Hoje não resisto a comentar, ou antes a testemunhar as minhas vivências nas praças das Caldas, quase desde que nasci....
Havia 3 Praças nas Caldas: a actual e que permanece, a Praça do Peixe, mas junto a esta última, havia a Praça da Criação, localizada no actual local das esplanadas.
Nesta última a minha mãe ia vender os coelhos, galinhas, ovos, perus e também patos ou mais alguma espécie de criação criada na Quinta por ela. E, aqui, estou a rever as ninhadas de coelhos pequeninos, que sempre me repugnaram mexer por se assemelharem a ratos ,os bicos dos pintainhos a picar a casca do ovo para saírem, enfim, a vivência do campo em que fui criada. Não sei quando acabou a praça da Criação, pois segundo o que o Jales descreve, já estaria tudo misturado quando andou a correr à volta da Igreja a apanhar os coelhos.
Quanto à Praça da Fruta, assim chamada na altura, o meu avô paterno foi um desses vendedores que não tinham lugar marcado, durante muitos anos! Recordo-me, à 2ª feira, vê-lo chegar na carroça que o tinha levado de madrugada. Quando eu tinha 4 anos o meu pai teve o seu 1º carro- uma furgoneta Austin HF-17-31 verde (provavelmente graças ao árduo trabalho do meu avô Romão).A carroça foi então substituída pelo carro em 1952, e assim a viagem tornava-se menos penosa....
Ao entrar para o Colégio, sendo o meu meio de transporte habitual Óbidos - Caldas a camioneta dos Capristanos, à 2ªfeira ia juntamente com as peras, maçãs, batatas, cebolas, etc.
Penso que durante os anos que frequentei o Colégio o meu avô frequentou a praça e vou contar um facto que para mim, e provavelmente quase todos da minha geração, demonstra a evolução do tempo e o que para mim foi tão marcante : após o almoço passava pela praça dar um beijinho ao avô e ele dava-me 25 tostões para ir à Frami comprar um bolo, habitualmente um pastel de nata.
Com todo o esforço e trabalho do MEU AVÔ e dos MEUS PAIS, estudei, fui para a Faculdade, tirei um curso e aqui estou no BLOG convosco, a relembrar tempos fantásticos.....
UM MUITO OBRIGADA ao MEU AVÔ ROMÂO aos MEUS PAIS e a VOCÊS “que foram à PRAÇA”.
VIVA a PRAÇA!!!
Júlia R
----------------------------------------------------------------------------------------------------
COMENTÁRIOS
.
João Jales disse:
Este é um dos textos mais bonitos que tive o prazer de publicar no Blog. Se, como acredito, escrever bem é transmitir emoções aos outros, este texto é imbatível.
Tens mais surpresas destas para nós, Júlia? Espero que sim. JJ
.
Manuela Gama Vieira disse:
Amor, Partilha, Ternura e Gratidão!
Não encontro mais palavras...e as palavras valem o que valem!
Muito obrigada. Manuela Gama Vieira
Não encontro mais palavras...e as palavras valem o que valem!
Muito obrigada. Manuela Gama Vieira
.
Isabel Esse disse:
São realmente palavras que parecem brotar do coração.Embora não conheça a Julia, que deve ser mais velha pelo que diz,daqui lhe envio sinceras felicitações por esta bonita prosa.Beijinhos.Isabel
São realmente palavras que parecem brotar do coração.Embora não conheça a Julia, que deve ser mais velha pelo que diz,daqui lhe envio sinceras felicitações por esta bonita prosa.Beijinhos.Isabel
.
João B Serra disse:
Excelente. Mais um momento alto do blog, e certamente dos mais tocantes e genuinos.
.
São Caixinha disse:
Adorei o teu texto sobre a praça, Júlia! Escreveste com o coração e tocaste-nos! Um beijinho para ti. São
.
António Fialho Marcelino disse:
Júlia:
Quase que me puseste a chorar. Fizeste-me lembrar os sacrifícios que o meu pai e a minha mãe fizeram para que eu estudasse no ERO. Com descrições como aquela que escreveste no blog, estamos a fazer a grande história do que foi o Ramalho Ortigão.
Não nos esqueçamos das assimetrias existentes entre os alunos que, justiça seja feita, não era visível, pelo menos eu nunca a senti. Obrigado pela prosa. Tó-Quim
.
Isabel Cx disse:
O texto da Júlia é admirável!Brilha pelo valor de sentimentos e pela honestidade dos mesmos.E que querido o reconhecimento da Júlia pelo esforco e trabalho do avô e dos pais!Sem dúvida notável tarefa da parte deles, onde empenharam muita energia e muito trabalho. E, tal como eles sentiram, tal empenho não podia estar entregue em mãos mais responsáveis e capazes! Uma jóia esta 'nossa' Júlia...
Junto-me ao JJ no pedido de que ela se vá revelando em mais destes maravilhosos textos. Beijinho com saudades à Júlia! Isabel
.
João Ramos Franco
As recordações da tua vivência, estão no meu conto A Praça. Foi para todos vós, que dependiam do que nela vendiam, que eu o escrevi.
A alegria de quem lá comprava eram os cestos e o conteúdo do que lhe interessava comprar; tudo o resto que nos contas não estava lá para venda.
Um abraço amigo do João Ramos Franco
A alegria de quem lá comprava eram os cestos e o conteúdo do que lhe interessava comprar; tudo o resto que nos contas não estava lá para venda.
Um abraço amigo do João Ramos Franco
.
Anabela Miguel disse:
Quantas saudades das minhas idas à praça com a minha Mãe!!!!
Todo aquele cheiro e cor que me encantava e pensar no sacrifício de todas aquelas pessoas para que nós, os citadinos, pudéssemos ter todos os dias os produtos fresquinhos e saudáveis.
Um texto lindo o que escreveu a Júlia com muita ternura, muita gratidão e principalmente com muita HUMILDADE. Bjs. Anabela M
Quantas saudades das minhas idas à praça com a minha Mãe!!!!
Todo aquele cheiro e cor que me encantava e pensar no sacrifício de todas aquelas pessoas para que nós, os citadinos, pudéssemos ter todos os dias os produtos fresquinhos e saudáveis.
Um texto lindo o que escreveu a Júlia com muita ternura, muita gratidão e principalmente com muita HUMILDADE. Bjs. Anabela M
.
Ana Nascimento disse:
Julinha
Dizes tu que não tens grande queda para a escrita !!!!! Fizeste-o com o coração e…. lá fiquei eu a chorar ,cachopa !!!!!!
Sempre soube que és uma miúda muito bem formada, mas não pensei que tivesses uma alma tão grande ….
Agora é a minha vez de dizer um obrigada ao teu Avô e aos teus Pais por seres a mulher que és …
Beijinhos amiga
Ana
Ana Nascimento disse:
Julinha
Dizes tu que não tens grande queda para a escrita !!!!! Fizeste-o com o coração e…. lá fiquei eu a chorar ,cachopa !!!!!!
Sempre soube que és uma miúda muito bem formada, mas não pensei que tivesses uma alma tão grande ….
Agora é a minha vez de dizer um obrigada ao teu Avô e aos teus Pais por seres a mulher que és …
Beijinhos amiga
Ana
.
Laura disse:
Júlia não podia deixar de escrever umas palavrinhas sobre o teu maravilhoso texto.
Foi escrito com o coração nas mãos, e isso tocou-me muito.
Recordaste e agradeceste o melhor que te aconteceu desde criança.
Fizeste-me lembrar todos os pais como os teus e os meus, que tantos sacrifícios fizeram para que os seus filhos pudessem ter uma vida diferente da deles.
Conseguiste também mostrar que os alunos do Colégio não pertenciam todos a uma classe elitista, e por isso, o meu muito obrigado.
Se bem me recordo, pois morava perto da praça da criação, foi já depois de 1977, que essa praça acabou.
Então sim, a partir daí ,o Jales podia correr à volta da Igreja enquanto os bichos estavam misturados com a hortaliça na Praça da Fruta.
Foi escrito com o coração nas mãos, e isso tocou-me muito.
Recordaste e agradeceste o melhor que te aconteceu desde criança.
Fizeste-me lembrar todos os pais como os teus e os meus, que tantos sacrifícios fizeram para que os seus filhos pudessem ter uma vida diferente da deles.
Conseguiste também mostrar que os alunos do Colégio não pertenciam todos a uma classe elitista, e por isso, o meu muito obrigado.
Se bem me recordo, pois morava perto da praça da criação, foi já depois de 1977, que essa praça acabou.
Então sim, a partir daí ,o Jales podia correr à volta da Igreja enquanto os bichos estavam misturados com a hortaliça na Praça da Fruta.
.
Fernando Santos disse:
O texto da Júlia é sem dúvida uma demonstração de ternura e boa memória. Em 1952 ela tinha 4 anos e eu 19. Portanto lembro-me muito bem da Praça da Criação, que segundo creio só se realizava ás segundas-feiras tal como o mercado do gado no Largo da Feira Velha ao fundo da Rua da Ilha.
Também a minha mãe costumava discutir o preço de tudo o que comprava, não só na praça, mas também nas lojas de roupa e sapatarias.
Mas voltando à Praça do Peixe. Por acaso haverá por aí no Blog alguém que se recorde dos Ouriços do Mar e dos Percebes que se vendiam no lado direito próximo da Rua do Sacramento ? Só apareciam na altura das chamadas Marés Vivas, e eram trazidos por vendedores da Serra do Bouro que os apanhavam nas Arribas quando o mar permitia.E as enguias do Nadadouro e do Bom Sucesso? Que belos ensopados!
Um beijinho para a Júlia e o meu obrigado por trazer para o Blog memórias que recordo com tanta saudade.Fernando Santos.
.
JJ disse:
A memória do Fernando Santos é excelente e confirma que o mercado da criação se realizava junto ao Pinheiro Chagas, mas semanal e não diariamente.
Está pois correcta a memória, minha e de vendedoras com quem falei, de coexistirem na Praça fruta, hortaliça e animais de criação na década de sessenta.
.
A. Justiça disse:
Para além destas Praças existia ainda, salvo erro de memória às segundas-feiras, o mercado de produtos hortícolas que se estendia desde o Largo da Estação da CP até junto ao antigo Quartel dos Bombeiros. A.Justiça
.
Ana Nascimento disse:
Tens razão, essa feira às 2ªs., vulgo, A feira das Caldas, teve "assento" na Avª. durante algum tempo e depois passou para os terrenos onde hoje está a Biblioteca. Aí, além das hortaliças, encontrávamos outros "produtos" como os "atoalhados" e o calçado... Era o máximo ter uns sapatos de carneira com atacadores !!!! a Betinha (Bicho)mandou fazer uns que eram um espectáculo. E agora pergunto eu : Oh Betinha será que ainda tens os sapatos? BjinhosAna
.
JJ disse:
Estou à espera de uma resposta da tua amiga Betinha Bicho desde Agosto... Será que ela te vai responder a ti?
3 comentários:
Amor, Partilha, Ternura e Gratidão!
Não encontro mais palavras...e as palavras valem o que valem!
Muito obrigada
Manuela Gama Vieira
São realmente palavras que parecem brotar do coração.Embora não conheça a Julia, que deve ser mais velha pelo que diz,daqui lhe envio sinceras felicitações por esta bonita prosa.
Beijinhos.Isabel
Para além destas Praças existia ainda, salvo erro de memória às segundas-feiras, o mercado de produtos hortícolas que se estendia desde o Largo da Estação da CP até junto ao antigo Quartel dos Bombeiros.
A.Justiça
Enviar um comentário