A leitura de "CORRESPONDÊNCIA" trouxe à memória uma série de referências da década de 60 (não leia o que se segue sem ler ANTES esse artigo, que está imediatamente abaixo) . Embora mais novo, eu estava no 1º ano e não no 5º como a Eva e o Mário, todas me são familiares. Mas não tanto para alguns, mais esquecidos, que, por mail ou pessoalmente, me interrogaram sobre um nome ou outro dos mencionados no texto. Para esses, e alguns dos outros que tenham paciência para estas memórias, decidi fazer um pequeno Who’s Who do artigo (é claro que inventei as interrogações, eu precisava de um pretexto para escrever isto).
O Dr. Lopes é o Dr. António José Lopes, professor de Geometria Descritiva, Matemática e até Geografia (um dia, se me deixarem, conto essa estória, a das suas aulas de Geografia à nossa turma) que ainda recentemente nos honrou com a sua presença no convívio de 17-11. A Ana Nascimento relembrou já aqui neste espaço as habitualmente magníficas notas que os seus alunos obtinham nos exames no Liceu de Leiria. Por tudo isto, por ter dado aulas a “toda a gente” e ser um ex-aluno, dispensa apresentações.
O Dr. James Kildare partilhava com o Dr. Lopes a boa aparência e o êxito junto do “belo sexo” (eu sei que já não se diz isto, saiu-me sem pensar) mas é um caso diferente porque não era professor, mas sim médico. Imaginem o House com a barba feita, tomando banho diariamente, com uma bata sempre imaculadamente branca (ninguém percebia porque é que a usava), nunca tendo experimentado sequer uma aspirina, terno, preocupado e profundamente interessado na vida pessoal e no bem-estar dos seus doentes . Isto é, não tinha nada a ver com o House, para perceberem a comparação. O actor Richard Chamberlain, que encarnava o Dr. Kildare, era o genro de sonho de todas as mães da altura. Digo isto porque desconfio que já em 1964 as adolescentes deviam preferir alguém mais parecido com o House...
Bonanza era o máximo! Contava as aventuras do rancheiro Ben Cartwright e dos seus filhos, Hoss, Adam e Little John no seu rancho do Nevada, chamado Ponderosa. Tiros, pancadaria com fartura e doses elevadas de moralismo “made in USA” fizeram uma das maiores receitas de sucesso da TV, incluindo em Portugal. O actor que interpretava o Little John acabou lamentavelmente a sua carreira a fazer a Casa da Pradaria e uma série idiota de um anjo que se passeava na Terra. Uma história triste.
Bonanza era o máximo! Contava as aventuras do rancheiro Ben Cartwright e dos seus filhos, Hoss, Adam e Little John no seu rancho do Nevada, chamado Ponderosa. Tiros, pancadaria com fartura e doses elevadas de moralismo “made in USA” fizeram uma das maiores receitas de sucesso da TV, incluindo em Portugal. O actor que interpretava o Little John acabou lamentavelmente a sua carreira a fazer a Casa da Pradaria e uma série idiota de um anjo que se passeava na Terra. Uma história triste.
A Tertúlia (Artes & Letras) era um espaço de convívio cultural onde também se vendiam livros, discos ( aquelas rodelas pretas de vinil, lembram-se?), objectos de arte e aparelhagens estereofónicas. Ficava num primeiro andar da Rua das Montras, partilhando a escada com a família do Dr. Leonel Cardoso, e era propriedade do Vítor Sebastião, um homem sempre lembrado e elogiado pelo seu amor às coisas da Cultura.
O Dr. David Mourão Ferreira, o tal que o bilhete anunciava que ia dizer poemas à Tertúlia, foi um poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário, dramaturgo, tradutor e professor universitário (esta foi copy»paste direitinho, mas ninguém vai reparar ), muito conhecido na época pelo seu trabalho de divulgação de poesia em vários programas de TV, acção só aparentemente inútil num país que dizemos “de poetas” mas onde os verdadeiros morrem de fome se não tiverem outro emprego. Morreu, não de fome, felizmente, mas reconhecido como figura grande das letras portuguesas do seu tempo, em 1996.
O Dr. David Mourão Ferreira, o tal que o bilhete anunciava que ia dizer poemas à Tertúlia, foi um poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário, dramaturgo, tradutor e professor universitário (esta foi copy»paste direitinho, mas ninguém vai reparar ), muito conhecido na época pelo seu trabalho de divulgação de poesia em vários programas de TV, acção só aparentemente inútil num país que dizemos “de poetas” mas onde os verdadeiros morrem de fome se não tiverem outro emprego. Morreu, não de fome, felizmente, mas reconhecido como figura grande das letras portuguesas do seu tempo, em 1996.
A Tália era o centro das Caldas. Rigorosa e milimetricamente, daí a combinação do encontro entre a Eva e o Mário lá, onde se iniciaram, cimentaram e acabaram tantos namoros adolescentes. Propriedade do Sr. Nogueira, que aturava todos os jovens que, sem dinheiro para comprar livros e discos, iam para lá ler e ouvir música. Ficava situada na Rua das Montras e, felizmente para o proprietário, alguns dos pais desses jovens compravam lá material escolar, máquinas fotográficas, brinquedos, livros, canetas, etc. E também “artigos para senhora”, como malas, perfumes, cosméticos, etc, numa secção orientada pela D. Rosa (Que saudades da Tália, onde comprei o meu primeiro disco dos Beatles.…).
A Marisol era uma sirigaita espanhola que fazia uns filmes musicais execráveis, como eram a maioria dos produtos espanhóis nessa altura, com a misteriosa excepção dos caramelos. Mas a insistência na produção nacional (havia também o Joselito, igualmente abominável) não só no cinema mas em tudo o resto, até automóveis, levou à construção de um país diferente do nosso, onde sempre alegremente preferimos importar tudo. (Adiante, está bem, já sei que não é para falar de política)
"De Eva para o Mário: Este fim de semana vai no Ibéria..." O Ibéria era um cinema situado no parque D. Carlos, logo a seguir aos pavilhões. As suspeitas sobre a solidez do edifício, já existentes na altura, revelaram-se inteiramente justificadas quando implodiu, por iniciativa própria, dez anos depois. Escolheu uma noite de temporal em que não havia sessão, poupando uma tragédia e deixando um "buraco" que ainda hoje lá está. Podem consultar no Álbum de Memórias uma foto onde o Ibéria ainda consta (vou tomar nota para escrever sobre a misteriosa procura de bilhetes para a última fila do Balcão, independentemente do filme em exibição).
"De Eva para o Mário: Este fim de semana vai no Ibéria..." O Ibéria era um cinema situado no parque D. Carlos, logo a seguir aos pavilhões. As suspeitas sobre a solidez do edifício, já existentes na altura, revelaram-se inteiramente justificadas quando implodiu, por iniciativa própria, dez anos depois. Escolheu uma noite de temporal em que não havia sessão, poupando uma tragédia e deixando um "buraco" que ainda hoje lá está. Podem consultar no Álbum de Memórias uma foto onde o Ibéria ainda consta (vou tomar nota para escrever sobre a misteriosa procura de bilhetes para a última fila do Balcão, independentemente do filme em exibição).
O Vasco, a Dra Rita e o Meia-Leca não sei quem são, mas há um espaço de comentários no fim do artigo para um eventual esclarecimento.
“O Mattoso” era o nome carinhoso por que era conhecido o livro de História do professor António G. Mattoso. Não me deixou saudades, não talvez por culpa dele, mas porque o Padre Albino nos dava aulas obrigando sucessivos alunos a ler consecutivos parágrafos do livro. Curioso método pedagógico que, inexplicavelmente, fez com que todos odiassem a disciplina.
Os bailes do Lisbonense eram efectivamente melhores do que os do Casino porque os pais dos meninos e meninas do Colégio estavam no Casino. Mas também porque muitas das meninas que estavam no Lisbonense não estavam com pais nenhuns. E sabem aquela máxima que as meninas más vão para o Inferno e as meninas… (Pronto, pronto, vou já para os Shadows).
“O Mattoso” era o nome carinhoso por que era conhecido o livro de História do professor António G. Mattoso. Não me deixou saudades, não talvez por culpa dele, mas porque o Padre Albino nos dava aulas obrigando sucessivos alunos a ler consecutivos parágrafos do livro. Curioso método pedagógico que, inexplicavelmente, fez com que todos odiassem a disciplina.
Os bailes do Lisbonense eram efectivamente melhores do que os do Casino porque os pais dos meninos e meninas do Colégio estavam no Casino. Mas também porque muitas das meninas que estavam no Lisbonense não estavam com pais nenhuns. E sabem aquela máxima que as meninas más vão para o Inferno e as meninas… (Pronto, pronto, vou já para os Shadows).
Os Shadows eram um grupo instrumental inglês que precedeu, em termos de êxito internacional, os Beatles. Constituído por músicos de qualidade excepcional para um grupo Pop da altura, acompanhavam também o Cliff Richard. Mas foram os seus instrumentais que lhes fizeram a fama, logo no início da década de 60. A dicotomia expressa por Eva em relação à Sylvie Vartan é muito curiosa porque exprime o que vai ser, musicalmente, a grande mudança deste início de década: os grupos e cantores ingleses, a reboque dos Beatles, vão varrer a tradicionalmente dominante música ligeira francesa e italiana. O que o Jazz já tinha feito, mas apenas em camadas informadas e muito minoritárias, o British Beat Boom vai alargar a muitos. Passados 2 ou 3 anos quase todos os grandes artistas da Pop francesa estavam reduzidos a fazer versões gaulesas dos êxitos anglo-saxónicos. Até a referida Sylvie Vartan, uma búlgara que alcança um enorme êxito com “La Plus Belle Pour Aller Danser”, composição de um filho de refugiados arménios (Aznavour, que na altura compunha mais do que cantava, porque sofria de uma paralisia numa corda vocal), vai acabar a década a interpretar versões de hits norte-americanos. Ela, que foi cabeça de cartaz a 1ª vez que que os Beatles foram a Paris! (Já sei, tenho que acabar porque quando me ponho a escrever sobre música não sei parar. Já está, não digo mais!).
Falta-me pedir desculpa ao autor por ter aproveitado a sua crónica para fazer este comentário que, bem vistas as coisas, talvez não fosse necessário... Espero que me perdoe pelo prazer que me deu reviver tudo isto. E, se alguém leu isto até aqui, não foi só a mim.
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comentários
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6 Dezembro, 2007
João B. Serra diz.
Em primeiro lugar, agradeço-lhe o diccionário que elaborou a propósito do meu texto, que não se limita a elucidar referências, vai bem mais longe. Ajuda a situar e a compreender o mundo em que viviam os dois jovens de 1964.Os nomes dos personagens são fictícios, pois não me julguei autorizado a revelar a autoria de cartas pessoais em meu poder, mas, como certamente se terá percebido, reportam-se a jovens que realmente existiam.O autor desta nota identificou o Dr. Lopes, António José Lopes. Em 1964 ele estava a iniciar uma carreira docente no ERO e nas Caldas. Direi alguma coisa sobre os outros dois: o “Meia Leca” e a Dr.ª Rita. Esta última, professora de português naquele ano ingrato em que aprendiamos a dividir as orações de Os Lusíadas, trouxe ao Colégio uma lufada de ar fresco, irreverente e culto, que nunca se apagou das recordações dos que tiveram o privilégio de ser seus alunos. Não conseguiu dar o programa – vendo-se forçada a dar-nos aulas suplementares nas vésperas do exame nacional – até porque a saúde a traíu e foi substituida no ano lectivo seguinte. Era conhecida pela alcunha de “Moby Dick”. O segundo – não me recordo do nome, só da alcunha, de resto tão eloquente - deu um contributo para que uma geração de caldenses começasse a detestar a história. Esse contributo era baseado no manual de má memória António Gonçalves Mattoso, advogado e professor de história natural de Leiria.
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7 Dezembro, 2007
Manela V P diz:
Rocha! Era assim que o "meia-leca" se chamava!
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7 Dezembro, 2007
Neco diz:
Não fui aluno ERO, mas a minha vida de estudante 6º e 7º Ano cruzou-se muito com o pessoal de lá, uns muito mais novos (o JJ, a PJ, O João Mário Anjos,outros da minha idade, o Tó Zé Castanheira, a minha prima Pilar, a Manel, A Isabel VP, e outros mais velhos como o Beto Caldeira o Pedro Félix e muitos outros cujos nomes estão guardados no fundo da minha BD, como a Suzaninha Fabian, que a ultima vez que a vi, qd eu era um "garboso" Asp.of.Mil colocado no BC10 de Chaves, à espera de caminhar até Moçambique... O que acontece é que tal como a vida junta, a vida tb separa. Agora bateu a saudade e tenho pena de os ter perdido de vista. A saudade que bateu com a recordação dos encontros na Tália e na Zaira. Das considerações giras sobre os bailes quer do Casino quer no Lisbonense. Engraçado lembrei-me de ter assistido in loco ao David Mourão-Ferreira na Tertúlia. No entanto bem gostaria de ir reecontrando essa malta. Mas que chato comentário.
JOÃO PANEIRO, O NECO
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