ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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OS CINCO

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. . . . . .São Martinho, 1953.

Ensaio (inédito) para o famoso túnel
por João B Serra
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Só podes voltar ao banho às 5, sentenciava a minha Mãe, quando dava o almoço por encerrado. 3 horas de espera! Que faz um miúdo de 8 anos durante 3 intermináveis horas na praia?

Estávamos numa pequena casa alugada em S. Martinho, praia que os médicos aconselhavam para crianças, menos agressiva em iodo que as restantes praias da região, dizia-se.

O que é que eu faço? insistia eu, na esperança ingénua de assim ganhar uns minutos à sentença de esperar pelas 5, ou obter uma qualquer boa sugestão de entretenimento. Mas o quê?

Podia ir passear à beira-mar, mas nem pensar sequer em molhar os pés. Um suplício! Brincar com outros rapazes? Impossível. Àquela hora, os veraneantes de S. Martinho, estavam recolhidos na suas vivendas e os filhos passavam a hora da digestão em jogos de casa ou jardim. Eu, que pela primeira vez estava naquela praia (que logo comecei a detestar), numa modesta casita à beira da estrada, não conhecia ninguém.

A minha Mãe tentou então resolver aquele problema recorrendo a uma vizinha de barraca, que tinha duas filhas. No dia seguinte, as duas raparigas, uma da minha idade, a Té, e outra um pouco mais velha, a Nô, convidaram-me gentilmente para ir a casa delas depois de almoço.

As raparigas eram ambas muito bonitas e a Nô muito simpática. Mas, bicho-do-mato como era, o convite deixou-me constrangido. Tinha tido muito pouca convivência com raparigas, se exceptuarmos os episódicos encontros de poucos dias com primas, pois na aldeia a diferenças de classes era inibidora da convivência e eu tivera uma experiência limitada da escola pública. De qualquer forma, nunca conhecera raparigas que respondessem pelo nome Té ou Nô. Conhecera Laurindas, Ermelindas, Francelinas e Rosas.

A minha Mãe conduziu-me à casa da vizinha de barraca e a Nô veio receber-me à porta e levar-me até ao quarto ocupado por ela e pela irmã. Seguiu-se uma tentativa de encontrar um jogo, um passatempo em que eu pudesse participar. Sem sucesso. Não conhecia, não sabia jogar, nunca tinha ouvido falar. A que é que sabes jogar? perguntou delicadamente a Nô. Às escondidas, respondi de pronto, mas no campo. Jogo às escondidas com os meus primos, quando vêm de férias. Sei jogar às cartas. À bisca de 4 e de 9, costumo jogar com o Titina. À canasta, sabes. À quê? perguntei. Também sei jogar ao chinquilho, mas aqui nunca vi nenhum e de qualquer modo não é jogo de mulheres.

A Té riu e não gostei nada daquele riso. Então a Nô propôs: bem vamos ler. Temos aqui livros: olhei para a estante e escolhi um livro. Nunca tinha lido um livro e não sabia ler muito bem. Mas soletrei com o que me parecia, apesar de tudo, ser grande rapidez. Chamava-se “Os Cinco na Casa do Mocho”. Achei graça ao título. Os mochos não eram animais muito populares na minha aldeia e a minha Mãe ficava inquieta sempre que ouvia o seu pio nas noites serenas. A Nô e a Té escolheram também livros que tinham nos títulos as palavras “Os Cinco”. A Nô propôs um jogo: vamos ver quem lê mais depressa. Há uma surpresa para quem ganhar.


Comecei a ler, disposto a saltar páginas para chegar mais depressa ao fim. Mas cedo me senti preso pela narrativa. Nunca tinha lido nada de semelhante. A Nô acabou depressa o livro dela e a Té desistiu logo a seguir. Vamos até á marginal, disseram. Eu continuava a ler a aventura dos “Cinco”. Dez minutos antes das 5, a minha mãe chamou-me. Estava na hora do banho. Oh, Mãe, resmunguei. Já?... Só mais um bocadinho! Estou quase a acabar.
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JBSerra

Sáo Martinho, 1957- Os Quatro (da esquerda para a direita): Nô, João, Té, “Tim”.

1 comentário:

vasco disse...

este rapaz é mesmo uma mais valia :-)no nosso blog. Um abraço João e faz o favor de continuar. Vasco