Comentário final de João Ramos Franco
O Almanaque nasceu em 1963 por proposta de Fernando Alberto Pimentel. Mas nasceu pelo desafio que para mim era estar consciente da cultura que eu pensava ter, e que nunca tinha sido posta à prova. De facto, precisava de ouvir alguém falar-me verdadeiramente sobre mim. Houve quem, conhecendo o projecto, reconheceu que eu tinha capacidade cultural para enfrentar o desafio. “Eram poucos mas sinceros”. Cito os seus nomes: Dr. Manuel Ramos Franco, Dr. Correia Rosa, Dr. António Freitas, Ferreira da Silva, Dr. Bento Monteiro, Dr. Carlos Saudade e Silva, Capitão Dario e Dr. Raimundo Neto.
De entre todos escolho dois casos, que têm algo a ver comigo quando escrevo o conto: o Capitão Dário, capitão na reserva forçado pelo regime, e o Dr. Raimundo Neto, meu explicador (para o 7º ano), homem de 60 anos, Licenciado em Ciências Sociais numa Universidade da América do Norte, que tinha vivido em Cuba, em França (onde foi professor na Sorbonne), Moscovo e Argélia( onde também estudou e leccionou). Tinha sido repatriado de França para Portugal e entregue à PIDE, que o colocou com residência fixa nas Caldas e com a proibição de leccionar oficialmente. Lembro-me de que quando da fuga de Álvaro Cunhal e companheiros da Fortaleza de Peniche (1960), foi preso e quando regressou ás Caldas, talvez seis meses mais tarde, a alegria de o rever só era ofuscada pela percepção do estado físico em que se encontrava.
Para todos os que cito o agradecimento é eterno.
O conto “A Praça” e o meu modo de pensar obrigam-me a andar para trás no tempo e referir o meu contacto com a realidade rural do Concelho das Caldas. Meu pai era médico Veterinário Municipal. Com ele acompanhei desde muito novo e aprendi a ver o mundo rural do nosso concelho, com pobres, remediados e ricos, que o compunham. O meu professor neste contacto com esta realidade social rural foi ele, com o seu carácter humano e o seu saber.
Eu sei que é difícil ver a praça como eu a conto, para mim que também a vi alegre e tive noites (quando vinha do Casino) de esperar que a Padaria abrisse e na galhofa com os amigos. Há modos diferentes de a sentir.
À Guidó um obrigado pelas tuas fotografias, gostei de todas elas (os homens da limpeza que ainda não tinham roupa para os proteger da chuva).
Ao João Serra e ao João Jales sei que dizer simplesmente obrigado não é nada perante tudo o que fizeram para que fosse possível esta reedição e para todos vós Antigos Alunos do ERO, comentadores ou não, um abraço amigo.
João Ramos Franco
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