O falecimento do padre António Emílio
Uma dolorosa surpresa me deu a notícia, tarde, da morte do meu querido companheiro de infância António Emílio de Figueiredo. Toda a infância comum deslizou numa recordação saudosa de tempos e lugares desaparecidos, de brincadeiras, gritos e gestos que encenavam o brincar de dois vizinhos, sempre amigos, num tempo em que agarrados a uma tábua com quatro rodas, feitas de caixa de pomada, descíamos a Rua Heróis da Grande Guerra até à Estrada da Foz sem que nem sequer um automóvel estorvasse essa aventura – hoje impossível.
E ainda não havia a Rainha, o que quer dizer que ainda não tínhamos 9 anos. E como eram maduros, os miúdos naquele tempo. Eu comecei a trabalhar com 11 anos e o António Emílio, feito o exame primário, foi pela madrinha levado ao seminário. Nunca esmoreceram as nossas relações. O sorriso aberto do António Emílio foi sempre para mim um sol sem núvens e era com um sentimento profundo de grande afecto que lhe ouvi muitas vezes dizer que compreendia muito bem a minha descrença e que nunca a fé ou a sua falta podia ser a pedra onde tropeçasse a nossa amizade.
- Que grande homem foi António Emílio!
Temos sempre muita pena por perdermos os nossos amigos e um dos deveres que nos ficam é testemunhar à sua família que partilhamos o seu desgosto.
Hermínio de Oliveira
(Texto publicado no Jornal das Caldas em 26 de Março de 2008)
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