ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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D. ESPERANÇA

por Isabel Caixinha





.Desenho de São Caixinha




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As minhas recordações da D. Esperança começam uns anos antes de eu entrar para a primeira classe.

Ainda não tinha três anos quando mudámos para as Caldas, vindos de Lisboa, e passados alguns meses estava o ERO a ser inaugurado e a entrar em funcionamento. De todo o lado chegaram alunos e professores que povoaram as salas e os recreios.

Como eu ainda não tinha idade para entrar para a escola passava grande parte dos dias na rua a brincar. Colecionava pedras que me pareciam bonitas, fazia construções na areia que tinha sobrado das obras e brincava com os cães vadios que abundavam por ali. Passaria a maior parte do tempo sózinha se nao fosse a simpática visita que nos intervalos das aulas frequentemente tinha – a da D. Esperanca! Brincava comigo, pegava-me ao colo e ensinava-me coisas. Era muito paciente e carinhosa e de uma extraordinária doçura!

Quando me pegava ao colo e eu estava mais perto do seu rosto, podia apreciá-la de perto. Cheirava bem, a pó de arroz, tinha um colar de pérolas que para mim era um verdadeiro tesouro e tinha umas mãos bonitas com as unhas pintadas com verniz...sentia-me segura ao colo dela e havia algo de muito maternal nas suas atitudes. Sorria frequentemente entre as palavras que ia dizendo e sempre ao despedir-se no final do intervalo... eu permanecia na minha empoeirada “selva” mas agora com o mágico cheirinho a pó de arroz no meu nariz!!

Mais tarde quando entrei para a primeira classe pude então mais completamente desfrutar da sua personalidade. E com que atenção eu a apreciava. Ainda hoje me lembro como ela pegava no livro para ler a lição, com que gestos acompanhava as suas palavras e como sorria! Tinha uma paciência infinita e uma inesgotável boa vontade.

Sempre tive grande admiração por ela e nem mesmo quando, um dia pelo carnaval, ela me castigou essa admiração diminuiu... tinhamos acabado de regressar do recreio e na sala predominava ainda a excitação das brincadeiras de há pouco. Na confusão um colega deu-me um toque no braço obrigando-me, por descuido, a largar o estalinho de carnaval que trazia na mão, causando o berrante estalido que lhe é peculiar! Seguiu-se um silêncio ameaçador, a D. Esperança dirigiu-se no meu sentido e de régua empunhada fez um gesto com a cabeça indicativo para eu estender a mão...e assim foi, as reguadas fizeram-se sentir!!! Na realidade doeu-me mais a alma que a mão, ao ser castigada desta maneira pela minha professora, que sentia mais como uma amiga. Contudo compreendi que ela tinha razão e em breve tudo voltou ao normal.

Mais tarde quando o nosso também tão querido Dr. Serafim passou a ser presença certa ao seu lado ela só me parecia ainda mais feliz...e esta é a memória que guardo com carinho da minha primeira professora e amiga.

Isabel Caixinha

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C O M E N T Á R I O S
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farofia disse...
Parabéns à Isabel Caixinha por este retrato perfumado a pó de arroz. E Parabéns à São Caixinha pelo desenho. É um espanto descobrir os pormenores,da roupa,incrível, identifiquei o fato com que me retratou!

A minha primeira amiga nas Caldas e minha ‘password’ de acesso a professora do ERO foi Esperança, a namorada do Dr. Serafim.

‘Venha, damos-lhe boleia para baixo!’ chamou ele enquanto ela - sorrindo como um sol – já se torcia e ao braço a abrir a porta de trás do automóvel. Como quem abria o coração!

Aceitei a boleia, que a ladeira era íngreme, mesmo para descer, e a partir daí ficámos irmãs de armas. Se éramos iguaizinhas, a mesma idade, a mesma vontade de rir, o mesmo prazer de conquistar a vida!

Só que nela havia uma força solidária imparável! estimulante ou protectora. Maternal, como diz a Isabel.
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João Jales disse:
Tive, ao longo da minha primeira leitura deste texto, a sensação de estar a ler realmente o depoimento de uma miúda actual que está a falar sobre a sua professora do ano passado... Disse à Isabel que ela tinha seguramente "regressado" de alguma forma a um tempo anterior para escrever o que escreveu.

Os desenhos da São constituem uma das grandes revelações, e mais valias, desta série. Que é que eu digo, felicito-a outra vez?

Beijinhos às manas. Segue-se a minha sugestão musical para acompanhar o texto. JJ
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Júlia R disse:
Bem,ausento-me 2 a 3 dias e tive que fazer uma corrida a 1000 Km/h para apanhar o comboio !!! De seguida, com os textos e comentários que vi em diagonal,tive que ir tomar o pequeno almoço,porque de certeza,com as emoções fortes e as gargalhadas não aguentaria em jejum...

Não sei por onde, nem como começar .Vou pelo inicio,ou pelo fim,conforme a ordem que lhe queiram dar.

São Cx, se as tuas caricaturas têm sido tão reais,esta é mais uma que retrata muito bem a Esperança, Muitos Parabéns. O texto da Isabel está uma delicía, uma ternura...que até me veio um cheirinho a" pó de arroz", não só pela descrição que faz da Esperança e me encantou, mas também pelo carinho e sensibilidade com que o fez.

Conheci a Esperança, naquela altura como irmã da Manela Carvalheiro,como aluna do Magistério Primário e sempre senti por ela uma grande admiração. Este "calor" com que a Isabel a aqueceu transportou-me a um passado real .Que excelente pessoa a Esperança !

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Isabel X disse:

Tão bem que se completam as manas São e Isabel Caixinha no retrato desenhado e escrito que fazem da D. Esperança! Do carácter maternal de que fala a Isabel, nos dá plena expressão o desenho da São.

Como fiz a primeira classe e a segunda em casa, com a minha avó materna, que era professora primária embora não exercesse a profissão, e a minha turma passou para a D. Clarisse na quarta classe, só fui aluna da D. Esperança na terceira. Nem pude apreciá-la completamente, tal o desgosto em que eu andava por já não estar, como tanto gostava, a aprender em casa com a minha avó (ainda hoje penso que tenho um amor especial pela leitura e pela escrita por tê-las aprendido com ela). No entanto, lembro-me da renitência da D. Esperança em bater nos alunos como era então prática corrente. Lembro-me principalmente da Paula Lopes dar muitos erros ortográficos e o Dr. Lopes, pai dela, querer que a professora lhe desse uma palmatoada por cada erro. Julgo lembrar-me que a D. Esperança lhas dava, muito ao de leve, a partir dos oito erros, e que lhe custava mais a ela fazê-lo do que à Paula apanhá-las.

Também eu e a Natércia Monteiro levámos umas sacudidelas uma vez em que imitamos a D. Dora a cantar na missa e esta foi à nossa aula exigir, sem arredar pé dali, que a D. Esperança nos batesse; dizia que nós tínhamos estado aos gritos e nós defendíamo-nos dizendo que era assim que cantávamos...

- Isabel Xavier -
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JJ disse:

Finalmente alguém refere a idiossincrática voz da D. Dora! Durante anos, ao ler o Tintin, cada vez que a famosa Castafiore aparecia nos quadradinhos era essa voz que eu imaginava. Aguda, penetrante, sempre bem alta e fazendo-nos desejar estar a léguas de distância!

Suponho que o empenho e a energia corresponderiam a um grande fervor religioso e uma inconsciência absoluta dos danos que causava nos tímpanos dos que com ela partilhavam a igreja. Eu morava num terceiro andar, do outro lado da rua e, apesar da distância, sabia sempre quando a D. Dora estava no coro.
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Inolvidável.
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Manuela Gama Vieira disse:

São, prodigiosa a sua memória! Como se lembra das toillettes das Professoras do Colégio, para as vestir tão fidedignamente, a ponto de a Drª Inês reconhecer a dela? Os olhos são o espelho da alma...

Da Srª D. Esperança recordo o semblante plácido, o olhar meigo e doce, característicos de pessoas boas. Pelos testemunhos de ex-alunas, confirma-se a minha recordação. Já aqui disse e repito: há professores que nos deixaram lembranças, outros deixaram-nos recordações e estas viverão perenemente na nossa memória! A Srª D. Esperança, pelas características que referi e me eram agradáveis, povoa as minhas recordações.
Manuela Gama Vieira
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Paulinha Pardal disse:
.............Tambem não quero deixar de dar os parabéns à São e à Isabel pelo texto e a caricatura da D. Esperança, como sempre estão fantásticas!
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Amélia Viana disse:
Um pouco atrasada, é certo, mas não quero deixar de felicitar as manas São e Isabel, que estão a revelar-se, sem dúvida, umas "Caixinhas" de surpresas...Estavam de facto maravilhosos quer o texto quer a caricatura da Esperança ,colega do ERO, embora do Magistério, que recordo também com muito carinho.Recordo especialmente seu porte afável, seu semblante sereno e olhar doce, característico de quem está de bem consigo e de bem com o mundo.
Um abraço. Amélia Teotónio

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns à Isabel Caixinha por este retrato perfumado a pó de arroz. E Parabéns à São Caixinha pelo desenho. É um espanto descobrir os pormenores,da roupa,incrível, identifiquei o fato com que me retratou!

A minha primeira amiga nas Caldas e minha ‘password’ de acesso a professora do ERO foi Esperança, a namorada do Dr. Serafim.
‘Venha, damos-lhe boleia para baixo!’ chamou ele enquanto ela - sorrindo como um sol – já se torcia e ao braço a abrir a porta de trás do automóvel. Como quem abria o coração!
Aceitei a boleia, que a ladeira era íngreme, mesmo para descer, e a partir daí ficámos irmãs de armas. Se éramos iguaizinhas, a mesma idade, a mesma vontade de rir, o mesmo prazer de conquistar a vida!
Só que nela havia uma força solidária imparável! estimulante ou protectora. Maternal, como diz a Isabel.