Artur Alves
Este texto foi enviado como comentário aos textos do Abegão, do João Serra e Miguel B M . Por ser muito extenso, e com a concordância do autor, constitui um artigo. Embora talvez não no mesmo registo dos restantes, mas este Blog é um espaço sem censura. JJ
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Tenho lido, com incredulidade e indignação, os diversos ‘depoimentos’ publicados no blogue dos antigos alunos do Ero. A burguesia caldense era elitista - na Zaira e Casino – como se fosse o Jet Set de agora, observado e admirado pelos saloios, que só tinham acesso a locais ‘de segunda classe’ como o Caldas Bar e o Lisbonense. Isto os mais endinheirados, porque os outros ficavam-se pela Tasca do Tó Henriques e os Pimpões ou o ‘Casino da Mangueira’.
Mas a gota de água que me leva a escrever este desabafo é o depoimento do Zé Carlos Abegão em que as profundas diferenças entre os inscritos nas duas escolas aparecem como se fossem simples escolhas deles ou resultado de as pessoas se conhecerem mal! Oh Abegão, que é que te passou pela cabeça? És mais novo que eu mas viste todo esse pessoal da periferia de que falas (e alguns de mais longe) chegar à Escola molhado e cheio de frio, uma lancheira com uma sandes e uma laranja para comer o dia inteiro, continuando teimosamente a estudar porque queriam MAIS. E à custa de si próprios, já que provavelmente as famílias preferiam vê-los a trabalhar a terra ou como aprendizes num sítio qualquer, a ganhar umas coroas para levar para casa. São estes estudantes ‘colegas’ ou ‘iguais’ aos putos queques que iam à Zaira e compravam discos na Tália? Tás a brincar!
Enquanto alguns dos nossos percorriam kms a pé ou de bicicleta, à chuva e ao frio, no colégio havia uma carrinha para os levar do Borlão, ou da Praça!, para não terem que subir a ladeira!!! (Não inventei nada, está lá num post). Tive, na Escola Velha ainda, um amigo que saía de casa, andava uma hora por atalhos para apanhar uma automotora com horários incertos, para chegar umas vezes meia-hora adiantado e outras faltando à primeira aula, era imprevisível. Chegou a dormir em minha casa porque eu sabia que ele, julgo que dois dias por semana, só conseguia chegar a casa às 9 da noite. Sem jantar e para se voltar a levantar antes das 6!!
Enquanto os meninos do Ero compravam Chiclets ou iam tomar uma bica e comprar um SG depois de almoço, a maior parte de nós virávamos os bolsos para uns rebuçados a tostão ou comprar Definitivos à unidade, conforme a idade... E não era no Taiti, não…..
E o elitismo decresceu nos anos 60??? Eu digo até o contrário. Apesar de na década de 50 haver claramente ricos no colégio da Garagem Caldas e pobres na Escola íamos juntos à mocidade portuguesa (Sábado à tarde), jogávamos à bola na mata, íamos ao parque, bebíamos copos na Ginjinha e trocávamos umas chapadas de vez em quando como compete à boa convivência e educação da malta nova…… Os irmãos Morais até estudavam um em cada lado!! E dançávamos todos nos bailaricos do Bairro Da Ponte e do Largo João De Deus, de que ninguém fala agora!!! Com a mudança para os padres e para o alto do monte da Diário de Notícias os alunos do Ero passaram a ignorar o povo cá de baixo. Até tinham uma Princesa!(também soube há dias no blogue deles). Não é por 3 ou 4 terem jogado no Caldas que isto é mentira.
E o amigo Jales (posso tratá-lo assim, conheci bem os seus pais) pode talvez contar que passou por um belo aperto quando no final dos sessentas começou a querer mostrar-se com o Ferreira da Silva Júnior(Raul??)às meninas da Escola. O F da Silva acho eu que namorava uma muito pequenina e o outro andava à pesca… Aqueles dois lingrinhas vestidos de hippies (os putos da Escola achavam que eles eram maricas) a acompanharem cachopas nossas levantou um sururu que deu mesmo porrada em frente à Praça de Touros. Fui eu, que já nem estava na Escola, e o Zé Manel, que trabalhava ali ao pé no Tomás dos Santos, que os safámos. Esta história não está no blogue ou fui eu que não li tudo???
Já se tinham ‘pavoneado’(como gostava de dizer a SUPER HOMEM sobre outro professor) anteriormente pela Escola o Polaroid, o Pitosgas, o Rolim, o Zé António (e outros conquistadores….) mas esses foram à caça……. e acabaram caçados….. Eram os ‘COPINHOS DE LEITE’como lhes chamávamos!!
Vá lá que ainda protestaste por se dizer ser a Zaira o café da juventude caldense…. Essa então é de cabo de esquadra, não sei o que é que ensinaram a esse menino que escreveu isso, mas o Pai dele, que foi meu professor, contava umas galgas da caça e pesca mas não dizia bacoradas dessas!! Mas qual preferência se, àquele ‘ninho das víboras’- era mesmo assim conhecido, não eram só os Bombeiros que tinham alcunha – nem 1% da juventude caldense ia!!! É como eu digo, estão a brincar ou a sonhar com uma coisa que nunca existiu……
Mas o Central, que eu frequentei a partir de 66, já no fim do Curso Comercial, também não era bem a ‘tertúlia intelectual’ que tenho aí visto descrito……. muitos invejosos e também muita má língua e intrigas… Burgueses envergonhados de má consciência, que falavam muito e nada faziam - chamava-lhes um cliente habitual que eu conheci. Há aí uma garota no Blog, mas eu essa não conheço, que falava de haver lá mentes abertas? Só se algum partiu a cabeça! Havia lá uns tipos do reviralho (como lhes chamavam) mas eram mais as vozes que as nozes….
E o Luís Pacheco, a quem escreveram lindas orações fúnebres nos jornais e na nossa Gazeta, não tinha quem lhe pagasse lá uma bica ou sequer permitisse que se sentasse na sua mesa e era enxotado por gente que hoje conta como foi bom conviver com ele…. (se calhar só eu é que me lembro disto?).
Olha o João Serra (será o mesmo que escreve na Gazeta?) preferiu não falar de nada disso nem se meter em alhadas no post dele, mas escreveu assim:
- estereótipos sociais e até ideológicos e que os frequentadores fiéis de cada um dos cafés teriam certamente consciência da etiquetagem…Copiei isto agora de lá e , se bem percebi, é a maneira dele dizer que, se falavam mal dos frequentadores do Central na Zaira, o contrário também era frequente!.... Mas já não diz quem é que comprava as coisas bonitas que havia na Tália!!! Não era eu nem nenhum dos meus colegas, só muito depois de casar é que tive dinheiro para um gira discos.
Não sei quem vai ler isto (espero que chegue pelo menos ao JJ e ao Abegão) mas não podia calar o que realmente se passou. E dizer que só entrei no casino (o nome mesmo penso que era clube de inverno - aquilo não era um casino a sério) quando se transformou em casa da cultura onde havia muitas ideias e boas vontades, mas pouco dinheiro para fazer coisas……O único menino do colégio que lá vi nessa altura foi o Faria (Zé Carlos). Mas sou obrigado a achar mal que hoje não sirva para nada nem para ninguém.
Fui poucas vezes à Zaira, e só anos depois, quando a porta já era a frontaria toda escancarada, a convidar todos a entrar e sem ninguém a ‘cortar’….. mas não era assim em 1962, 1963, e por aí adiante, a porta era mais estreita nessa altura….
Querem saber onde eram os verdadeiros ‘locais onde se encontrava a nossa juventude’? Era nas paragens das camionetas e dos comboios, nas tascas, na Mata e no Parque -porque eram de borla - para os que estudavam. E as fábricas, armazéns e lojas para os que começavam a trabalhar com 12….13…..14 anos!! Eram aprendizes, ganhavam uns tostões e trabalhavam todo o dia, foi o destino da maioria dos meus colegas. Poucos voltavam a ‘estudar à noite’ porque só se podia depois dos 16 anos, e nessa altura a vontade tinha desaparecido..… Estas eram as histórias que um dia destes temos que contar, mas no blogue do Zé Ventura. Porque entretanto os 'copinhos de leite', no blogue do Ero, só contam é histórias do Casino e do Ferro Velho!!!
Um abraço para o Zé Carlos e para o JJ, isto é só a gente a conversar!!! Temos é que ir beber um copo quando eu voltar às Caldas!!!
Artur
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