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Caro J.J.
Falar sobre professores de outras eras, do meu tempo de muito jovem, não é fácil. Passaram-se muitos anos, a noite do tempo esbateu nomes e recordações e a minha idade também vai cobrando o seu tributo, apagando imagens e nomes que ainda ontem estavam mesmo ali.
Meditando sobre essas épocas, apercebo-me de que teria havido uma certa rotatividade dos docentes, sendo que alguns, terão passado pelas nossas vidas de jovens sem deixar qualquer lembrança ou marca que se tivesse mantido até hoje. Foram apenas mais um professor/a. Isto pelo menos no que me toca, outros haverá com quem estabeleceram alguma empatia e que ainda os conservam nas suas recordações.
Tentando corresponder ao pedido do J.J., vou citar alguns nomes, sem qualquer pretensão de ser exaustivo, nem menor consideração por outros. São simplesmente os que na altura em que escrevo me vieram à memória.
As minhas matemáticas liceais, se bem me lembro, tiveram o seu início com o Dr. Abrunhosa, que recordo como homem austero que tentava impor disciplina, a um grupo um tanto ou quanto avesso a semelhante coisa.
A Dra. Lídia que tudo fez para me ensinar Latim e Português. Terá tido um sucesso relativo no Português… mas no latim foi uma desgraça, não por ela, claro.
A Dra. Alda Lopes, que bem tentou, com uma dedicação e competência a toda a prova que eu aprendesse Inglês. Infelizmente não teve um grande sucesso, o aluno era uma catástrofe, mas anos mais tarde foi bem vingada, quando ao chegar ao Canadá aprendi em seis meses o dobro do que deveria ter aprendido em três anos. Claro que era uma questão de pura e simples sobrevivência, mas não só, uma das provas para entrada na universidade obviamente era … Inglês.
O Maestro Carlos Silva, pessoa de grande cultura e educação, com uma paciência sem limites para aturar todas as nossas brincadeiras. Colaborador incansável em tudo o que fosse preparação de grupo coral.
O Dr. Silveira, que não tinha grande jeito para manter alguma disciplina nas aulas.
O Tenente Alves, mais tarde major Alves, pessoa com quem contactei ainda por muitos anos, e a sua Geografia, matéria insípida, mas da qual, não sei bem como, nos conseguiu fazer aprender alguma coisa.
O Dr. Melo que na minha opinião não teria grande jeito para ensinar História e ainda menos para lidar connosco.
O Dr. L. M. Rosa Bruno, excelente professor, com um jeito muito especial para lidar com a malta, conseguindo simultaneamente camaradagem e disciplina, que me conseguiu ensinar matemática, física/química e desenho. Poeta. Um pouco controverso para as convenções sociais da época. Nunca me esquecerei da sua reacção, quando acabado de chegar ao Colégio, foi para o laboratório dar a sua primeira aula prática de química tentando impressionar os seus novos alunos. Claro que alguns (a minha modéstia impede-me de dizer quem foi) tinham conseguido acesso ao laboratório, (era fácil) e mudado os rótulos de diversos frascos com reagentes etc. Foi um fracasso total.
Encarou-nos a todos, riu com gosto e disse: óptimo, verifico que existe um grande interesse pela química e agora toca a emendar tudo, e não repitam, porque pode ser perigoso.
E por aqui termino em definitivo, desejando que isto sirva de arranque para outros dizerem de sua justiça, relembrando um passado já distante, mas que, para quem o viveu, é sempre agradável recordar.
A. J. F. Lopes
Dr. Bruno, Mário Braga,D. Anita,Dra. Lídia,Dra. Alda Lopes e Dr. Azevedo.
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COMENTÁRIOS
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Nani Barosa disse:
Gostei muito de ler o artigo do Dr. Lopes. O meu professor favorito era não só um bom educador, como também um homem bonito!
Ele tinha o dom de trazer a irreverência para a sala de aula de tal forma que toda a irreverência dos alunos se tornava irrelevante! Ele também sabia ser "duro" e sarcástico, mas isso era um mal necessário...
Investia dedicadamente nos seus alunos, a sua presença era muito positiva e transmitia sabedoria duma maneira que seduzia. Não, não estava apaixonada por ele... era mais uma espécie de ídolo! E nem sequer ensinou as minhas disciplinas favoritas, pelo contrário, nunca fui boa a desenho e muito menos a matemática. Imaginem se todos os professores tivessem sido como ele?
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Luis disse:
Há aí pelo meio deste depoimento algumas travessuras e indisciplina, pareceu-me... como é que uma dúzia de anos depois andava este senhor a impôr disciplina e a mandar calar os seus alunos? Ele devia ser pior comportado do que a maioria dos alunos que teve, confesse...
Tenho muitas saudades das aulas e do convívio com o Dr. Lopes!!! Daqui envio um abraço. Luis M
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Júlia Ribeiro disse:
Que delícia ler este artigo do Dr. Lopes !Reviver a sua época de estudante, e os seus professores, gostei particularmente da maneira como a descreve.Que delícia ver fotos do ano em que eu era um bébé ...que ainda usava fraldas e continuei a usar.....de pessoas que seriam mais tarde meus professores também(estou a referir-me à D. Anita,ao Dr. Lopes e ao Dr. Azevedo). Em 1964/65 , estava eu quase a sair, mas o destino estava marcado, encontrámo-nos todos no ERO. Eu, aluna, com 3 professores e 3 grandes Amigos.
Não posso deixar de fazer aqui um reparo.Conheci o Dr. Azevedo em 1958 e nunca imaginei como seria ele 10 anos mais cedo. Que engraçado... tão diferente! A postura,a toilette ... e o cabelo para onde teria ido??
Ao meu querido Professor e Amigo Dr.Lopes um muito obrigado e um grande beijinho. Júlia R
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João Jales disse:
Tem razão o Luis, há realmente um "cheiro" de irreverência, um travo de rebeldia e não-conformismo, neste aluno António José que explicam muita da cumplicidade que caracterizou o professor Dr. Lopes. Muito do humor e da ironia que me lembro de serem típicos nele, tiveram origem no facto de, ao contrário de outros, quando foi colocado "do outro lado da sala", ainda não se ter completamente esquecido do que era estar "do lado de cá".
Hoje temos o depoimento do aluno mas já, em devido tempo, muitos aqui recordaram o professor. Vou recuperar alguns desses testemunhos para integrar nesta série.
Hoje é ao nosso colega António José Figueiredo Lopes que deixo um grande abraço. JJ
João Ramos Franco disse...
A minha memória ERO Miguel Bombarda não é uma realidade vivida, mas contada pelos mais velhos, vindos das antigas instalações e que comigo no ERO “prédio do Crespo”, situado no nº 91 da R. Capitão Filipe de Sousa, conviveram.
A minha memória ERO Miguel Bombarda não é uma realidade vivida, mas contada pelos mais velhos, vindos das antigas instalações e que comigo no ERO “prédio do Crespo”, situado no nº 91 da R. Capitão Filipe de Sousa, conviveram.
Dos professores mencionados só o Maestro Carlos Silva foi meu professor. Conheci o Dr. L. M. Rosa Bruno e Dra. Alda Lopes, mas não como professores.
É bastante provável que conheça António José Figueiredo Lopes mas se te disser que neste momento não estou a ligar o nome à pessoa, é uma realidade.Todas as palavras dos que passaram pelo ERO são bem vindas, mas os do meu tempo continuam sem dar noticias fazendo com que seja mais difícil recordá-lo. João Ramos Franco
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Isabel Esse disse...
Este aluno é a mesma pessoa bem disposta e jovial que me deu aulas vinte anos depois. Está "muy guapo" na fotografia o nosso António José, também deve ter destroçado uns corações naquele tempo. Mas ele disso não fala... Isabel S
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Isabel Esse disse...
Este aluno é a mesma pessoa bem disposta e jovial que me deu aulas vinte anos depois. Está "muy guapo" na fotografia o nosso António José, também deve ter destroçado uns corações naquele tempo. Mas ele disso não fala... Isabel S
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2 comentários:
A minha memória ERO Miguel Bombarda não é uma realidade vivida, mas contada por os mais velhos, vindos das antigas instalações e que comigo no ERO “prédio do Crespo”, situado no nº 91 da R. Capitão Filipe de Sousa, conviveram. Dos professores mencionados só o Maestro Carlos Silva foi meu professor, o Dr. L. M. Rosa Bruno e Dra. Alda Lopes, conheci-os mas não como professores.
É bastante provável que conheça António José Figueiredo Lopes mas se te disser que neste momento não estou a ligar o nome à pessoa, é uma realidade.
Todas as palavras dos que passaram pelo ERO são bem vindas, mas os do meu tempo continuam sem dar noticias e fazem com isso o ser mais difícil de o recordar.
João Ramos Franco
Este aluno é a mesma pessoa bem disposta e jovial que me deu aulas vinte anos depois. Está "muy guapo" na fotografia o nosso António José, também deve ter destroçado uns corações naquele tempo. Mas ele disso não Fala... Isabel S
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