ISABEL XAVIER
Lembro-me bem da presença de Eduardo Prado Coelho em S. Martinho. Ele já era casado, tinha uma filha pequena e ainda frequentava S. Martinho, e julgo que os pais dele também. Já só podia ser nos anos sessenta, para eu me poder lembrar. Curiosamente, lembro-me muito particularmente dele, pois há outras figuras de relevo da sociedade portuguesa que frequentavam a mesma praia e das quais não me recordo. Penso que a vivacidade da imagem que guardo de E.P.C. se deve às suas características físicas. Como todos se devem lembrar, E.P.C. era baixo e gordo e lembro-me de reparar que quaisquer calções de banho lhe chegavam aos joelhos, mesmo quando tal não era suposto acontecer.
Também guardo na memória com grande nitidez, por razões da mesma ordem, a presença do economista Hêrnani Lopes, muito alto, enorme mesmo, e que durante muitos anos foi o único homem que alguma vez vi em roupão de praia. Era uma figura inesquecível, ao lado da mulher, quase tão alta como ele!
Eduardo Prado Coelho era muito amigo do Artur Maurício, "Tui" para os amigos e família, e foi através dele que o conheci. A minha família era amiga da do Artur, as nossas barracas eram próximas, a minha mãe dava-se com a D. Dila (a mãe do Artur) e, em conjunto com outras senhoras, fartavam-se de fazer renda, na praia ou na esplanada.
Muitos se hão-de lembrar do Artur por ter sido presidente do Tribunal Constitucional e por outros cargos que ocupou ao longo de uma fulgurante carreira de juiz. A família do Artur Maurício tinha uma casa em frente da que a minha família alugava em S. Martinho e uma das irmãs, a Gabriela (da Farmácia Caldense), casou com um caldense, o Vítor Bernardo, mais conhecido por "Vitoneca".
A nota mais triste e comovente de tudo isto é que Eduardo Prado Coelho, Artur Maurício e Vitor Bernardo faleceram todos recentemente e todos muito cedo, demasiado cedo mesmo...
Uma nota final, agora feliz, para lembrar como merece ser relembrado um homem bom. O Artur, quando acontecia um dia quente, de sol aberto desde manhã, sem vento, recomendava-nos que fôssemos para a praia cedo, aproveitar bem aquela inesperada benesse porque aquele não era um dia, mas "o dia", por só haver um assim em cada Verão, em S. Martinho.
Quando eu era miúda, vivia muito convencida que em cada Verão, em S. Martinho, só havia mesmo hipótese de um único dia verdadeiramente bom, em termos climatéricos, e que esse era "o dia". E assim acontecia, de facto, ano após ano...
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Isabel Xavier
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C O M E N T Á R I O S
João Jales disse:
Li com muito gosto este acrescento à recriação do ambiente de S. Martinho que se vai aqui fazendo. Nem digo nada sobre isso, não vá ser novamente zurzido e acusado de ser anti-martinhista por algum comentador mais exaltado...
Quero apenas acrescentar que ao ler o último parágrafo me lembrei que um amigo escocês, com que troco umas ideias e uns CDs na Net, me contou que no seu país (onde chove 364 dias por ano) se costuma dizer (certamente referindo-se a esse dia que não chove): "este ano o Verão calhou à quarta-feira...". O mesmo se poderia certamente aplicar a S. Martinho.
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Manuela Gama Vieira disse:
Oh Jales, como dizia Jacinto Prado Coelho, a questão era o "microclima"...
1 comentário:
Oh Jales, como diria Jacinto Prado Coelho, a questão é a do "mcroclima"...
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