mostra-se ainda um defensor convicto da prática desportiva como instrumento de uma vida saudável, valorizando a educação física na escolas.


Na vida do semanário e na do seu director, um acontecimento mereceu um grande relevo: a inauguração da clínica do Montepio, um novo e moderno edifício na Rua Heróis da Grande Guerra, no dia 2 de Março de 1947. O jornal relata-o na sua edição de Domingo seguinte (9 de Março). João Vieira Pereira deixou nesse dia a direcção clínica do Montepio, sendo substituído pelo Dr. Ernesto Moreira.
































Usou nesse dia da palavra para contar a história da transformação de uma salão de festas numa casa de saúde e agradecer a todos os que se tinham empenhado nessa transformação. Como esse discurso é também um documento histórico, aqui o transcrevo parcialmente:


“Como nasceu esta obra?


Não ainda há muitos anos, o Montepio abria as suas portas à hora da consulta dos sócios e recebia à noite os “habitués” do bufete e do bilhar. A parte recreativa desempenhava ainda uma função.
Depois começou o Montepio a facultar as suas salas para consultas de especialidades, e o movimento dos doentes justificava já então a porta aberta durante várias horas!
Com o serviço de Raios X e cirurgia em 1942, o crescente movimento dos doentes transformou o Montepio num centro clínico que começou a experimentar as deficiências de instalação e daí a ideia de uma obra capaz, for a das improvisações e adpatações, pois o Montepio passou a ser casa de portas sempre abertas.
Como foi isso possível?
Até milagre parece! Mas possível foi. Sei que o Montepio é pobre e que supriu os fundos necessários à custa de uma força de que só é capaz a vontade nascida de uma fé forte, alimentada por uma esperança que o optimismo e o entusiasmo nunca deixam esmorecer, e justificada por um sentimento em que o desinteresse, o espírito de sacrifício e a dedicação bem sentida sintetizam a força animadora desta realização”.


O Dr. Vieira Pereira considerava que as Caldas bem se podiam orgulhar dessa nova instituição de saúde e assistência, de que foi seguramente um dos pais fundadores. Colaborou na sua concepção e planeamento, no equipamento das instalações e provavelmente no seu financiamento, conhecida a sua generosidade e o seu proverbial desprendimento.


Observação final:
Entrevistei longamente em sua casa o Dr. João Vieira Pereira, em 1986. Guardo notas dessa entrevista com o homem que muito estimei e admirei e que assistiu a minha mãe no decurso de uma complicada gestação e do parto que me trouxe à vida. Oportunamente colocá-las-ei à disposição dos leitores deste blogue.


J. B. Serra
31 de Agosto de 2008
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C O M E N T Á R I O S
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farofia disse...
Se este blog fosse um livro, eu marcava esta página com uma dobra no cantinho, para não a perder de vista.

4 comentários:

Carlols Abegão disse...

Continuo a ler com muito interesse os comentários que têm sido publicados, que na sua maioria nos dizem algo sobre a história da nossa cidade ou sobre lembranças da infância dos bloguistas Caldenses. Hoje aprendi mais um pouco das Caldas, na vida desse médico, cidadão exemplar que foi o Dr. João V. Pereira. Espero que continuem com o blogue, e os meus agradecimentos ao J.J. por continuar a enviar-me os artigos aí publicados, embora eu nunca tenha sido aluno do ERO. Cumprimentos. J.Carlos Abegão.
PS - Gostei do artigo do Tó-Zé Hipólito, sobre as nossas Caldas, está lá toda a verdade.

Anónimo disse...

Depois deste comentário de João Serra ao Sr Dr Vieira Pereira, como era conhecido lá em casa, pouco mais posso dizer.

Não sei se era da humidade do Chão da Parada, mas era raro o Inverno que eu não apanhasse uma gripe qualquer, ou até outras doenças bem mais graves.

Apesar de não haver na altura telefone lá em casa, era certo e sabido que o Dr Vieira Pereira lá aparecia, dia de semana ou Domingo, de noite ou de dia, com o seu famoso 2CV vermelho, se a memória não me atraiçoa no que concerne a côr.

Bastava a sua presença para o miúdo que eu era, ficar melhor e poder voltar a brincar e sujar-me na areia da rua, para desgosto de minha mãe.

Uma das grandes figuras do nosso concelho.

Anónimo disse...

Se este blog fosse um livro, eu marcava esta página com uma dobra no cantinho, para não a perder de vista.

Ana Vieira Pereira disse...

Do lado de cá do Atlântico, fez-me saudades do meu avô. Obrigada pelas palavras!
Ana Vieira Pereira