Alfredo Justiça (O Bordalês)
Tenho lido no Blog a descrição de locais frequentados pelos ex-alunos ERO. Tem sido um reavivar de memórias que julgava esquecidas mas que afinal apenas estavam arquivados no mais profundo local do cérebro e passados 41 a 47 anos (1961-1967) as imagens retomam o seu lugar com uma nitidez que impressiona.
Ora de todos os locais já descritos e por mim lidos há alguns que ainda não foram citados mas que, no entanto, marcaram a nossa aprendizagem. Um deles refere-se aquela rua sita nas traseiras do Museu Malhoa onde no princípio e, em meados, da década de sessenta se podia aprender a andar de bicicleta. Pois era aí que, por uma pequena quantia, se alugavam bicicletas e se aprendia uma “arte” que fica para o resto da vida… “andar de bicicleta”. Muito “trambolhão” dei eu nessa rua antes de dominar esses “bichos de duas rodas”, quais indomáveis selvagens que me atiravam para o saibro e pedras da rua e me provocavam escoriações e… amargos de boca ao chegar a casa… sim, porque o mal não estava nos joelhos feridos e a deitarem sangue… isso era o mal menor… o mal situava-se nas calças rasgadas e isso era imperdoável para o meu pai que via assim as finanças da casa a “andarem para trás”.
O certo é que foi graças a este local que consegui a licença camarária para poder conduzir esses animais “ziguezaguiantes” dentro das povoações… sim meus jovens de hoje… era necessária uma licença… qual carta de condução… para poder ter e usufruir o prazer de conduzir uma máquina dessas.
Há um outro local, ainda não descrito, embora já mencionado, que era o Café e Sala de Jogos “O Marinto” onde passei muitas horas a aprender, e dominar, a “arte” do bilhar e… a aprender a saborear um belíssimo “prego” com mostarda e tudo… e o “tudo” refere-se a uma Larangina C. Pensavam o quê? Que eram “Imperiais”. Não. Ao tempo a cerveja e o vinho e outras bebidas mais generosas só ás escondidas… e bem escondidas e a horas párias onde “não desse nas vistas” o efeito deambulante que provocam.
Já agora… e só para os “Bordaleses e Bordalesas”, que tal o sabor daquelas sandes de atum que eram servidas no bar da cantina da Escola. Voltaram, porventura, a comer umas sandes dessa categoria? Duvido!
Foi nessa rua, a rua dos “trambolhões”, que comecei a ensaiar a arte mais antiga da humanidade… o namoro. Pasmem-se os jovens de agora, com a mesma mulher e aquela que anos mais tarde me deu filhas e cedo… demasiado cedo… partiu e encontra-se, tenho a certeza, sentada á direita do Pai, lá no Céu, a olhar para mim e por mim e pelas filhas e neta.
Recordo… com saudade… esses tempos. Ingénuos e despreocupados… despreocupados apenas dos grandes problemas da vida de então. Preocupados, isso sim, com os problemas de então… aulas, estudos, exames, etc…
Com estes “meus locais” quis levar à escrita os locais mais simplórios de então, mas tão importantes como os outros, mais assíduos e frequentados por nós. Recordam, por acaso, o carrinho do Pacheco, aquele velhote que vendia gelados, barquilhos e bolacha americana e fazia a sua paragem na entrada da Escola Comercial e Industrial junto ao Chafariz das 5 Bicas. Era um local estratega pois aí apanhava os alunos da Escola, à saída e entrada, e os alunos do ERO que passavam vindos do Externato e desciam a rua até ao centro da Cidade. O velho Pacheco…
Outro local, também frequentado era o bar da Estação da CP já para não falar das salas de espera onde se passavam horas. Quem tinha aulas a começarem às 8h30 era forçoso chegar às Caldas na automotora das 6h30 porque o horário seguinte era por volta das 9h15 o que não dava tempo para cumprir horas de entrada.
Muitos outros locais me vêem à memória mas fico por aqui para não maçar.
Continuem a desenvolver este tema pois ele é gratificante para nós e… afinal concluímos que valeu a pena.
Abraços
A. Justiça
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
COMENTÁRIOS
Fiquei particularmente satisfeito por receber este depoimento porque, depois de delicadamente ter declinado o primeiro convite para colaborar, o Alfredo Justiça acabou, por iniciativa própria, por nos enviar este interessante texto. Interpretei como um sinal que foi apreciando a série.
.
As datas estão no texto, não precisamos de adivinhar.
.
Também aprendi a andar de bicicleta nessa zona mas a minha "instrutora" preferia aquela avenida que ladeava o recinto das bicicletas, "armadilhada" de árvores de ambos os lados. Escusado será dizer que só me lembro das árvores a saltarem para a frente da roda dianteira!
.
Mais uma vez temos a memória da estação da CP como local de encontro dos moradores na periferia caldense, na medida em que os horários dos transportes públicos não serviam os alunos ao não se enquadrarem no horário escolar (do ERO e Escola). Esse tipo de problema já foi aqui levantado pelo João Serra, Júlia Ribeiro. Artur Alves e agora pelo A Justiça.
.
As sandes de atum eram um exclusivo bordalês a que não tive acesso...
.
Um abraço e um agradecimento a mais um colega da Escola que colabora nesta série. Até à próxima.
.
JJ
.
05-05-2008
o das caldas disse:
E as bicicletas, para que conste, eram do Pina Moura. Higino Rebelo
.
05-05-2008
Jorge disse:
Conheci alguns colegas da Escola mas não me lembro do Alfredo, parece ser um pouco mais velho do que o meu ano. E do que se lembrou ele, do aprender a andar de bicicleta no Parque!! Andámos lá todos.
parabéns JJ por convidares os colegas da escola, Jorge
Sem comentários:
Enviar um comentário