No Casino além das salas de jogo, do bar e da sala de baile


A Belão não se lembra, mas fui o seu par num dos Bailes da Chita. Ficámos em segundo lugar devido aos habituais "jogos de bastidores", que nos retiraram a merecida medalha de ouro. O nosso Tango, espontâneo e inesquecível, levou a assistência ao rubro!
O boicote das várias eleições no Casino nos anos entre 69 e 73 era um passatempo que desesperava os “organizadores” desses eventos (Dr. Calheiros Viegas e D. Carlota Mendonça à cabeça).

A eleição de que a Belão fala foi a de Miss Praia em 1970, organizada pelo Jornal Capital: a vencedora da Miss Foz do Arelho tinha 120Kg, usava uma cinta sob o (amplo) bikini e dançou a valsa da consagração com a Mãe! O Rui Hipólito tinha 14 anos nesse ano, não foi ele o organizador dessa votação (essa memória, Belão…eu lembro-me quem foram os três autores, mas não digo!). A Capital pagou 5 contos à vencedora na condição de ela não aparecer na final, no Casino do Estoril. Como a segunda classificada (mulher do apresentador e que só concorreu para fazer número) exibia uma extensa cicatriz de uma “apendicite” algo deslocada e demasiado extensa, não houve mesmo representante da Foz na final. No ano seguinte a organização foi no Facho, em S. Martinho, com entradas rigorosamente controladas. Ainda lá fui mas, não me lembro bem porquê, não me deixaram entrar...
Recordo-me também de outra eleição, Miss Hot Pants, ganha por um Travesti com o nome “artístico” de Joana Lages, que provocou uma apoplexia no Dr. Calheiros Viegas, quando este descobriu que tinha espetado dois xoxos num homem ao entregar-lhe o troféu! Foi em 1971, mas também não vou aqui revelar quem era este “artista”. E há muito mais estórias, ficam para outra ocasião.
O Miguel B M relatou na sua crónica a vinda do Paulo de Carvalho, a Belão lembra

Todas estas vedetas passaram pelo Casino pela mão do empresário Vítor Resende, que esteve a um passo de trazer a Shirley Bassey, um dos monstros da canção da altura, ao Casino, num concerto que seria televisionado. Foi em 1969 e falhou o apoio da Câmara, a quem faltou talvez a visão da importância do acontecimento. Outra estória que fica para outra oportunidade.
Só por curiosidade refira-se que as cantoras que a Belão refere tinham direito a uma cabeleireira privativa para a sua actuação. Apesar de cobrar um “cachet” mais baixo, a gorjeta da Hermínia a essa senhora foi dez vezes maior que a da Amália, acreditam?
Foi com uma versão entusiástica de Venus, dos Shocking Blue, que os Xaranga Beat “convenceram” o Zé Augusto a contratá-los para a sua primeira temporada no Casino (15 de Julho a 15 de Setembro de 1970).
Penso que sobre o Xaranga a autora conta tudo, faltou talvez mencionar o Rui Reis, pianista, de quem me lembro particularmente bem. Escreveu-me posteriormente a Belão: O Rui Reis (esqueci-me de falar nele) é na fase do Júlio Pereira, Patrício, Cavalheiro e Rui Venâncio.
Eu fiz amizade com o Rui porque era um dos membros da banda que mais e melhor conhecia os novos movimentos musicais ingleses e americanos. Lembro-me do entusiasmo com que tentou introduzir no reportório do Xaranga algumas músicas mais próximas de um Rock mais adulto e ambicioso que emergia na altura. "America" (Leonard Bernstein), conforme já mencionei anteriormente, foi um dos exemplos mas lembro-me de lhe fornecer letra, e gravações de muitas canções.
Deixei para o fim, por ser uma nota mais longa, a referência da Belão a “Joseph”, o primeiro single de Moustaqui como cantor, editado em 1968.
Georges Moustaqui chamou-se Joseph, Giuseppe e Yussuf Mustacchi, em diversos momentos. Eu explico: este francês, filho de grego e arménia nascido no Egipto, teve documentos com todos esses nomes! Na década de 50, já sediado em França, tornou-se conhecido como compositor ajudando as carreiras de, entre outros, Charles Trenet, Yves Montand , Juliette Gréco, Colette Renard, Pia Colombo, Dalida, Tino Rossi e Barbara. Ao compor "Milord" para Piaf em 1959, quando mantinha com ela um romance, tornou-se célebre. É cantado por Reggiani e Brassens nos primeiros anos da nova década. Mas só em 1968, durante uma tournée com Barbara, sua companheira na altura, acometida de uma doença súbita, foi “obrigado” a cantar em público. Um ano depois “Le Métèque” (estrangeiro, apátrida) torna-o uma estrela mundial.
Uma imagem de libertário utópico, fraternal e amigável, pregando a paz e harmonia universal torna-o irresistível para a geração de 60. Continua a cantar e dar espectáculos até hoje, com setenta e três anos de idade. A maioria dos seus álbuns chamam-se simplesmente “Georges Moustaqui”, para desespero dos seus inúmeros admiradores e coleccionadores, obrigados a usar o ano de edição ou o nome da primeira canção de cada um deles para os distinguir.
Tentei não me repetir em relação a algumas notas que já tinha escrito sobre o Casino a propósito do depoimento do Miguel B M. Quem não tiver lido pode ir a Notas e comentários a "Os Locais do Miguel B M"
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JJ
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